Rompimento
de antigas tendências poupa energia ao valorizar clima tropical
Tendências
européias e norte-americanas na arquitetura brasileira. Um casamento
duradouro que não condiz com a realidade climática do Brasil.
O modelo arquitetônico, copiado de países europeus e norte-americanos,
principalmente em construções comerciais, valoriza os vidros fumês,
que exigem mais iluminação artificial o que, por sua vez, aquece
com maior intensidade o ambiente. Só que na Europa e nos Estados Unidos,
na maior parte do ano, os termômetros registram baixa temperatura. Já
no Brasil o sol brilha forte quase o ano inteiro. Para suportar o calor nesses
imóveis só mesmo com um potente ar-condicionado ligado, gastando
energia. Modelo caro para o país, sustentado pela formação
cultural e acadêmica de engenheiros e arquitetos brasileiros. Esta é
a avaliação do professor Anderson Claro, coordenador do Programa
de Estudo da Iluminação Natural desenvolvido pelo Departamento
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Com muito
otimismo, o professor deposita esperança nas novas gerações.
Os acadêmicos estão mudando seus conceitos e orientando os futuros
profissionais a considerarem as características climáticas na
hora de projetar.
Estudos coordenados pelo cientista resultaram no software Apolux 1.0, também
batizado de LuzSolar, que indica os locais onde iluminação natural é mais intensa. O programa, em fase de teste, deverá
colaborar com arquitetos e engenheiros na elaboração de plantas
que aproveitem ao máximo a luz solar, evitando o gasto desnecessário
da energia artificial para iluminação. Economizar energia já não
significa escuridão.
“A combinação da iluminação natural com a
artificial pode reduzir significativamente o consumo de energia. A cada 3,5
watts economizados com iluminação artificial, reduz-se 1 watt na
maioria dos sistemas de ar-condicionado.” - Anderson Claro.
Luz natural conquista espaço em shoppings
Aos poucos a arquitetura com traços de país tropical vai ganhando
força no Brasil. As grandes edificações, como a de shoppings,
já estão sendo projetadas ou reformadas para aproveitar ao máximo
a luz do sol. Até meados da década de 90, o principal objetivo
na hora de projetar shoppings era estimular o consumo. Pesquisas norte-americanas
indicavam que malls (corredores) baixos, com pisos escuros, cansavam
a vista e atraíam o olhar do consumidor para lojas com vitrines bem iluminadas.
Só que esse modelo favoreceu a construção de shoppings
com pouca iluminação natural, concreto por todos os lados e uma
grande necessidade de ar-condicionado.
Esse é o caso do Maxi Shopping, localizado em Jundiaí, a 60 km
de São Paulo. Da inauguração do empreendimento em 1989,
copiado 99% de shoppings dos Estados Unidos, à 2002, quando foi ampliado,
quanta mudança! A luz natural ganhou destaque nos corredores das novas
alas. No lugar do teto de concreto uma grande cobertura de vidro para favorecer
a entrada da luz solar. Os pisos claros e brilhantes espalham a luz pelo ambiente. A iluminação direcionada, presente apenas
em locais onde a luz natural não reflete diretamente, deixa o ambiente
com ar sofisticado. Com o novo modelo arquitetônico os empreendedores
comemoram a queda no consumo de energia elétrica. As novas instalações
consomem cerca de 25% menos energia se comparada à área antiga.
A eficiência na redução é tanta que a direção
do Maxi Shopping se prepara para reformar toda a infraestrutura antiga do estabelecimento
a partir de 2005. Hoje, a conta de energia elétrica da área comum
do Maxi Shopping varia em torno de 125 mil reais por mês. Após
o término da reforma, espera-se reduzir em 40% este valor.
Mas ainda há um grande vilão no gasto da energia: o ar condicionado. As
cores claras dos pisos e as lâmpadas direcionadas em grande parte do shopping
colaboram para aquecer menos o ambiente, mas não são suficientes
para garantir a baixa temperatura.
Para a redução da conta de energia há uma saída,
mas para a redução do consumo, não. Um método de
congelamento de água permite abastecer o ar-condicionado em horários
em que a energia é mais cara, mesmo o sistema de resfriamento estando
desligado. Três reservatórios de alumínio armazenam água
e a congelam no períoro entre 22h e 09h, horário em que a energia é
mais barata. O gelo formado vai abastecer o sistema de ar-condicionado das 17h30
às 20h30 quando o fluxo de pessoas no shopping é maior e a energia, mais
cara.
Se para uns, poupar energia foi resultado do gosto amargo das altas contas
de luz, para outros, foi o alvo principal na hora de projetar. Assim foi planejado
cada ambiente do Shopping Parque Dom Pedro, em Campinas (100 km de São
Paulo), onde o critério de aproveitar a iluminação natural
foi utilizado em todo o shopping. Dos 189.000 m2 de área construída,
17.000 m² dispensam o uso de energia elétrica durante o dia, sendo
12.000 m2 nos corredores e 5.000 m2 na Praça de Alimentação.
As áreas que necessitam de energia artificial também são
beneficiadas com a luz natural que reflete por meio de “vãos”
cobertos por vidros, medida que economiza cerca de 45.000 watts por mês,
segundo estimativas da Sonae, grupo empresarial que projetou o empreendimento.
Iniciativas como essa fazem parte do Programa de Gestão Ambiental do
Parque Dom Pedro, que rendeu à instituição o prêmio
'Excelência em Gestão', oferecido pela Abrasce (Associação
Brasileira de Shopping Centers), em 2003.
Casas inteligentes
As chamadas casas inteligentes ou ecoarquitetura utilizam-se de recursos recicláveis
e menos poluentes em projetos que dependem cada vez menos da energia elétrica,
pelo menos durante o dia.
Nesta nova era da arquitetura, o vidro conquista importante espaço.
O arquiteto Augusto Silveira abusa do material. Em seus projetos ele procura
harmonizar o ambiente externo com o interno aplicando vidro temperado, resistente
à força e ao tempo; e o laminado, que em casos de acidentes quebra em
quadrados e não em cacos. Há vidros com graus diversos de película
e perfil de alumínio. Eles permitem a entrada da luz, mas impedem a penetração
de radiações que aquecem o ambiente ou que sejam prejudiciais
à saúde como o raio UVB, um dos responsáveis pelo envelhecimento e pelo câncer
de pele.
Silveira analisa a topografia do terreno, a posição solar e a direção do vento para projetar imóveis que favoreçam a circulação
do vento e a entrada da luz natural em ambientes internos. Mas, se a ocasião
exige ambiente escuro, as 'brises' resolvem o problema. Elas funcionam como persianas
que cortam a luz direta do sol. Podem ser de alumínio, madeira ou PVC.
A opção mais barata e ecológica está no PVC, que
é 100% reciclado e antitérmico, evitando o gasto excessivo com
aparelhos de ar-condicionado.
Do chão ao teto, as paredes podem se erguer rapidamente com um custo
menor e ainda economizar energia e o precioso tempo. O draw woll, mais conhecido
como gesso, é mais em conta do que o concreto, rápido de ser aplicado
e ainda pode ser readaptado no espaço interno de um imóvel. É
térmico e isolante, características que abafam o som e mantêm
fresca a temperatura ambiente.
A escolha do piso também influencia na forma como a luz natural “trafega”
pelos cômodos. Os carpetes, por exemplo, absorvem a luz. Pisos
com acabamentos brilhantes que refletem a iluminação ao redor
do espaço. Os espelhos além de ampliar os cômodos, também
colaboram na distribuição da luz natural.
(EPF)
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