A epilepsia retratada ao longo da história
Elza
Márcia Targas Yacubian
Na
Bíblia encontramos duas descrições de pessoas
com epilepsia. Uma está em Marcos 9:14-29 que nos conta o
tratamento de um menino que foi trazido por seu pai a Jesus, passagem
imortalizada nos célebres quadros de Rafael e Rubens da Transfiguração
de Cristo. A outra em Atos 22, 6-16, que descreve a conversão
do apóstolo Paulo.
O último quadro de Rafael Sanzio A Transfiguração
de Cristo retrata o paralelismo entre o sofrimento, a morte e a
ressurreição
O
menino lunático (Marcos 9: 14-29)
Quando eles chegaram perto dos outros discípulos, viram uma
grande multidão em volta deles. Alguns professores da Lei
estavam discutindo com eles. Logo que o povo viu Jesus, todos ficaram
admirados e correram para cumprimentá-lo. Jesus perguntou:
- O que é que vocês estão discutindo?
Um homem da multidão respondeu:
- Mestre, eu trouxe o meu filho para o senhor ver, porque tem um
espírito mau e não pode falar. Sempre que o espírito
o ataca, joga-o no chão, e ele começa a espumar, a
ranger os dentes, e vai se enfraquecendo. Já pedi aos discípulos
do senhor que expulsassem o espírito, mas eles não
conseguiram.
Jesus disse:
- Gente incrédula! Até quando ficarei com vocês?
Até quando terei de agüentá-los? Tragam o menino.
Quando o trouxeram, o espírito viu Jesus e sacudiu com força
o menino. Ele caiu no chão e rolava, com a boca espumando.
Aí Jesus perguntou ao pai:
- Há quanto tempo seu filho está assim?
O pai respondeu:
- Desde pequeno. Muitas vezes o espírito o joga no fogo e
na água para matá-lo. Mas se o senhor pode, então
nos ajude. Tenha pena de nós!
- Se eu posso? Tudo é possível para quem tem fé
- respondeu Jesus.
- Eu creio! Ajude-me a crer mais! - gritou o pai
Quando Jesus viu que muita gente se juntava perto dele, ordenou
ao espírito:
- Espírito surdo-mudo, saia desse menino, e nunca mais entre
nele.
O espírito gritou, sacudiu o menino, e saiu dele, deixando-o
como morto. Por isso todos diziam que ele havia morrido. Mas Jesus
pegou o menino pela mão e o ajudou a ficar de pé.
Quando entrou em casa, seus discípulos lhe perguntaram em
particular:
- Por que é que nós não pudemos expulsar aquele
espírito?
- Este tipo de espírito só pode ser expulso com oração
- respondeu Jesus.
O
Apóstolo Paulo (Saulo de Tarso), um perseguidor de cristãos,
conta a sua conversão (Atos 22: 6-16)
E Paulo disse ainda: Eu estava viajando, já perto de Damasco,
e era mais ou menos meio-dia. De repente, uma grande luz que vinha
do céu brilhou em volta de mim.
Então caí no chão e ouvi uma voz que dizia:
"Saulo, Saulo! Por que você me persegue?"
- Então perguntei: "Quem é o senhor?" "Eu
sou Jesus de Nazaré, aquele que você está perseguindo"
- respondeu ele.
- Os homens que viajavam comigo viram a luz, porém não
ouviram a voz de quem estava falando comigo.
Em seguida perguntei: "Senhor, o que devo fazer?" E o
Senhor respondeu: "Levante-se e entre na cidade de Damasco.
Ali vão dizer tudo o que Deus quer que você faça"
- Aquela luz brilhante me deixou cego. Por isso os meus companheiros
me pegaram pela mão e me levaram para Damasco.
Havia ali um homem chamado Ananias. Era religioso, obedecia a nossa
Lei, e todos os judeus, que moravam em Damasco o respeitavam.
Ele veio, chegou perto de mim, e disse: "Irmão Saulo,
veja de novo!"- No mesmo instante comecei a ver de novo, e
olhei para ele.
Então ele disse: "Saulo, o Deus de nossos antepassados
escolheu você para conhecer a vontade dele, para ser o seu
Servo justo, e para ouvir o Servo falar com você pessoalmente.
Porque você será testemunha dele, para dizer a todos
aquilo que tem visto e ouvido.
