|  
            
              
              Há 
              mais espaços lá embaixo  
            Um 
              convite para penetrar em um novo campo da física 
               
            Richard 
              P. Feynman 
               
            
               
                 
                  Esta 
                    é a transcrição de uma conferência 
                    dada pelo físico norte-americano Richard Feynman em 
                    29 de dezembro de 1959, no encontro anual da Sociedade Americana 
                    de Física (APS) no Instituto de Tecnologia da Califórnia 
                    (Caltech). Foi publicado pela primeira vez na edição 
                    de fevereiro de 1960 do Caltech's Engineering and Science. 
                    Pode ser também encontrado no Journal of Microelectromechanical 
                    Systems, vol. 1, número 1, pág. 60, de março 
                    de 1992, ou, na Internet 
                 | 
               
             
              
              
              
              
              
            Eu 
              imagino que um físico experimental deva freqüentemente 
              olhar com inveja para homens como Kamerlingh Onnes, que descobriu 
              o campo das baixas temperaturas, que parece não ter fim e 
              no qual pode-se sempre ir mais e mais fundo. Um homem assim é 
              um líder e tem um certo monopólio temporário 
              na aventura científica. Percy Bridgman, ao projetar um meio 
              de obter altas pressões, abriu outro novo campo e foi capaz 
              de penetrar nele e de orientar-nos nesse novo percurso. O desenvolvimento 
              de vácuos mais e mais perfeitos foi um desenvolvimento contínuo 
              do mesmo tipo. Eu gostaria de descrever um campo no qual pouco tem 
              sido feito, mas no qual, em princípio, uma enormidade pode 
              ser conseguida. Esse campo não é exatamente do mesmo 
              tipo que os outros, no sentido em que não nos dirá 
              muito sobre a física fundamental (na linha de "o que 
              são as partículas estranhas?"), mas assemelha-se 
              mais com a física do estado sólido, no sentido em 
              que pode dizer-nos muitas coisas de grande interesse sobre os estranhos 
              fenômenos que ocorrem em situações complexas; 
              além disso, um aspecto muito importante é que esse 
              campo terá um enorme número de aplicações 
              técnicas. 
            O que 
              eu quero falar é sobre o problema de manipular e controlar 
              coisas em escala atômica. 
            Tão 
              logo eu menciono isto, as pessoas me falam sobre miniaturização 
              e o quanto ela tem progredido nos dias de hoje. Elas contam-me sobre 
              motores elétricos com o tamanho de uma unha do seu dedo mindinho. 
              E que há um dispositivo no mercado, dizem elas, com o qual 
              pode-se escrever o Pai Nosso na cabeça de um alfinete. 
              Mas isso não é nada: é o passo mais primitivo 
              e hesitante na direção que eu pretendo discutir. É 
              um novo mundo surpreendentemente pequeno. No ano 2000, quando olharem 
              para esta época, elas se perguntarão por que só 
              no ano de 1960 que alguém começou a se movimentar 
              seriamente nessa direção. 
            Por 
              que não podemos escrever os 24 volumes inteiros da Enciclopédia 
              Britânica na cabeça de um alfinete? 
            Vamos 
              ver o que estaria envolvido nisso. A cabeça de um alfinete 
              tem um dezesseis avos de polegada de largura. Se você aumentar 
              seu diâmetro 25.000 vezes, a área da cabeça 
              do alfinete será igual a área de todas as páginas 
              da Enciclopédia Britânica. Assim, tudo o que se precisa 
              fazer é reduzir 25.000 vezes em tamanho todo o texto da Enciclopédia. 
              Isso é possível? O poder de resolução 
              do olho é de cerca de 1/120 de uma polegada - aproximadamente, 
              o diâmetro de um dos pequenos pontos em uma das boas e vetustas 
              edições da Enciclopédia. Isto, quando você 
              diminui em 25.000 vezes, ainda tem 80 angstroms de diâmetro 
              - 32 átomos de largura, em um metal ordinário. Em 
              outras palavras, um daqueles pontos ainda poderá conter em 
              sua área 1.000 átomos. Assim, cada ponto pode ter 
              seu tamanho facilmente ajustado segundo o requerido pela gravação, 
              e não resta dúvida sobre se há espaço 
              suficiente na cabeça de um alfinete para toda a Enciclopédia 
              Britânica. 
            Além 
              disso, ela poderá ser lida se puder ser escrita dessa forma. 
              Imaginemos que ela seja escrita em letras em alto-relevo de metal; 
              ou seja, onde existe o preto na Enciclopédia, fazemos letras 
              de metal em alto-relevo com 1/25.000 do seu tamanho ordinário. 
              Como leríamos isso? 
            Se 
              tivéssemos algo escrito dessa forma, poderíamos lê-lo 
              usando técnicas hoje comuns. (Eles indubitavelmente encontrarão 
              um meio melhor quando o tivermos de fato escrito, mas, para sermos 
              realistas, vou considerar apenas técnicas conhecidas hoje.) 
              Pressionaríamos o metal sobre um material plástico 
              e faríamos um molde; então, tiraríamos muito 
              cuidadosamente o plástico; vaporizaríamos sílica 
              sobre o plástico para obter um filme bem fino; depois, sombrearíamos 
              a sílica, vaporizando ouro em ângulo contra ela, de 
              forma que todas as letras apareçam claramente; dissolveríamos 
              o plástico do filme de sílica; e então olharíamos 
              através do filme com um microscópio eletrônico! 
            Não 
              há dúvida de que, se tudo fosse reduzido 25.000 vezes 
              na forma de letras em alto-relevo no alfinete, hoje seria fácil 
              para nós lermo-las. Além disso, não há 
              dúvida de que acharíamos fácil fazer cópias 
              da matriz; precisaríamos apenas de prensar a mesma placa 
              de metal contra o plástico e teríamos outra cópia. 
            Como 
              escrevemos pequeno? 
              A próxima questão é: como escrevemos isso? 
