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A importância do setor florestal em Minas Gerais

Rosa Maria M. A. Carvalho, Rommel Noce e Lino A. Vieira

O estado de Minas Gerais é uma das 27 unidades da República Federativa do Brasil, com uma população estimada em 18,9 milhões de habitantes em 2004. Está localizado na região Sudeste e é o estado mais elevado do país, com 57% das terras acima dos 600 metros de altitude (serras da Mantiqueira e do Espinhaço). Possui um dos maiores potenciais hídricos do país. A área territorial de Minas Gerais é de 588,4 mil quilômetros quadrados (6,9% da área territorial brasileira) (Brasil Regiões, 2005).

O parque industrial mineiro é o segundo maior do país, com uma planta diversificada e em expansão. Na indústria de transformação, destacam-se os segmentos de metalurgia, produtos alimentares, indústria têxtil, indústria automobilística e indústria química.

Minas Gerais é líder na produção mineral brasileira, respondendo por 35% do valor total produzido. Na produção agropecuária, sua participação é também relevante.O valor anual da produção do setor agropecuário aproxima-se de US$ 16,7 bilhões. O número estimado de produtores rurais chega a 500 mil. A produção agrícola alcança 8,8 milhões de toneladas de grãos, representando 7,1% da produção nacional. A área plantada no estado soma 3,4 milhões de hectares (Minas On-line, 2005).

O grande potencial econômico de Minas pode ser mostrado pelo fato de ocupar uma posição de liderança em diversos produtos importantes para as economias nacional e internacional, tanto em atividades tradicionais quanto em setores de ponta. É a terceira economia do país e um dos destinos preferidos de novos investimentos.

O estado tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ de 47 bilhões, representando 9,61% do total brasileiro (Minas On-line, 2005). As diversas universidades e centros de treinamento, muitos com nível de excelência mundial, proporcionam uma força de trabalho flexível e com qualificação diversificada, inclusive para sofisticadas necessidades.

Conforme o Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais - Indi (2003), especificamente no estado, o setor florestal merece destaque, pois mais da metade das plantações de eucalipto no Brasil (52,6%) está localizada em Minas. Em relação ao pinus, a ocupação de área plantada é de 8,5% (menos expressiva), porém com boas possibilidades de aproveitamento.

Segundo Assis (2003), a indústria de base florestal participa com significativo porcentual do PIB mineiro, gera empregos diretos e indiretos, arrecada impostos e agrega divisas de exportações. Ainda segundo esse autor, Minas é responsável por 60% da produção nacional de ferro-gusa e carvão vegetal e seu parque industrial possui 40 indústrias não integradas.

As indústrias mineiras de base florestal consumidoras de madeira serrada também desempenham papel importante no estado. Vale ressaltar o seu número crescente de empreendimentos produtivos do setor moveleiro.

A significância do setor florestal mineiro pode ser verificada pelo valor bruto da produção e da quantidade produzida dos produtos florestais no ano de 2003, conforme mostrado no Quadro 1.

Quadro 1 - Valor bruto da produção (VBP) e quantidade produzida de produtos florestais em Minas Gerais no ano de 2003.

Produto
VBP
Quantidade
Origem: Plantações Florestais

1.073.963

......Madeireiros


1.067.699

............Carvão vegetal (2)

10.826.480
706.925

............Lenha

3.207.000
48.532

............Madeira em Tora Total (m³)


312.241

..................Madeira em tora para papel celulose*

3.697.500
190.481

..................Madeira em tora para outras finalidades*

3.354.000
121.761

......Não-Madeireiros


6.265

......Cascas secas de acácia-negra (tanino)

-
-

......Extrato de folhas de eucalipto

40.595
954

......Resina

7.044
5.311

Origem: Florestas Nativas


201.298

......Madeireiros


199.356

............Carvão vegetal

2.706.620
169.041

............Lenha

1.890.487
22.647

............Madeira em tora

86.334
7.668

......Não-Madeireiros

-
1.942

............Alimentícios

922
-

..................Açai (fruto) (t)

-
-

..................Castanha de caju (t)

-
-

..................Castanha-do-Pará (t)

-
-

..................Erva-mate cancheada (t)

-
-

..................Mangaba (fruto) (t)

436
76

..................Palmito (t)

45
103

..................Pinhão (t)

379
212

..................Umbu (fruto) (t)

62
67

............Aromáticos, medicinais, tóxicos e corantes

144
242

..................Ipecacuanha ou poaia (raiz) (t)

-
-

..................Jaborandi (folha) (t)

-
-

..................Urucum (semente) (t)

143
232

..................Outros (t)

1
10

..................Borracha

-
-

..................Caucho (t)