E agora, o que é que você está esperando? Levanta-te,
peça ajuda do Senhor, receba o batismo, e seus pecados serão
perdoados."
A conversão
de Paulo, descrita em três ocasiões em Atos, ocorreu
a caminho a Damasco para aprisionar cristãos. Sua visão
só foi recuperada após três dias de cegueira.
A experiência de Paulo foi atribuída a uma crise do
lobo temporal com aura emocional que talvez tenha evoluído
para generalização secundária, que foi assustadora
e dramática, seguida de cegueira cortical pós-ictal
(Landsborough, 1987), eventualidade rara como manifestação
epiléptica.
Atos
9,7, menciona ... Os homens que estavam viajando com Saulo pararam
sem poder dizer nada. Eles ouviram a voz, mas não viram ninguém;
Atos 22,9... Os homens que viajavam comigo viram a luz e em Atos
26, 14... Todos nós caímos no chão e eu ouvi
uma voz me dizer em hebraico: "Saulo, Saulo! Por que me persegue?
Você está ferindo a você mesmo, como o boi que
dá coice contra a ponta do ferrão". Estes
fatos serviram de argumento para Brorson e Brewer (1988) se contraporem
ao diagnóstico de um evento de natureza epiléptica
no episódio bíblico. Outros dados contrários
a este diagnóstico seriam a recuperação imediata
da cegueira, a qual, em casos descritos na literatura de cegueira
cortical, seria sempre gradual, em horas ou dias sendo acompanhada
de anosognosia do distúrbio. A informação disponível
da perfeita consciência de Paulo durante todo o evento e seu
desespero pelo déficit visual, não sugerem o diagnóstico
de uma crise epiléptica.
Caravaggio. A conversão de São Paulo
Assim
como na descrição do quadro do apóstolo Paulo,
há discussão sobre a natureza do quadro clínico
de gênios em vários campos do conhecimento humano.
Muitos são citados. Aqui discutimos alguns deles, particularmente
aqueles que mereceram maior volume de publicações
na literatura ou foram melhor documentados.
Vincent
van Gogh
Vincent van Gogh, um dos mais conhecidos pintores pós-impressionistas,
nasceu em 1853 em Groot Zundert, na Holanda. Vincent substituiu
um irmão, a quem seus pais haviam dado este nome e que nasceu
um ano antes, tendo falecido aos seis meses de idade. Foi então
o segundo filho e teve mais cinco irmãos: Anne, Theodore
(Théo), Elizabeth, Wilhelmina e Cornelius. Seu pai era um
pastor calvinista muito austero e mal humorado, características
de personalidade herdadas por Vincent. Vários de seus irmãos
apresentaram doença mental: Théo sofreu depressão
e ansiedade, tendo falecido de "demência paralítica",
muito provavelmente neurossífilis, no Instituto Médico
para Doentes Mentais em Utrecht. Wilhelmina era esquizofrênica
e viveu durante 40 anos neste mesmo asilo, enquanto Cornelius cometeu
suicídio aos 33 anos de idade. Toda semana a família
visitava o túmulo do primogênito Vincent, com quem
o "substituto" era comparado de forma hostil. Ele cresceu
com pouco sentimento de auto-estima e consciência vívida
da morte. Em suas obras retratou símbolos da morte e do nascimento
e renascimento (Morrant, 1993).
Seus
anos da juventude foram dispendidos como negociante de arte, professor
e pregador religioso. Aos 20 anos de idade apresentou um episódio
depressivo ao ser rejeitado por uma mulher por quem se apaixonara.
Em 1880, decidiu dedicar-se inteiramente à arte e durante
os seis próximos anos viveu em várias cidades da Bélgica
e da Holanda, aprendendo, pintando, vivendo.
A maioria
dos dados de que dispomos provém das 700 cartas que van Gogh
escreveu aos irmãos, principalmente a Théo (Cartas
a Théo), que trabalhava na Casa Goupil, importante galeria
de arte na Europa e que o sustentou, retendo suas pinturas, esperando
vendê-las para dividir o dinheiro entre ambos.
