Reportagens






Editorial:
À luz da ciência
Carlos Vogt
Reportagens:
Campanha pretende conscientizar e melhorar tratamento
Ocorrência de epilepsia é maior no terceiro mundo
Capacitação profissional é chave para um bom diagnóstico
Tratamento na rede básica receberá investimentos
Quais os avanços no tratamento da epilepsia?
Epilepsia e a físico-química cerebral
A epilepsia no decorrer da história
Grandes personalidades conviveram com a epilepsia
Educação especial tenta afastar estigma da epilepsia
Artigos:
Campanha global contra epilepsia
Hanneke M. de Boer e L.L. Prilipko
Epidemiologia das epilepsias no Brasil
Moacir Alves Borges e Dirce Maria Trevisan Zanetta
Peculiaridades de tratamento no Distrito Federal
Wagner A. Teixeira e Ricardo A. Teixeira
Reduzindo a carga econômica da epilepsia
Ley Sander
Principais equívocos epileptológicos
Paulo Cesar Trevisol Bittencourt
Epilepsia e educação: prevenção e formação ética
Ulisses F. Araújo
Aspectos psiquiátricos em epilepsia
Renato Luiz Marchetti
Mecanismos psicológicos e o estigma da epilepsia
Elisabete de Souza, Paula Fernandes, Priscila Salgado e Fernanda Doretto
A epilepsia retratada ao longo da história
Elza Márcia Targas Yacubian
Epilepsia & gravidez
Alberto Costa e Carlos Guerreiro
O tratamento cirúrgico das epilepsias
Paulo Cesar Ragazzo
Genética das epilepsias
Iscia Lopes-Cendes
CInAPCe: projeto multi-modal para estudo do cérebro
Roberto Covolan e Fernando Cendes
Modelos experimentais em epilepsias
Claudio Queiroz, João Leite e Luiz Eugênio Mello
A Associação Brasileira de Epilepsia
Marly de Albuquerque
Tratamento medicamentoso das epilepsias
Carlos Guerreiro e Marilisa Guerreiro
Qualidade de vida para pessoas com epilepsia
Hanneke M. de Boer
Artes e Epilepsia
Norberto Garcia-Cairasco
Poema:
Identidade
Carlos Vogt
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Bibliografia
Créditos
  Epilepsia
A epilepsia retratada ao longo da história

Elza Márcia Targas Yacubian

Na Bíblia encontramos duas descrições de pessoas com epilepsia. Uma está em Marcos 9:14-29 que nos conta o tratamento de um menino que foi trazido por seu pai a Jesus, passagem imortalizada nos célebres quadros de Rafael e Rubens da Transfiguração de Cristo. A outra em Atos 22, 6-16, que descreve a conversão do apóstolo Paulo.


O último quadro de Rafael Sanzio A Transfiguração de Cristo retrata o paralelismo entre o sofrimento, a morte e a ressurreição

O menino lunático (Marcos 9: 14-29)
Quando eles chegaram perto dos outros discípulos, viram uma grande multidão em volta deles. Alguns professores da Lei estavam discutindo com eles. Logo que o povo viu Jesus, todos ficaram admirados e correram para cumprimentá-lo. Jesus perguntou:
- O que é que vocês estão discutindo?
Um homem da multidão respondeu:
- Mestre, eu trouxe o meu filho para o senhor ver, porque tem um espírito mau e não pode falar. Sempre que o espírito o ataca, joga-o no chão, e ele começa a espumar, a ranger os dentes, e vai se enfraquecendo. Já pedi aos discípulos do senhor que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram.
Jesus disse:
- Gente incrédula! Até quando ficarei com vocês? Até quando terei de agüentá-los? Tragam o menino.
Quando o trouxeram, o espírito viu Jesus e sacudiu com força o menino. Ele caiu no chão e rolava, com a boca espumando. Aí Jesus perguntou ao pai:
- Há quanto tempo seu filho está assim?
O pai respondeu:
- Desde pequeno. Muitas vezes o espírito o joga no fogo e na água para matá-lo. Mas se o senhor pode, então nos ajude. Tenha pena de nós!
- Se eu posso? Tudo é possível para quem tem fé - respondeu Jesus.
- Eu creio! Ajude-me a crer mais! - gritou o pai
Quando Jesus viu que muita gente se juntava perto dele, ordenou ao espírito:
- Espírito surdo-mudo, saia desse menino, e nunca mais entre nele.
O espírito gritou, sacudiu o menino, e saiu dele, deixando-o como morto. Por isso todos diziam que ele havia morrido. Mas Jesus pegou o menino pela mão e o ajudou a ficar de pé. Quando entrou em casa, seus discípulos lhe perguntaram em particular:
- Por que é que nós não pudemos expulsar aquele espírito?
- Este tipo de espírito só pode ser expulso com oração - respondeu Jesus.

