NOVA VACINA CONSOME MAIS DE 10 ANOS DE PESQUISAS
Para
chegar ao novo tipo de vacina contra a tuberculose, o pesquisador
Célio Silva, do Laboratório de Vacinas Gênicas da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo
(USP), estudou, por cinco anos, todo o sistema imunológico dos
animais infectados com o bacilo da tuberculose. O trabalho começou
em 1990 quando Célio Silva foi para Londres fazer seu pós-doutorado:
"Uma série de dificuldades impediam os estudos para desenvolver
uma nova vacina. Partindo-se do princípio de que o Mycobacterium
tuberculosis, o agente causador da tuberculose, se esconde dentro
das células humanas e não são atingidos pela ação dos anticorpos,
seria necessário estimular as células de defesa denominadas linfócitos
T CD8, que seriam capazes de destruir especificamente as células
infectadas pelos bacilos. Esses linfócitos são estimulados somente
quando os antígenos (proteínas do bacilo) são produzidos naturalmente
ou introduzidos artificialmente dentro de determinadas células
(os macrófagos) do sistema imunológico, como acontece nas infecções
virais".
Foi esse princípio o ponto de partida para Célio
Silva iniciar o projeto. A vacina de DNA idealizada naquela época
criava condições para a produção da proteína antigênica pelas
próprias células do indivíduo vacinado. O resultado deste trabalho
é visto pelo pesquisador da USP como altamente satisfatório: "Os
primeiros resultados positivos da nossa vacina foram apresentados
em 1994, em Genebra, numa reunião da Organização Mundial da Saúde
(OMS) específica sobre tuberculose. Devido aos nossos resultados,
vários grupos de biotecnologia do mundo todo se animaram a entrar
em linhas de pesquisas similares e com o mesmo objetivo. Só nos
Estados Unidos, vários laboratórios estão envolvidos em projeto
semelhante, com orçamento estimado em US$ 800 milhões", conta
Célio Silva.
O pesquisador aponta o desenvolvimento tecnológico
como fator preponderante para o sucesso dos resultados de sua
pesquisa: "Na última década, os avanços na tecnologia de desenvolvimento
de vacinas permitiu a introdução de novas estratégias para a obtenção
e produção de antígenos, assim como foram otimizadas novas maneiras
de se administrar e apresentar esses antígenos
para as células do sistema imunológico. Estas estratégias abriram
caminho para inovações, particularmente no contexto do desenvolvimento
de vacinas mais seguras, eficazes e polivalentes. Entre estas
estão as vacinas gênicas ou de DNA, consideradas de terceira geração".
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp)
participou ativamente no financiamento das pesquisas realizadas
até o momento pelo grupo da USP de Ribeirão Preto. Foram alguns
projetos individuais, um temático e várias bolsas de estudo para
estudantes de pós-graduação a nível de mestrado e doutorado, bolsas
de pós-doutoramento e de auxílios técnicos. "Para a próxima etapa,
precisaremos de um montante em torno de U$5 milhões. Em visita
recente ao nosso laboratório o diretor científico da Fapesp comprometeu-se
a financiar parte desses custos", informa Célio Silva.
Os benefícios práticos e estratégicos resultantes
do desenvolvimento de vacinas gênicas são inúmeros, segundo Célio
Silva, e absolutamente desejáveis no âmbito da realidade brasileira.
"O impacto sobre o controle das doenças infecciosas que podem
ser prevenidas por imunização gênica será, provavelmente, uma
das aquisições mais importantes advindas do domínio dessa nova
tecnologia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo
o mundo nascem por ano em torno de 130 milhões de crianças sendo
que cerca de 12 milhões morrem com idades entre 0 e 14 anos. Aproximadamente
9 milhões dessas mortes são causadas por doenças infecciosas (dengue,
hepatite, meningite, malária, esquistossomose, e outras), sendo
3 milhões contra as quais já existem vacinas de uso rotineiro
(tuberculose, difteria, coqueluche, sarampo e outras). O desenvolvimento
de novas vacinas que evitem, num futuro próximo, o aumento descontrolado
destas e de outras doenças infecciosas é de fundamental importância
para a humanidade. A vacina de DNA pode ser uma boa alternativa".
Mas o que é uma vacina
gênica?...
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