As
"crises" de van Gogh ocorreram nos seus dois últimos
anos de vida, entre 35 e 37 anos de idade (1888-1890) e não
há dúvidas de que se tratavam de eventos episódicos
com comprometimento físico, entre os quais mantinha perfeita
lucidez, a qual é atestada em suas cartas. Esses episódios
ocorriam em grupos e eram seguidos por intervalos livres de sintomas
com duração de até vários meses. Van
Gogh os descreveu a Théo, em 29 de abril de 1889: "Até
agora tive quatro ataques maiores. Nestes episódios eu não
sei o que fiz, disse ou queria. Antes destes, eu fiquei inconsciente
por três vezes, sem qualquer razão reconhecida e não
me lembro do que senti nestes períodos". Freqüentemente
fazia referência a alucinações visuais e auditivas
e estômago "fraco". "Devido a uma fraqueza
no estômago durante os ataques, eu não posso me alimentar"
e "Sou incapaz de descrever exatamente o meu problema; e então
surgem crises horríveis de ansiedade, aparentemente sem causa,
ou uma sensação de vazio ou fadiga na cabeça".
Esses
episódios poderiam ser atribuídos a crises parciais
complexas, iniciadas com aura de alterações no humor
ou consciência, com duração de horas ou dias
antes do início súbito de confusão mental.
Vincent descreveu: "Por vários dias minha mente torna-se
anuviada". Jamais ocorreu uma evolução para uma
crise tônico-clônica generalizada. Em 1956, Gastaut
analisou os aspectos da doença de van Gogh, sugerindo o diagnóstico
de epilepsia psicomotora associada a alterações psíquicas
intercríticas do tipo esquizóide, ambas decorrentes
provavelmente de uma lesão irritativa temporo-para-temporal.
A
vida em Paris
De março de 1886 a fevereiro de 1888, Vincent viveu em Paris
com Théo, onde foi apresentado aos impressionistas, entre
eles Camille Pissarro, Paul Signac e Toulouse-Lautrec, este último
viciado em álcool e que o introduziu ao absinto, na época
uma bebida muito popular, retratando-o com um copo desta bebida;
o próprio van Gogh pintou uma natureza morta com absinto.
Vincent van Gogh. Natureza morta com absinto
A
vida em Arles
Em fevereiro de 1888, viajou para Arles, no sul da França,
em busca de luz e cor, com a intenção de instalar
um atelier de pintura com Paul Gauguin, cujo temperamento e tendências
estéticas eram muito diversos dos seus. É uma fase
de intenso trabalho e ingestão pesada de álcool e
outras substâncias químicas, como absinto associado
ao tabaco do inseparável cachimbo. Nesta época, passou
a apresentar os episódios críticos de natureza não
absolutamente clara, os quais permaneceriam até o final de
sua vida, dois anos depois. Viveu em Arles por 15 meses onde sofreu
três dos seus episódios. No primeiro deles, ocorrido
no Natal de 1888, Vincent lançou seu copo com absinto à
face de Gauguin. À noite, ele decepou um pedaço de
sua orelha esquerda.
Vincent van Gogh. Auto-retrato com bandagem e cachimbo
Foi
conduzido ao hospital, sendo atendido pelo Dr. Felix Rey, que diagnosticou
seu problema como epilepsia, prescrevendo doses elevadas de brometo
de potássio e supressão do álcool, terapêutica
que, segundo Gastaut (1956), poderia ter evitado a catástrofe
em que se transformou sua vida. Ali permaneceu internado por duas
semanas.
Vincent van Gogh. Jardim do Hospital de Arles
Sua
crise teve a duração de sete dias. Nessa época,
Vincent escreveu a Théo, que para combater a insônia,
embebia seu colchão e travesseiro com grande quantidade de
cânfora, uma cetona com estrutura química muito semelhante
à da tujona (presente no Absinto) e que promove os mesmos
efeitos convulsivógenos. Gauguin partiu, Vincent permaneceu
só e as alucinações se sucederam, obcecando-o
e aterrorizando-o. Em fevereiro de 1889, Vicent foi readmitido no
hospital por 10 dias. Nesta época recebeu a visita de Signac
que relatou que além de altas doses de álcool, van
Gogh ingeria terebintina, substância que contém elevada
concentração de pineno, estruturalmente semelhante
a tujona e cânfora, usada principalmente como solvente e agente
secante em pinturas e vernizes. Em 1988, Arnold propôs que
van Gogh seria viciado em terpenos (tujona, pineno e cânfora),
o que poderia explicar a perversão alimentar que apresentava,
como o hábito de comer suas próprias pinturas. Sob
os insistentes conselhos de Théo e do pastor Salles, internou-se
no asilo Saint-Paul de Mausole, em Saint-Rémy de Provence.
