O
investimento em pesquisa de fármacos no Brasil
De
1994 até 1999, o investimento global em pesquisa e desenvolvimento
no Brasil não apresentou evolução no âmbito
privado e sofreu um considerável declínio na esfera
pública. Segundo a Associação Nacional de Pesquisa,
Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), no
setor privado, as despesas em P&D se mantiveram na faixa de
1% do faturamento bruto das empresas, entre 1995 e 1999.
De
acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o
governo federal investiu mais de R$ 2 bilhões em P&D
em 1994. Esse investimento caiu gradativamente ano a ano, e em 1999,
foi abaixo de R$ 1,5 bilhão. E dos recursos estaduais aplicados
em ciência e tecnologia, o percentual destinado à P&D
caiu de cerca de 40% em 1996 para menos de 30% em 1999.
A área
de pesquisa em fármacos, no entanto, tem recebido estímulos
para o seu crescimento, e os resultados são a cada ano mais
positivos, em grande parte devido à política federal
de incentivo à produção de genéricos
para o tratamento da Aids.
No
final de abril de 2001, o ministro Serra esteve no Laboratório
Farmoquímico Cristália, na cidade de Itapira (SP),
onde foi anunciado o início da produção do
princípio ativo de quatro medicamentos anti-retrovirais.
O Laboratório Cristália foi o primeiro no Brasil a
fazer a síntese da composição química
da matéria-prima utilizada na produção desses
medicamentos. A maior parte da matéria-prima utilizada pelos
laboratórios brasileiros para produzir os remédios
anti-Aids, até então, era importada.
![](g3.jpg)
Fonte: Ministério da Saúde
A Far-Manguinhos,
fabricante de fármacos da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), instituição de ensino e pesquisa ligada
ao Ministério da Saúde, produz alguns dos medicamentos
anti-retrovirais que compõem o coquetel para o tratamento
da Aids. A diretora da Far-Manguinhos, Eloan Pinheiro, esteve com
o ministro Serra no laboratório Cristália para conhecer
a produção dos anti-retrovirais e negociar a aquisição
da matéria-prima. A intenção do ministro e
da diretora do laboratório público é aumentar
a participação da Far-Manguinhos nas vendas de medicamentos
para o Ministério da Saúde.
O laboratório
da Fiocruz vendeu cerca de R$ 8 milhões em medicamentos em
1997. Essa venda saltou para cerca de R$ 70 milhões em 1999,
tendo como destaque os remédios anti-retrovirais comprados
pelo Ministério . A participação dos laboratórios
públicos na produção adquirida pelo governo
federal em 1999 estava abaixo de 20%. Em 2000, passou dos 50%. A
meta do Ministério da Saúde é que ela alcance
70% do fornecimento em 2001. A matéria-prima sintetizada
em Itapira já está sendo disponibilizada para a produção
dos medicamentos em outros laboratórios, após os testes
que verificaram a bioequivalência com o produto anteriormente
importado.
![](g4.jpg)
Além
da economia na compra dos medicamentos, o governo federal poderá
contar com uma redução nos custos de detecção
da Aids. A Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz que produz vacinas
e reativos, está produzindo um teste para diagnóstico
de infecção pelo HIV que até o início
deste ano era importado. Somando isso à produção
de novas vacinas que também eram importadas, a Bio-Manguinhos
estima proporcionar ao governo federal uma economia de cerca de
US$ 15 milhões por ano.
Com
o incentivo federal, os laboratórios públicos aumentam
anualmente a sua produção e proporcionam retorno financeiro
ao Ministério da Saúde, com o barateamento dos produtos.
Em 2000, o valor da receita da Far-Manguinhos, incluindo venda de
medicamentos e orçamento da União, foi de R$ 109 milhões.
No primeiro semestre de 2001, essa receita já atingiu R$
79 milhões .
Além
dos benefícios sociais de garantia do acesso aos medicamentos
para os pacientes com Aids, que agora é reconhecido como
direito humano fundamental, se tornam evidentes os benefícios
econômicos da quebra de patentes para os países periféricos.
Primeiro, para aqueles que não têm condição
de pagar o preço de sua defasagem tecnológica. Por
fim, para os que ainda podem investir na própria capacitação
e minimizar sua dependência da ciência e tecnologia
produzida nos países desenvolvidos.
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