Centro
de Documentação e Memória da Fundação Abrinq
Elisangela
Alves Silva
O
Brasil é um país marcado por sua diversidade cultural, algo
que pode ser visto como um ambiente fértil para a troca de conhecimentos,
experiências e oportunidades às suas crianças e adolescentes.
Entretanto, seu potencial é pouco aproveitado, embora seja inegável
que nos últimos anos aconteceram avanços no combate às
iniqüidades do país como a aprovação do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), fruto de intensa mobilização
social, ocorrida em um momento de abertura política do país,
que garante constitucionalmente como prioritários a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. Mas infelizmente, a verdade
é que o ECA comemora 15 anos em 2005 sem que alguns de seus principais
artigos tenham saído do papel.
Assim,
são necessárias mais do que alterações de leis
e políticas, mas sobretudo, mudanças de atitudes, tradições
e comportamentos que contribuam para resgatar a delicada situação
em que se encontram milhares de crianças e adolescentes no país.
A
Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente,
desde a sua constituição, há 15 anos, trabalha na mobilização
dos setores da sociedade para promover a defesa dos direitos e o exercício
da cidadania da criança e do adolescente.
A
Área de Informação da Fundação Abrinq foi
criada no ano 2000 e integra atividades de tecnologia (análise, programação
e implantação de sistemas, webdesign e infra-estrutura) e de
informação, que inclui o Centro de Documentação
e Memória (CEDOC), com o objetivo de aumentar a eficiência e
eficácia das atividades operacionais e das redes da Fundação
Abrinq, bem como para a definição das estratégias e ações
institucionais, tendo em vista a ampliação da capacidade de
disseminação e multiplicação de suas ações.
O
Centro de Documentação e Memória da Fundação
Abrinq é a única biblioteca especializada em Direitos da Criança
e do Adolescente na cidade de São Paulo. Tem por finalidade dar apoio
à tomada de decisões estratégicas e às ações
desenvolvidas pela instituição, coletando, organizando e facilitando
o acesso a informações e documentos que auxiliem os programas
e projetos. O CEDOC, a partir da disponibilização de sua base
de dados no site www.fundabrinq.org.br/biblioteca,
ampliou a abrangência de sua atuação e seu público.
A
atuação social se concretiza por meio da disseminação
de informação e conhecimento sobre os direitos da criança
e do adolescente, contribuindo para a pesquisa na área e para a sensibilização
de pessoas e instituições sobre a causa.
Não
apenas o público interno se beneficia das ações do CEDOC.
Cada dia mais pessoas entre os membros das organizações sociais
parceiras, estudantes e pesquisadores descobrem um rico acervo que inclui
dados e informações produzidos, coletados e adquiridos pela
organização, reunidos sob os mais diversos suportes –
livros, produção acadêmica, hemeroteca, relatórios,
periódicos, vídeos, fotos, cartazes, documentos eletrônicos,
bases de dados, sistemas e outros documentos produzidos pela Fundação
Abrinq e por ela coletados. O conteúdo é permanentemente atualizado,
está relacionado com a área da infância e da adolescência,
trazendo diferentes tipos de abordagens sobre o tema.
Destacamos
também que algumas publicações produzidas pela Fundação
Abrinq ou desenvolvidas em parceria estão disponíveis em formato
eletrônico (pdf) com o objetivo maior de garantir o acesso completo
às informações publicadas sem a necessidade do deslocamento
físico para pesquisa e/ou retirada da publicação como
empréstimo, ou ainda a compra. Dessa forma, os arquivos e bibliotecas,
que de um modo geral, foram considerados durante muito tempo como meros repositórios
de papéis, deslocam-se da questão da guarda (acervo físico)
para a do acesso (ampla disponibilidade de leitura e aquisição
de conhecimento online). Dentro desta visão, mesmo quando
não há o documento digitalizado na íntegra, a simples
troca de instrumentos de pesquisa já viabiliza o acesso do usuário
à sua referência, um grande auxílio ao desenvolvimento
das pesquisas. Os usuários contam também com o serviço
de referência online, por meio do “fale conosco” de nosso
site, onde podem ser encaminhadas dúvidas, agendamento de visitas,
entre outras questões.
No
intuito de dinamizar o desenvolvimento do acervo e conquistar novos públicos,
criamos o Informativo CEDOC, com periodicidade quinzenal e envio eletrônico.
O objetivo deste informativo é de estimular o uso do acervo, indicar
publicações relevantes à causa da infância e da
adolescência, divulgar publicações acadêmicas (teses
e dissertações) – não apenas do corpo técnico
da Fundação Abrinq, mas de outras organizações
e dos pesquisadores das universidades que freqüentam o CEDOC. O informativo
também visa prestar contas das atividades realizadas no Arquivo Memória,
implantado oficialmente em fevereiro de 2005.
