CARTA AO LEITORNOTÍCIASENTREVISTASREPORTAGENSRESENHASCRÍTICA DA MÍDIALINKS DE C&TCADASTRE-SE NA REVISTABUSCA POR PALAVRA-CHAVE

Carta ao leitor

Equipe

Mande uma mensagem


Parabólica : a Com Ciência na mídia

Leia opiniões sobre a revista

A autoria e a responsabilidade científica, por Bernardo Melgaço da Silva

A Ciência como fundamento da ação profissional, por Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro

Agricultura familiar e o Programa Fome Zero, por Pedro Antonio Arraes Pereira

Turismo Solidário, por Sérgio Fonsêca Guimarães

Fome Zero e Nanotecnologia, por Petrus d'Amorim Santa Cruz Oliveira

Em busca de parâmetros para maior consolidação da Comunidade Científica, por Fábio L. Braghin

Carta à ComCiência, por Roque Laraia

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Teoria do Design Inteligente não é criacionismo

por Enézio E. de Almeida Filho (*)

O Núcleo Brasileiro de Design Inteligente é um pequeno, mas crescente grupo de professores e alunos de universidades públicas e privadas brasileiras. Propomos a Teoria do Design Inteligente [TDI] como a inferência científica que melhor explica certas evidências encontradas no universo e nas coisas vivas. Questionamos e apontamos 'erros' e 'distorções' das atuais teorias da origem e evolução da vida. Analisamos e avaliamos 'dados' com 'ceticismo profissional' pois as interpretações são passíveis de erros. Muito mais este autor que advogou o materialismo filosófico na versão marxista.

O neodarwinismo não é avaliado, criticado e revisado pela maioria dos evolucionistas. Antes, o 'objeto de desconfiança', ceticismo é de quase 'adoração': "Como um bom darwinista, é parte de minha religião (sic) que nada acontece na evolução sem ter sido autorizado pela seleção natural", Ernst Mayr, Mais, Folha de São Paulo, 04/07/04, p. 6 .

A Teoria Especial da Evolução [TEE -- microevolução, modificação biológica limitada intraespécie] é a mais avaliada e estabelecida pelas evidências. Discutível é a Teoria Geral da Evolução [TGE - a macroevolução, modificação biológica ilimitada interespécie- mutação mais seleção natural [descendência modificada e ancestral comum] que, circunstancialmente apoiada pelas evidências, é tenazmente defendida pelos darwinistas ultra-ortodoxos. Darwin é ícone que devemos 'reverenciar' secular e academicamente.

Richard Feynman disse: "A ciência é a cultura da dúvida". Hoje, dúvida e dissidência na Biologia são intoleradas, e os mais novos aprendem a ficar silenciosos se tiverem algo negativo a dizer sobre o neodarwinismo: pode custar financiamento das pesquisas e, muito pior, respeito e avanço nas carreiras acadêmicas. Chamam isso de 'liberdade de cátedra'...

A TGE não é 'uma teoria' como outra qualquer. Os que praticam ciência normal se apegam ao paradigma e fazem tudo para não ser substituído. O 'conflito paradigmático' só acaba pela 'solução biológica': quando defensores do paradigma vigente morrem e são substituídos pelos 'hereges' [Kuhn, "A estrutura das revoluções científicas"]. Paciência é virtude dos proponentes da TDI.

A descoberta de algo nem sempre derruba teorias, nem confere honrarias a alguém. O Big Bang (massa, energia, tempo e espaço têm começo - implicações teológicas) ficou no ostracismo por mais de 30 anos [Stephen Hawking]. Darwin resiste ao teste porque a Nomenklatura científica se recusa considerar teorias rivais.

Ao contrário do que é comumente afirmado, nem todas as ciências da vida, 'se apóiam na evolução'. Contrariando Dobzhansky e Mayr, 'nada no mundo vivo faz sentido se não for à luz das evidências biológicas'. Elas dizem não a Darwin et al.

Há evolucionistas materialistas [Dawkins, Lewontin]; não materialistas [Dobzhansky, David Lack, Newton-Freire]; neutralistas [Motoo Kimura]; saltacionistas [Gaylord Simpson, Gould e Eldredge] e ..... [preencher as lacunas].

Como os darwinistas, somos politicamente organizados e motivados por razões científicas: a TDI é uma teoria alternativa ao neodarwinismo. Não defendemos os criacionistas, mas há cientistas criacionistas que ensinam, pesquisam e publicam trabalhos.