O Apóstolo Paulo (Saulo de Tarso), um perseguidor de cristãos, conta a sua conversão (Atos 22: 6-16)
E Paulo disse ainda: Eu estava viajando, já perto de Damasco, e era mais ou menos meio-dia. De repente, uma grande luz que vinha do céu brilhou em volta de mim.
Então caí no chão e ouvi uma voz que dizia: "Saulo, Saulo! Por que você me persegue?"
- Então perguntei: "Quem é o senhor?" "Eu sou Jesus de Nazaré, aquele que você está perseguindo" - respondeu ele.
- Os homens que viajavam comigo viram a luz, porém não ouviram a voz de quem estava falando comigo.
Em seguida perguntei: "Senhor, o que devo fazer?" E o Senhor respondeu: "Levante-se e entre na cidade de Damasco. Ali vão dizer tudo o que Deus quer que você faça"
- Aquela luz brilhante me deixou cego. Por isso os meus companheiros me pegaram pela mão e me levaram para Damasco.
Havia ali um homem chamado Ananias. Era religioso, obedecia a nossa Lei, e todos os judeus, que moravam em Damasco o respeitavam.
Ele veio, chegou perto de mim, e disse: "Irmão Saulo, veja de novo!"- No mesmo instante comecei a ver de novo, e olhei para ele.
Então ele disse: "Saulo, o Deus de nossos antepassados escolheu você para conhecer a vontade dele, para ser o seu Servo justo, e para ouvir o Servo falar com você pessoalmente. Porque você será testemunha dele, para dizer a todos aquilo que tem visto e ouvido.
E agora, o que é que você está esperando? Levanta-te, peça ajuda do Senhor, receba o batismo, e seus pecados serão perdoados."

A conversão de Paulo, descrita em três ocasiões em Atos, ocorreu a caminho a Damasco para aprisionar cristãos. Sua visão só foi recuperada após três dias de cegueira. A experiência de Paulo foi atribuída a uma crise do lobo temporal com aura emocional que talvez tenha evoluído para generalização secundária, que foi assustadora e dramática, seguida de cegueira cortical pós-ictal (Landsborough, 1987), eventualidade rara como manifestação epiléptica.

Atos 9,7, menciona ... Os homens que estavam viajando com Saulo pararam sem poder dizer nada. Eles ouviram a voz, mas não viram ninguém; Atos 22,9... Os homens que viajavam comigo viram a luz e em Atos 26, 14... Todos nós caímos no chão e eu ouvi uma voz me dizer em hebraico: "Saulo, Saulo! Por que me persegue? Você está ferindo a você mesmo, como o boi que dá coice contra a ponta do ferrão". Estes fatos serviram de argumento para Brorson e Brewer (1988) se contraporem ao diagnóstico de um evento de natureza epiléptica no episódio bíblico. Outros dados contrários a este diagnóstico seriam a recuperação imediata da cegueira, a qual, em casos descritos na literatura de cegueira cortical, seria sempre gradual, em horas ou dias sendo acompanhada de anosognosia do distúrbio. A informação disponível da perfeita consciência de Paulo durante todo o evento e seu desespero pelo déficit visual, não sugerem o diagnóstico de uma crise epiléptica.


Caravaggio. A conversão de São Paulo

Assim como na descrição do quadro do apóstolo Paulo, há discussão sobre a natureza do quadro clínico de gênios em vários campos do conhecimento humano. Muitos são citados. Aqui discutimos alguns deles, particularmente aqueles que mereceram maior volume de publicações na literatura ou foram melhor documentados.

