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Entrevista
com José Fernando Perez
História do projeto
Assessoria internacional
Escolha da Xylella
Parceria com empresas
Experiência com patentes
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anteriores
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Contando
a história do Genoma
Entrevista com José Fernando Perez - Diretor
Científico da Fapesp
Parceria
com empresas e futuro do projeto
CC:
Quando veio a parceria com o Fundecitrus?
Perez:
Propusemos ao Fundecitrus que eles dessem o equivalente a US$500 mil,
que seria um recurso importante para financiar aquelas coisas que a Fapesp
não pode financiar. Acho que a decisão de participar do projeto foi fruto
de uma visão estratégica importante do Fundecitrus, sobretudo de seu presidente,
Ademerval Garcia. Ele sabia que nós não estávamos vendendo a cura do amarelinho.
A indústria da laranja é uma área que já tem uma vantagem competitiva
e que conseguiu uma parceria ampla com o sistema de pesquisa do Estado.
Com isso, criou uma agenda para o sistema de pesquisa que interessa à
indústria. Nunca vendemos gato por lebre, não estávamos vendendo a cura
do amarelinho. Tivemos muito cuidado no fazer isso, porque sabíamos que
nunca tinha sido feito no mundo um projeto genoma de patógeno vegetal.
Mas a estratégia é boa, eu acho que está comprovado. Inclusive pelo fato
de o pessoal da uva da Califórnia estar interessado, estar referendando
a estratégia de usar o genoma para tentar trabalhar com a informação sobre
o organismo, para tentar controlar a doença.
CC:
Como está a parceria com o pessoal da Califórnia e qual o valor do projeto?
Perez: Está indo bem, acho que está praticamente consolidada. O valor
do projeto é de US$500 mil. O projeto da Xylella brasileira é um projeto
de US$15 milhões, mas não foi dimensionado para ser mais rápido nem mais
barato do que foi. O objetivo principal era formar gente. Havia estratégias
que podiam ser muito mais rápidas. A mais barata de todas era encomendar
isso. O que nós queríamos era criar competência; instalar um parque com
capacidade de seqüenciamento. Então, imaginamos que com US$500 mil dê
para fazer esse projeto da Xylella II, porque boa parte da informação
já é disponível. As duas Xylellas devem ser muito parecidas. Estimamos
que o genoma seja do mesmo tamanho, que haja algumas poucas variantes
genéticas. O prazo também deve ser muito mais curto. Quanto ao Genoma
Xanthomonas citri, a informação que tenho é que estamos na mesma etapa
que estávamos na Xylella em novembro do ano passado. Se isso for confirmado
estamos a uns dois ou três meses do término.
CC:
O seqüenciamento será cada vez mais rápido? Perez: Sim. E, mais do
que isso, o importante não é só a parte repetitiva de dominar a técnica
do seqüenciamento, porque isso certamente está feito, mas é também a questão
da bioinformática. Novas estratégias a serem desenvolvidas, como compor,
como organizar a informação. A estratégia que está sendo desenvolvida
no Xanthomonas citri vai ser um novo modelo de como fazer genoma bacteriano.
E isso graças ao grupo da Unicamp, o João Carlos Setúbal e o João Meidanis.
CC:
Esses procedimentos e técnicas são patenteáveis?
Perez:
Eu não sei se são, talvez até sejam, mas na verdade não sei qual o valor
que poderiam ter, não foram pensados dessa forma. O fato é que o Goffeau
está querendo mandar os alunos dele ver como é que está sendo feita esta
estratégia. O grupo da Unicamp criou um processo que permite fazer a montagem
de maneira muito mais eficiente do que foi feita com a Xylella. E é um
organismo duas vezes maior. Esse projeto começou em abril do ano passado,
nós estamos há um ano de execução dele e acho que ele vai terminar em
um prazo mais curto do que a Xylella, embora o orçamento seja duas vezes
menor.
CC:
O Programa Genoma foi pioneiro na área de biotecnologia no Brasil. Quais
as conseqüências esperadas?