O
objetivo do Arquivo Memória é reunir toda a documentação
de interesse histórico, produzida e coletada pela instituição
e registrar depoimentos de pessoas que atuaram junto à Fundação
e fizeram a diferença na luta pelos direitos da infância e adolescência
no Brasil.
Um
dos produtos em desenvolvimento é a seção Memória,
no site da Fundação Abrinq, onde estará disponível
parte do acervo histórico digitalizado a partir de fevereiro de 2006,
quando serão comemorados os 16 anos da instituição. Será
um momento oportuno e privilegiado para a reflexão da sua trajetória
e para sua ampla divulgação.
Entendemos
que, ao acumular o conhecimento produzido pela Fundação Abrinq,
o Arquivo Memória pode ampliar os benefícios em favor das crianças
e adolescentes, servindo de matéria-prima para a sistematização
das práticas da instituição e de subsídio para
a atuação de seus programas e projetos. Universidades e outras
instituições também podem se beneficiar desse conhecimento.
A
maior parte dos arquivos das áreas e programas da Fundação
Abrinq ainda carece de seleção e organização.
Descentralizados, sem obedecer a critérios de seleção,
guarda e tratamento, apresentam muita duplicação e, paradoxalmente,
lacunas. Em conseqüência, há grande dificuldade para a localização
de documentos e informações e verifica-se, até mesmo,
o desconhecimento de sua existência, sobretudo por parte dos colaboradores
mais novos da Fundação.
A
implementação de critérios de gestão de documentos
em execução que permitirão selecioná-los, descartá-los,
se necessário (pois não há memória sem esquecimento),
distribuí-los em arquivos correntes, intermediários e permanentes
(Arquivo Memória) e padronizar seu arranjo e classificação,
objetiva, fundamentalmente, ampliar seu acesso e uso operacional e estratégico.
Os
documentos, isolados, são simples vestígios de uma trajetória
e não possibilitam, em si, a reconstituição das idéias,
dos processos e das ações da Fundação Abrinq,
pois refletem o olhar de uma época e estão impregnados implicitamente
de juízos de valor de um grupo, de um contexto e de uma época.
O Arquivo Memória – ao agrupar documentos que, isolados, são
simples vestígios de uma trajetória, e ao registrar depoimentos
daqueles que ajudaram a fazer essa história, e que se tornam, então,
também documentos – permitirá visões de conjunto
de suas idéias, de seus processos e de suas ações, que
refletem o olhar e os valores de determinados grupos, contextos e tempos.
Os documentos agrupados passam a se interrelacionar e dialogam com os depoimentos
registrados em outro momento histórico, possibilitando novas leituras
da história da Fundação Abrinq.
Nessa
oportunidade, a Memória, como repositório do conhecimento acumulado,
tem um papel fundamental para reforço da identidade da organização.
Externamente, é material valioso para ações de comunicação,
mobilização, defesa e captação de recursos. Internamente,
ao lado do uso voltado a fins operacionais e de gestão, deve ser utilizada
em ações de integração, valorização
e motivação de funcionários de forma a gerar maior participação
e compromisso com a missão.
Dentro
da Fundação Abrinq, como em outras organizações
sociais, os usos de dados e do conhecimento acumulado são diversos.
Sua importância será relativa ao uso que dele se fazem, considerando-se
seus contextos, isto é, seu momento histórico, seu ambiente
e seus públicos.
Entre
muitas metas e funções, a Área de Informação
da Fundação Abrinq busca o aprimoramento do acesso e a qualidade
das informações para uso interno e de seus públicos.
Sabemos que apenas a disponibilidade de dados não é capaz de
mudar o quadro de inequidades em que nosso país se encontra, mas já
é a base para uma sociedade informada, ciente de seus direitos e deveres.
Acreditamos
que a disseminação da informação e do conhecimento,
tarefas do profissional da informação, poderá contribuir
a manter a sociedade informada e é um passo para mobilização
sobre os principais problemas da infância e da adolescência e
suas soluções.
Dentre
seus objetivos, o CEDOC procura divulgar o seu acervo físico e virtual
no sentido de ampliar o acesso ao conhecimento acumulado e, conseqüentemente,
sensibilizar pessoas e instituições e estimular novas ações
pela causa da infância e da adolescência.
Elisangela
Alves Silva é assistente técnica da Área de Informação
da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente.
E-mail: ealves@fundabrinq.org.br