              Não temos nenhuma técnica padrão para fazê-lo 
              agora. Mas deixem-me argumentar que não é tão 
              difícil como pode parecer à primeira vista. Podemos 
              inverter as lentes de um microscópio eletrônico, de 
              forma que ele passe a reduzir tão bem quando amplie. Uma 
              fonte de íons, enviada através das lentes de um microscópio 
              invertido, poderia ser focalizada em um ponto muito pequeno. Poderíamos 
              escrever com esse ponto, como escrevemos com um osciloscópio 
              de raios catódicos de TV, caminhando por linhas, e com um 
              ajuste que determinaria a quantidade de material que seria depositada 
              enquanto corremos sobre as linhas. 
            Este 
              método pode ser muito lento, por causa das limitações 
              de espaço para carga. Haverá métodos mais rápidos. 
              Poderíamos primeiro fazer, talvez através de algum 
              processo fotográfico, um anteparo com orifícios em 
              forma de letras. Então, dispararíamos um arco elétrico 
              atrás dos buracos e faríamos passar íons metálicos 
              através deles; depois, poderíamos novamente usar nosso 
              sistema de lentes e fazer uma imagem pequena na forma de íons, 
              que depositariam o metal no alfinete. 
            Uma 
              maneira mais simples poderia ser esta (ainda que eu não esteja 
              certo de que funcionaria): Através de um microscópio 
              óptico invertido, focalizamos luz sobre uma superfície 
              fotoelétrica muito pequena. Então, os elétrons 
              escapam da superfície, a partir do ponto que a luz está 
              iluminando. Esses elétrons são focalizados pelas lentes 
              de um microscópio eletrônico, para chocar-se diretamente 
              contra a superfície do metal. Tal feixe escavará o 
              metal se funcionar por tempo suficiente? Eu não sei. Se não 
              funcionar para uma superfície metálica, pode ser possível 
              encontrar uma superfície com a qual se cubra o alfinete original 
              e tal que, quando os elétrons a bombardeiem, ocorra alguma 
              mudança que possamos reconhecer mais tarde. 
            Não 
              há problema nesses dispositivos com relação 
              à intensidade - ao contrário do que você está 
              acostumado na ampliação, onde você tem que pegar 
              uns poucos elétrons e espalhá-los sobre um anteparo 
              cada vez maior; é justamente o contrário. A luz que 
              obtemos de uma página é concentrada em uma área 
              muito pequena, e por isso é muito intensa. Os poucos elétrons 
              que vêm da superfície fotoelétrica são 
              reduzidos a uma área bem diminuta, de forma que, novamente, 
              são muito intensos. Não sei por que isso não 
              foi feito antes! 
            Isso 
              quanto à Enciclopédia Britânica na cabeça 
              de um alfinete; mas vamos considerar todos os livros do mundo. A 
              Biblioteca do Congresso [norte-americano] tem aproximadamente 9 
              milhões de volumes; a Biblioteca do Museu Britânico 
              tem 5 milhões de volumes; há também 5 milhões 
              de volumes na Biblioteca Nacional na França. Indubitavelmente, 
              há duplicações; portanto, digamos que há 
              cerca de 24 milhões de volumes de interesse no mundo. 
            O que 
              aconteceria se eu imprimisse tudo isso na escala sobre a qual vimos 
              discutindo? Quanto espaço vai ocupar? Ocuparia, claro, a 
              área de cerca de um milhão de alfinetes, porque, ao 
              invés de haver apenas os 24 volumes da Enciclopédia, 
              haveria 24 milhões de volumes. Um milhão de cabeças 
              de alfinete podem ser postas em um quadrado de mil alfinetes de 
              lado, ou uma área de cerca de 3 jardas quadradas [cerca de 
              2,5 metros quadrados]. Ou seja, a réplica de sílica 
              com o recobrimento de plástico da espessura de um papel, 
              com a qual fizemos as cópias, com toda essa informação, 
              está em uma área de aproximadamente o tamanho de 35 
              páginas da Enciclopédia. Isto é cerca de metade 
              da quantidade de páginas que há nesta revista. Toda 
              a informação que toda a humanidade já registrou 
              em livros pode ser transferida para um panfleto em sua mão 
              - e não escrita em código, mas uma simples reprodução 
              das imagens e estampas originais e tudo o mais em uma escala pequena, 
              sem perda de resolução. 
            O que 
              diria nossa bibliotecária no Caltech, enquanto ela circula 
              pelo acervo, se eu lhe disser que daqui a dez anos toda a informação 
              que ela está lutando para não perder de vista - 120.000 
              volumes, empilhados do chão até o teto, gavetas cheias 
              de fichas, depósitos cheios de livros antigos - poderá 
              ser armazenado em uma única ficha! Quando a Universidade 
              do Brasil, por exemplo, descobrir que sua biblioteca foi incendiada, 
              podemos enviar-lhes uma cópia de cada livro em nossa biblioteca 
              tirando uma réplica da placa-matriz em umas poucas horas 
              e enviando-a em um envelope não maior nem mais pesado do 
              que qualquer outra carta comum por via aérea. 
            Agora, 
              o título dessa palestra é "Há muito espaço 
              lá embaixo" - não apenas "Há espaço 
              lá embaixo". O que eu demonstrei é que há 
              espaço - que você pode diminuir o tamanho das coisas 
              de uma maneira prática. Eu agora quero mostrar que há 
              muito espaço. Não vou discutir agora como faremos 
              isso, mas somente o que é possível em princípio 
              - em outras palavras, o que é possível de acordo 
              com as leis da física. Não estou inventando a anti-gravidade, 
              que será possível um dia apenas se as leis não 
              sejam as que nós pensamos. Estou dizendo a vocês o 
              que poderíamos fazer se as leis fossem as que pensamos; ainda 
              não o estamos fazendo simplesmente porque ainda não 
              chegamos lá. 