-
-

..................Hevea - látex coagulado (t)

-
-

..................Hevea - látex líquido (t)

-
-

............Cêras

-
-

..................Carnaúba - cera (t)

-
-

..................Carnaúba - pó (t)

-
-

..................Fibras

-
-

..................Buriti (t)

-
-

..................Carnaúba (t)

-
-

..................Piaçava (t)

-
-

..................Outros (t)

-
-

............Gomas não- elásticas

-
-

..................Balata (t)

-
-

..................Maçaranduba (t)

-
-

..................Sorva (t)

-
-

............Oleaginosos

1.544
1.240

..................Babaçu - amêndoa (t)

-
-

..................Copaíba - óleo (t)

-
-

..................Cumaru - amêndoa (t)

-
-

..................Licuri - coquilho (t)

-
-

..................Oitica - semente (t)

-
-

..................Pequi - amêndoa (t)

1.525
1.225

..................Tucum - amêndoa (t)

-
-

..................Outros (t)

20
15

............Araucária - nó-de-pinheiro (m³)

-
-

............Araucária - árvores abatidas (mil árvores)

-
-

............Araucária - madeira em tora (m³)

-
-

............Tanantes

12
1

..................Angico - casca (t)

9
1

..................Barbatimão - casca (t)

2
-

..................Outros (t)

-
-
Total Setor Florestal   1.275.261
Fonte: Vieira (2004).

Somada a significativa produção, Vieira (2004), ressalta o crescimento real (descontada a inflação) de 24,7% no período de 2000 a 2003. O autor relata, ainda, que o valor bruto da produção florestal (VBPF) mineiro teve uma evolução de 22,7% de 1999 a 2003, contribuindo para benefícios socioeconômicos nas regiões abrangidas pela atividade florestal (Figura 2).

Figura 2 - Evolução do VBPF do estado de Minas Gerais entre 1999 e 2003

Assim, a atividade florestal é de significativa importância econômica em Minas Gerais, seja como produtora do termo-redutor carvão vegetal, seja como fonte energética ou matéria-prima para vários segmentos industriais. A maior parte dos plantios destina-se à siderurgia a carvão vegetal e à produção de celulose. Outros setores também utilizam, em menor proporção, a madeira de eucalipto.

Atualmente, os plantios florestais, em Minas Gerais, concentram-se nas regiões do Rio Doce, Centro-Oeste, Noroeste, Centro/Norte e Jequitinhonha/Mucuri tendo as três últimas as maiores extensões. Nas outras seis regiões do estado, os plantios são menores e dispersos. Em 129 municípios mineiros (15% do total) foram identificadas concentrações de plantações florestais com fins industriais (AMS, 2004).

Segundo Vieira (2004), as atuais áreas de concentração das plantações florestais apresentam, em graus variados, restrições à agricultura, associadas a deficiências de fertilidade e hídricas, suscetibilidade à erosão e dificuldades de mecanização, entre outras. Nesse contexto, as plantações florestais têm contribuído para alcançar o crescimento agrícola em extensão e qualidade, via alargamento de sua fronteira produtiva, com intensificação ou capitalização das práticas produtivas, processos não excludentes, mas complementares.

Nos últimos sete anos, a área anual de reforma das plantações florestais em Minas Gerais cresceu significativamente, conforme apresentado no Quadro 2.

Quadro 2 - Total de área de plantações florestais, em 2003, no estado de Minas Gerais e no Brasil, segundo a finalidade

Finalidade
Área
ha
%
Eucalipto
1.080.000
93,1
Produção de energia e termorredutor
920.000
79,3
Produção de celulose
140.000
12,1
Outros usos
20.000
1,7
Pinus
80.000
6,9
Minas Gerais
1.160.000
100,0
Brasil
5.000.000
23,5 (MG/BR)
Fonte: AMS (2004a).    

Vale ressaltar o aumento expressivo das áreas de fomento (Quadro 3) devido à retomada, em 2003, dessa modalidade de plantio em parceria, que permite a ampliação da base florestal, procurando integrar ao processo produtivo as pequenas e médias propriedades rurais.

Quadro 3 - Evolução das plantações florestais em Minas Gerais, entre 1997 e 2003


Área Plantada ( ha )
Eucalipto
Total Eucalipto
Pinus
Minas Gerais
IEF(1)
Empresa
Fomento
Próprio
Fomento
Próprio
Total
Fomento
Próprio
1997
-
-
-
24.383
-
-
-
-
24.383
1998
-
-
-
31.855
-
-
-
-
31.855
1999
5.067
8.890
16.765
30.722
-
1.700
13.957
18.465
32.422
2000
7.972
5.852
31.014
44.838
-
3.160
13.824
34.174
47.998
2001
6.079
6.998
48.678
61.755
-
1.665
13.077
50.343
63.420
2002
2.823
6.175
61.867
70.865
-
660
8.998
62.527
71.525
2003
7.700
9.305
87.097
104.102
-
600
17.005
86.802
104.702
Fonte: AMS (2004a)

1) Plantio em regime de fomento ao produtor rural, promovido pelo Instituto Estadual de Florestas IEF.