Vincent van Gogh
Vincent van Gogh, um dos mais conhecidos pintores pós-impressionistas, nasceu em 1853 em Groot Zundert, na Holanda. Vincent substituiu um irmão, a quem seus pais haviam dado este nome e que nasceu um ano antes, tendo falecido aos seis meses de idade. Foi então o segundo filho e teve mais cinco irmãos: Anne, Theodore (Théo), Elizabeth, Wilhelmina e Cornelius. Seu pai era um pastor calvinista muito austero e mal humorado, características de personalidade herdadas por Vincent. Vários de seus irmãos apresentaram doença mental: Théo sofreu depressão e ansiedade, tendo falecido de "demência paralítica", muito provavelmente neurossífilis, no Instituto Médico para Doentes Mentais em Utrecht. Wilhelmina era esquizofrênica e viveu durante 40 anos neste mesmo asilo, enquanto Cornelius cometeu suicídio aos 33 anos de idade. Toda semana a família visitava o túmulo do primogênito Vincent, com quem o "substituto" era comparado de forma hostil. Ele cresceu com pouco sentimento de auto-estima e consciência vívida da morte. Em suas obras retratou símbolos da morte e do nascimento e renascimento (Morrant, 1993).

Seus anos da juventude foram dispendidos como negociante de arte, professor e pregador religioso. Aos 20 anos de idade apresentou um episódio depressivo ao ser rejeitado por uma mulher por quem se apaixonara. Em 1880, decidiu dedicar-se inteiramente à arte e durante os seis próximos anos viveu em várias cidades da Bélgica e da Holanda, aprendendo, pintando, vivendo.

A maioria dos dados de que dispomos provém das 700 cartas que van Gogh escreveu aos irmãos, principalmente a Théo (Cartas a Théo), que trabalhava na Casa Goupil, importante galeria de arte na Europa e que o sustentou, retendo suas pinturas, esperando vendê-las para dividir o dinheiro entre ambos.

As "crises" de van Gogh ocorreram nos seus dois últimos anos de vida, entre 35 e 37 anos de idade (1888-1890) e não há dúvidas de que se tratavam de eventos episódicos com comprometimento físico, entre os quais mantinha perfeita lucidez, a qual é atestada em suas cartas. Esses episódios ocorriam em grupos e eram seguidos por intervalos livres de sintomas com duração de até vários meses. Van Gogh os descreveu a Théo, em 29 de abril de 1889: "Até agora tive quatro ataques maiores. Nestes episódios eu não sei o que fiz, disse ou queria. Antes destes, eu fiquei inconsciente por três vezes, sem qualquer razão reconhecida e não me lembro do que senti nestes períodos". Freqüentemente fazia referência a alucinações visuais e auditivas e estômago "fraco". "Devido a uma fraqueza no estômago durante os ataques, eu não posso me alimentar" e "Sou incapaz de descrever exatamente o meu problema; e então surgem crises horríveis de ansiedade, aparentemente sem causa, ou uma sensação de vazio ou fadiga na cabeça".

Esses episódios poderiam ser atribuídos a crises parciais complexas, iniciadas com aura de alterações no humor ou consciência, com duração de horas ou dias antes do início súbito de confusão mental. Vincent descreveu: "Por vários dias minha mente torna-se anuviada". Jamais ocorreu uma evolução para uma crise tônico-clônica generalizada. Em 1956, Gastaut analisou os aspectos da doença de van Gogh, sugerindo o diagnóstico de epilepsia psicomotora associada a alterações psíquicas intercríticas do tipo esquizóide, ambas decorrentes provavelmente de uma lesão irritativa temporo-para-temporal.

A vida em Paris
De março de 1886 a fevereiro de 1888, Vincent viveu em Paris com Théo, onde foi apresentado aos impressionistas, entre eles Camille Pissarro, Paul Signac e Toulouse-Lautrec, este último viciado em álcool e que o introduziu ao absinto, na época uma bebida muito popular, retratando-o com um copo desta bebida; o próprio van Gogh pintou uma natureza morta com absinto.


Vincent van Gogh. Natureza morta com absinto

A vida em Arles
Em fevereiro de 1888, viajou para Arles, no sul da França, em busca de luz e cor, com a intenção de instalar um atelier de pintura com Paul Gauguin, cujo temperamento e tendências estéticas eram muito diversos dos seus. É uma fase de intenso trabalho e ingestão pesada de álcool e outras substâncias químicas, como absinto associado ao tabaco do inseparável cachimbo. Nesta época, passou a apresentar os episódios críticos de natureza não absolutamente clara, os quais permaneceriam até o final de sua vida, dois anos depois. Viveu em Arles por 15 meses onde sofreu três dos seus episódios. No primeiro deles, ocorrido no Natal de 1888, Vincent lançou seu copo com absinto à face de Gauguin. À noite, ele decepou um pedaço de sua orelha esquerda.