            Informação 
              em escala pequena 
              Suponha que, ao invés de tentarmos reproduzir as imagens 
              e toda a informação diretamente em sua forma presente, 
              escrevamos apenas o conteúdo de informação 
              em um código de pontos e traços ou algo do tipo, para 
              representar as várias letras. Cada letra representa seis 
              ou sete "bits" de informação; isto é, 
              você precisa de apenas cerca de seis ou sete pontos ou traços 
              para cada letra. Agora, ao invés de escrever tudo na superfície 
              da cabeça de um alfinete, como fizemos antes, vou usar também 
              o interior do material. Representemos um ponto por uma pequena marca 
              de metal, o próximo traço por uma marca adjacente 
              feita de outro metal, e assim por diante. Suponha, para mantermos 
              os pés no chão, que um bit de informação 
              necessitará de um pequeno cubo de 5 por 5 por 5 átomos 
              - ou seja, 125 átomos. Talvez precisemos de uns cento e 
              poucos átomos para termos certeza de que a informação 
              não foi perdida por difusão ou algum outro processo. 
            Eu 
              estimei quantas letras existem na Enciclopédia e supus que 
              cada um dos meus 24 milhões de livros é tão 
              grande quanto um de seus volumes, e calculei, então, quantos 
              bits de informação existem (10^15). Para cada bit, 
              eu deixo 100 átomos. E o resultado é que toda a informação 
              que o homem cuidadosamente acumulou em todos os livros do mundo 
              pode ser escrita desta forma em um cubo de material com um ducentésimo 
              de polegada de largura - que é a menor partícula 
              de poeira que pode ser distinguida pelo olho humano. Assim, há 
              muito espaço lá embaixo! Não me falem de microfilmes! 
            Este 
              fato - que quantidades enormes de informação podem 
              ser colocadas em um espaço extraordinariamente pequeno - 
              é, evidentemente, bem conhecido dos biólogos, e resolve 
              o mistério que existia antes de compreendermos tudo isso 
              claramente, ou seja, como podia ser que, na mais diminuta célula, 
              toda a informação para a organização 
              de uma criatura complexa como nós mesmos podia estar armazenada. 
              Toda essa informação - se temos olhos castanhos, 
              se raciocinamos, ou que no embrião o osso da mandíbula 
              deveria se desenvolver inicialmente com um pequeno orifício 
              do lado, de forma que mais tarde um nervo poderia crescer através 
              dele - toda essa informação está contida em 
              uma fração minúscula da célula, em forma 
              de uma longa cadeia de moléculas de DNA, na qual aproximadamente 
              50 átomos são usados para cada bit de informação 
              sobre a célula. 
            Melhores 
              microscópios eletrônicos 
              Se eu escrevi em código, usando 5 por 5 por 5 átomos 
              para um bit, a pergunta é: como eu poderia ler isso hoje? 
              O microscópio eletrônico não é bom o 
              suficiente; com o maior cuidado e esforço, ele pode resolver 
              apenas até cerca de 10 angstroms. Eu gostaria de tentar e 
              transmitir a vocês, enquanto estou falando de todas essas 
              coisas em escala pequena, a importância de melhorar o microscópio 
              eletrônico cem vezes. Não é impossível; 
              não está contra as leis da difração 
              do elétron. O comprimento de onda do elétron em um 
              tal microscópio é de apenas 1/20 de um angstrom. Assim, 
              deveria ser possível ver os átomos individuais. Que 
              vantagem haveria em distinguir os átomos individuais? 
            Temos 
              amigos em outros campos - em biologia, por exemplo. Nós, 
              físicos, freqüentemente os vemos e dizemos: "Vocês 
              sabem a razão pela qual seus camaradas estão fazendo 
              tão pouco progresso?" (Na verdade, não conheço 
              nenhum campo onde estão progredindo mais rápido que 
              na biologia hoje.) "Vocês deveriam usar mais matemática, 
              como nós." Eles poderiam responder - mas eles são 
              educados, então eu vou responder por eles: "O que vocês 
              poderiam fazer por nós para progredirmos mais rapidamente 
              é fazer um microscópio eletrônico 100 vezes 
              melhor." 
            Quais 
              são os problemas mais centrais e fundamentais da biologia 
              hoje? Há perguntas do tipo: qual é a seqüência 
              de bases no DNA? O que acontece quando há uma mutação? 
              Como a ordem das bases no DNA está relacionada com a ordem 
              dos aminoácidos nas proteínas? Qual é a estrutura 
              do RNA; é uma cadeia simples ou dupla, e como a ordem de 
              suas bases está relacionada ao DNA? Qual é a organização 
              dos microssomos? Como as proteínas são sintetizadas? 
              Onde entra o RNA? Como atua? Onde entram as proteínas? Qual 
              o papel dos aminoácidos? Na fotossíntese, onde entra 
              a clorofila; como está diposta; onde estão os carotenóides 
              envolvidos? Qual é o sistema de conversão da luz em 
              energia química? 
            É 
              fácil responder a muitas dessas questões biológicas 
              fundamentais; você simplesmente olha para a coisa! Você 
              verá a ordem de bases na cadeia; você verá a 
              estrutura do microssomo. Infelizmente, os microscópios atuais 
              vêem em uma escala apenas um pouco tosca demais. Faça-se 
              um microscópio cem vezes mais poderoso e muitos problemas 
              da biologia se tornariam muito mais fáceis. Eu exagero, claro, 
              mas os biólogos estariam certamente muito agradecidos a vocês 
              - e eles prefeririam isso do que a crítica de que deveriam 
              usar mais matemática. 
            A teoria 
              atual dos processos químicos é baseada na física 
              teórica. Neste sentido, a física provê o fundamento 
              da química. Mas a química também tem análise. 
