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Água
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Pôr
em suas mãos, no gesto, o copo agora ali sobre a cristaleira guarda outros copos, porém vazios da contida água no primeiro copo; nele deposita com o desejo de bebê-la a sede senão de vinho, da vinha torrencial de continentes líquidos, não os amarrados em formas de transparente solidão, só aqueles solitários na opaca transparência de muros sem razão. Água ausente, distante, mas inequívoca água como bois rumina o tempo de estar ali parada à espera que a mão, o movimento, a boca deformem o conteúdo de sua estagnada e pronta chuva. Água mais memória de ter sido água água-boi, água-quase, quase-queda, queda-d'água sem rochedos, pedras, precipícios, água, talvez dissesse, ali encerrada como em pasto estreito, ou melhor pensada no instantâneo de um princípio: parte de alguma totalidade fluida cuja compreensão compreende a suposição da parte; totalidade embora, mesmo que em si mesma desconstruída em partes, não leva já a parte alguma. Água, como diria, condenada ao copo e destinada ao corpo, água vista agora na transparência quieta da fusão de materiais estranhos, água sendo copo, conforma o corpo do que não é mais água e tem do boi o mesmo olhar de gelatina e opaco brilho; água com sede do outro quer ser água e não recusa continuar ser vidro, água imóvel como cristais correntes copos vazios cheios de alusões aquáticas água pois, ali parada, água-palavra a endurecer no copo, copo de fala amolecido e pronto a derramar-se em cursos. Carlos Vogt |
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Atualizado em 10/09/2000 |
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