Oceano de espécies a desvendar
A
vida surgiu no mar há cerca de 3,5 bilhões de anos e no mar encontramos
ainda hoje as formas de vida mais diversificadas e inusitadas. Desde
as bactérias às baleias, raros são os grandes grupos de organismos
que não têm algum representante marinho. Dentre os animais, por
exemplo, dos 33 filos (grandes
grupos) reconhecidos, 15 são exclusivamente marinhos, como os
equinodermas - grupo das estrelas-do-mar-; 5 são predominantemente
marinhos, como o grupo das esponjas ou dos corais e anêmonas; 9
têm boa representatividade no mar; e 3 têm raras espécies marinhas.
Em contraste, apenas 11 dos filos são majoritariamente terrestres,
sendo apenas um exclusivo.
Em ambientes marinhos, que por serem de acesso
mais difícil que os terrestres possuem vastas regiões ainda inexploradas,
as surpresas com novas espécies são grandes. No ano de 1900, por
exemplo, foram encontrados ao largo da Indonésia alguns animais
de águas profundas que não se encaixavam em nenhuma forma zoológica
até então conhecida e foi preciso criar um novo filo para abrigar
esses organismos: os pogonóforos (veja foto abaixo).
Em 1938, coletou-se acidentalmente nas águas do
Oceano Índico, ao largo da África do Sul, o que alguns consideraram
o achado zoológico do século: o Celacanto, uma espécie de peixe
que se pensava extinto desde a época dos dinossauros, um verdadeiro
fóssil vivo.
E
ainda mais recentemente, em 1977, ao vasculhar o assoalho submarino,
foram descobertos não apenas novos organismos, mas um ecossistema
inteiro com características quase alienígenas, vivendo em escuridão
quase total (só não podemos dizer total porque vez ou outra faísca
uma luz tênue dos animais bioluminescentes), pressão de centenas
de atmosferas, vulcanismo intenso, ambiente saturado de compostos
de enxofre, jatos d'água sob pressão a 400 graus Celsius circundada
por águas geladas. E habitando esses estranhos ambientes das fumarolas
submarinas ou fontes hidrotermais, existem estranhíssimos animais
sem boca, sem intestino, sem ânus e que, no entanto, podem atingir
até 1,5 metro de comprimento, como os pogonóforos vestimentíferos.
E mais impressionante ainda: esse ecossistema funciona
independentemente da luz solar. É que, diferentemente do que ocorre
em terra firme e na parte iluminada do mar, onde a base da produção
biológica está na fotossíntese
dos organismos clorofilados, nesses locais profundos, a vida está
na dependência direta de certas bactérias que realizam a quimiossíntese,
ou seja, são capazes de utilizar os compostos de enxofre de onde
obtêm energia e matéria para a síntese biológica e a subsequente
manutenção do ecossistema.
Estudos recentes têm revelado evidências de que
essas fumarolas submarinas são muito mais freqüentes do que se pensava,
inclusive no Atlântico Sul, dando asas à imaginação de que talvez
se possa encontrar outros fósseis vivos ou formas de vida organizadas
em modelos ainda desconhecidos pela ciência.
Mas não é só isso...
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