              Se você tem uma substância estranha e você quer 
              saber o que é, você passa por um longo e complicado 
              processo de análise química. Hoje você pode 
              analisar quase qualquer coisa; então, estou um pouco atrasado 
              com minha idéia. Mas, se os físicos quisessem, eles 
              poderiam também "cutucar" o problema da análise 
              química. Seria muito fácil fazer uma análise 
              de qualquer substância química complexa; tudo o que 
              teria que se fazer seria olhá-la e ver onde os átomos 
              estão. O único problema é que o microscópio 
              eletrônico é cem vezes pobre demais. (Depois, eu gostaria 
              de colocar a questão: poderão os físicos fazer 
              algo a respeito do terceiro problema da química - a síntese? 
              Há algum meio físico para sintetizar uma substância 
              química?) 
            A razão 
              pela qual o microscópio eletrônico é tão 
              fraco é que o número f das lentes é apenas 
              de uma parte em 1000; você não tem uma abertura grande 
              o suficiente. E eu sei que há teoremas que provam que é 
              impossível, com lentes de campo estacionário axialmente 
              simétricas, produzir um número f maior do que isso; 
              e, portanto, o poder de resolução hoje está 
              no seu máximo teórico. Mas em qualquer teorema há 
              suposições. Por que o campo deveria ser simétrico? 
              Eu coloco isso como um desafio: Não há nenhuma maneira 
              de fazer um microscópio eletrônico mais poderoso? 
            O 
              maravilhoso sistema biológico 
              O exemplo biológico de escrever informação 
              em uma escala pequena inspirou-me a pensar em algo que pudesse ser 
              possível. A biologia não é simplesmente escrever 
              informação; é fazer algo com ela. Várias 
              das células são muito pequenas, mas podem ser muito 
              ativas; elas fabricam várias substâncias; deslocam-se; 
              vibram; e fazem todos os tipos de coisas maravilhosas - tudo em 
              uma escala muito pequena. Além disso, armazenam informação. 
              Considerem a possibilidade de que nós também possamos 
              construir algo muito pequeno que faça o que queiramos - 
              que possamos fabricar um objeto que manobra naquele nível! 
            Pode 
              haver inclusive aspectos econômicos com relação 
              a essa atividade de fazer coisas muito pequenas. Deixem-me lembrá-los 
              de alguns problemas dos computadores. Nessas máquinas, temos 
              que armazenar uma enorme quantidade de informação. 
              O tipo de escrita que eu mencionava antes, na qual eu tinha tudo 
              como uma configuração de metal, é permanente. 
              Muito mais interessante para um computador é uma forma de 
              escrever, apagar e escrever outra coisa. (Isso, em geral porque 
              não queremos desperdiçar o material sobre o qual já 
              escrevemos. Mesmo que pudéssemos escrevê-lo em um espaço 
              muito pequeno, não faria nenhuma diferença; poderia 
              simplesmente ser jogado fora depois que lido. Não custa muito 
              para o material). 
            Miniaturizando 
              o computador 
              Eu não sei como fazer isso em uma escala pequena de uma maneira 
              prática, mas eu sei que os computadores são bem grandes; 
              eles preenchem cômodos inteiros. Por que não poderíamos 
              fazê-los muito pequenos, fazê-los de pequenos 
              fios, pequenos elementos - e, por pequeno, eu quero dizer pequeno. 
              Por exemplo, os fios deveriam ter 10 ou 100 átomos de diâmetro, 
              e os circuitos deveriam ter uns poucos milhares de angstroms de 
              largura. Todo mundo que já tenha analisado a teoria lógica 
              dos computadores já chegou à conclusão de que 
              as possibilidades dos computadores são muito interessantes 
              - se eles puderem tornar-se mais complexos em várias ordens 
              de grandeza. Se eles tivessem milhões de vezes mais elementos, 
              poderiam fazer julgamentos. Teriam tempo para calcular qual é 
              o melhor caminho para fazer um cálculo que estejam prestes 
              a executar. Selecionariam o método de análise que, 
              de sua experiência, seja melhor do que o que lhes fornecemos. 
              E, de muitas outras formas, eles teriam muitos aspectos qualitativos 
              novos. Se eu olho para a sua face, eu reconheço imediatamente 
              o que eu havia visto antes. (Na verdade, meus amigos diriam que 
              eu escolhi um exemplo ruim como ilustração. Pelo menos, 
              eu reconheço que é um homem e não uma maçã.) 
              Mas não há nenhuma máquina que, com essa velocidade, 
              possa pegar a imagem de uma face e dizer nem mesmo que é 
              um homem; e muito menos que é o mesmo homem que você 
              mostrou antes - a menos que seja exatamente a mesma imagem. Se 
              a face é alterada; se estou mais perto da face; se estou 
              mais longe; se muda a luz - eu reconheço-a. Agora, este 
              pequeno computador que eu carrego em minha cabeça é 
              facilmente capaz de fazer isso. Já os computadores que construímos 
              não são. O número de elementos nesta minha 
              caixa óssea é enormemente maior do que o número 
              de elementos em nossos computadores "maravilhosos". Mas 
              nossos computadores mecânicos são muito grandes; os 
              elementos nesta caixa são microscópicos. Eu quero 
              fazer alguns submicroscópicos. 
            Se 
              quiséssemos fazer um computador que tivesse todas essas maravilhosas 
              habilidades qualitativas extras, teríamos que fazê-lo, 
              talvez, do tamanho do Pentágono. Isso tem várias desvantagens. 
              Primeiro, precisa de muito material; pode não haver germânio 
              suficiente no mundo para todos os transístores que teriam 
              que ser colocados nessa coisa enorme. Há também o 
              problema da geração de calor e consumo de potência; 
              seria necessário TVA para fazer o computador funcionar. Mais 
              uma dificuldade ainda mais prática é que o computador 
              seria limitado a uma certa velocidade. Por causa de seu grande tamanho, 
              é requerido um tempo finito para levar a informação 
              de um lugar a outro. A informação não pode 
              viajar mais rápido do que a velocidade da luz - assim, em 
              última análise, à medida que nossos computadores 
              tornam-se mais e mais rápidos e mais e mais elaborados, teremos 
              que fazê-los menores e menores. 