Vincent van Gogh. Auto-retrato com bandagem e cachimbo

Foi conduzido ao hospital, sendo atendido pelo Dr. Felix Rey, que diagnosticou seu problema como epilepsia, prescrevendo doses elevadas de brometo de potássio e supressão do álcool, terapêutica que, segundo Gastaut (1956), poderia ter evitado a catástrofe em que se transformou sua vida. Ali permaneceu internado por duas semanas.


Vincent van Gogh. Jardim do Hospital de Arles

Sua crise teve a duração de sete dias. Nessa época, Vincent escreveu a Théo, que para combater a insônia, embebia seu colchão e travesseiro com grande quantidade de cânfora, uma cetona com estrutura química muito semelhante à da tujona (presente no Absinto) e que promove os mesmos efeitos convulsivógenos. Gauguin partiu, Vincent permaneceu só e as alucinações se sucederam, obcecando-o e aterrorizando-o. Em fevereiro de 1889, Vicent foi readmitido no hospital por 10 dias. Nesta época recebeu a visita de Signac que relatou que além de altas doses de álcool, van Gogh ingeria terebintina, substância que contém elevada concentração de pineno, estruturalmente semelhante a tujona e cânfora, usada principalmente como solvente e agente secante em pinturas e vernizes. Em 1988, Arnold propôs que van Gogh seria viciado em terpenos (tujona, pineno e cânfora), o que poderia explicar a perversão alimentar que apresentava, como o hábito de comer suas próprias pinturas. Sob os insistentes conselhos de Théo e do pastor Salles, internou-se no asilo Saint-Paul de Mausole, em Saint-Rémy de Provence.

A vida em Saint-Rémy
No seu registro de admissão no asilo para lunáticos em Saint-Rémy o Dr. Peyron, um oftalmologista aposentado, escreveu:

"Como diretor do asilo de Saint-Rémy, certifico e assino que van Gogh (Vincent), 36 anos de idade, nascido na Holanda e domiciliado atualmente em Arles, tendo sido tratado no hospital daquela cidade, apresenta mania aguda e alucinações visuais e auditivas que o levaram à automutilação, cortando a orelha. Atualmente parece recuperado, mas ele refere não apresentar coragem e força para a vida independente e, voluntariamente, solicita a admissão nesta instituição. Como resultado da exposição acima, acredito que o Sr. van Gogh apresenta crises epilépticas infreqüentes sendo aconselhável que permaneça em observação prolongada neste estabelecimento" (Dr. Peyron, 9 de maio de 1889).

Van Gogh escreveu a Théo: "O médico daqui parece inclinado a considerar que eu apresento uma espécie de ataque epiléptico. Mas não lhe perguntei nada sobre isto". Ele se descrevia como "um epiléptico" conforme o diagnóstico dos Drs. Rey e Peyron e dizia que as freiras e os atendentes do asilo se referiam a ele como epiléptico. Porém ele observava que seus sintomas eram diferentes daqueles de outros pacientes com epilepsia e escreveu a Théo: "O Dr. Rey me disse que este poderia ser o início da epilepsia" e que "outros pacientes, descrevendo seus ataques diziam que, como ele, ouviam sons e vozes estranhas e que apresentavam alterações visuais". Nessa época escreveu ainda ao irmão: "Contudo as alucinações insuportáveis desapareceram, estando agora reduzidas a um pesadelo simples, eu penso que em conseqüência do uso que venho fazendo de brometo de potássio". O brometo, utilizado pela primeira vez por Charles Locock, em 1857, foi a primeira droga eficaz para o controle de crises epilépticas (Scott, 1993).

No entanto, há considerável discussão sobre a natureza de seus sintomas. Arenberg et al., em 1991, propuseram que van Gogh apresentava a doença de Menière, descrita pelo médico francês Prosper Menière, em 1861. Àquela época a doença era muito pouco conhecida. Arenberg et al. atribuíram o corte da orelha ao tinito insuportável e ao quadro psíquico associado ao terrível mal-estar físico. Vincent escreveu: "Provavelmente os nervos de meu ouvido estão doentes e muito sensíveis, razão pela qual tenho sintomas visuais e auditivos". Este diagnóstico foi contestado por vários autores (Baker, Feldman, Freedman, Kunin, Jamison, 1991), pois van Gogh não apresentou perda auditiva e descrevia seus sintomas auditivos não como tinito mas como a ocorrência de sons e vozes estranhas.