A
vida em Saint-Rémy
No seu registro de admissão no asilo para lunáticos
em Saint-Rémy o Dr. Peyron, um oftalmologista aposentado,
escreveu:
"Como
diretor do asilo de Saint-Rémy, certifico e assino que van
Gogh (Vincent), 36 anos de idade, nascido na Holanda e domiciliado
atualmente em Arles, tendo sido tratado no hospital daquela cidade,
apresenta mania aguda e alucinações visuais e auditivas
que o levaram à automutilação, cortando a orelha.
Atualmente parece recuperado, mas ele refere não apresentar
coragem e força para a vida independente e, voluntariamente,
solicita a admissão nesta instituição. Como
resultado da exposição acima, acredito que o Sr. van
Gogh apresenta crises epilépticas infreqüentes sendo
aconselhável que permaneça em observação
prolongada neste estabelecimento" (Dr. Peyron, 9 de maio
de 1889).
Van
Gogh escreveu a Théo: "O médico daqui parece
inclinado a considerar que eu apresento uma espécie de ataque
epiléptico. Mas não lhe perguntei nada sobre isto".
Ele se descrevia como "um epiléptico" conforme
o diagnóstico dos Drs. Rey e Peyron e dizia que as freiras
e os atendentes do asilo se referiam a ele como epiléptico.
Porém ele observava que seus sintomas eram diferentes daqueles
de outros pacientes com epilepsia e escreveu a Théo: "O
Dr. Rey me disse que este poderia ser o início da epilepsia"
e que "outros pacientes, descrevendo seus ataques diziam que,
como ele, ouviam sons e vozes estranhas e que apresentavam alterações
visuais". Nessa época escreveu ainda ao irmão:
"Contudo as alucinações insuportáveis
desapareceram, estando agora reduzidas a um pesadelo simples, eu
penso que em conseqüência do uso que venho fazendo de
brometo de potássio". O brometo, utilizado pela primeira
vez por Charles Locock, em 1857, foi a primeira droga eficaz para
o controle de crises epilépticas (Scott, 1993).
No
entanto, há considerável discussão sobre a
natureza de seus sintomas. Arenberg et al., em 1991, propuseram
que van Gogh apresentava a doença de Menière, descrita
pelo médico francês Prosper Menière, em 1861.
Àquela época a doença era muito pouco conhecida.
Arenberg et al. atribuíram o corte da orelha ao tinito insuportável
e ao quadro psíquico associado ao terrível mal-estar
físico. Vincent escreveu: "Provavelmente os nervos de
meu ouvido estão doentes e muito sensíveis, razão
pela qual tenho sintomas visuais e auditivos". Este diagnóstico
foi contestado por vários autores (Baker, Feldman, Freedman,
Kunin, Jamison, 1991), pois van Gogh não apresentou perda
auditiva e descrevia seus sintomas auditivos não como tinito
mas como a ocorrência de sons e vozes estranhas.
Vincent van Gogh. Auto-retrato pintado no Hospital
de Saint-Rémy
O
último refúgio - a ida para Auvers
Aconselhado por Pissarro decidiu partir para Auvers-sur-Oise à
procura do Dr. Paul Gachet, um velho homeopata que escreveu um tratado
sobre melancolia e era um artista amador (Morrant, 1993). O diagnóstico
feito pelo Dr. Gachet foi de intoxicação crônica
por terebintina e lesão cerebral pela luz solar intensa do
sul da França. Este lhe prescreveu trabalho, ao qual van
Gogh dedicou-se compulsivamente durante sua estadia em Auvers.
Alguns
atribuem este excesso de produção, associados aos
seus outros sintomas, à psicose maníaco-depressiva.