            Mas 
              há muito espaço para fazê-los menores. Não 
              há nada que eu possa ver nas leis físicas que diga 
              que os elementos dos computadores não possam ser feitos enormemente 
              menores que são atualmente. Na verdade, pode haver certas 
              vantagens. 
            Miniaturização 
              e evaporação 
              Como faríamos um equipamento assim? Que tipo de processo 
              de fabricação usaríamos? Uma possibilidade 
              que poderíamos considerar, desde que conversamos sobre escrever 
              e colocar átomos em uma certa disposição, seria 
              vaporizar o material, e então vaporizar o isolante ao seu 
              lado. Então, para a próxima camada, vaporizar outro 
              fio em outra posição, outro isolante, e assim por 
              diante. Assim, você simplesmente vaporiza até que você 
              tenha um bloco que contenha os elementos - bobinas e condensadores, 
              transístores, etc. - com dimensões extraordinariamente 
              minúsculas. 
            Mas 
              eu gostaria de discutir, só para nos divertirmos, que existem 
              ainda outras possiblidades. Por que não podemos fabricar 
              esses pequenos computadores da mesma forma que fabricamos os grandes? 
              Por que não podemos furar buracos, cortar, soldar ou estampar 
              coisas, modelar diferentes formas, tudo em um nível infinitesimal? 
              Quais as limitações em relação a quão 
              pequeno algo tem de ser antes que você não consiga 
              mais modelá-la? Quantas vezes, quando você está 
              trabalhando em algo tão frustrantemente minúsculo 
              como o relógio de pulso de sua esposa, você disse a 
              si mesmo: "Ah! se eu pudesse treinar uma formiga para fazer 
              isso!" O que eu gostaria de sugerir é a possibilidade 
              de treinar uma formiga para treinar um ácaro para fazer isso. 
              Quais as possibilidades para máquinas diminutas, porém 
              móveis? Elas podem ou não ser úteis, mas certamente 
              seria muito divertido fazê-las. 
            Considerem 
              qualquer máquina - por exemplo, um automóvel - e 
              perguntem-se sobre os problemas de se replicar uma tal máquina 
              em escala infinitesimal. Suponham, no design particular de 
              um automóvel, que nós precisemos de uma certa precisão 
              em relação aos componentes; precisamos de uma exatidão 
              de, digamos, 4/10.000 de polegada. Se as coisas forem mais imprecisas 
              do que isso na forma de um cilindro ou outras formas, não 
              vai funcionar muito bem. Se eu faço muito pequeno, eu tenho 
              de me preocupar com o tamanho dos átomos; não posso 
              fazer um círculo de "bolas", por assim dizer, se 
              o círculo é muito pequeno. Assim, se eu cometer um 
              erro correspondente a 4/10.000 de polegada, que corresponderá 
              a um erro de 10 átomos, resulta que eu posso reduzir as dimensões 
              de um automóvel em aproximadamente 4.000 vezes - de forma 
              que ele fica com um milímetro de comprimento. Obviamente, 
              se você redesenha o carro de modo que ele funcione dentro 
              de uma faixa de tolerância muito maior, o que não é 
              de todo impossível, você poderia obter um equipamento 
              muito menor. 
            É 
              interessante considerar quais seriam os problemas em máquinas 
              tão pequenas. Primeiramente, em componentes tensionadas no 
              mesmo grau, as forças crescem como a área que você 
              está reduzindo, de forma que coisas como peso ou inércia 
              são relativamente sem importância. A resistência 
              do material, em outras palavras, é proporcionalmente muito 
              maior. As tensões e a expansão do volante do motor 
              sob as forças centrífugas, por exemplo, estariam na 
              mesma proporção apenas se a velocidade de rotação 
              aumentasse na mesma proporção em que diminuímos 
              o tamanho. Por outro lado, os metais que usamos têm uma estrutura 
              granular, e isso causaria muitos aborrecimentos em uma escala pequena, 
              já que o material não é homogêneo. Plásticos, 
              vidros e coisas de natureza amorfa semelhante são muito mais 
              homogêneos e, assim, teríamos de fazer nossas máquinas 
              a partir de tais materiais. 
            Há 
              problemas associados com as partes elétricas do sistema - 
              com os fios de cobre e os componentes magnéticos. As propriedades 
              magnéticas, em uma escala muito pequena, não são 
              as mesmas que em uma escala maior; há o problema do "domínio" 
              envolvido. Um grande magneto feito de milhões de domínios 
              pode ser reproduzido em escala pequena com até um único 
              domínio, apenas. O equipamento elétrico não 
              será só redimensionado; terá de ser redesenhado. 
              Mas eu não vejo razão por que ele não possa 
              ser redesenhado de forma a poder funcionar novamente. 
            Problemas 
              de lubrificação 
              A lubrificação envolve algumas questões 
              interessantes. A viscosidade efetiva do óleo seria cada vez 
              mais alta à medida que diminuímos a escala (e se aumentamos 
              a velocidade tanto quanto possamos). Se não aumentamos tanto 
              a velocidade, e substituímos o óleo por querosene 
              ou outro fluido, o problema não parece tão ruim. Mas, 
              na verdade, nós talvez não tenhamos de lubrificá-lo! 
              Temos muita força extra. Deixemos os mancais secos; eles 
              não se aquecerão, porque o calor escapa de dispositivos 
              tão pequenos muito, muito rapidamente. 
            Esta 
              perda rápida de calor impediria que a gasolina explodisse; 
              assim, seria impossível utilizarmos um motor de combustão 
              interna. Outras reações químicas, que liberem 
              energia a frio, poderiam ser usadas. Provavelmente, uma fonte externa 
              de eletricidade seria mais conveniente para máquinas tão 
              pequenas. 