Atitude pseudocientífica é não fazer periodicamente o balanço dos livros teóricos vis-à-vis às evidências. Não existe teoria científica sem corroboração das evidências. Os darwinistas ultra-ortodoxos não querem essa auditoria epistêmica à la Popper, Kuhn e Feyerabend e as evidências.

Nós proponentes e apoiadores da TDI, além de criticarmos o neodarwinismo, estudamos e pesquisamos. Somos mais de 300 Ph. Ds. (Harvard, Stanford, Princeton, Yale). Contamos com o Dr. Henry F. Schaefer III, University of Georgia, o terceiro químico mais citado no mundo, indicado cinco vezes para o Nobel.

Não queremos 'desacreditar a teoria evolutiva', mas propomos ensinar as evidências a favor e contra. A mudança paradigmática ocorrerá quando a comunidade científica se convencer que as evidências fatais contra Darwin não podem mais ser tapadas com uma peneira epistemológica furada.

As críticas à evolução não foram rebatidas como é retoricamente afirmado: a explosão Cambriana - quase todos os principais filos atuais já se encontravam 'como se tivessem sido plantados lá sem história evolutiva' [Dawkins] - Darwin considerou isso séria objeção à teoria; a descontinuidade de fósseis - a característica é estase - longos períodos sem modificação; os sistemas complexamente irredutíveis não são gradualmente explicados pois inexiste pesquisa na literatura especializada lidando com a questão [Behe]. Esses fatos não podem ser derrubados por nenhum cientista.

O que seria a negação de uma teoria [Popper]? E essas dificuldades para o mecanismo darwinista de mutação-seleção natural [descendência com modificação e ancestral comum]: origem da vida, código genético, vida multicelular, sexualidade, escassez de formas transicionais no registro fóssil, desenvolvimento de sistemas de órgãos complexos e de 'máquinas' moleculares irredutivelmente complexas? Como programa de pesquisa científica, parece que a teoria darwinista falhou.

Que a TGE está cada vez mais fraca, em crise e desacreditada por muitos cientistas, eis pequena bibliografia: Evolution: A Theory in Crisis (1986), de Michael Denton; Darwinism: The Refutation of a Myth (1987), de Sören Loventrup; The Origins of Order (1993), de Stuart A. Kauffman; How the Leopard Changed its Spots (1994), de Brian C. Goodwin; Reinventing Darwin (1995), de Niles Eldredge; The Shape of Life (1996), de Rudolf A. Raff; A Caixa Preta de Darwin (1997), de Michael J. Behe; The Origin of Animal Body Plans (1997), de Wallace Arthur; Sudden Origins: Fossils, Genes and the Emergence of Species (1999), de Jeffrey H. Schwartz. Todos os autores duvidam do poder criativo do mecanismo neodarwinista de seleção natural/mutações.

Confrontados com a fraqueza de seus argumentos, os darwinistas ultra-ortodoxos chamam seus oponentes de 'fundamentalistas', 'crentes da Terra plana', 'criacionistas', apesar de cientificamente embasados, invertendo assim a história da ciência moderna na substanciação, aceitação, revisão e descarte de teorias.

Cientificamente, a insuficiência epistêmica da TGE é bizarra e preocupante. Como defender idéias não apoiadas pelas evidências? Certamente há muitas pessoas inteligentes entre os darwinistas. A não percepção desse absurdo deve-se à cosmovisão ideológica: materialismo filosófico mascarado de ciência.

Ernst Mayr reconheceu: as 'leis e experiências são técnicas inapropriadas para a explicação de tais eventos e processos'. Em vez disso, os biólogos e teóricos evolucionistas constróem 'narrativas históricas' e 'explicações plausíveis' inerentemente subjetivas. Como a evolução (TGE) não dispõe de confirmação experimental, suas 'narrativas históricas' permanecem como especulações, a menos que a sua evidência exclua a hipótese rival de design inteligente.

A TGE [transformismo das espécies] não é 'scientia qua scientia' e estes argumentos, apesar de vazios, são ferrenhamente defendidos como 'episteme'. Irônico, Scopes defendeu o ensino 'das duas teorias alternativas'. Hoje, questionar Darwin é crime de lèse majesté na Academia.

