Brasilcord
favorece investimentos para bancos de sangue
Desde
1998, quando o Brasil, através de centros de pesquisas e
hemocentros, passou a dominar a técnica de transplante de
medula óssea que utiliza o sangue de cordão umbilical,
a Sociedade Brasileira de Medula Óssea tomou a iniciativa
de criar um grupo capaz de estruturar uma rede nacional pública
de bancos de sangue de cordão umbilical. Em agosto de 2000,
uma portaria do Ministério da Saúde regulamentou os
primeiros padrões e procedimentos dessa rede, batizada com
o nome fantasia Brasilcord.
Nos
últimos três anos, membros integrantes da rede reuniram-se
várias vezes com representantes da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) com o objetivo de
definir regras específicas capazes de viabilizar o funcionamento
de bancos públicos e privados de sangue de cordão.
Em julho de 2003, a Anvisa publicou norma definitiva regulamentando
o funcionamento e restringindo a comercialização do
sangue de cordão.
O diretor
do Centro de Transplante de Medula Óssea (Cemo), do Instituto
Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, Dr. Luiz Fernando Bouzas
explica que a maior dificuldade encontrada para a montagem dos bancos
de sangue é a falta de investimentos. Como a maioria dos
bancos de sangue são de instituições públicas
é necessário que o governo federal faça os
investimentos necessários. Além disso, a criação
da rede coincidiu com o período de troca de comando no governo
federal. Assim, a gestão passada não chegou a investir
grandes somas no projeto e a nova gestão, que levou um certo
tempo para entender a necessidade dos investimentos, também
não os realizou ainda.
Mesmo
assim, o diretor do Cemo acredita que, em 2004, ocorrerão
grandes avanços nessa área. Ele ressalta que a relação
custo/benefício decorrente da montagem e manutenção
dos bancos de sangue é excelente.
Atualmente
participam da rede as seguintes instituições: Hemocentro
de Ribeirão Preto - SP, Hospital Albert Einstein - SP, Hospital
das Clínicas - SP, Instituto Nacional do Câncer - RJ,
Universidade Federal do Paraná - Curitiba - PR e Unicamp
- Campinas - SP. Todas essas instituições deverão
cadastrar as suas unidades no Registro Nacional de Doadores de Medula
Óssea (Redome). Os pacientes com indicações
para transplante de medula óssea também deverão
estar cadastros no Redome. Dessa forma será possível
fazer um cruzamento de informações visando identificar
o doador compatível. Uma grande vantagem dessa rede é
que as células-tronco do cordão estão disponíveis
imediatamente.
De
acordo com o médico hematologista Gil de Santis, do Hemocentro
de Ribeirão Preto, a iniciativa de criação
de um banco de sangue de cordão brasileiro se deu pela dificuldade
de localização de possíveis doadores em bancos
internacionais, principalmente no Eurocord, que é o banco
de sangue europeu, e também pelo alto custo que isso representa.
A importação de uma unidade de sangue de cordão
umbilical de bancos internacionais custa US$ 32 mil. A coleta e
armazenamento de cada bolsa de sangue de cordão realizada
aqui no Brasil custa ao Sistema Único de Saúde (SUS),
aproximadamente US$ 3 mil.
Gil
explica que a miscigenação da população
brasileira dificulta muito encontrar um doador europeu que corresponda
às suas características. Dessa forma, a criação
de um banco de sangue brasileiro aumenta as chances de localização
de possíveis doadores, com maior rapidez. Dados do Redome
mostram que a chance de localização de um doador brasileiro
é vinte vezes maior que a localização de um
possível doador nos bancos internacionais.
Além
disso, como a proposta é ser uma rede pública, o objetivo
é atender o maior número possível de pessoas
gratuitamente. Mas isso depende essencialmente de investimentos
que, segundo o médico, só podem ser feitos pelas autoridades
governamentais.
"O
custo de montagem de um laboratório para conservação
das bolsas de sangue de cordão é muito alto. Obviamente
que com o tempo e o aumento do número de bolsas de sangue,
o custo tende a diminuir, mas o investimento inicial é muito
alto e só o governo pode bancar", afirma Gil de Santis.
De
acordo com informações do Dr. Luiz Bouzas, o INCA
possui atualmente um banco de sangue de cordão capaz de armazenar
3 a 4 mil unidades e teve um custo de montagem da ordem de R$ 1,5
milhão, investimento que ele considera pequeno se comparado
com o benefício que trará à população.
A técnica
disponibilizada atualmente nesses transplantes está voltada
aos pacientes com doenças hematológicas graves como
leucemia, anemia falciforme e talassemia. Mas nada impede que, com
o avanço nas pesquisas, o sangue de cordão umbilical
possa ser utilizado na cura de outros tipos de doenças.
Conservação e riscos de contaminação
Uma das preocupações do processo é em relação
à contaminação e aos possíveis riscos
de contaminação. O início se dá na coleta
do cordão umbilical, logo após o nascimento. Quando
já não há mais contato com a mãe e o
bebê, o sangue do cordão umbilical é retirado
e armazenado em uma bolsa e depois congelado em tanque de nitrogênio
líquido.
Santis
afirma que não há perda de qualidade no sangue congelado.
"Já foram realizados testes com bolsas de sangue descongeladas
mais de dez anos depois de colhidas as amostras e as características
do sangue permaneceram inalteradas não representando, portanto,
perigo algum para o receptor", explica ele.
Ainda
de acordo com o hematologista, existem pesquisadores que consideram
possível o congelamento do sangue por período indefinido.
Mas isso só o tempo confirmará. O que se sabe, com
certeza, é que o sangue pode ficar congelado por um período
superior a quinze anos sem sofrer alterações e isso
é bastante importante.
Outro
fator fundamental na manutenção da qualidade do sangue
congelado é o teste de esterilidade microbiológica.
Assim que o sangue é retirado do cordão uma pequena
amostra vai para teste com o objetivo de confirmação
da qualidade do sangue. Caso seja encontrada alguma contaminação
no sangue recolhido a bolsa é imediatamente descartada.
Mais
informações:
(JB)
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