            Qual 
              seria a utilidade de tais máquinas? Quem sabe? Naturalmente, 
              um pequeno automóvel seria útil apenas para os ácaros 
              passearem, e eu suponho que nossas inclinações de 
              bom samaritano não cheguem a tanto. Entretanto, nós 
              enfatizamos a possibilidade da fabricação de pequenos 
              elementos para computadores em fábricas totalmente automatizadas, 
              contendo tornos e outras ferramentas em escala muito pequena. O 
              pequeno torno não precisaria ser exatamente como o nosso 
              grande torno. Deixo para sua imaginação os aperfeiçoamentos 
              do design que possam ser mais vantajosos para as propriedades 
              de objetos em pequena escala, e de forma que fique mais fácil 
              dar conta da necessidade de automatização. 
            Um 
              amigo meu (Albert R. Hibbs) sugere uma possibilidade muito interessante 
              para máquinas relativamente pequenas. Ele diz que, embora 
              seja uma idéia bastante selvagem, seria interessante se, 
              numa cirurgia, você pudesse engolir o cirurgião. Você 
              coloca o cirurgião mecânico dentro da veia, e ele vai 
              até o coração e "dá uma olhada" 
              em torno. (Naturalmente, a informação tem que ser 
              transmitida para fora.) Ele descobre qual é a válvula 
              defeituosa, saca uma pequena faca e corta-a fora. Outras máquinas 
              pequenas poderiam ser permanentemente incorporadas ao organismo 
              para assistir algum órgão deficiente. 
            Agora 
              vem a questão interessante: como fazemos um mecanismo tão 
              pequeno? Deixo isso para vocês. Entretanto, deixem-me sugerir 
              uma possibilidade estranha. Você sabe, nas usinas atômicas 
              eles têm materiais e máquinas que não podem 
              ser manuseadas diretamente, porque tornaram-se radioativos. Para 
              desparafusar porcas, colocar parafusos, etc., eles têm um 
              conjunto de mãos mestres e servas, de forma que, operando 
              um conjunto de alavancas aqui, você controla as "mãos" 
              lá, pode virá-las para lá e para cá, 
              e assim você pode manusear as coisas confortavelmente. 
            Grande 
              parte desses dispositivos são, na verdade, feitos de modo 
              bastante simples, no sentido de que há um cabo específico, 
              como um cordão de marionete, que vai diretamente dos controles 
              até as "mãos". Mas, é claro, eles 
              também fizeram isso usando servomotores, de forma que a conexão 
              entre uma coisa e outra fosse mais elétrica que mecânica. 
              Quando você manuseia as alavancas, elas acionam um servomotor, 
              o que altera as correntes elétricas nos fios, que reposicionam 
              um motor na outra extremidade. 
            Agora, 
              eu quero fazer reproduzir o mesmo dispositivo - um sistema servo-mestre 
              que opera eletricamente. Mas eu quero que os servos sejam feitos 
              de forma particularmente cuidadosa por operadores modernos em escala 
              grande, de forma que eles tenham um quarto do tamanho das "mãos" 
              que você normalmente manobra. Assim, você tem um esquema 
              com o qual você pode produzir coisas numa escala reduzida 
              em quatro vezes - os pequenos servomotores com pequenas mãos 
              operam com pequenas porcas e parafusos; fazem pequenos buracos; 
              eles são quatro vezes menores. Ahá! Assim, eu produzo 
              um torno quatro vezes menor; ferramentas quatro vezes menores; e 
              produzo, em escala quatro vezes menor, ainda outro conjunto de mãos, 
              por sua vez mais quatro vezes menores. Isso dá um dezesseis 
              avos do tamanho, do meu ponto de vista. Depois de acabar isso, eu 
              passo diretamente do meu sistema em escala grande, talvez usando 
              transformadores, para os servomotores 16 vezes menores. Logo, eu 
              posso manipular as mãos 16 vezes menores. 
            Bem, 
              a partir disso, vocês têm os princípios. É 
              um programa um tanto difícil, mas é uma possibilidade. 
              Você poderia dizer que pode-se ir mais longe em um único 
              estágio do que por etapas. Naturalmente, tudo isso deve ser 
              desenhado de forma muito cuidadosa, e não é necessário 
              fazê-lo apenas como mãos. Se você pensar sobre 
              isso com cuidado, você provavelmente chegaria em um sistema 
              muito melhor. 
            Se 
              você trabalhar com um pantógrafo, mesmo hoje, você 
              pode conseguir um fator muito melhor do que quatro em um único 
              passo. Mas você não pode trabalhar diretamente com 
              um pantógrafo que faz um pantógrafo menor, que então 
              faz um pantógrafo ainda menor - por causa da imprecisão 
              dos buracos e irregularidades da construção. A extremidade 
              do pantógrafo oscila de forma relativamente mais irregular 
              do que o movimento de suas mãos. Diminuindo essa escala, 
              eu veria a extremidade do pantógrafo na extremidade do pantógrafo 
              na extremidade do pantógrafo sacudindo tanto que não 
              estaria fazendo nada de aproveitável. 
            Em 
              cada etapa, é necessário aumentar a precisão 
              do equipamento. Se, por exemplo, tendo feito um pequeno torno com 
              um pantógrafo, constatarmos que seu parafuso está 
              irregular - mais irregular do que o na escala grande - poderíamos 
              pegar o parafuso e uma porca e lapidá-los um contra o outro, 
              virando para a frente e para trás da maneira usual, até 
              que o parafuso esteja, em sua escala, tão preciso quanto 
              nossos parafusos originais na nossa escala. 
            Podemos 
              fazer superfícies planas esfregando superfícies não-planas 
              três a três, e as superfícies se tornariam mais 
              planas que a original. Assim, não é impossível 
              melhorar a precisão em escala pequena usando as operações 
              adequadas. Desta forma, quando construímos esses dispositivos, 
              é necessário, em cada passo, aumentar a precisão 
              do equipamento, trabalhando por algum tempo em escala pequena, produzindo 
              parafusos precisos, blocos de Johansen e todos os demais materiais 
              que usamos em trabalhos de precisão no nível grande. 
