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PIB e consumo de energia - uma nova relação

A relação entre o PIB dos países e seu consumo de energia vem sofrendo uma profunda transformação, desde a década de 70, quando da primeira grande crise do petróleo, e mais notadamente a partir da década de 90, embora neste período mais recente, por outros motivos, além dos apenas econômicos, o que se notava antes, de maneira resumida, era que, quanto maior o PIB - ou seja, quanto mais desenvolvido o país - maior também era o seu consumo de interno de energia.

Tal fato é facilmente compreendido quando lembramos que um PIB elevado significa um mercado suficientemente forte para garantir um consumo igualmente forte e um setor industrial capaz de, por seu lado, garantir a transformação de bens primários em bens de consumo, num círculo virtuoso que leva a mais crescimento econômico e a um PIB crescente.

Os países hoje considerados como desenvolvidos sempre tiveram uma indústria notadamente forte, e dentro da indústria, o setor siderúrgico sempre mereceu destaque, por sua evidente importância enquanto fornecedor do que poderíamos classificar como insumos de base para o desenvolvimento.

E por ser o setor siderúrgico um grande consumidor de energia, a relação entre PIB e consumo energético dos países, desde o início de seus processos de industrialização, sempre foi bastante evidente. De forma simplificada, tratava-se da simples equação de quanto maior o consumo de energia do país, maior o seu PIB.

Esta relação, contudo, tornou-se hoje muito mais complexa. Embora a relação entre consumo energético e PIB nos países desenvolvidos continue mantendo o mesmo perfil, o fato é que os países mais industrializados do mundo vêm lutando para reduzir o seu consumo interno de energia (e efetivamente o estão fazendo), sem que, no entanto, isso signifique que sua riqueza interna esteja em queda ou que seu nível de industrialização esteja regredindo.

Trata-se de um efeito direto dos problemas do petróleo - a grande fonte primária mundial de energia - que se evidenciam cada vez mais. Não apenas a escassez (e no futuro, o esgotamento total das reservas planetárias), mas também os problemas geopolíticos e ambientais, levaram os países mais desenvolvidos a procurar novos processos de produção que permitissem otimizar seus resultados (mantendo a capacidade produtiva, mas gastando menos energia).

Os números demonstram essas conclusões claramente. A intensidade energética mundial, ou seja, a relação entre demanda de energia e PIB, tende a decrescer, segundo estudos feitos pelo Departamento de Energia dos EUA, no período 1970-2020, em 0,95%, para um crescimento também mundial do PIB da ordem de 3,2% ao ano. O esforço maior para esta redução global vem justamente dos países mais desenvolvidos (a projeção é de uma queda de 2,85% ao ano para um crescimento anual do PIB de 2,7%). Nos países em desenvolvimento, o percentual estimado é bem menor, de 1,15% ao ano, para um crescimento anual do PIB de cerca de 5%.

Os motivos para essas diferenças são também bastante claros. Enquanto os países desenvolvidos possuem meios de buscar a otimização de processos produtivos (e, mais importante, já têm uma estrutura produtiva bastante ampla), os países em desenvolvimento necessitam continuar seu processo de crescimento - o que requer ampliações constantes na estrutura e uso crescente de energia. De fato, os países em desenvolvimento só não desequilibrarão a balança para o lado do crescimento do consumo mundial de energia por força de poderem dispor, embora indiretamente e embora nem em todos os setores produtivos, de alguns dos processos de uso racional de energia, criados pelos países desenvolvidos. Isso permitirá aos primeiros manter suas taxas de crescimento do PIB sem que seja necessária uma demanda mais significativa de energia.

Quanto às fontes de energia, as projeções mostram, até 2020, que o petróleo ainda será a principal, como hoje, embora perdendo lentamente espaço para outras alternativas, especialmente o gás natural e o carvão mineral e, em menor escala, para a energia nuclear. As expectativas são de que, a médio prazo, o uso do carvão mineral se intensifique, por ser a alternativa economicamente mais viável de substituição ao petróleo (fatores como exploração e principalmente transporte apontam nesta direção). Embora o gás natural seja muito menos poluente, ainda há problemas logísticos importantes a serem resolvidos, dado que o seu transporte das áreas de extração até os mercados consumidores ainda exige gastos muito elevados. Provavelmente, no futuro, este problema será contornado - mas, de imediato, o carvão mineral desponta como o principal substituto do petróleo.

Brasil

No caso brasileiro, os estudos apontam uma redução anual de 1,59% na intensidade energética, não obstante um crescimento do PIB da ordem de 5% ao ano. Há que se considerar, contudo, algumas particularidades.

O país tem 41% da sua oferta interna de energia oriunda de fontes renováveis, contra apenas 14% no mundo e meros 6% nos países industrializados. Este perfil resulta numa dependência significativamente menor da energia importada, ao mesmo tempo em que garante a possibilidade de ampliação da oferta interna (o caso do álcool combustível é exemplar nesse aspecto, já que é perfeitamente possível aumentar significativamente sua produção interna e já que a tecnologia para seu uso está em estágios muito adiantados)

Embora haja limitações sensíveis no caso da energia elétrica oriunda das hidrelétricas, o uso do gás natural vem se intensificando de maneira notável nos últimos anos. Também é importante notar que no Brasil, é a indústria a maior consumidora de energia elétrica (elas respondem por pouco mais de 46% do consumo), seguidas pelo setor residencial (em torno de 22%). O consumo de derivados de petróleo é liderado pelos transportes (48,5%) seguido de longe pela indústria (14,4%). É um quadro que tem diferenças importantes com relação à maioria dos países industrializados, e cujas bases são principalmente climáticas: em países de inverno muito rigoroso, o uso de derivados de petróleo para gerar calor nas residências é significativamente maior do que no Brasil. Isso significa uma dependência muito menor do petróleo; e mesmo no setor de transportes, há alternativas como o álcool combustível e, mais recentemente, o biodiesel, que permitem - ou permitirão - a manutenção do crescimento interno.

(HPF)

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Atualizado em 10/12/2004

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