Perez:
Eu acho que esse projeto vai ter um impacto na biotecnologia, ele vai
ser um marco para começar a biotecnologia em grande escala no país. Hoje
temos gente para fazer essa nova biotecnologia, aplicar em meio ambiente,
em agricultura, agropecuária, saúde pública. Um pouco antes de o projeto
começar, o pessoal de virologia me contou que eles tinham mandado para
o Center for Disease Control uma amostra de vírus de sarampo. O sarampo
é um vírus, é um genoma que se seqüencia em uma semana. Se você manda
para fora eles fazem em 4 ou 5 dias e adoram receber esse material. Material
genético é uma informação riquíssima para se fazer pesquisa. Eles têm
um pessoal que sabe usar informação. Esses acordos que estão aparecendo,
a coisa da Amazônia com a Novartis tem a ver com isso. Nós temos nossa
vocação. Precisamos nos apropriar intelectualmente da biodiversidade do
país, inicialmente conhecendo o código genético. Esse acordo com a Novartis
passa por cima dessa competência que está se instalando. O razoável seria
uma parceria desse grupo da bioamazônia com a Fapesp e não com a Novartis.
Eu acho muito açodada essa decisão de não reconhecer uma competência que
foi criada aqui, o mundo inteiro está começando a pensar no nosso Programa
Genoma.
CC:
É uma coisa que não acontece só nesse caso... Perez: Mas nesse caso
é especialmente flagrante, porque a biodiversiadade é um patrimônio extraordinário
nosso. Uma notícia dessas é uma verdadeira bomba.
CC:
Existe uma política para definir os próximos organismos?
Perez: Bom, nós formamos uma coordenação. Nossa idéia é abrir para
outros estados. Esse projeto tem vocação claramente nacional, inclusive
quando pensamos em biodiversidade, que é um passo natural para a gente.
Estamos interessados em ampliar o espaço de atuação da rede Onsa para
virar um projeto nacional, com a participação de outros estados e agência
federais.
CC:
Os próximos projetos serão feitos sob demanda? Perez: No momento nós
temos algumas hipóteses e estamos deixando a comunidade científica trazer
propostas. Quem tem uma boa idéia que a trabalhe. Há a hipótese genérica
de nos fortalecermos nessa área de patógenos vegetais, em que adquirimos
liderança internacional. Nós fizemos o primeiro e há uma séria confiança
de que a Xanthomonas será o segundo genoma de um patógeno vegetal. Há
outros organismos. Além da Xylella II, da uva, tem o Clavibacter xylli,
que também é importante. É um patógeno vegetal que ataca a cana e há um
consórcio internacional de produtores de cana, liderado pela Copersucar,
que estaria interessado. Haveria recursos adicionais, o que também é importante.
Todos os nossos projetos hoje contam com algum tipo de parceria, com empresas
ou com consórcios de empresas. No caso do Genoma Câncer nós temos a parceria
com o Ludwig, que é internacional e as nossas parcerias são importantes
porque aportam recursos adicionais, permitem cobrir alguns recursos orçamentários
não financiáveis pelas normas da Fapesp.
CC:
Outras empresas demonstraram interesse no Programa Genoma?
Perez:
Olha, eu consigo conceber uma variedade enorme de empresas. A galinha,
por exemplo, é uma hipótese que já está sendo ventilada por duas fontes
distintas, inclusive uma fundação internacional. A galinha seria o primeiro
genoma de uma ave e é de importância manifesta para o Brasil, que é um
grande consumidor de frango. Há uma relevância científica clara e teria
também a possibilidade de uma parceria com os setores produtivos. Eu consigo
imaginar que a gente consiga fazer em um determinado momento também o
genoma do eucalipto. Você pode pensar em toda a indústria da celulose
que poderia contribuir. Há um potencial enorme, e aí é que está a beleza
de fazer ciência na fronteira do conhecimento ao mesmo tempo remetendo
a problemas de relevância sócio-econômica. Estamos muito interessados
em trabalhar nessas parcerias.... Mas, obviamente, talvez alguns desses
projetos venham a existir independentes das parcerias, se houver uma grande
relevância científica.
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