História dos manicômios
Asile, madhouse, asylum, hospizio,
são alguns dos nomes que denominam as instituições cujo fim é abrigar,
recolher ou dar algum tipo de assistência aos "loucos". As denominações
variam de acordo com os diferentes contextos históricos em que foram
criados. O termo manicômio surge a partir do século XIX e designa
mais especificamente o hospital psiquiátrico, já com a função de dar
um atendimento médico sistemático e especializado.
A prática de retirar os doentes mentais do convívio
social para colocá-los em um lugar específico surge em um determinado
período histórico. Segundo Michel Foucault, em A história da loucura
na idade clássica, ela tem origem na cultura árabe, datando o primeiro
hospício conhecido do século VII.
Os primeiros hospícios europeus são criados no século
XV, quando da ocupação árabe da Espanha. Na Itália eles datam do mesmo
período, e surgem em Florença, Pádua e Bérgamo.
No século XVII os hospícios proliferam e abrigam
juntamente os doentes mentais com marginalizados de outras espécies.
O tratamento que essas pessoas recebiam nas instituições costumava
ser desumano, sendo considerado pior do que o recebido nas prisões.
Diversos depoimentos -- como o de Esquirol, um importante estudioso
destas instituições no século XIX -- retratam este quadro:
"Eles são mais mal tratados que os criminosos;
eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos
da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados
de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis
à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados
à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos,
com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria
até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes
despesas, mantêm nas capitais." (Esquirol, 1818, apud Ugolotti,
1949)
Influenciado
pelos ideais do iluminismo e da Revolução Francesa, Philippe
Pinel (1745-1826), diretor dos hospitais de Bicêtre e da Salpêtrière,
foi um dos primeiros a libertar os pacientes dos manicômios das correntes,
propiciando-lhes uma liberdade de movimentos por si só terapêutica.
Desde que a questão dos "loucos" passa a ser um assunto médico-científico,
surgem duas correntes diferentes de pensamento com relação ao trato
dos pacientes e à origem de seus males. Uma crê no tratamento "moral",
nas práticas psico-pedagógicas, nas terapias afetivas como mais importantes.
Outra focaliza o tratamento físico, crendo ser a loucura um mal orgânico,
fruto de uma lesão ou de um mal funcionamento encefálico. Para esta
última, o ambiente dos manicômios, suas instalações, não são tão relevantes
para o tratamento.
Mesmo após as reformas instituídas no século XIX
por Pinel, um dos primeiros a aplicar uma "medicina manicomial", o
tratamento dado ao interno do manicômio ainda era mais uma prática
de tortura do que a uma prática médico-científica. Tanto a corrente
organicista quanto aquela que acreditava no tratamento "moral", não
dispensavam os tratamentos físicos. Nestes tratamentos buscava-se
dar um "choque" no paciente, fazer com que passasse por uma sensação
intensa, que o tirasse de seu estado de alienação.
Eram correntes as práticas de sangria, de isolamento
em quartos escuros, de banhos de água fria, além dos aparelhos que
faziam com que o paciente rodopiasse em macas ou cadeiras durante
horas para que perdesse a consciência.
Através da história, alternam-se momentos em que
predominam as correntes "morais" e organicistas para o tratamento
dos doentes mentais dentro da ciência médica. Este último século foi
marcado pelo aumento da contribuição das ciências humanas no sentido
de entender a loucura como também uma categoria social, com diferentes
sentidos em diferentes culturas e períodos históricos. A institucionalização,
a exclusão do convívio social, também passa a ser entendida como uma
prática histórica que, por si só, não significa o tratamento mais
adequado para aqueles que entendemos como doentes mentais. Do mesmo
modo como nasceu em um determinado período histórico, ela também pode
acabar.