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Entrevista
com José Fernando Perez
História do projeto
Assessoria internacional
Escolha da Xylella
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Contando
a história do Genoma
Entrevista com José Fernando Perez - Diretor
Científico da Fapesp
Escolha
da Xylella fastidiosa
CC:
Como foi a discussão para definir o primeiro organismo a ser seqüenciado?
Perez: Havia um organismo que o Paulo Arruda tinha indicado, o Thiobacillus
ferrooxidans, que é um extremófilo, ou seja, vive em condições extremas.
Ele é muito importante em biomineração, porque metaboliza metal. A [Companhia]
Vale do Rio Doce tem um projeto Pronex em Biomineração; a Cetesb também
tinha interesse nela porque ela adensa a concentração de metais em águas
paradas. Em uma das reuniões, depois de um momento em que saí da sala,
o pessoal tinha batido o martelo, "nós vamos para o Thiobacillus ferrooxidans".
Eu falei "não, de jeito nenhum, nós vamos dar 15 dias, aí quando estiver
tudo sólido, [decidimos]". Havia outros organismos sendo conjecturados.
CC:
A Xylella fastidiosa estava entre eles?
Perez: Um deles era a Xylella, porque o Marcos Machado, do Fundecitrus,
logo trouxe essa idéia. Ele trabalhava com a bactéria num projeto temático
financiado pela Fapesp e era um especialista na clorose variegada dos
citros, ou amarelinho. O problema era que ninguém sabia fazer a cultura
in vitro da Xylella com eficiência. Ela é fastidiosa exatamente porque
cresce muito lentamente, também dentro da própria planta. Depois de inoculada,
ela demora muito tempo para gerar sintomas e in vitro tampouco alguém
tinha um protocolo para fazer o crescimento de forma eficiente. Então
ela estava praticamente excluída de consideração.
CC:
Mas o senhor achava que ela ainda tinha chances... Perez: Eu mandei
um e-mail para o Marcos Machado, que não estava na reunião, e disse: Marcos,
você tem 15 dias para montar uma defesa da Xylella. Todo mundo dizia que
ela era inviável tecnicamente. A história é complicada porque tem várias
versões do que aconteceu. Só sei que daí a 15 dias marcaram uma visita;
veio um grupo de Bordeux (França), liderado pelo professor Josef Bové,
que tinha trabalhado com a bactéria, a partir de uma amostra enviada pela
Victoria Rosset, antiga pesquisadora em citricultura, que tinha conjecturado
a Xylella como a responsável pelo amarelinho. O grupo de Bordeaux provou
uma relação causal entre a bactéria e a doença, e publicou o trabalho.
Eu havia dito ao Bové: o senhor vai ter que conversar com esse grupo aqui
e também com o comitê internacional e mostrar que a Xylella é uma opção
boa para o projeto. Foi muito engraçado, porque ele me disse logo de cara:
quem é o comitê internacional? Eu falei: André Goffeau, Steve Oliver...
E ele respondeu: ah, o André foi meu aluno no doutorado.
CC:
A apresentação deles convenceu o grupo?
Perez: Foi de fato muito convincente. Ele sabia como fazer crescer
a cultura da bactéria e, mais do que isso, propunha que alguém fosse para
Bordeaux para aprender. Fazer cultura de bactéria é como receita culinária,
você precisa ir lá e fazer. E ele se ofereceu para isso. Essa era uma
oportunidade extraordinária. Convenceu a gente de que seria importante
cientificamente porque seria o primeiro genoma de um patógeno vegetal.
Isso foi um argumento forte. O fato é que a Nature noticiou (em 16/10/1997):
o Brasil vai sequenciar o primeiro fitopatógeno. É isso que a revista
valoriza. Na realidade, quando o Bové demonstrou a viabilidade e a oportunidade
de fazer o seqüenciamento, toda a relevância sócio-econômica do problema,
a Xylella era absolutamente imbatível. Então foi uma beleza essa visita.
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