O Projeto Revizee
A
tarefa do Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos
Vivos na Zona Econômica Exclusiva (Projeto
Revizee) é coletar e identificar organismos marinhos ao longo
de toda a costa brasileira. Desde 1994, quando o Brasil assinou
a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), o
projeto tem mobilizado quase todas as instituições de ensino e pesquisa
envolvidas com o mar, para cumprir com a tarefa de aumentar o conhecimento
da biodiversidade marinha do litoral brasileiro.
Pela convenção, existem dois conceitos diferentes
de gerenciamento do litoral: um deles é o de mar territorial, ligado
à segurança marítima e, portanto, à Marinha. Este é o limite de
12 milhas de que o Brasil dispõe, a partir da costa. E há um novo
conceito que é o de Zona Econômica Exclusiva (ZEE).
A ZEE não é mais um direito de toda e qualquer nação marítima, como
ocorria antes da Convenção. Agora, para gozar do direito de explorar
economicamente sua zona costeira, o país deve mostrar que dispõe
de conhecimento, infra-estrutura e frota suficiente para explorar
adequadamente os recursos da ZEE, caso contrário deve estabelecer
parcerias com os países mais capacitados nesta exploração.
Foi justamente para organizar e coordenar todas
as instituições aptas a trabalhar com a biodiversidade marinha brasileira
que se criou o Projeto Revizee, um amplo programa de coleta de organismos
marinhos e de informações sobre suas áreas de ocorrência e hábitos
de vida.
Para
isso, a costa brasileira foi dividida em quatro
grandes regiões: norte, nordeste, central e sul. Os grupos animais
foram organizados de forma a racionalizar os trabalhos de coleta
e triagem de exemplares durante o trabalho no mar, gerando vários
"subprojetos". Estas divisões foram entregues a especialistas, com
vistas à preparação de um relatório detalhado de atividades com
informação sobre as espécies de peixes, caranguejos, camarões, lulas,
polvos, e quaisquer outras espécies que sejam potenciais recursos
econômicos. Este relatório deverá ser divulgado em breve à comunidade
internacional.
Apesar da tarefa ser colossal (afinal são 8.698
quilômetros de costa e um sem-número de ilhas, recifes, mangues,
com inúmeras espécies vivas em cada um) o Revizee tem mostrado valentia.
A dificuldade de conseguir embarcações, a falta de verbas e a distância
contribuem para tornar o projeto uma espécie de embate patriótico:
o Brasil, pela primeira vez, organiza um esforço de coleta e identificação
de organismos marinhos nesta escala.
Segundo o professor Clovis Barreira e Castro, do
Laboratório de Celenterologia
do Departamento de Invertebrados do Museu Nacional (UFRJ), responsável
por receber e identificar espécies de corais do Revizee, o projeto
já revelou novos gêneros e famílias de organismos marinhos, com
destaque para as amostragens de peixes. Com a ajuda de um barco
francês, recentemente alugado pelo projeto, foi possível coletar
vários organismos mais delicados em bom estado conservação. Além
de identificar espécies novas, o Revizee fará também uma "avaliação
de estoques"(quantidade disponível) para os principais grupos tradicionalmente
usados como recursos econômicos.
O Revizee tem somado esforços de laboratórios e
pessoas capacitadas em todo o país, unindo universidades, Petrobrás
(que cede embarcações, equipamentos e combustível), Marinha, museus
científicos, organizações não-governamentais, centros de pesquisa
e instituições de pesca.
Uma
vez tendo as espécies sido coletadas e devidamente alocadas em coleções
nas instituições de pesquisa e museus, os biólogos, zoólogos, oceanógrafos
e demais estudiosos do mar terão acesso a essas coleções e produzirão
trabalhos científicos a respeito desse material. Um dos objetivos
de mais longo prazo do Projeto é aumentar o conhecimento não só
das espécies de valor econômico, mas de toda a biota
marinha brasileira. Isso inclui uma quantidade imensa de organismos
ainda ignorados. Essas duas tarefas do Revizee não são exclusivas,
pois as espécies de importância econômica (como peixes, por exemplo)
freqüentemente alimentam-se de vermes, microorganismos,
animais bentônicos
e outros grupos difíceis de pesquisar. Como na natureza as espécies
estão envolvidas em uma trama de relacionamentos, onde uma depende
da outra para se manter, seria prejudicial (e ineficiente) pensar
nos animais de interesse econômico sem considerar as populações
de outros organismos que os alimentam. Os biólogos que trabalham
no Revizee estão conscientes disso, e o trabalho de obter informação
a respeito dos hábitos de vida de cada espécie tem sido sério. Desta
forma, será possível avaliar não só o estoque de cada espécie de
interesse econômico, mas também as condições que os sustentam.
O Prof. Dr. Clovis Castro faz uma análise
da situação atual da biodiversidade de Corais
no Brasil.
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