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Oceano a desvendar
Recursos econômicos
Projeto Revizee
O caso dos Corais
Trabalhando com Bio

Entrevista a
Sérgio Bonecker

Entrevista a Marcelo Medeiros

Marcelo fez sua pesquisa de mestrado com base nas coletas do Revizee. Foto: Bruno Buys.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No laboratório, em terra, o trabalho mais importante é de fixação e identificação do material coletado. Foto: Bruno Buys.

 

Entrevista

Marcelo Medeiros é biólogo e defendeu recentemente uma dissertação de mestrado sobre octocorais na costa brasileira. Trabalhou em duas viagens de coleta no Projeto Revizee. Seu depoimento mostra como é o dia-a-dia de quem trabalha recolhendo e estudando espécimes marinhas.

Revista Com Ciência - Na época em que você esteve embarcado, como era o trabalho nas coletas do Projeto Revizee?
Marcelo - Nós triávamos lama ou o que viesse na draga. Às vezes é lama do fundo do mar, e às vezes é o que a gente chama de alga calcária. São concreções de alga calcária semelhantes a pedras. Você tem que ir quebrando aquilo na marreta. A alga calcária vai abrindo e desmanchando. Depois você pega o cascalho que sobra e coloca num sistema de peneiras de várias aberturas e o material que passa você guarda, pois ali existem muitos bichos pequenos. Então nestes módulos de alga calcária vêm bichos incrustados e bichos perfurantes. Você tem que abrir para tirar o que tem dentro.

RC - Quantos dias dura uma viagem de coleta?
Marcelo - Algumas duram de dez a quinze dias, outras duram mais, até trinta. E tem umas mais compridas, com mais de um mês.
A primeira em que eu participei, em 1996, durou cerca de quinze dias. Na última fiquei quase dois meses, foram cinqüenta dias no mar.

RC - Dormindo com o barulho do motor do navio?
Marcelo - Não, há cabines, o navio tem uma boa estrutura. A gente usou no Revizee Benthos, em 1996, um navio da Marinha chamado Anthares. E agora a gente usou um navio chamado Astro Garoupa, de uma empresa chamada Astro Marítima, que é utilizado pela Petrobrás. A gente vai neste navio, que é um navio civil. É um navio que foi adaptado para a função oceanográfica, funciona bem para as coletas que ele faz, apesar das limitações. Tem um sistema de guinchos e dois laboratórios para fazer, por exemplo, análises químicas da água. Pode-se fixar amostras lá direto.

RC - E vai uma equipe de biólogos que vai se revezando na triagem?
Marcelo - A equipe vai se revezando em tudo. No Revizee Benthos tem muita triagem. No Revizee Plâncton não tem triagem. Tem fixação do material. Geralmente no plâncton vai junto o pessoal de química da água. Tem uma parte que dá muito trabalho depois da coleta que é trabalhar as amostras químicas, fixar amostras para ver oxigênio dissolvido, nutrientes, tem uma parte que tem que titular na hora. E tem uma parte que você trabalha com aparelhos que já medem direto esses parâmetros.

RC - Como são os turnos de trabalho? O sono é tranqüilo?
Marcelo - O sono não é tranqüilo. Depende do percurso que o barco vai fazer. Às vezes temos pontos de coleta que são separados por poucos quilômetros. Então nós nem terminamos de processar as amostras de um ponto quando o navio já chegou no próximo ponto de coleta e já começa a pegar material do mar. A gente nem pode descansar; já começa tudo de novo. E há casos de sequências longas de pontos (estações) de coleta muito próximos em que a gente passa muito tempo dormindo mal. Dias inteiros ou dois dias seguidos onde as equipes se revezam para dormir duas horas, acordam, trabalham mais, depois dormem duas horas de novo. E dorme-se muito em qualquer canto no laboratório, mesmo no banco. No meu caso eu fui numa equipe fixa do Revizee. Mas as equipes vão mudando ao longo do tempo, às vezes uma equipe sai e entra outra e eu fui ficando. Eu fazia parte de uma equipe fixa que era parte estrutural do projeto e fazia coleta de água, ajudava a puxar a rede, a gente ficava fora deste esquema de revezamento. Era trabalho o tempo todo. Muito raramente alguém tirava uma folga. Só quando estivesse muito cansado, aí ficava uma estação só dormindo. Mas era raro. Inclusive a qualquer hora do dia ou da noite. Se o barco chegou na estação às três da manhã, com chuva e temporal não importa. Se houver condições de segurança, a equipe faz aquela estação. Pega água, volta, vai até a cantina do navio, toma um café quente e espera que daqui a uma hora tem outra estação. E assim segue.

 

 

 

 



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