O fato de ter retratado, por duas vezes, o Dr. Gachet com ramos
da planta dedaleira (Digitalis purpurea) fez com que alguns
(Lee, 1981) aventassem a hipótese de que seus sintomas, sua
paixão pela cor amarela e os característicos halos
verificados em sua pintura nos últimos anos de sua vida poderiam
decorrer de intoxicação crônica por digital
e representar seus sintomas característiscos, xantopsia e
coronas. Embora o digital tenha sido usado no século XIX
para tratamento de epilepsia, não há qualquer referência
que tenha sido administrado a van Gogh. Outros (Maire, 1971), atribuíram
os halos coloridos de sua pintura como uma compensação
de uma perda visual crônica em decorrência de glaucoma.
Vincent
van Gogh vendeu apenas um quadro em vida "A vinha vermelha",
mas tornou-se o maior pintor holandês do século XIX
contribuindo para a arte moderna com a vitória da cor sobre
o desenho, libertando a cor.
As
causas da doença de van Gogh e de seu comportamento estranho
continuarão sendo motivo de discussão. Psicose maníaco-depressiva?
Epilepsia com crises parciais complexas? Intoxicação
por terpenos? Doença de Menière? Intoxicação
digitálica? Glaucoma?
Van
Gogh foi um homem complexo que cortou sua orelha por várias
razões e por elas, em 27 de julho de 1890, aos 37 anos de
idade, chegou cambaleando no Café Ravoux, em Auvers, onde
tinha uma sala: "Eu me feri com um tiro e só espero
que tenha realizado este ato de forma adequada". O Dr. Gachet
e um colega da vila não puderam remover a bala. Vincent deu
de ombros, acendeu seu cachimbo e disse: "Farei tudo novamente,
não chorem. Eu fiz isto para o bem de todos nós".
Dois dias depois ele faleceu nos braços de seu irmão,
Théo, murmurando "A tristeza não tem fim"
(Morrant, 1993).
Dostoiévski
O escritor russo Fyodor Mikhailovitch Dostoiévski foi imensamente
interessado por sua epilepsia e deixou em seus diários, cartas
e novelas, evidências únicas de seus 35 anos de experiência
com a moléstia, iniciada aos 25 anos de idade, em 1846, logo
após completar sua novela Gente Humilde. Sua última
crise ocorreu um mês antes de sua morte. Apresentou, pelo
menos, 400 crises epilépticas generalizadas convulsivas desde
a metade da terceira década da vida até sua morte,
aos 60 anos de idade, em 1881, por hemoptise possivelmente decorrente
de tuberculose. Suas crises eram sempre seguidas de estados confusionais,
freqüentemente com depressão e distúrbios transitórios
de memória e fala. Dostoiévski descreveu várias
características da epilepsia e de certos estados anormais
antes de qualquer descrição médica, como, por
exemplo, estados de sonho, percepção anormal do tempo,
múltiplas nuanças de déjà vu,
atividades automáticas prodrômicas, tremor pré-crítico,
pensamento forçado, fuga de idéias, o sentido de se
tornar psicótico (Lovell, 1997).
Fyodor
Mikhailovitch Dostoiévski (1821- 1881)
"Ataque
intenso às 8:45: fragmentação do pensamento,
mudança para outros anos, estados de sonho, pensamentos meditativos,
culpa. Deslocamento de um disco vertebral ou uma lesão muscular".
Descrevia e discutia sua doença como uma catarse, uma forma
de aliviar sua ansiedade.
Ainda
descreveu, pela primeira vez, um estado extático curto de
felicidade absoluta, seguido de acentuada melancolia e profundo
sentimento de culpa. Este era o tipo de crise descrito pelo príncipe
Mishkin em O idiota, uma novela sobre a epilepsia e a vida
de uma pessoa epiléptica, neste caso uma descrição
detalhada da epilepsia do lobo temporal que só seria realizada,
no meio médico, cerca de 20 anos depois, pelo neurologista
inglês John Hughlings Jackson.
A aura
extática, extremamente rara e intrigante é o fenômeno
que mais tem merecido publicações (Amâncio et
al. 1994; Cirignotta et al., 1980; Morgan, 1990; Cabrera-Valdivia
et al.; Kasteleijn-Nolst Trenité, 1997; Binnie, 1997).
Mencionou
os fatores desencadeantes como privação de sono, álcool,
mau tempo e, principalmente, estresse associado a intenso trabalho
criativo. Durante a elaboração de O idiota chegou
a apresentar 12 crises generalizadas em apenas 3 meses.