Vincent van Gogh. Auto-retrato pintado no Hospital de Saint-Rémy

O último refúgio - a ida para Auvers
Aconselhado por Pissarro decidiu partir para Auvers-sur-Oise à procura do Dr. Paul Gachet, um velho homeopata que escreveu um tratado sobre melancolia e era um artista amador (Morrant, 1993). O diagnóstico feito pelo Dr. Gachet foi de intoxicação crônica por terebintina e lesão cerebral pela luz solar intensa do sul da França. Este lhe prescreveu trabalho, ao qual van Gogh dedicou-se compulsivamente durante sua estadia em Auvers.

Alguns atribuem este excesso de produção, associados aos seus outros sintomas, à psicose maníaco-depressiva. O fato de ter retratado, por duas vezes, o Dr. Gachet com ramos da planta dedaleira (Digitalis purpurea) fez com que alguns (Lee, 1981) aventassem a hipótese de que seus sintomas, sua paixão pela cor amarela e os característicos halos verificados em sua pintura nos últimos anos de sua vida poderiam decorrer de intoxicação crônica por digital e representar seus sintomas característiscos, xantopsia e coronas. Embora o digital tenha sido usado no século XIX para tratamento de epilepsia, não há qualquer referência que tenha sido administrado a van Gogh. Outros (Maire, 1971), atribuíram os halos coloridos de sua pintura como uma compensação de uma perda visual crônica em decorrência de glaucoma.

Vincent van Gogh vendeu apenas um quadro em vida "A vinha vermelha", mas tornou-se o maior pintor holandês do século XIX contribuindo para a arte moderna com a vitória da cor sobre o desenho, libertando a cor.

As causas da doença de van Gogh e de seu comportamento estranho continuarão sendo motivo de discussão. Psicose maníaco-depressiva? Epilepsia com crises parciais complexas? Intoxicação por terpenos? Doença de Menière? Intoxicação digitálica? Glaucoma?

Van Gogh foi um homem complexo que cortou sua orelha por várias razões e por elas, em 27 de julho de 1890, aos 37 anos de idade, chegou cambaleando no Café Ravoux, em Auvers, onde tinha uma sala: "Eu me feri com um tiro e só espero que tenha realizado este ato de forma adequada". O Dr. Gachet e um colega da vila não puderam remover a bala. Vincent deu de ombros, acendeu seu cachimbo e disse: "Farei tudo novamente, não chorem. Eu fiz isto para o bem de todos nós". Dois dias depois ele faleceu nos braços de seu irmão, Théo, murmurando "A tristeza não tem fim" (Morrant, 1993).

Dostoiévski
O escritor russo Fyodor Mikhailovitch Dostoiévski foi imensamente interessado por sua epilepsia e deixou em seus diários, cartas e novelas, evidências únicas de seus 35 anos de experiência com a moléstia, iniciada aos 25 anos de idade, em 1846, logo após completar sua novela Gente Humilde. Sua última crise ocorreu um mês antes de sua morte. Apresentou, pelo menos, 400 crises epilépticas generalizadas convulsivas desde a metade da terceira década da vida até sua morte, aos 60 anos de idade, em 1881, por hemoptise possivelmente decorrente de tuberculose. Suas crises eram sempre seguidas de estados confusionais, freqüentemente com depressão e distúrbios transitórios de memória e fala. Dostoiévski descreveu várias características da epilepsia e de certos estados anormais antes de qualquer descrição médica, como, por exemplo, estados de sonho, percepção anormal do tempo, múltiplas nuanças de déjà vu, atividades automáticas prodrômicas, tremor pré-crítico, pensamento forçado, fuga de idéias, o sentido de se tornar psicótico (Lovell, 1997).


Fyodor Mikhailovitch Dostoiévski (1821- 1881)

"Ataque intenso às 8:45: fragmentação do pensamento, mudança para outros anos, estados de sonho, pensamentos meditativos, culpa. Deslocamento de um disco vertebral ou uma lesão muscular". Descrevia e discutia sua doença como uma catarse, uma forma de aliviar sua ansiedade.