Minas Gerais caracteriza-se como um dos principais produtores brasileiros de celulose branqueada de fibra curta. O volume produzido no período de 2000-2003 cresceu 10,1%. A produção estadual representa cerca de 10% do volume da produção brasileira, segundo a AMS (2004).

O carvão vegetal ainda possui uma posição de grande importância para Minas Gerais, principal produtor e consumidor, ocupando posição de destaque no setor siderúrgico, no qual contribui para a produção de ferro-gusa, aço e ferroliga.

Segundo a AMS (2004), a produção mineira de ferro-gusa corresponde a cerca de 60% da produção nacional e utiliza, principalmente o carvão vegetal como termorredutor. O estado destaca-se, também, na produção de ferro-liga. O maior consumo de carvão vegetal no Brasil está concentrado nos pólos siderúrgicos de Minas Gerais (64%).

Ainda segundo a entidade, a taxa de crescimento do valor das exportações de produtos do CFI, nos últimos dois anos, superou o também crescente valor das exportações totais do país. Em Minas Gerais, o crescimento do valor exportado do CFI foi mais do que o dobro do valor total das exportações em 2003 (Quadro 4).

Quadro 4 - Saldo das exportações florestais em 2002 e 2003

 
2003
2002
Exportações
(US$ 10³)
Importações
(US$ 10³)
Saldo
(US$ 10³)
Exportações
(US$ 10³)
Importações
(US$ 10³)
Saldo
(US$ 10³)
Minas Gerais
7.434.162
2.429.440
5.004.722
6.348.898
2.515.827
3.833.071
Setor Florestal - MG
945.345
19.469
925.876
675.838
21.917
653.921
Fonte: AMS (2004)

Ao analisar os produtos que compõem a pauta de exportações mineiras, verificou-se a existência de uma concentração em seis produtos (Quadro 11). A maior representatividade, em 2003, foi do ferro-gusa, com 42,3% do total exportado.

Quadro 5- Exportações do complexo florestal industrial de Minas Gerais, em 2002 e 2003

Mercadoria
(US$ 10[6])
2002
2003
Carvão vegetal
1,54
1,39
Madeira e suas obras
5,82
6,61
Pastas celulósicas
254,47
325,66
Papel e cartão
0,38
0,67
Ferro-gusa
240,90
400,48
Ferroliga
164,29
201,00
Total: principais itens
667,40
935,82
Total CFI
675,84
945,35
Exportações totais
6.348,90
7.434,16
Fonte: Vieira (2004).

O volume de carvão vegetal exportado ainda é inexpressivo e destina-se, principalmente, ao consumo doméstico. Recentemente foi iniciada a exportação de finos de carvão vegetal, produto tradicionalmente descartado pelos produtores para os Estados Unidos, onde são utilizados na geração de energia em caldeiras e produção de briquetes.

A atividade florestal em Minas Gerais também se destaca na geração e manutenção de postos permanentes de trabalho nas áreas urbana e rural. Em 2003, o complexo florestal industrial, empregou direta e indiretamente, tanto nas atividades industriais quanto no campo, quase 1,3 milhão de trabalhadores (AMS, 2004).

Segundo Vieira (2004), o Recolhimento de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) destacou o setor florestal, dentre tantas outras atividades econômicas. No ano de 2003, a arrecadação do complexo atingiu o patamar de R$ 354 milhões; sendo que a siderurgia apresentou a maior contribuição (76,8%).

Assim, pode-se afirmar que em Minas Gerais o complexo florestal industrial se destaca através de sua representatividade e do seu grande potencial para colaborar com o desenvolvimento do estado.

Vale ressaltar que, diante de tal fato, é de suma importância a articulação dos diferentes atores sociais, tendo em vista a possibilidade de um diálogo produtivo na busca do fortalecimento institucional e de avanços organizacionais que possibilitaram a significativa contribuição do setor florestal mineiro para o Brasil em sua intenção de alcançar o desenvolvimento sustentável.

 
Rosa Maria Miranda Armond Carvalho é economista, Rommel Noce é doutorando em ciência florestal. Departamento de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Viçosa e Lino Amaro Nunes Vieira é economista.

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Atualizado em 10/08/2005

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