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Entrevista
com José Fernando Perez
História do projeto
Assessoria internacional
Escolha da Xylella
Parceria com empresas
Experiência com patentes
Entrevistas
anteriores
José
Fernando Perez orgulha-se do
sucesso alcançado com o seqüênciamento da Xylella.
Fonte Fapesp.
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Contando
a história do Genoma
Entrevista com José Fernando Perez - Diretor
Científico da Fapesp
Se
o Programa Genoma Fapesp precisasse ter um rosto certamente ele seria
o de José Fernando Perez. Professor titular de Física Matemática, o santista
Perez, de 55 anos, é diretor científico da Fapesp desde dezembro de 1993.
Em todo este tempo como diretor científico o Programa Genoma foi o que
mais lhe garantiu a atenção da mídia. Nesta entrevista, Perez conta como
surgiu a idéia do Programa Genoma, como se deu a decisão estratégica de
seqüenciar a Xylella fastidiosa, quais os objetivos e como foi a articulação
deste projeto, que criou uma rede de cooperação virtual, a rede ONSA,
da qual participam mais de 50 laboratórios do estado de São Paulo.
Orgulhoso
dos sucessos alcançados, Perez admite a ousadia de uma iniciativa que,
ao custo de US$ 15 milhões, alavancou o Brasil para uma posição de liderança
no estudo genômico de fitopatógenos. Convencido de que a rede ONSA está,
como ele mesmo diz, fazendo "ciência na fronteira do conhecimento", afirma
a importância de este tipo de estudo aplicar-se à biodiversidade brasileira.
Alcançado o objetivo principal de criar competências em biotecnologia
no Brasil, Perez mostra otimismo com relação a uma maior interação entre
universidade e indústria no país, fala da cooperação decisiva do Fundecitrus
no projeto Genoma Xylella e das futuras parcerias que estão sendo estudadas.
Esta entrevista é, além de tudo, uma busca de entendimento do modo como
está sendo feita a ciência de ponta no Brasil.
História
do projeto
Com
Ciência: Como surgiu a idéia do Programa Genoma?
José
Fernando Perez: Eu vinha, desde janeiro de 1997, de forma meio repetitiva
e quase obsessiva, levantando esta questão. Inicialmente de maneira vaga,
na base da intuição, de que deveria ser possível fazer alguma coisa de
impactante para darmos um salto nesta área de genética molecular. Tinha
ficado muito motivado porque visitei alguns centros nos EUA, a propósito
do nosso programa CEPID, e um deles me impressionou particularmente. Foi
um centro em Seattle chamado Molecular Biotechnology, da Universidade
de Washington, que conta com muitos recursos da Microsoft. Lá eu tive
uma entrevista muito interessante com esse pesquisador famoso, o Leroy
Hood, inventor do seqüenciador automático de DNA. Conversamos por mais
de uma hora e ele me deu de presente o livro Code of Codes, que estuda
os aspectos éticos, legais e sociais do projeto genoma. A visita me impressionou
muito por todo o investimento que eles vêm fazendo, inclusive na parte
educacional da área de genética molecular, envolvendo escolas de 2o grau
nas reflexões sobre as implicações éticas do projeto.
CC:
A visita já tinha como foco o genoma?
Perez:
Não. Na verdade eu visitei um centro de ótica, em Michigan, um centro
de biologia molecular, em Pittsburg, o Molecular Biotechnology, em Seattle
e mais um outro centro em Santa Bárbara. Nos EUA, todas as idéias boas
eu copio da National Science Foundation. Eles têm um projeto chamado Science
and Technology Centers, naquela época com 25 centros, e eu resolvi visitar
alguns deles porque achava que era um paradigma novo da organização do
sistema de pesquisa. Além disso, tinha sido muito instado a fazer a visita,
por um pesquisador que trabalhava na NSF. Como a idéia da biologia molecular
estava um pouco na minha cabeça, escolhi dois centros, de cinco que eram
da área biológica.
CC:
Por que o interesse particular na área de biologia molecular?
Perez: Pela importância estratégica que essa área tem para o Brasil.
Na realidade, o [professor da USP] Fernando Reinach veio com a idéia,
que eu acho brilhante até hoje, de fazer um projeto genoma. Daí ficou
a idéia de que a biotecnologia era uma janela de oportunidade para o Brasil,
porque é possível fazer algo que está na fronteira do conhecimento, sem
correr o risco de estar natimorto no dia do anúncio do projeto, como acontece
em áreas como a microeletrônica. A biologia molecular é uma área competitiva,
mas em que cada um faz o seu.
CC:
Como nasceu a proposta da rede Onsa?
Perez:
Desde que voltei dos EUA comecei a fazer questões muito freqüentes
a um grupo de pesquisadores, especialmente ao professor Fernando Reinach,
com quem eu dialogava bastante. Queria saber o que é que podia ser feito
que não fosse convencional, como mandar gente para fora ou mesmo criar
um centro. A dúvida se resolveu exatamente no 1o de maio de 1997. Eu fui
passar o feriado em Ubatuba e o Fernando na chácara dele, em Piracaia.
De lá ele telefonou e disse: eu tenho uma idéia boa. Porque você não volta
antes do feriado e pára em Piracaia? Foi o que aconteceu. Fui para lá,
dormimos uma noite na chácara dele e ficamos o dia inteiro conversando
sobre a idéia. Já havia, no princípio, o ingrediente da rede [Onsa], de
formar um grupo grande, que pudesse treinar muita gente. E também que
fosse ligado à agricultura. Logo deu para reconhecer que este projeto
tinha ingredientes de ousadia, alguma coisa de grande, que iria atrair
muita gente e ter grande visibilidade.
CC:
O que aconteceu, então, na seqüência?
Perez: Pedi ao Fernando que redigisse a idéia do projeto e marcamos
uma reunião na Fapesp. Ele mesmo indicou o nome de alguns pesquisadores,
como os do [professor da Unicamp] Paulo Arruda e de Marcos Machado, do
Centro de Citricultura de Cordeirópolis, pertencente ao Instituto Agronômico
de Campinas. Todos, quando viram o projeto, acharam-no muito bom. Aí eu
fiquei realmente preocupado, porque havia uma idéia que todo mundo considerava
boa, mas que, por outro lado, era bastante ousada. CC: Neste ponto, o
organismo a ser seqüenciado já estava definido? Perez: O problema inicial
era saber o tamanho do organismo. Logo ficou claro que deveria ser uma
bactéria, algo como 2 milhões de pares de bases. Deveria ser grande, por
um lado, para justificar a formação de uma rede, para permitir treinamento,
mas não grande demais que não fosse comensurável com a avaliação de nossa
competência. Era um projeto que não podia dar errado.
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