Ainda descreveu, pela primeira vez, um estado extático curto de felicidade absoluta, seguido de acentuada melancolia e profundo sentimento de culpa. Este era o tipo de crise descrito pelo príncipe Mishkin em O idiota, uma novela sobre a epilepsia e a vida de uma pessoa epiléptica, neste caso uma descrição detalhada da epilepsia do lobo temporal que só seria realizada, no meio médico, cerca de 20 anos depois, pelo neurologista inglês John Hughlings Jackson.

A aura extática, extremamente rara e intrigante é o fenômeno que mais tem merecido publicações (Amâncio et al. 1994; Cirignotta et al., 1980; Morgan, 1990; Cabrera-Valdivia et al.; Kasteleijn-Nolst Trenité, 1997; Binnie, 1997).

Mencionou os fatores desencadeantes como privação de sono, álcool, mau tempo e, principalmente, estresse associado a intenso trabalho criativo. Durante a elaboração de O idiota chegou a apresentar 12 crises generalizadas em apenas 3 meses.

Epilepsia generalizada versus epilepsia parcial
A classificação da epilepsia de Dostoiévski tem sido discutida entre os epileptologistas. Segundo Gastaut (1978), vários fatores apontam para uma epilepsia generalizada idiopática: ocorrência de automatismos descrita unicamente no período pós crítico; ausência de menção da aura extática em suas anotações (este fenômeno teria sido criado pelo escritor); predisposição genética para epilepsia (seu filho, Alexis, faleceu aos 3 anos de idade em estado de mal epiléptico); ausência de sinais neurológicos ou psiquiátricos sugestivos de doença orgânica; algumas crises, especialmente as que ocorriam pela manhã, eram precedidas pelo que Dostoiévski chamava de "inícios", ou seja, mioclonias maciças; todas as suas crises eram generalizadas convulsivas.

Para Voskuil (1983), Dostoiévski poderia também apresentar uma epilepsia parcial complexa com a maioria das crises se manifestando como tônico-clônicas generalizadas noturnas. O autor baseou-se nas seguintes razões:

1. História familiar e ausência de sinais de lesão cerebral não contradizem este diagnóstico;
2. Suas crises tônico-clônicas generalizadas ocorriam principalmente durante o sono
3. Há referências à presença, em algumas crises, de "uma pequena brisa"
4. Aura extática, o fenômeno mais discutido; mas esta foi referida pelo escritor a pelo menos três pessoas em sua vida (Sofia Kovalevskaja, Strakhov e Baron Wrangel) e descrita em dois de seus personagens, o príncipe Mishkin (O Idiota) e Kirilov (Os demônios)
5. Disfasia de expressão (descrita uma vez)
6. Palidez
7. Movimentos adversivos da cabeça
8. Sintomas de medo
9. Um grito
10. Movimentos convulsivos generalizados
11. Estados confusionais de longa duração com automatismos, distúrbios de escrita e fala e depressão pós-crítica
12. Distúrbio da função da memória recente, especialmente em épocas de elevada freqüência de crises, embora continuamente referisse perda de memória, especialmente a relacionada às faces.

Com relação à etiologia dessa epilepsia, iniciada aos 25 anos de idade, há uma única indicação de doença cerebral orgânica. Dostoiévski escreveu a seu irmão Michael: "Eu estava terrivelmente doente, sofrendo de uma irritação em todo o sistema nervoso, com acometimento do coração, que se tornou congestionado e inflamado, uma condição duramente controlada por sanguessugas e duas exsangüinações".

Gastaut (1984) volta a discutir a questão, acentuando que faltam em Dostoiévski as características intercríticas de personalidade de indivíduos com epilepsia temporal como van Gogh e Flaubert. Seu comportamento era normal, não havia traços de gliscroidia e impulsividade e sua vida sexual foi normal com suas duas esposas e suas duas amantes (considerava inclusive o excesso de sua função sexual como possível causa de suas crises). Gastaut (1984) então propôs um conceito unicista da epilepsia do escritor russo, que deve ter sofrido uma lesão temporal discreta, incapaz de produzir a fenomenologia intercrítica característica da epilepsia temporal, mas como apresentava predisposição genética para epilepsia esta tornou produtiva a lesão temporal silente, de tal forma a induzir generalização secundária muito rápida em cada crise.