Epilepsia
generalizada versus epilepsia parcial
A classificação da epilepsia de Dostoiévski
tem sido discutida entre os epileptologistas. Segundo Gastaut (1978),
vários fatores apontam para uma epilepsia generalizada idiopática:
ocorrência de automatismos descrita unicamente no período
pós crítico; ausência de menção
da aura extática em suas anotações (este fenômeno
teria sido criado pelo escritor); predisposição genética
para epilepsia (seu filho, Alexis, faleceu aos 3 anos de idade em
estado de mal epiléptico); ausência de sinais neurológicos
ou psiquiátricos sugestivos de doença orgânica;
algumas crises, especialmente as que ocorriam pela manhã,
eram precedidas pelo que Dostoiévski chamava de "inícios",
ou seja, mioclonias maciças; todas as suas crises eram generalizadas
convulsivas.
Para
Voskuil (1983), Dostoiévski poderia também apresentar
uma epilepsia parcial complexa com a maioria das crises se manifestando
como tônico-clônicas generalizadas noturnas. O autor
baseou-se nas seguintes razões:
1.
História familiar e ausência de sinais de lesão
cerebral não contradizem este diagnóstico;
2. Suas crises tônico-clônicas generalizadas ocorriam
principalmente durante o sono
3. Há referências à presença, em algumas
crises, de "uma pequena brisa"
4. Aura extática, o fenômeno mais discutido; mas esta
foi referida pelo escritor a pelo menos três pessoas em sua
vida (Sofia Kovalevskaja, Strakhov e Baron Wrangel) e descrita em
dois de seus personagens, o príncipe Mishkin (O Idiota)
e Kirilov (Os demônios)
5. Disfasia de expressão (descrita uma vez)
6. Palidez
7. Movimentos adversivos da cabeça
8. Sintomas de medo
9. Um grito
10. Movimentos convulsivos generalizados
11. Estados confusionais de longa duração com automatismos,
distúrbios de escrita e fala e depressão pós-crítica
12. Distúrbio da função da memória recente,
especialmente em épocas de elevada freqüência
de crises, embora continuamente referisse perda de memória,
especialmente a relacionada às faces.
Com
relação à etiologia dessa epilepsia, iniciada
aos 25 anos de idade, há uma única indicação
de doença cerebral orgânica. Dostoiévski escreveu
a seu irmão Michael: "Eu estava terrivelmente doente,
sofrendo de uma irritação em todo o sistema nervoso,
com acometimento do coração, que se tornou congestionado
e inflamado, uma condição duramente controlada por
sanguessugas e duas exsangüinações".
Gastaut
(1984) volta a discutir a questão, acentuando que faltam
em Dostoiévski as características intercríticas
de personalidade de indivíduos com epilepsia temporal como
van Gogh e Flaubert. Seu comportamento era normal, não havia
traços de gliscroidia e impulsividade e sua vida sexual foi
normal com suas duas esposas e suas duas amantes (considerava inclusive
o excesso de sua função sexual como possível
causa de suas crises). Gastaut (1984) então propôs
um conceito unicista da epilepsia do escritor russo, que deve ter
sofrido uma lesão temporal discreta, incapaz de produzir
a fenomenologia intercrítica característica da epilepsia
temporal, mas como apresentava predisposição genética
para epilepsia esta tornou produtiva a lesão temporal silente,
de tal forma a induzir generalização secundária
muito rápida em cada crise.
Tratamento
e curso da doença
Dostoiévski acreditava que epilepsia era um problema intratável
e não há evidências de que tenha feito uso de
brometo. O autor provou que um meio de conviver com uma doença
crônica, incurável, é usá-la como fonte
de inspiração visando transformá-la por seu
gênio artístico. O caso de Dostoiévski, com
suas 400 crises generalizadas convulsivas não tratadas, é
um argumento importante contra a terrível predição,
comum à sua época e ainda em tempos atuais, de que
os ataques epilépticos repetidos culminam com o desenvolvimento
de demência. A epilepsia não teve qualquer impacto
sobre as funções cognitivas do escritor, que completou
o seu trabalho mais importante, Os irmãos Karamazov,
dois meses antes de sua morte e que era visto, naquele tempo, como
um dos líderes espirituais do seu país.
