Editorial:

Clones e medos crônicos
Carlos Vogt

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Leis restringem pesquisas com células-tronco

A pesquisa com células-tronco é polêmica. Quando se trata do uso de células-tronco adultas, a legislação costuma ser a mesma dos transplantes de órgãos. A grande discussão gira em torno das células-tronco embrionárias obtidas, normalmente, de embriões descartados em clínicas de fertilidade.

Não há um consenso mundial sobre a liberação das pesquisas com células humanas. A Inglaterra foi o primeiro país a liberar, em agosto de 2000, os experimentos com células-tronco de seres humanos. Na Alemanha, a criação de embriões para pesquisa é proibida, embora eles possam ser importados de outros países. No restante da Europa, o assunto ainda é motivo de restrições éticas. Países como Austrália e Israel já se posicionaram a favor das pesquisas.

Em agosto passado, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou sua decisão de permitir o financiamento público à pesquisa com células-tronco embrionárias, mas de forma limitada. Serão liberados US$ 250 milhões para pesquisas em apenas 60 linhas de células-tronco já existentes, que tenham sido criadas com o consentimento dos doadores, a partir de excesso de embriões fecundados apenas para fins reprodutivos. Os cientistas americanos não ficaram muito satisfeitos. Queriam permissão para cultivar células-tronco a partir dos 100 mil embriões que estão congelados em clínicas de fertilidade.

O presidente dos Estados Unidos se opôs, inicialmente, ao financiamento público à pesquisa. Em relação ao financiamento privado não há nenhuma imposição. Pouco tempo depois de assumir, Bush revogou regulamentações propostas pelo governo Clinton. Em abril de 2001, cancelou um painel destinado a analisar projetos de pesquisa. A decisão do financiamento limitado é considerada um meio-termo entre os que dizem que a pesquisa com células- tronco vai garantir avanços na medicina e aqueles que não admitem a destruição de embriões humanos nessa tarefa.

No Brasil, a Lei nº 8.974, de 1995, veda a "manipulação genética de células germinais humanas" e trata essa prática como crime, fixando pena de detenção de 3 meses a um ano. A instrução normativa nº 8, de 1997, da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), reforça a proibição de experimentos de clonagem. Para fins terapêuticos é permitida a pesquisa com células- tronco, desde que não sejam embrionárias humanas.

A geneticista Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo (USP), lamenta que no Brasil não se possa pesquisar com células-tronco embrionárias humanas. Desde 1997, ela pesquisa com células embrionárias de camundongo. "Gostaria de poder usar células humanas. Já temos resultados positivos com camundongos, tendo condições de utilizar células humanas manipuladas em laboratório", afirma.

Salvando ou destruindo vidas?

Desde que o primeiro relato de pesquisa em células-tronco embrionárias humanas foi publicado, em 1998, pela equipe do prof. James. A. Thomson, da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, o assunto gerou controvérsias. O ponto central da discussão é o fato de que para retirar as células-tronco embrionárias é necessário destruir os embriões. A Igreja Católica considera a destruição de embriões equivalente ao aborto.

"A utilização, a produção e a destruição de embriões humanos com o simples objetivo de experimentar e obter células matrizes embrionárias constituem um atentado ao respeito absoluto da vida e contra a imensidade do ser humano", escreveu o Papa João Paulo II em mensagem enviada, em novembro de 2000, aos participantes das Semanas Sociais na França. Em um comunicado emitido após o anúncio da clonagem de embrião humano pela empresa norte-americana Advanced Cell Technologies (ACT), o Vaticano disse que a clonagem "nos leva a reafirmar que a vida humana começa, na realidade, já no primeiro instante em que se forma o embrião".

A Lei Judaica (Halachá) não faz objeção ao uso de um embrião em estágio tão primário. De acordo com o presidente da Comissão Bioética do Conselho Rabínico da América, rabino Moshe D. Tendler, um óvulo fertilizado in vitro não tem "humanidade". Sem a implantação em um útero permanece um zigoto ou pré- embrião, não sendo vista a destruição do mesmo como um aborto.

A Igreja Ortodoxa, principal religião da Rússia, condena a clonagem, mesmo para fins terapêuticos. "Nós condenamos a clonagem terapêutica, assim como a reprodutiva, porque o embrião, a partir da concepção, pode ser considerado um portador da dignidade humana e abençoado com o dom da vida", disse o padre Antony Lyin, representante do Patriarcado de Moscou.

Os que defendem a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias utilizam o raciocínio moral de que um bem social, que será útil para milhões de pessoas que sofrem de doenças hoje incuráveis, se sobrepõe ao de um indivíduo. Para quem a pesquisa é uma esperança de cura no futuro, a defesa é indiscutível. Foi o que mostrou Diogo Mainardi. Em um de seus artigos na revista Veja (edição 1.709 - ano 34 - nº 28), o jornalista comentou da seguinte forma o trabalho do cientista Evan Snyder, da Universidade Harvard, que está analisando o efeito de células-tronco implantadas no cérebro de animais que sofreram grave asfixia perinatal (o mesmo que aconteceu com seu filho): "É possível que, um dia, essas pesquisas envolvam células estaminais retiradas de embriões humanos. O que fazer? Deixar as pesquisas de lado? Decretar guerra contra a Igreja Católica?", questionou-se.

(L. C.)

Atualizado em 10/12/2001

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