Bitita
Carolina
Maria de Jesus
Eu
estava com sete anos e acompanhava a minha mãe por todos
os lados. Eu tinha um medo de ficar sozinha. Como se estivesse alguma
coisa escondida neste mundo para assustar-me. Eu ainda mamava. Quando
senti vontade de mamar comecei a chorar.
Eu
quero irme embora!
Eu
quero mamar!
Eu
quero irme embora!
A minha
saudosa professora D.Lanita Salvina perguntou-me: "Então
a senhora ainda mama?"
"Eu
gosto de mamar"
As
alunas sorriram.
"Então
a senhora não tem vergonha de mamar? "
"Não
tenho!"
A senhorita
esta ficando mocinha e tem que aprender a ler e escrever, e não
vai ter tempo disponível para mamar, porque necessita preparar
as lições. Eu gosto de ser obedecida! Estais ouvindo-me
D. Carolina Maria de Jesus?"
Fiquei
furiosa e respondi com insolência.
"O
meu nome é Bitita. Não quero que troque o meu nome."
"O
teu nome é Carolina Maria de Jesus."
Era
a primeira vez que eu ouvia pronunciar o meu nome.
Que
tristeza que senti. Eu não quero este nome, vou trocá-lo
por outro.
A professora
deu-me umas reguadas nas pernas, parei de chorar. Quando cheguei
na minha casa tive nojo de mamar na minha mãe. Compreendi
que eu ainda mamava porque era ignorante, ingênua e a escola
esclareceu-me um pouco.
Minha
mãe sorria dizendo:
"Graças
a Deus! Eu lutei para desmamar esta cadela e não consegui.
A minha mãe foi beneficiada no meu primeiro dia de aula.
Minha tia Oluandimira dizia:
"É
porque você é boba e deixa esta negrinha te dominar."
(apud:
BOM MEIHY, J.C. Sebe & LEVINE, Robert M. Cinderela Negra.
A saga de Carolina Maria de Jesus. Editora da UFRJ, 1994, p.173-174)
Para
saber mais:
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Brasil/brasis:
literatura e pluralidade cultural- http://www.itaucultural.org.br
Curso à distância, oferecido pelas professoras
Marisa Lajolo e Márcia Abreu, do IEL/Unicamp, em parceria
com o Instituto Cultural Itaú. No site (módulo
"Negro") há análise do texto autobiográfico
de Carolina Maria de Jesus, com atividades, figuras etc.
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