Dostoiévski
escreveu: "Sim, eu tenho a doença das quedas, a qual
não é causa de vergonha para ninguém. E a doença
das quedas não impede a vida".
Machado
de Assis
A vida de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) - obscura,
pobre, desconhecida - é setor de exploração
difícil e principalmente do seu nascimento e da sua infância
muito pouco, ou quase nada se sabe. Filho de Francisco José
de Assis, mulato, pintor e dourador e Maria Leopoldina Machado,
portuguesa da ilha de São Miguel, nasceu em 21 de junho de
1839 e seus antecedentes hereditários, gestacionais e obstétricos
são ignorados.
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)
A
epilepsia
Todos os seus biógrafos lhe fizeram o diagnóstico
de epilepsia cujas crises freqüentes foram testemunhadas por
muitos e um dos episódios foi fotografado pelo velho Malta,
fotógrafo tradicional do Rio antigo. Mas o próprio
Machado tinha pudor de sua enfermidade e não aludia a ela
senão muito raramente e nunca lhe escrevia o nome, ocultando
a doença até dos amigos mais íntimos, como
em sua correspondência com o amigo Mário de Alencar:
"O muito trabalhar destes últimos dias tem-me trazido
alguns fenômenos nervosos...". Esta fobia pela palavra
"epilepsia" era tão grande que a excluiu das edições
ulteriores de Memórias Póstumas de Brás
Cubas, e que deixara escapar na primeira ao descrever o padecimento
de Virgília diante da morte do amante: "Não digo
que se carpisse; não digo que se deixasse rolar pelo chão,
epiléptica...", substituída por: "Não
digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo
chão, convulsa...". Quando alguém lhe notou certa
vez a dificuldade com que ele falava por causa das mordeduras da
língua, justificava-a como "Estas aftas! Estas aftas!".
Ocultou-a inclusive da amada e dedicada esposa, Carolina, a quem
devotava imensa ternura, não revelando seu problema antes
do casamento.
Provavelmente,
a epilepsia de Machado de Assis teve início na infância,
fato declarado pelo próprio Machado, ao tempo do primeiro
ataque depois do casamento (uma crise generalizada tônico-clônica).
Ele disse que sentira, em criança, "umas coisas esquisitas",
que não se haviam mais repetido até aquela data. É
possível, talvez, que Machado não tivesse tido até
então uma crise típica (Pelegrino Jr., 1976). Esta
crise denunciou, na idade adulta, a maior tortura da vida de Machado
- a epilepsia.
Carlos
de Laet (citado por Lopes, 1981) assistiu a uma crise e descreveu-a:
"... quando de nós se acercou o Machado e dirigiu-me
palavras em que não percebi nexo. Encarei-o surpreso e achei-lhe
desmudada a fisionomia. Sabendo que de tempos em tempos o salteavam
incômodos nervosos, despedi-me do outro cavalheiro, dei o
braço ao amigo enfermo, fi-lo tomar um cordial na
mais próxima farmácia e só o deixei no bonde
das Laranjeiras, quando o vi de todo restabelecido, a proibir-me
que o acompanhasse até casa".
Lopes (1981), analisando as manifestações clínicas
da epilepsia de Machado de Assis sugeriu a ocorrência, muito
freqüente pelo menos na última fase da vida, de crises
psicomotoras e de crises de grande mal, provavelmente decorrentes
de foco temporal e da ínsula.
Guerreiro
(1992) utilizando os conceitos da epileptologia de nossos dias assinalou
que, sem dúvida, suas crises cursavam com alterações
da consciência, automatismos e confusão pós
crítica e, baseado na associação da emissão
de palavras sem nexo, sugeriu o diagnóstico de crises parciais
complexas provavelmente originadas no lobo temporal direito. As
crises iniciaram na infância, tiveram remissão na adolescência
e recidivaram na terceira década, tornando-se mais freqüentes
nos últimos anos.
Há
referências de que Machado de Assis consultou o Dr. Miguel
Couto e que tomou brometo. Parece que a droga não foi eficaz
e causou alguns efeitos indesejáveis e, a conselho de um
amigo, descontinuou o tratamento e optou pela homeopatia (Lopes,
1981).
