Capacitação
ainda é o principal obstáculo para a área
A bioinformática
começou a se destacar com os projetos genoma, na década
de 1990, que produziram grandes volumes de informações.
A Internet e sua capacidade de compartilhar dados, além do
desenvolvimento de processadores mais rápidos e com mais
memória, desempenharam um papel decisivo nos avanços
e na consolidação da bioinformática enquanto
campo do conhecimento científico. Os governos, ao redor do
mundo, reconheceram a importância de se investir nesse setor
que promete impactar a economia e trazer avanços na medicina,
a partir da identificação de proteínas que
podem gerar novas drogas. O Brasil, apesar de todas suas dificuldades
financeiras, vem se destacando na comunidade científica e
conquistando seu espaço na bioinformática. Uma prova
disso é que o país abrigará o Congresso Internacional
de Bioinformática, em 2006, organizado pela Sociedade Internacional
de Biologia Computacional (em inglês, ISMB).
A partir
do início dos anos 1980, houve um crescimento exponencial
no sequenciamento de DNA, quando novos métodos foram desenvolvidos
e tornaram-se mais disponíveis. A Internet transformou a
maneira de acessar e armazenar informações e publicações,
o que permitiu maior fluxo de dados entre os usuários e o
desenvolvimento mais simplificado de softwares
para a bioinformática. As informações resultantes
desses sequenciamentos encontram-se hoje armazenados em bases de
dados como as norte-amercianas GenBank e PIR (Protein Information
Resource), a européia EMBL (European Molecular Biology Laboratory
nucleotide sequence database), a japonesa DDBJ (DNA Data Bank of
Japan), e a suíça Swiss-Prot.
Mas
não se trata apenas de quantidades cada vez maiores de genes
sendo sequenciados pelos inúmeros projetos genoma, que são
cerca de 700 já finalizados no mundo ou ainda em fase de
conclusão, mas a diversificação dos dados da
biologia molecular disponíveis. Inclui, por exemplo, a localização
dos genes nos cromossomos, as similaridades dos genes dentro do
genoma e entre diferentes espécies, a identificação,
sequenciamento e descrição da estrutura tri-dimensional
de proteínas.
Quem
aparece em primeiro lugar, em pesquisa, tecnologia e ensino em biotecnologia
são os Estados Unidos, representados pelo Centro Nacional
de Informação Biotecnológica (NCBI), seguido
pela Inglaterra, através do Instituto Sangre, que faz parte
do Instituto Europeu de Bioinformática. Em seguida, no mesmo
nível, vem a França (Instituto Pasteur), a Alemanha
(Heilderberg), a Suiça com seu Instituto Suiço de
Bioinformática e o Japão com o Banco de Dados de DNA
(DDBJ). O Brasil, Cingapura e Índia, são os representantes
mais importantes de países em desenvolvimento que desenvolvem
e investem em bioinformática.
Os
governos estão atentos às necessidades da bioinformática,
financiando a pesquisa na academia e nas indústrias. O governo
europeu investiu, no ano passado, cerca de 20 milhões de
euros no Instituto de Bioinformática Europeu (EBI). O governo
alemão aplicou 50 milhões de euros em suas indústrias.
Já o Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, que
financia apenas uma parte das pesquisas de bioinformática
nos EUA, teve um total de US$ 34,8 milhões à disposição
em 2002, sendo que US$ 24,5 milhões foram aplicados em bancos
de dados e o restante em pesquisas.
Patrícia
Palagi, pesquisadora brasileira que trabalha no Instituto Suiço
de Bioinformática (SIB), um dos mais importantes institutos
de bioinformática do mundo na área, acredita que a
falta de investimentos vindos de fundos apropriados torna impossível
a aquisição de tecnologia e mão de obra especializada.
"Embora o mercado financeiro esteja em crise nos últimos
5 anos, a produção de dados biológicos continua
aumentando com vários projetos de seqüenciamento de
genomas. Consequentemente, há a necessidade de analisar esses
dados, o que deve ser feito por pessoas com formação
específica em bioinformática", afirma. A maioria
dos profissionais de bioinformática, hoje disponíveis
no mercado, vêm de áreas tão variadas quanto
biologia molecular, ciências da computação,
estatística, física, química e matemática.
Não
é de se estranhar que Ana Tereza Vasconcelos, uma das pioneiras
no ensino de bioinformática no Brasil e pesquisadora do Laboratório
Nacional de Ciências da Computação (LNCC), classifique
a falta de capacitação de profissionais como o principal
empecilho para que a área se desenvolva mais rapidamente.
"E a falta de recursos humanos não é só
no Brasil, mas no mundo inteiro. Se você quer trabalhar com
bioinformática, consegue um lugar em qualquer universidade
dos EUA ou da Europa", afirma. Atualmente, existem dois programas
de doutorado no país, um sendo oferecido pela Universidade
de São Paulo (USP) e outro pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), além de um curso de especialização,
iniciado de forma pioneira, em 2002, pelo LNCC. Para se ter uma
idéia da demanda dos cursos no Brasil, Vasconcelos informa
que, para as 20 vagas oferecidas anualmente, mais de 200 candidatos
se inscreveram.
Os
cursos de formação pelo mundo foram iniciados há
cerca de quatro anos, apontando para uma maior estabilização
e consolidação da área. Nos Estados Unidos,
país mais avançado nesse campo, 45 universidades ofereciam
cursos de graduação e pós-graduação
em bioinformática em 2002. Em 2003, esse número será
de aproximadamente 60, como estima Bernadette Toner, editora da
BioInform,
site que promove a divulgação de pesquisas nessa área.
Mesmo assim, ela acredita que ainda faltam bons programas de treinamento.
Na Inglaterra, existem 5 cursos de graduação dedicados
exclusivamente à bioinformática e outros oito de pós-graduação.
Já no resto da Europa, são cerca de 2 de graduação
e outros quatro de pós-graduação.
"A
bioinformática é uma das áreas que mais vai
crescer, pois é uma área multidisciplinar que vai
formar um profissional com essa dupla visão. Acho que vamos
precisar de pessoas que saibam navegar nessas duas áreas",
opina a pesquisadora do LNCC. Já Vicky Markstein, membro
da Sociedade de Computação e uma das responsáveis
pela Conferência de Bioinformática que acontece neste
mês nos Estados Unidos, acredita que a bioinformática
promete melhorar a compreensão de inúmeras doenças
e do processo de envelhecimento.
(GB)
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