Cooperação Internacional Investe na Agricultura Familiar
   
 
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Piscicultura de espécies amazônicas no Estado do Tocantins. Foto: Jean François Tourrand

Como combinar, numa Amazônia de população crescente, exploração econômica e equilíbrio ambiental? Esta pergunta, que há anos permeia as pesquisas sobre a região, está no centro de um programa internacional de cooperação científica entre Brasil e França, reunindo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement (Cirad). Em operação desde o início dos anos 90, o programa enfatiza o papel da agricultura familiar no desenvolvimento sustentável da região e investe, paralelamente, na formação de recursos humanos. Nesse contexto, formaram-se até agora cerca de 25 jovens pesquisadores (mestres e doutores), hoje responsáveis pela elaboração de novos projetos de pesquisa e pela continuação do programa.

Inicialmente voltado à gestão de pastagens e ao papel da criação bovina na dinâmica das frentes de imigração, o programa franco-brasileiro concentra-se, desde 1997, no estudo da viabilidade da agricultura familiar na Amazônia. "Viabilidade" aqui é definida como a capacidade de um sistema se reproduzir e resistir aos choques. Num sistema produtivo (agricultura, pecuária), isto implica em questões ecológicas, econômicas e sociológicas, em escalas que vão desde a fazenda ou pequena criação de gado até a região ou mesmo o planeta.

Foram definidos três eixos de pesquisa: a) recursos florestais (pastagens), b) explorações familiares e c) cadeia produtiva de carne na região. "O Cirad contribuiu com seu conhecimento sobre a análise de sistemas de agricultura/pecuária familiar e a Embrapa trabalhou sobre as grandes fazendas. Com o tempo, a colaboração estreita entre as instituições permitiu que ambas desenvolvessem know how nas duas áreas.", explica Jean-François Tourrand, coordenador do projeto pelo lado francês. No caso da Amazônia, em que o (intenso) movimento de colonização dos últimos vinte anos envolveu uma população muito heterogênea (desde famílias muito pobres até grande fazendeiros) e práticas que levaram ao desflorestamento de grandes áreas, o objetivo do projeto é determinar como as unidades familiares podem se tornar viáveis ecológica, social e economicamente.

Criação de gado na Amazônia. Foto: Jean François Tourrand

Uma questão central da pesquisa é como conciliar a atividade pecuária na Amazônia (que em breve pode vir a ser a primeira região em produção de carne bovina no Mercosul) com a exploração familiar. Uma pista para a solução do problema é o investimento em gado leiteiro. Atualmente, a Amazônia importa 80% do leite e derivados que consome, enquanto que a produção familiar local, associada a uma agricultura diversificada, poderia suprir boa parte da demanda. Outra ação importante, conforme enfatiza Tourrand, seria a plantação de árvores nos locais de pastagem, que ajudaria a reduzir o desflorestamento e poderia, inclusive, servir como uma fonte extra de renda para os proprietários de terra, tanto grandes quanto pequenos. Essencial é passar da pecuária extensiva para a intensiva. Mas isto só acontecerá, segundo o pesquisador, com a criação de zonas de proteção ambiental e a inclusão do custo ambiental no valor da terra, pois atualmente é muito mais fácil e barato desmatar 5 mil hectares de terra do que intensificar 50.

Finalmente, o sucesso e a durabilidade da agricultura familiar na Amazônia depende da regularização do estatuto da terra na região. Trabalhos comparativos feitos no quadro da pesquisa (foram estudadas duas regiões representativas e contrastantes: a região bragantina, próxima a Belém, e a região de Uruará, sobre a Trasamazônica) mostraram que há uma enorme diversidade de práticas, desde a subsistência até a diversificação ou especialização (sobretudo na produção leiteira). Em geral, o gado constitui uma fonte de alimentação e ao mesmo tempo de renda para as famílias. No processo de diversificação ele é associado a culturas de frutas e legumes e exploração de madeira. Muitas dessas práticas acarretam problemas ambientais, no entanto, qualquer ação de treinamento e capacitação dos agricultores e reforço da economia familiar depende da regularização propriedade da terra.

Os resultados da pesquisa Cirad/Embrapa/UFPA deverão estar disponíveis em breve no site do Cirad e da Embrapa. Paralelamente, quatro novos projetos internacionais sobre a mesma temática, com a participação do Cirad, estão em curso na região. O primeiro financiado pelo Programa Piloto do G7 e coordenado por parceiros brasileiros. O segundo com a Universidade da Flórida, sobre a relação entre a pecuária e o desflorestamento na bacia amazônica. O terceiro é uma cooperação entre Brasil e Alemanha sobre o papel da pecuária na agricultura. E o quarto, coordenado por parceiros brasileiros e financiado pela UFPA, trata da dinamização da produção leiteira nas empresas familiares.

   
           
     

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Atualizado em 10/11/2000

   
     

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