Aventure-se no céu de Santos Dumont
Aluizio Napoleão
Belo Horizonte: Itatiaia, 1988
495 páginas
Por Ana Luísa Serio
Santos Dumont e a conquista do ar, escrito pelo embaixador Aluízio Napoleão em 1941, procura colocar um fim na polêmica sobre o pioneirismo do primeiro vôo entre o brasileiro Santos Dumont e os irmãos americanos Wilbur e Orville Wright. Por meio da análise de documentos históricos, o autor defende intensamente a primazia do brasileiro. Com a comemoração dos 130 anos de nascimento do aviador, e sem o desfecho dessa polêmica, o livro se torna ainda mais atual.
A obra é dividida em duas partes, chamadas volumes. A primeira dedicada a uma explicação detalhada da vida e dos avanços de Dumont, descrevendo fatos a partir infância, com a viagem a Paris, conta detalhadamente todas as experiências aéreas do aeronauta brasileiro, desde seu primeiro vôo, em um balão, até a decolagem do célebre 14 bis em novembro de 1906, o primeiro vôo humano em um aparelho "mais pesado que o ar", passando por todas as suas tentativas nos dirigíveis, que foram batizados com seu nome. Assim como acontece em toda essa obra, o texto intercala escritos do autor com citações de Santos Dumont e outros documentos da época. Muitos dos documentos transcritos são da imprensa francesa e estão sem tradução, permitindo a compreensão apenas para o leitor que tiver alguma habilidade com o idioma.
O grande diferencial do livro encontra-se no segundo volume, intitulado Documentos e depoimentos sobre os trabalhos aeronáuticos de Santos Dumont, com a reprodução de parte dos documentos analisados pelo autor, que permite ao leitor uma aproximação com os fatos históricos presentes na invenção do avião. Entre os documentos selecionados estão, além de livros brasileiros e estrangeiros, notícias da imprensa da época sobre as realizações de Santos Dumont, livros do próprio aviador e também muitas fotografias, que enriquecem o material.
O autor dedica grande parte do livro à polêmica em torno do pioneirismo do vôo, mas não esconde a sua opinião a respeito. Mostra, desde o começo, a sua preferência por Dumont. O livro apresenta a história de Santos Dumont colocando os fatos em ordem cronológica e começa com a seguinte frase: "a vida de Santos Dumont foi, toda ela, dedicada à conquista do ar" antes mesmo de falar da infância do aviador, e os episódios apresentados referem-se todos à relação de Dumont com a aviação. Mesmo apresentando alguns documentos que indicariam o pioneirismo dos Wright, o autor não tem dúvidas de que Dumont voou primeiro. Defende sua posição fundamentado na insuficiência dos documentos que comprovariam o vôo dos irmãos norte-americanos. "E, como vimos da documentação e do desenrolar dos fatos expostos nesse trabalho, a dúvida sempre perdurou, nos espíritos, sobre o vôo dos Wright, mesmo após o vôo de 1908, que fez com que as pessoas presumissem ou admitissem que haviam voado anteriormente" afirma.
O livro, além de abertamente nacionalista, é também uma grande exaltação da figura de Santos Dumont, como podemos se vê na apresentação da reedição pelo tenente brigadeiro Deoclécio Lima de Siqueira: "na verdade, o sucesso do nosso patrício baseia-se nas suas qualidades bem brasileiras: na persistência do mineiro que era; na audácia do paulista que tanto conheceu; na perspicácia do caboclo em seu raciocínio; na sagacidade do nosso índio em seu povo; no gênio de inventor que possuía; no desprendimento do brasileiro de toda hora; no idealismo do idealista de sempre".
O livro faz parte da série História Setorial da Aeronáutica Brasileira da Coleção Aeronáutica, e tem a sua reedição pela Editora Itatiaia Limitada do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. É uma boa opção para quem gosta de história.
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