              Temos que parar em cada nível e fabricar todas as peças 
              para chegar ao próximo nível - um programa muito 
              longo e difícil. Talvez você possa imaginar uma maneira 
              melhor para chegar mais depressa à escala pequena. 
            Ainda 
              assim, depois de tudo isso, você apenas obteve um pequeno 
              torno-bebê quatro mil vezes menor do que o normal. Mas estávamos 
              pensando em fazer um computador enorme, que construiríamos 
              fazendo buracos com esse torno, para fazer pequenas arruelas para 
              o computador. Quantas arruelas você poderia fabricar com esse 
              único torno? 
            Mil 
              pequenas mãos 
              Quando eu faço meu primeiro conjunto de "mãos" 
              servas na escala quatro vezes menor, vou fazer dez conjuntos. Faço 
              dez conjuntos de "mãos" e eu as conecto às 
              minhas alavancas originais, de forma que cada uma delas faça 
              exatamente a mesma coisa ao mesmo tempo e em paralelo. Agora, quando 
              estou fazendo meus novos dispositivos novamente quatro vezes menores, 
              deixo cada um deles produzir dez cópias, e assim terei cem 
              "mãos" em uma escala de 1/16. Onde colocarei o 
              milhão de tornos que terei? Por que, não tem nada 
              de mais; o volume é muito menor do que o de um único 
              torno em escala normal. Por exemplo, se eu fiz um bilhão 
              de pequenos tornos, cada um deles em uma escala de 1/4.000 do torno 
              normal, haverá considerável quantidade de materiais 
              e espaço disponíveis, porque, no bilhão de 
              pequenos tornos, há menos do que 2 por cento do material 
              usados no grande. 
            Não 
              custa nada em termos de materiais, vocês podem ver. Assim, 
              quero construir um bilhão de pequenas fábricas, modelos 
              umas das outras, que estão simultaneamente produzindo, fazendo 
              buracos, juntando componentes, etc. 
            À 
              medida que diminuímos o tamanho, há um número 
              de problemas interessantes que vão surgindo. As coisas não 
              reduzem a escala simplesmente de forma proporcional. Há o 
              problema de que os materiais unem-se pelas atrações 
              intermoleculares (van der Waals). Seria algo como isso: depois que 
              você fabrica um componente e desparafusa uma porca, ele não 
              cairá, porque a gravidade não é apreciável; 
              seria mesmo mais difícil tirá-lo do parafuso. Seria 
              como aqueles velhos filmes com um homem tentando se livrar de um 
              copo d'água com mãos cheias de melaço. Haverá 
              vários problemas dessa natureza com os quais deveremos estar 
              prontos para lidar. 
            Rearranjando 
              os átomos 
              Mas não tenho medo de considerar a questão final 
              em relação a se, em última análise - 
              no futuro longínquo -, poderemos arranjar os átomos 
              da maneira que queremos; os próprios átomos, no último 
              nível de miniaturização! O que aconteceria 
              se pudéssemos dispor os átomos um por um da forma 
              como desejamos (dentro do razoável, é claro; você 
              não pode dispô-los de forma que, por exemplo, sejam 
              quimicamente instáveis). 
            Até 
              agora, nós nos contentamos em escavar o chão para 
              encontrar minerais. Nós os aquecemos e fazemos coisas com 
              eles em escala grande, e esperamos obter uma substância pura 
              a partir de tanta impureza, e assim por diante. Mas temos sempre 
              de aceitar alguns arranjos atômicos que a natureza nos dá. 
              Não temos nada como, digamos, um arranjo do tipo "tabuleiro 
              de damas", com os átomos de impureza dispostos exatamente 
              1.000 angstroms uns dos outros, ou em algum outro padrão 
              específico. 
            O que 
              poderíamos fazer com estruturas em camadas se tivéssemos 
              exatamente as camadas corretas? Quais seriam as propriedades dos 
              materiais se pudéssemos realmente arranjar os átomos 
              como bem entendêssemos? Elas seriam muito interessantes de 
              se investigar teoricamente. Não posso ver exatamente o que 
              aconteceria, mas dificilmente posso duvidar que, quando tivermos 
              algum controle sobre a disposição das coisas na escala 
              pequena, teremos um leque enormemente maior de propriedades possíveis 
              para as substâncias, e de diferentes coisas que poderíamos 
              fazer. 
            Considere, 
              por exemplo, um pedaço de material no qual fazemos pequenas 
              bobinas e condensadores (ou seus análogos do estado sólido) 
              de 1.000 ou 10.000 angstroms em um circuito, um exatamente ao lado 
              do outro, sobre uma área extensa, com pequenas antenas espetadas 
              na outra extremidade - toda uma série de circuitos. É 
              possível, por exemplo, emitir luz de todo um conjunto de 
              antenas, como emitimos ondas de rádio de um conjunto organizado 
              de antenas para transmitir programas para a Europa? O mesmo aconteceria 
              para transmitir luz de intensidade muito alta em uma direção 
              definida. (Talvez tal transmissão não seja muito útil 
              técnica ou economicamente). 
            Tenho 
              pensado sobre alguns dos problemas relativos à construção 
              de circuitos elétricos em escala pequena, e o problema da 
              resistência é sério. Se você faz um circuito 
              correspondente em escala pequena, sua freqüência natural 
              aumenta, uma vez que o comprimento de onda diminui com a escala; 
              mas a profundidade de penetração do campo eletromagnético 
              decresce só com a raiz quadrada da escala e, assim, os problemas 
              de resistência apresentam dificuldade crescente. Possivelmente, 
              podemos dar conta da resistência usando a supercondutividade, 
              se a freqüência não é demasiadamente alta, 
              ou por outros artifícios. 
            Átomos 
              no mundo pequeno 
              Quando vamos ao mundo muito, muito pequeno - digamos, circuitos 
              de sete átomos -, acontecem uma série de coisas novas 
              que significam oportunidades completamente novas para design. 