Tratamento e curso da doença
Dostoiévski acreditava que epilepsia era um problema intratável e não há evidências de que tenha feito uso de brometo. O autor provou que um meio de conviver com uma doença crônica, incurável, é usá-la como fonte de inspiração visando transformá-la por seu gênio artístico. O caso de Dostoiévski, com suas 400 crises generalizadas convulsivas não tratadas, é um argumento importante contra a terrível predição, comum à sua época e ainda em tempos atuais, de que os ataques epilépticos repetidos culminam com o desenvolvimento de demência. A epilepsia não teve qualquer impacto sobre as funções cognitivas do escritor, que completou o seu trabalho mais importante, Os irmãos Karamazov, dois meses antes de sua morte e que era visto, naquele tempo, como um dos líderes espirituais do seu país.

Dostoiévski escreveu: "Sim, eu tenho a doença das quedas, a qual não é causa de vergonha para ninguém. E a doença das quedas não impede a vida".

Machado de Assis

A vida de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) - obscura, pobre, desconhecida - é setor de exploração difícil e principalmente do seu nascimento e da sua infância muito pouco, ou quase nada se sabe. Filho de Francisco José de Assis, mulato, pintor e dourador e Maria Leopoldina Machado, portuguesa da ilha de São Miguel, nasceu em 21 de junho de 1839 e seus antecedentes hereditários, gestacionais e obstétricos são ignorados.


Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)

A epilepsia
Todos os seus biógrafos lhe fizeram o diagnóstico de epilepsia cujas crises freqüentes foram testemunhadas por muitos e um dos episódios foi fotografado pelo velho Malta, fotógrafo tradicional do Rio antigo. Mas o próprio Machado tinha pudor de sua enfermidade e não aludia a ela senão muito raramente e nunca lhe escrevia o nome, ocultando a doença até dos amigos mais íntimos, como em sua correspondência com o amigo Mário de Alencar: "O muito trabalhar destes últimos dias tem-me trazido alguns fenômenos nervosos...". Esta fobia pela palavra "epilepsia" era tão grande que a excluiu das edições ulteriores de Memórias Póstumas de Brás Cubas, e que deixara escapar na primeira ao descrever o padecimento de Virgília diante da morte do amante: "Não digo que se carpisse; não digo que se deixasse rolar pelo chão, epiléptica...", substituída por: "Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, convulsa...". Quando alguém lhe notou certa vez a dificuldade com que ele falava por causa das mordeduras da língua, justificava-a como "Estas aftas! Estas aftas!". Ocultou-a inclusive da amada e dedicada esposa, Carolina, a quem devotava imensa ternura, não revelando seu problema antes do casamento.

Provavelmente, a epilepsia de Machado de Assis teve início na infância, fato declarado pelo próprio Machado, ao tempo do primeiro ataque depois do casamento (uma crise generalizada tônico-clônica). Ele disse que sentira, em criança, "umas coisas esquisitas", que não se haviam mais repetido até aquela data. É possível, talvez, que Machado não tivesse tido até então uma crise típica (Pelegrino Jr., 1976). Esta crise denunciou, na idade adulta, a maior tortura da vida de Machado - a epilepsia.

Carlos de Laet (citado por Lopes, 1981) assistiu a uma crise e descreveu-a: "... quando de nós se acercou o Machado e dirigiu-me palavras em que não percebi nexo. Encarei-o surpreso e achei-lhe desmudada a fisionomia. Sabendo que de tempos em tempos o salteavam incômodos nervosos, despedi-me do outro cavalheiro, dei o braço ao amigo enfermo, fi-lo tomar um cordial na mais próxima farmácia e só o deixei no bonde das Laranjeiras, quando o vi de todo restabelecido, a proibir-me que o acompanhasse até casa".
Lopes (1981), analisando as manifestações clínicas da epilepsia de Machado de Assis sugeriu a ocorrência, muito freqüente pelo menos na última fase da vida, de crises psicomotoras e de crises de grande mal, provavelmente decorrentes de foco temporal e da ínsula.

Guerreiro (1992) utilizando os conceitos da epileptologia de nossos dias assinalou que, sem dúvida, suas crises cursavam com alterações da consciência, automatismos e confusão pós crítica e, baseado na associação da emissão de palavras sem nexo, sugeriu o diagnóstico de crises parciais complexas provavelmente originadas no lobo temporal direito. As crises iniciaram na infância, tiveram remissão na adolescência e recidivaram na terceira década, tornando-se mais freqüentes nos últimos anos.

Há referências de que Machado de Assis consultou o Dr. Miguel Couto e que tomou brometo. Parece que a droga não foi eficaz e causou alguns efeitos indesejáveis e, a conselho de um amigo, descontinuou o tratamento e optou pela homeopatia (Lopes, 1981).

