Informação e globalização na era do conhecimento
Helena M. M. Lastres e Sarita Albagli (organizadoras)
Rio de Janeiro. Editora Campus. 1999.
318 páginas
Por André Gardini
"O tomate é um produto high tech!" Esta afirmação fora de contexto pode parecer um tanto maluca, mas o livro Informação e globalização
na era do conhecimento
mostra como um sistema de inovações tecnológicas pode
ser responsável por transformações na relação da sociedade com o espaço e entre as próprias sociedades. A frase está no capítulo "Desmaterialização e trabalho", escrito por Ivan da Costa Marques, da
UFRJ. O autor descreve uma pesquisa realizada na Universidade da Califórnia que, visando aumentar a produtividade da lavoura, e a
competitividade do produto no mercado, alterou completamente o processo de
produção do tomate, com sementes geneticamente alteradas. O novo tomate
exige a elaboração de planos, mapas e tabelas. Além disso, os fertilizantes são outros, o plantio passa a ser geométrico, a colheita é feita por máquinas, e a seleção das sementes é feita eletronicamente. Isso mostra como uma intervenção tecnológica pode modificar toda a relação da sociedade com o espaço.
Discussões como essas estão no livro organizado por Helena M. M.
Lastres, economista e mestre em Engenharia da Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Sarita
Albagli, socióloga e doutora em geografia (UFRJ). O
livro está dividido em 11 capítulos escritos por autores de
diferentes formações, como ciência da informação, ciência política, geografia, economia e sociologia. Os artigos discorrem sobre
temas marcantes e responsáveis por profundas transformações no início deste novo milênio. O ponto central de análise da obra refere-se à conjunção e à sinergia de
uma série de inovações sociais, institucionais, políticas, tecnológicas e econômicas a partir das quais a informação e o
conhecimento passaram a desempenhar um novo e estratégico papel.
Nesse sentido,
Lastres, no capítulo "A economia da
informação, do conhecimento e do aprendizado", corrobora a idéia de Marques, pois diferencia dois tipos de inovação, as tecnológicas e as organizacionais, entendidas
como complementares. Resumidamente, as inovações tecnológicas se referem a novas formas de produção e comercialização de bens e serviços, enquanto as inovações organizacionais são entendidas como novos meios de organizar empresas, produção, fornecedores e serviços. A autora faz uma análise do papel da informação e do conhecimento na área da economia da inovação, associadas à escola neo-schumpeteriana (veja resenha do livro de Schumpeter
Teoria do desenvolvimento econômico. Para essa escola, a geração de novos conhecimentos e sua introdução e difusão no sistema produtivo é responsável pelo surgimento de inovações, responsáveis pelo desenvolvimento. Assim, numa
tentativa de explicação das novas tecnologias e inovações foi desenvolvido o conceito de Paradigma Tecno-Econômico (PTE). Lastres explica que o PTE indica o processo de seleção de uma série de inovações viáveis (técnicas,
organizacionais e institucionais), promovendo transformações que permeiam toda a economia. O surgimento de um novo PTE é possibilitado por avanços na ciência e pressões competitivas e sociais que objetivam superar os limites do
crescimento e estabelecer novas frentes de expansão.
"O processo de inovação é um processo de aprendizado interativo,
que envolve intensas articulações entre diferentes agentes, requerendo
novos formatos organizacionais em redes". Essa é a análise de Cristina Lemos em "Inovação na era do
conhecimento".
Ela analisa a
principais características do processo inovativo e as
formas de inovação na fase atual, argumentando que, de
forma genérica, pode-se considerar dois tipos de inovações, a incremental e a radical. Esta representa uma ruptura
estrutural com o padrão tecnológico
anterior, originando novas formas de indústria, setores e mercados. Já a inovação incremental representa uma melhoria
no processo de produção ou organização, não ocorrendo grandes transformações na estrutura industrial.
No
desenvolvimento do capítulo, ela defende a importância de sistemas locais na geração de inovações sugerindo que os esforços devem estar focados no
desenvolvimento local. Tais esforços seriam a inclusão do conjunto de empresas de menor porte e, também, setores mais tradicionais. Como se tem observado, parece existir
uma regra mundial com uma concentração de introdução de inovações em algumas regiões, setores e empresas, enquanto outras apenas recebem as instruções das maiores. Portanto, a autora sugere que os sistemas
nacionais, regionais ou locais de informação sejam tratados como uma rede de
instituições dos setores públicos e privados, tendo a inovação e o aprendizado como seus principais aspectos.
Assim como, para
Lemos, os sistemas locais desempenham importante papel para o desenvolvimento
de inovações, no capítulo seguinte, Renata Lèbre La Rovere, parece dar seqüência aos argumentos e analisa o papel
das pequenas e médias empresas (PMEs) na inovação. Dentre as diversas desvantagens
das PMEs na inovação, frente às grandes, a autora destaca o menor acesso a informações tecnológicas e a dificuldade de obter créditos, ficando mais vulneráveis a períodos de crises econômicas. Isso exige uma política específica para difundir tecnologias da
informação e comunicação nas PMEs, melhorando assim sua
competitividade. No entanto, alguns obstáculos devem ser superados para a
implementação de políticas de
desenvolvimento.
Um deles é que, segundo dados da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês) a definição de pequenas e médias empresas varia entre os países. Os
outros obstáculos citados por Rovere referem-se ao
fato da situação das empresas variar de acordo com as
características setoriais e de que nem sempre as qualidades competitivas
aumentam em decorrência da modernização da infra-estrutura das telecomunicações.
Assim, de
maneira geral, o livro analisa um mundo que entrou em uma nova onda de
desenvolvimento, discutindo as diferentes dimensões em que se
expressa o novo papel da informação e do conhecimento. O sentido que as
inovações vêm apresentando, no campo da ciência e da tecnologia, significaram avanços positivos no campo social, incluindo o Brasil entre os países emergentes.
Porém, índices de mortalidade infantil ainda muito altos e o avanço da Aids pelo mundo, notícias recentemente divulgadas pela ONU, abrem brechas para o questionamento
sobre os inúmeros avanços no campo da ciência e da tecnologia. Será que esses avanços têm contribuído para um mundo mais justo?
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