              Átomos na escala pequena não se comportam como nada 
              na escala grande, pois eles seguem as leis da mecânica quântica. 
              Assim, à medida em que descemos de escala e brincamos com 
              os átomos, estaremos trabalhando com leis diferentes, e poderemos 
              esperar fazer coisas diferentes. Podemos produzir de formas diferentes. 
              Podemos usar não apenas circuitos, mas algum sistema envolvendo 
              os níveis quantizados de energia, ou as interações 
              entre spins quantizados, etc. 
            Outra 
              coisa que constataremos é que, se formos longe o bastante, 
              todos os nossos dispositivos poderão ser produzidos em massa, 
              de forma que serão réplicas absolutamente perfeitas 
              uns dos outros. Não podemos fazer duas máquinas grandes 
              de forma a que as dimensões sejam exatamente as mesmas. Mas, 
              se a sua máquina tem apenas 100 átomos de altura, 
              você tem de torná-la precisa em apenas meio por cento 
              para ter certeza de que a outra máquina tenha exatamente 
              o mesmo tamanho - ou seja, 100 átomos de altura! 
            No 
              nível atômico, temos novos tipos de forças e 
              novos tipos de possibilidades, novos tipos de efeitos. Os problemas 
              de fabricação e reprodução de materiais 
              serão bem diferentes. Minha inspiração, como 
              eu disse, vem de fenômenos biológicos, nos quais as 
              forças químicas são usadas de uma forma repetitiva 
              para produzir todo tipo de efeitos estranhos (um dos quais é 
              este autor). 
            Os 
              princípios da física, tanto quanto podemos perceber, 
              não implicam na impossibilidade de manipular coisas átomo 
              por átomo. Não se trata de uma tentativa de violar 
              quaisquer leis; é algo que, em princípio, pode ser 
              feito, mas, na prática, ainda não o foi, porque nós 
              somos grandes demais. 
            Em 
              última análise, podemos fazer sínteses químicas. 
              Um químico vem e nos diz: "Olhe, eu quero uma molécula 
              que tenha os átomos dispostos assim e assim; faça-me 
              essa molécula." O químico faz uma coisa misteriosa 
              quando ele quer obter uma molécula. Ele vê que ela 
              tem tal forma; então ele mistura isso e aquilo, chacoalha 
              e brinca um pouco com aquilo. E, no final de um processo difícil, 
              em geral ele obtém sucesso em sintetizar o que quer. Na altura 
              em que eu conseguir meus dispositivos funcionando, de modo a podermos 
              fazer isso com a física, ele terá descoberto como 
              sintetizar absolutamente qualquer coisa, de forma que isso será 
              completamente inútil. 
            Mas 
              é interessante que seria possível, em princípio 
              (eu acho), para um físico, sintetizar qualquer substância 
              química que o químico escreva. Dê as ordens 
              e o físico sintetiza. Como? Coloque os átomos ali 
              onde o químico diz; assim, você faz a substância. 
              Os problemas de química e biologia poderão ser bastante 
              reduzidos se nossa habilidade de ver o que estamos fazendo, e de 
              fazer as coisas em nível atômico, for finalmente desenvolvida 
              - um avanço que, penso, não pode ser evitado. 
            Agora, 
              você pode dizer: "Quem deveria fazer isso e por que deveriam 
              fazê-lo?" Bem, eu mostrei algumas das aplicações 
              econômicas, mas eu sei que a razão pela qual você 
              o faria seria por pura diversão. Mas divirta-se! Vamos fazer 
              uma competição entre laboratórios. Um laboratório 
              faz um pequeno motor, que manda para um outro laboratório, 
              que manda-o de volta com uma coisa que se encaixa no eixo do primeiro 
              motor. 
            Competição 
              escolar 
              Apenas por diversão, e para provocar interesse por esse 
              campo nas crianças, eu proporia que alguém que tenha 
              algum contato com escolas de ensino médio pensasse em fazer 
              algum tipo de competição escolar. Afinal, nós 
              ainda nem começamos nesse campo, e até mesmo as crianças 
              podem escrever menor do que jamais foi escrito antes. Elas poderiam 
              fazer concursos nas escolas. A escola de Los Angeles poderia enviar 
              um alfinete para uma escola de Veneza, onde estaria escrito: "Como 
              vão as coisas?" Eles recebem de volta o alfinete e, 
              no pingo do "i" está escrito: "Não 
              muito quente". 
            Talvez 
              isso não o motive a fazer isso, e apenas a economia poderia 
              fazê-lo. Então, eu gostaria de fazer alguma coisa; 
              mas eu não posso fazê-la agora, pois ainda não 
              preparei o terreno. Pretendo então oferecer um prêmio 
              de US$ 1.000 para a primeira pessoa que possa pegar a informação 
              na página de um livro e colocá-la em uma área 
              25.000 vezes menor, em escala linear, de tal forma que ela possa 
              ser lida com um microscópio eletrônico. 
            E eu 
              gostaria de oferecer um outro prêmio - se eu puder encontrar 
              um jeito de enunciar isso de forma a não me meter em uma 
              confusão de discussões sobre definições 
              - de outros US$ 1.000 para a primeira pessoa que fizer um motor 
              elétrico funcional - um motor elétrico rotativo que 
              possa ser controlado de fora e, sem contar os cabos de entrada, 
              tenha 1/64 de polegada cúbica. 
            Eu 
              não acho que esses prêmios tenham que esperar muito 
              para os candidatos aparecerem. 
            Nota 
              do editor da Journal of Microelectromechanical Systems: O prêmio 
              acima foi apresentado pelo dr. Feynman em 28 de novembro de 1960 
              para William McLellan, que construiu um motor elétrico com 
              o tamanho de um grão de poeira. O outro prêmio ainda 
              está em aberto. 
            Texto 
              traduzido por Roberto Belisário e Elizabeth Gigliotti de 
              Sousa 
             
              
             
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