Reportagens






Editorial:
Admirável Nano - Mundo - Novo
Carlos Vogt
Reportagens:
Aplicações tecnológicas dependem de investimentos privados
Nanotecnologia ainda não está no dia a dia das pessoas
Vantagens e riscos da nanotecnologia ao meio ambiente
Fabricação de nanoestruturas
Nos EUA, investimentos podem alcançar os do Genoma
Setor privado internacional é grande investidor
Aplicações militares estão sendo incentivadas no EUA
Nanotecnologia une diferentes visões de ciência
Artigos:
O que é nanotecnologia?
Cylon Gonçalves da Silva
Nanoredes
Marcelo Knobel
Nanotecnologia molecular e de interfaces
Oscar Loureiro Malta
Nanodispositivos semicondutores e materiais nanoestruturados
Eronides F. da Silva Jr.
Nanomagnetismo
Sergio Machado Rezende
Nanobiotecnologia e Saúde
Zulmira Lacava e Paulo Morais
Computação Quântica
Ivan S. Oliveira
Nanociência e nanotecnologia
Alaor Chaves
Nanociência e nanotecnologia no LNLS
José A. Brum
Rede de pesquisa em nanobiotecnologia
Nelson Durán e Marcelo De Azevedo
Há mais espaços lá embaixo
Richard Feynman
Poema:
Pós-Realidade
Carlos Vogt
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Nanoredes

Marcelo Knobel

O grande avanço da ciência e da tecnologia nas últimas décadas tem levado a pesquisas cada vez mais precisas na escala nanométrica, que, além de seu interesse meramente acadêmico, podem propiciar o desenvolvimento de novos produtos e sistemas de alto impacto tecnológico em um futuro não muito distante. Um dos grandes desafios da pesquisa na área da nanociência e nanotecnologia é conseguir integrar esforços para otimizar os estudos, pois geralmente os equipamentos necessários são extremamente caros, e são necessários pesquisadores altamente especializados em certas áreas do saber. Seguindo a tendência mundial, as pesquisas nessa área requerem uma articulação centralizada, que consiga mobilizar os pesquisadores das universidades e centros de pesquisa, os empresários e as fontes financiadoras, principalmente governamentais. Esse tipo de ação já foi implementada nos Estados Unidos da América (http://www.nano.gov), Europa (http://www.esf.org) e outros países. Novos resultados têm aparecido diariamente como resultado desse esforço.

Ao acompanhar a rápida evolução mundial nessa área, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) iniciaram essa ação no Brasil ao promover uma reunião em 22/11/2000 para discutir a pertinência e encaminhamento mais adequado para uma ação coordenada em nanociência e nanotecnologia por parte do Governo Federal. Nessa reunião foi criado um grupo de articulação, coordenado por Anderson Gomes que, em abril de 2001, entregou um documento preliminar para discussão pela comunidade científica nacional. Esse documento foi divulgado pelo CNPq e indicava a situação do momento, sugerindo uma série de ações que deveriam ser tomadas. Uma das sugestões mais importantes era a de que o MCT/CNPq deveria, no mais curto espaço de tempo possível, desencadear um processo coordenado de ações para criar um programa de apoio na área de Nanociências e Nanotecnologias no Brasil. Tal programa, além de aproveitar os grupos de pesquisa e infra-estrutura já existente, deveria ser de longo prazo, para apoiar pesquisa e desenvolvimento em nanoescala que permitissem levar a resultados de impacto em áreas como tecnologias da informação, fabricação de componentes metálicos e não metálicos, medicina e saúde, meio ambiente e energia, nanoeletrônica, nanobiotecnologia, agricultura e nanometrologia, por exemplo. Além disso, propôs-se utilizar a estratégia de criação de centros e redes de excelência para um futuro próximo.

Naquele momento o CNPq respondeu prontamente a algumas recomendações desse documento, e realizou, ainda no ano de 2001, uma chamada para formar redes de pesquisadores com objetivos comuns na área de nanociências (chamada CNPq 01/2001). Essa chamada tinha como objetivo fomentar a constituição e consolidação de redes cooperativas integradas de pesquisa básica e aplicada em nanociências e nanotecnologias, organizadas como centros virtuais de caráter multidisciplinar e abrangência nacional. Por meio dessas redes o CNPq pretendia: a) dar início a um processo de criação e consolidação de competências nacionais, b) identificar grupos ou instituições de pesquisa que desenvolvam ou possam vir a desenvolver projetos relacionados com a área de nanociências e nanotecnologias, e c) estimular a articulação desses grupos e instituições com empresas potencialmente interessadas ou atuantes no setor, além de seu intercâmbio com centros de reconhecida competência no país e no exterior.

Houve uma rápida resposta da comunidade científica brasileira, que rapidamente se organizou para formar diversas redes com os mais variados temas. As propostas de pesquisa foram julgadas em uma primeira fase, e foram pré-classificados doze projetos, das mais diversas áreas do conhecimento envolvidos com a escala nanométrica. Todos os coordenadores desses projetos foram reunidos para reorganizar essas redes, e finalmente vários projetos foram aglutinados para formar quatro redes temáticas na área de nanociência e nanotecnologia (Rede de Materiais Nanoestruturados, Rede de Nanotecnologia Molecular e de Interfaces, Rede de Pesquisa em Nanobiotecnologia, Rede Cooperativa para Pesquisa em Nanodispositivos Semicondutores e Materiais Nanoestrutrados). Para maiores detalhes clique aqui.

Veja também o artigo de Oscar Malta, da Rede de Nanotecnologia Molecular e de Interfaces

Cada uma das redes recebeu em torno de R$ 750.000,00, para um ano de atividades. Esses recursos podem ser considerados bastante limitados, tendo em vista o número de pesquisadores envolvidos em cada uma delas, e os custos dos equipamentos necessários para as pesquisas na área.Por exemplo, a Rede de Materiais Nanoestruturados conta com mais de cem pesquisadores doutores com grupos consolidados em diversas universidades brasileiras. Se o dinheiro fosse dividido igualmente para cada pesquisador, o dinheiro bastaria apenas para comprar um computador por pesquisador! Ou seja, os recursos financeiros das redes não foram destinados para a compra de grandes equipamentos, mas de um modo geral esses recursos têm servido para realizar alguns consertos de emergência, para comprar pequenos equipamentos, para permitir o intercâmbio de pesquisadores e estudantes, e principalmente para a realização de reuniões, congressos e oficinas de trabalho que têm servido para integrar de uma maneira mais efetiva os pesquisadores dessas redes, e estimular colaborações e projetos comuns para as diversas áreas no futuro.

Veja também o site da Rede de Materiais Nanoestruturados

Essas redes ainda estão ativas, e os resultados das ações que foram tomadas somente irão aparecer em alguns meses. Mas certamente a idéia das redes foi muito interessante para realizar um trabalho de prospecção da área no Brasil, para identificar os grupos que atuam nesse setor, auxiliar no conhecimento mútuo entre os grupos, estimular colaborações científicas, e agregar pesquisadores com interesses comuns. Aparecerão sem dúvida novas idéias e projetos, que deverão ser futuramente atendidos com novos recursos específicos, e com ações centralizadas pelo CNPq/MCT que visem uma efetividade maior no uso dos recursos financeiros e da infra-estrutura instalada, bem como uma participação cada vez maior do país em pesquisas na área de nano C&T.

Marcelo Knobel é professor do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Unicamp.

 
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Atualizado em 10/11/2002
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