A humildade, a cor, a doença
O pudor da humildade, a vergonha da raça e pobreza, ao lado do seu natural recato de introvertido e do complexo de inferioridade que lhe marcava fundamente o caráter ("aquela desconfiança de si mesmo que por vezes o fazia parecer implicante e orgulhoso") - são elementos suficientes para explicar e justificar este vago mistério que cercou a história dos seus primeiros anos e estiveram presentes em toda a vida do "bruxo do Cosme Velho". Estas características seriam justificadas pela personalidade epileptóide. O epiléptico nem sempre está irritado, porém se mostra com freqüência apático, deprimido e triste, com plena consciência de sua inferioridade social (A. Botelho, citado por Pelegrino Jr., 1976).

A afetividade, viscosa e concentrada em poucos e fiéis amigos foi outra característica importante de sua personalidade, a gliscroidia, aludida por muitos (Pelegrino Jr, 1976). Mas seu caráter pode ter sido moldado não pela doença, mas sim por todos os comemorativos de sua vida. Com o agravamento da moléstia, acentuaram-se nitidamente, nas obras da última fase, certas características psicológicas do escritor: o negativismo, o espírito de destruição, a invariável tristeza, aquela melancolia sem fim e sem remédio (Pelegrino Jr, 1976). Esta tendência à depressão dos últimos anos seria, no entanto, mais provavelmente explicada pela presença, já em 1880, de perda visual associada à provável retinite, que obrigou Carolina a ler os textos por Machado. Mas a morte desta, em 1904, sem dúvida exacerbou enormemente esta depressão.

A influência na obra
A preocupação com a loucura esteve presente em vários de seus caracteres, especialmente no O alienista e descreveu uma crise de "automatismo ambulatório" em Rubião, de Quincas Borba, que apresentava paralisia geral progressiva: "Deu por si na Praça da Constituição. Viera andando à toa" e em Brás Cubas, nas Memórias póstumas : "Ora, enquanto eu pensava naquela gente, iam-me as pernas levando, ruas abaixo, de modo que insensivelmente me achei à porta do hotel Pharoux. De costume jantava aí; mas, não tendo deliberadamente andado, nenhum merecimento da ação me cabe, e sim às pernas que a fizeram".

Machado, aliado à sua inteligência e à sua vocação teve uma série de elementos a impulsioná-lo: os recalques por motivo de raça e de origem, infecções intestinais repetidas (uma colite crônica espasmódica, seu mal acessório, já que seu grande mal era a epilepsia que o abatia e torturava), gagueira e a perda visual, que se acrescentou à série de seus males na última metade de sua vida.

O fim
Lopes (1981), aluno do grande médico Miguel Couto, que tratou Machado de Assis, disse que o mestre costumava citar para os seus alunos o exemplo do escritor, a quem as crises freqüentes não ocasionaram nenhum comprometimento cognitivo. A epilepsia em Machado de Assis exerceu um efeito positivo na quantidade de seu trabalho e sua gigantesca obra é o triunfo pessoal sobre a doença e sobre si mesmo. Os escritos de Machado ao amigo Mário de Alencar, já às portas da morte, da melancólica solidão de seu quarto de enfermo, permitem uma perfeita analogia com a personalidade de Gustave Flaubert, escritor francês, que também sofria de epilepsia: "Meu querido amigo, hoje à tarde reli uma página da biografia de Flaubert; achei a mesma solidão e tristeza e até o mesmo mal, como sabe, o outro...".

Ninguém mais se aproximou de Machado de Assis do que Flaubert; a tristeza, desde a infância, a melancolia congênita, o tropismo pela solidão, a angústia pelas crises (Valério, 1930). Quando do lançamento de seu último livro, Memorial de Aires, publicado em julho de 1908, Machado estava muito debilitado pelos seus males e por uma úlcera cancerosa que seus constantes ataques lhe haviam aberto na língua e que lhe impedia de ingerir qualquer alimento sólido. Em casa, cercado de seus poucos amigos fidelíssimos faleceu na madrugada de 29 de setembro de 1908, aos 69 anos de idade.

Elza Márcia Targas Yacubian é professora do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp)

Este texto foi parcialmente publicado em Yacubian EMT e Pinto GRS, 1999 e Yacubian EMT, 2000.


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Atualizado em 10/07/2002
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