A
humildade, a cor, a doença
O pudor da humildade, a vergonha da raça e pobreza, ao lado
do seu natural recato de introvertido e do complexo de inferioridade
que lhe marcava fundamente o caráter ("aquela desconfiança
de si mesmo que por vezes o fazia parecer implicante e orgulhoso")
- são elementos suficientes para explicar e justificar este
vago mistério que cercou a história dos seus primeiros
anos e estiveram presentes em toda a vida do "bruxo do Cosme
Velho". Estas características seriam justificadas pela
personalidade epileptóide. O epiléptico nem sempre
está irritado, porém se mostra com freqüência
apático, deprimido e triste, com plena consciência
de sua inferioridade social (A. Botelho, citado por Pelegrino Jr.,
1976).
A afetividade,
viscosa e concentrada em poucos e fiéis amigos foi outra
característica importante de sua personalidade, a gliscroidia,
aludida por muitos (Pelegrino Jr, 1976). Mas seu caráter
pode ter sido moldado não pela doença, mas sim por
todos os comemorativos de sua vida. Com o agravamento da moléstia,
acentuaram-se nitidamente, nas obras da última fase, certas
características psicológicas do escritor: o negativismo,
o espírito de destruição, a invariável
tristeza, aquela melancolia sem fim e sem remédio (Pelegrino
Jr, 1976). Esta tendência à depressão dos últimos
anos seria, no entanto, mais provavelmente explicada pela presença,
já em 1880, de perda visual associada à provável
retinite, que obrigou Carolina a ler os textos por Machado. Mas
a morte desta, em 1904, sem dúvida exacerbou enormemente
esta depressão.
A
influência na obra
A preocupação com a loucura esteve presente em vários
de seus caracteres, especialmente no O alienista e descreveu
uma crise de "automatismo ambulatório" em Rubião,
de Quincas Borba, que apresentava paralisia geral progressiva:
"Deu por si na Praça da Constituição.
Viera andando à toa" e em Brás Cubas, nas Memórias
póstumas : "Ora, enquanto eu pensava naquela gente,
iam-me as pernas levando, ruas abaixo, de modo que insensivelmente
me achei à porta do hotel Pharoux. De costume jantava aí;
mas, não tendo deliberadamente andado, nenhum merecimento
da ação me cabe, e sim às pernas que a fizeram".
Machado,
aliado à sua inteligência e à sua vocação
teve uma série de elementos a impulsioná-lo: os recalques
por motivo de raça e de origem, infecções intestinais
repetidas (uma colite crônica espasmódica, seu mal
acessório, já que seu grande mal era a epilepsia
que o abatia e torturava), gagueira e a perda visual, que se acrescentou
à série de seus males na última metade de sua
vida.
O
fim
Lopes (1981), aluno do grande médico Miguel Couto, que tratou
Machado de Assis, disse que o mestre costumava citar para os seus
alunos o exemplo do escritor, a quem as crises freqüentes não
ocasionaram nenhum comprometimento cognitivo. A epilepsia em Machado
de Assis exerceu um efeito positivo na quantidade de seu trabalho
e sua gigantesca obra é o triunfo pessoal sobre a doença
e sobre si mesmo. Os escritos de Machado ao amigo Mário de
Alencar, já às portas da morte, da melancólica
solidão de seu quarto de enfermo, permitem uma perfeita analogia
com a personalidade de Gustave Flaubert, escritor francês,
que também sofria de epilepsia: "Meu querido amigo,
hoje à tarde reli uma página da biografia de Flaubert;
achei a mesma solidão e tristeza e até o mesmo mal,
como sabe, o outro...".
Ninguém
mais se aproximou de Machado de Assis do que Flaubert; a tristeza,
desde a infância, a melancolia congênita, o tropismo
pela solidão, a angústia pelas crises (Valério,
1930). Quando do lançamento de seu último livro, Memorial
de Aires, publicado em julho de 1908, Machado estava muito debilitado
pelos seus males e por uma úlcera cancerosa que seus constantes
ataques lhe haviam aberto na língua e que lhe impedia de
ingerir qualquer alimento sólido. Em casa, cercado de seus
poucos amigos fidelíssimos faleceu na madrugada de 29 de
setembro de 1908, aos 69 anos de idade.
Elza
Márcia Targas Yacubian é professora do Departamento
de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp)
Este
texto foi parcialmente publicado em Yacubian EMT e Pinto GRS, 1999
e Yacubian EMT, 2000.
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