Desconhecendo a história e o conteúdo da TDI, Maurício Vieira Martins afirmou que os criacionistas tiraram a palavra 'criacionismo' e a alteraram para 'Design Inteligente' (in "O criacionismo chega às escolas do Rio de Janeiro: uma abordagem sociológica"). Tivesse pesquisado os principais sites criacionistas ficaria sabendo do descontentamento dos criacionistas com a TDI.

A mídia relata a controvérsia "evolução e ensino do criacionismo" nas escolas e algumas vezes citam a TDI. Alguns evolucionistas tentam combinar 'design inteligente' (DI) com 'criacionismo' empregando o termo 'criacionismo de design inteligente'.

O DI é diferente do 'criacionismo'. Seus críticos reconheceram isso. Ronald Numbers, historiador de ciência da University of Wisconsin, crítico do DI, disse 'que o rótulo de criacionismo é impreciso' quando diz respeito ao DI'. Por que, então, Eduardo Rodrigues da Cruz (in "Criacionismo, lá e aqui") e Vieira Martins identificaram o DI com o criacionismo nesta edição de "ComCiência"? Uma leitura objetiva do livro "The Design Inference: Eliminating Chance Through Small Probabilities", de William A. Dembski, (Cambridge: Cambridge University Press, 2001) eliminaria esse juízo de valor ideológico. Se Rodrigues da Cruz e Vieira Martins tivessem lido a tese de Dembski, eles não fariam esta gratuita associação. Segundo Numbers, ela é feita porque este é 'o caminho mais fácil para desacreditar o design inteligente'. A acusação de 'criacionismo' é estratégia retórica para deslegitimar a TDI sem devidamente abordar seus méritos científicos.

Razões por que o DI não é criacionismo:

1. "Criacionismo de Design Inteligente" não é rótulo neutro: é termo pejorativo, polêmico, inventado por alguns darwinistas para atacar o DI por razões retóricas. Cientistas que apóiam o DI não se descrevem como 'criacionistas de design inteligente' nem consideram a TDI como criacionismo. O termo 'criacionismo de design inteligente' é inexato, inapropriado e tendencioso, especialmente de cientistas e jornalistas que estão tentando ser imparciais. "Teoria do Design Inteligente" é a descrição neutra da teoria.

2. A TDI é baseada na ciência e não em textos sagrados. O criacionismo defende a leitura literal da criação no livro de Gênesis pelo Deus da Bíblia há 6.000 anos atrás. A TDI é agnóstica em relação à origem do design e não defende nenhum texto sagrado. A TDI é um esforço de detectar empiricamente se o 'design aparente' observado pelos biólogos na Natureza é design genuíno (produto de uma inteligência organizadora) ou produto do acaso, necessidade e leis mecânicas naturais.

Detectar design na natureza vem sendo adotado por vários cientistas em renomadas faculdades e universidades americanas: Michael Behe, bioquímico da Lehigh University, Scott Minnich, microbiologista da University of Idaho e o matemático William Dembski na Baylor University entre muitos outros.

3. Os criacionistas sabem: a TDI não é criacionismo. Dois grupos criacionistas importantes, Answers in Genesis Ministries - AIG e o Institute for Creation Research - ICR criticaram o Movimento de Design Inteligente (MDI) porque a TDI não defende o relato bíblico de criação.

O AIG reclamou do MDI pela 'recusa em identificar o Designer com o Deus bíblico' e destacou: 'os principais expoentes do MDI formam um grupo filosoficamente e teologicamente eclético'. De acordo com o AIG, 'muitas figuras importantes no MDI rejeitam ou são hostis à criação bíblica, especialmente a noção de uma criação recente...'

O ICR criticou MDI por não empregar 'o método bíblico' e que 'somente o Design não é suficiente!'. Os criacionistas entenderam claramente - a TDI não é criacionismo.

4. Como o darwinismo, a TDI pode ter implicações religiosas, mas são distintas de seu programa científico. A TDI, como o Big Bang, pode ter implicações em áreas fora da ciência (teologia, ética e filosofia), mas distintas do DI como programa de pesquisa científica. Nesta questão, a TDI não difere da TE. Darwinistas importantes tiram implicações teológicas e culturais da teoria da evolução. Richard Dawkins, da Oxford University, afirmou que 'só depois de Darwin é possível ser um ateu intelectualmente satisfeito'. E. O. Wilson, de Harvard, emprega a biologia darwinista para desconstruir a religião e as ciências humanas.

