Previdência privada é alternativa
para poucos
O sistema de previdência privada funciona como um complemento
da previdência oficial, administrada pelo Estado. Também
chamada de previdência complementar, ela procura assegurar
ao cidadão um benefício de aposentadoria próximo
ao valor do seu último salário de atividade. O benefício
máximo da previdência oficial brasileira hoje é
de R$1.561,56, valor bem abaixo da realidade de uma parcela de trabalhadores
ativos. "Isso faz com que recorram aos fundos privados de previdência",
afirma Roberto Carvalho, diretor de previdência da Fipecq
(Fundo de Previdência Privada dos Empregados da Finep, do
Ipea, do Cnpq, do Inpe e do Inpa).
Carvalho explica que o crescimento dos fundos de previdência
se deu por diversos fatores, além da necessidade de complementar
os níveis salariais do período laboral. O crescimento
da média etária proporciona grande massa de participantes
aos fundos da previdência, aumentando seus patrimônios.
Também é importante o fato de as contribuições
serem integralmente dedutíveis do Imposto de Renda da Pessoa
Física (IRPF).
Os incentivos ficais para a previdência privada são
grandemente atrativos, de acordo com Renato Fragelli Cardoso, professor
da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação
Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. "A legislação
do IRPF permite que qualquer pessoa, na sua declaração,
deduza 12% do seu ganho anual, se ela tem um plano de previdência
privada. Isso é, depois que você abate seus gastos
com dependentes, despesas médicas etc, ainda pode deduzir
12% do restante e então calcular o imposto devido a partir
desse valor", explica Fragelli.
Além disso, a previdência privada tem uma função
econômica importante, de amplos reflexos na estruturação
da sociedade nacional. Os ativos das entidades abertas são
importantes mecanismos de formação de poupança
interna. Os fundos de pensão privada são os maiores
investidores institucionais do Brasil, com aplicações
em títulos públicos e ações de companhias.
Nos Estados Unidos, os fundos têm US$6 trilhões aplicados
na economia doméstica e internacional. No Japão, os
recursos da previdência complementar privada fornecem a maior
parte dos financiamento às exportações.
No Brasil, se evidencia a importância econômica dos
sistemas de previdência complementar pelo tamanho do patrimônio
aplicado no mercado. Roberto Carvalho, do Fipecq, explica que devem
ser considerados os valores que deverão suprir as necessidades
de cobertura dos benefícios futuros. "Isso significa
dizer que os valores atuais, apresentados quase diariamente na mídia,
podem não ser suficientes para a cobertura dos valores necessários
para o pagamento dos benefícios futuros". A Secretaria
de Previdência Complementar do Ministério da Previdência
e Assistência Social é o órgão com a
competência para a normatização, fiscalização
e o acompanhamento desses fundos. "Não temos no país
muitas evidências de liquidação de fundos por
insuficiência de reservas, o que favorece o entendimento da
solidez do sistema", afirma Carvalho.
Duas entidades distintas
O sistema de previdência privada tem dois segmentos diferentes:
os planos abertos e os fechados. O primeiro pode ser adquirido por
qualquer pessoa e é oferecido por bancos, seguradoras e entidades
abertas de previdência privada. Os planos fechados, ou fundos
de pensão, são apenas para funcionários de
uma empresa ou grupo de empresas patrocinadoras do plano. Oferecem
um benefício adicional, que são as contribuições
obrigatórias das empresas patrocinadoras (empregadores).
São de no mínimo 30%, chegando a 50% ou mais, de acordo
com o regulamento.
Avaliação dos fundos
A publicação anual em jornais dos resultados financeiros
dos fundos é obrigatória. O site da Previdência
Social (www.mpas.gov.br) tem
informações sobre as condições dos fundos
de pensão, tais como nível de cobertura e benefícios
a conceder, custos administrativos e dependência em relação
às patrocinadoras. A avaliação da Secretaria
de Previdência Complementar é feita por quatro índices
de referências: nível de cobertura dos benefícios
a conceder, percentual de custeio administrativo, grau de dependência
em relação às patrocinadoras e resultado acumulado
sobre o ativo.
O nível de cobertura de benefícios a conceder é
o nível percentual de cobertura das reservas técnicas
para os benefícios em fase de aquisição de
direitos. Ou seja, o patrimônio disponível para o pagamento
dos benefícios a conceder. De acordo com a legislação,
o nível mínimo é 70% das necessidades. Fundos
que não têm reservados pelo menos 70% do que gastarão
com o pagamento de benefícios podem ter problemas futuros.
O percentual de custeio administrativo avalia qual é a parte
das contribuições destinadas aos custos administrativos
dos planos de benefícios. O percentual máximo fixado
pela legislação é de 15% das contribuições.
O grau de dependência em relação às
patrocinadoras revela a parcela do patrimônio do plano que
está em poder da patrocinadora, seja por meio de contribuições
em atraso, empréstimo ou dívidas contratadas.
Por último, o resultado acumulado sobre o ativo informa
a representatividade percentual do resultado da entidade em relação
ao patrimônio total. Se esse item for positivo indica que
o ritmo de constituições de reservas está superior
às necessidade programadas, ou seja, ocorre superávit
técnico. Se for negativo, indica que o ritmo de constituição
de reserva está abaixo das necessidades programadas, ou seja,
há um déficit técnico.
(RP)
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