Qualificação
não é garantia de emprego
As
grandes transformações do mercado de trabalho estão
associadas a mudanças no perfil da mão- de- obra.
A educação e a formação profissional
e suas relações com o desenvolvimento do país
tornaram-se temas principais no mundo do trabalho. A discussão
que permeia a educação profissional hoje é
possibilitar que uma pessoa, se empregada, mantenha o emprego e,
se desempregada, consiga trabalho. Para o Ministério do Trabalho
e Emprego, a qualificação profissional aumenta as
chances do trabalhador, pois o torna mais competente e ampliando
as oportunidades de geração de renda. No entanto,
embora a educação profissional seja apontada como
um direito do trabalhador, ela não garante o emprego, pois
não há postos de trabalho para toda a população
economicamente ativa.
A década
de 1990 foi marcada por uma redução drástica
no nível geral de emprego. Segundo informa o economista Márcio
Pochman, organizador do livro Desenvolvimento, trabalho e solidariedade
(veja resenha na ComCiência), só no município
de São Paulo, de 1991 a 2000, houve uma redução
de 11% nos postos de trabalho. Em 1991, havia 3,55 milhões
de postos de trabalho na capital paulista enquanto que, no final
da década havia 3,16 milhões.
A exigência
de qualificação e a maior competitividade apresentam
um lado "perverso", aponta o Relatório de Pesquisa
do Dieese n. 14. Estando os trabalhadores pressionados pelas mudanças
de trabalho e do desemprego, a requalificação profissional
torna-se cada vez mais necessária para a permanência
nos trabalho. A formação profissional se transforma
em um critério de seleção e não necessariamente
uma exigência do setor de produção.
Como
observou a pesquisadora Eliane Navarro Rosandiski, do Instituto
de Economia da Unicamp, ao Jornal
da Unicamp, "tem-se contratado pessoas com maior nível
de escolaridade, mas para ocupar inclusive os cargos de baixa qualificação.
Isto ocorre porque os quadros foram muito enxugados no bojo da reestruturação
organizacional. Havendo apenas três vagas, pode-se selecionar
um trabalhador mais escolarizado, independente de qual seja a qualificação
mínima necessária para o desempenho da tarefa".
A premissa
de que o trabalhador melhor qualificado tem as melhores vagas nas
empresas é uma avaliação que pode estar abrigando
uma segunda intenção: culpar o próprio desempregado
por sua exclusão do mercado. Tal explicação,
como aponta o Relatório do Dieese, oculta os fatores estruturais
geradores do desemprego, tais como a insuficiência do crescimento
econômico, o aumento da população em busca de
emprego e o desenvolvimento tecnológico que substitui trabalho
humano, fatores estes que ocasionam uma redução efetiva
do número de vagas disponíveis no mercado de trabalho.
Como
coloca a pesquisadora Eliane Navarro Rosandiski, as avaliações
sobre qualificação dos trabalhadores não devem
consagrá-la como responsável pela obtenção
ou não do emprego. A existência ou não do emprego
depende mais do ambiente concorrencial e da realidade econômica
do que necessariamente da qualificação do trabalhador,
que não pode ser apontado como o maior responsável
pelo próprio desemprego.
Dentre
os projetos prioritários do governo federal no plano plurianual
"Brasil em Ação" destaca-se o Plano Nacional
de Educação Profissional (Planfor). Iniciado em 1995,
o plano é um dos mecanismos de política pública
de trabalho e renda vinculado ao Fundo de Amparo ao Trabalhador
(FAT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os recursos
para a execução são oriundos do Conselho Deliberativo
do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) e são repassados
aos estados ou a parceiros nacionais ou regionais por meio de convênios.
Todos os convênios exigem uma contrapartida, definida em lei
para os estados. Em média, essa contrapartida tem sido de
20% do valor conveniado.
Segundo
o site do MTE, o objetivo do Planfor é garantir uma educação
profissional permanente que contribua para reduzir o desemprego
e o subemprego para elevar a qualidade e competitividade do setor
produtivo. Em médio prazo, procura-se constituir uma oferta
de educação profissional suficiente para qualificar,
a cada ano, no mínimo 20% da População Economicamente
Ativa (PEA), o que soma hoje quase 15 milhões de pessoas
(estimando-se PEA maior de 16 anos - idade mínima para o
trabalho).
De
acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, o Planfor,
até 2000, qualificou 11,6 milhões de trabalhadores,
com investimento de R$ 1,8 bilhão do FAT, além de
contrapartidas financeiras dos governos estaduais e parceiros privados,
em especial as centrais sindicais e federações empresariais.
Em
relação à sua eficácia, os relatórios
oficiais indicam que o Planfor tem contribuído para a obtenção
de trabalho e renda para os desocupados; manutenção
do emprego e melhoria das condições de trabalho para
os ocupados e incentivo à busca de mais qualificação
e escolaridade. De acordo com os dados do governo, antes da realização
do curso, 79% dos trabalhadores envolvidos no programa estavam empregados.
Depois do curso esse índice subiu para 84%.
(RM)
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