Outros darwinistas tentam extrair implicações positivas da teoria de Darwin para a religião. Ora, se os darwinistas têm o direito de explorar implicações culturais e teológicas da teoria de Darwin sem desqualificar o darwinismo como ciência, então discussões inspiradas na TDI nas ciências sociais e humanas não a desqualificam como teoria científica.

5. Críticos imparciais reconhecem a diferença entre a TDI e o criacionismo. Cientistas e autores científicos estão chegando à conclusão: o DI é diferente do criacionismo. Robert Wright, da revista Time, afirmou: "Os críticos do DI, que tem sido anunciado na imprensa como uma nova e sofisticada [teoria], dizem que é apenas criacionismo disfarçado. Se assim for, é um bom disfarce. Os criacionistas acreditam que Deus fez as atuais formas de vida do nada. ... e muitos de seus adeptos [do DI] acreditam na evolução. Alguns até admitem um papel para o mecanismo evolutivo colocado por Darwin: a seleção natural. Eles apenas negam que a seleção natural sozinha possa ter dirigido a vida durante todo o caminho desde um pequeno poço de elementos inorgânicos até nós'.

Quaisquer que sejam os problemas que possa ter a TDI, devem permitir que ela surja ou caia pelos seus méritos, e não pelos méritos de outra teoria. Quem não quer a TDI na mesa de debate acadêmico são os darwinistas ultra-ortodoxos. Razão? Os teóricos e proponentes da TDI são cientistas devidamente capacitados para demonstrar a insuficiência epistêmica do neodarwinismo.

Apresentamos argumentos e afirmativas à comunidade científica, mas a reação é apaixonada e acientífica: 'Darwin não é dúvida entre os cientistas', 'não há crise na teoria', e outras evasivas nada recomendáveis aos que se dizem sujeitos ao rigor do método científico. A afirmativa 'não há crise na teoria evolucionista' impressiona leigos e intimida os que querem fazer ciência.

Não deveria existir conflito ciência versus religião, nem tampouco os cientistas devem ser obrigados, por uma 'camisa de força epistemológica', a optar entre o que diz a evidência e o que impõe o establishment científico como verdade.

Certamente ignoram: a comunidade científica da TDI é uma como qualquer outra. Seus integrantes são pessoas de diversas religiões e até agnósticos [David Berlinski, matemático judeu]. Não somos um bando homogêneo de teístas e ateus serão mais do que bem-vindos. Como parte da 'pólis', alguns buscam participar das decisões políticas e científicas.

Nós não nos infiltramos em conselhos de educação e nem de governos. Polemizamos sim, para arregimentar seguidores, criando espaço numa mídia altamente refratária à TDI. Se conseguimos espaço em publicações de divulgação científica foi por mérito da TDI. Nossos argumentos fazem sentido. Avançar politicamente organizados foi aprendido com Darwin, Huxley et al. Aqui, somos um grupo de voluntários sem apoio financeiro dos Estados Unidos. Tupi or not tupi!

Lá nos EUA os cientistas já perceberam: estão lidando sim com um debate de alto nível acadêmico e de importantes conseqüências para a ciência: a volta do design como inferência científica. Prova disso: vários livros foram publicados lidando com a TDI foram publicados na última década. A Academia não pode mais deixar de lidar com a TDI no Brasil. Não visamos sabotar o ensino de ciências: queremos sim liberdade epistemológica para questionar Darwin sem as sanções acadêmicas radicais que aconteceram nos Estados Unidos - a a maior democracia do planeta.

A SBPC deu passo importante opondo-se à lei aprovada no RJ. Seria muito importante a SBPC estimular o debate das dificuldades teórico-empíricas das atuais teorias da origem e evolução da vida. A TDI discute essa liberdade científica que os darwinistas ultra-ortodoxos não querem ver acontecer. Razão? Há grande e sério risco -- perda de status acadêmico, de prestígio e poder sobre a sociedade.

A opção darwinista fundamentalista de 'blindar' a teoria de um exame crítico não é postura científica -é postura manipuladora ideológica que trouxe, traz e trará atraso à ciência na questão da origem e evolução da vida.

(*) Enézio E. de Almeida Filho é Coordenador do NBDI - Núcleo Brasileiro de Design Inteligente (neddy@uol.com.br), Campinas - SP.

Artigo enviado pelo autor à ComCiência

 

 

 

Atualizado em 30/07/04

http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2001
SBPC/Labjor
Brasil