Resenhas Cidade
Atravessada: Os Sentidos Públicos no Espaço Urbano O
Flâneur - um passeio pelos paradoxos de Paris Campinas,
das origens ao futuro Envie
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Campinas,
das Origens ao Futuro por Mayla Yara Porto
Não por acaso, ao longo dos capítulos de sua tese de doutoramento, o autor se reservou o direito de citar metaforicamente Macunaíma: o herói sem nenhum caráter de Mário de Andrade. O seu freqüente embate contra a especulação imobiliária e pela solução dos problemas de melhoria da paisagem urbana, fez dele um gladiador assíduo nas arenas onde cotidianamente se disputa o controle dos espaços públicos. Por
isso, o "maldito 13" como ele se alcunhava e gostava de
ser chamado, periga virar lenda aqui por essas paragens da terra
das andorinhas, tantos são os atos e ações
que marcaram indelevelmente sua trajetória de urbanista,
de político e sobretudo de cidadão. Como
pesquisador e historiador (adjetivação que se recusava
a aceitar) tinha a visão de que a cidade vai atrás
da trilha e da memória, daí a importância da
recuperação das referências para que estas pudessem
ser a âncora da identidade da cidade. A grande contribuição de Toninho foi fazer a reconstituição do espaço remanescente de uma ancestral sesmaria e posterior fazenda de café que, colocado numa ampla periodização, permitiu estudar as origens da fundação da cidade de Campinas, como parte integrante de um plano estratégico de consolidação do território brasileiro a partir da restauração da capitania de São Paulo por Morgado de Mateus. Este estrategista utilizou-se da rede de estradas bandeiristas e articulou sobre ela e com as bacias hidrográficas do grande Rio Paraná e do Prata, fundações de freguesias e elevações a vilas de 19 localidades e cidades, com um objetivo geopolítico estratégico notável dentro do contexto do governo iluminista do Marquês de Pombal. Através dessa pesquisa, ele resgatou a importância histórica de Campinas, como parte do planejamento de ocupação do país concebido pelos governantes portugueses (no período de 1750 a 1808), que serviu de base para a consolidação das regiões sul e sudeste do Brasil e foi a rota do desenvolvimento agrícola da região. Na atualidade, este percurso relaciona-se com o plano de fomento para as obras da hidrovia Tietê-Paraná, que insere o interior paulista na rota do Mercosul. Toninho redimensionou o processo que resultou na criação de Campinas, através da recomposição do trecho da antiga Estrada dos Goyazes entre Jundiaí e Mogi Mirim, que foi a primeira rota entre São Paulo e a região central do país. O traçado completo dessa estrada fez parte do plano estratégico de Morgado de Mateus. (veja reportagem da ComCiência) O diferencial desse trabalho foi efetuar a localização de uma antiga sesmaria, através da elaboração de documentos iconográficos baseados em registros aerofotogramétricos e imagens de satélite obtidas por sensoriamento remoto, para serem confrontados com a restrita cartografia colonial da época do governo de Morgado de Mateus. Esse
planejamento de ocupação rural e urbana foi essencial
para que esta região se tornasse a mais desenvolvida do país.
Há que se ressaltar a atualidade da obra de Mateus se cotejada
com os debates contemporâneos sobre a relação
campo-cidade, pois ninguém desconhece a falta que hoje faz
ao país uma estratégia bem planejada de ocupação
e integração nas ações públicas.
O que o autor fez, na verdade, foi extrair do processo social um recorte para objeto de pesquisa. No caso, um imóvel tombado em Campinas como patrimônio histórico (sua própria casa), "que esteve no centro do palco de ensaios primordiais e de operações pioneiras da engenharia nacional, da emergente disciplina do urbanismo moderno e de intervenções contemporâneas de grandes empreiteiras de obras públicas." Conforme
relato detalhado na tese, nessa localidade desenvolveram-se, também,
trabalhos importantes dos pioneiros da engenharia nacional e do
urbanismo moderno no Brasil. Foi Antonio Francisco de Paula Souza,
fundador da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, que fez a descrição cartográfica completa
dessa fazenda no ano de 1880, documento fundamental constitutivo
do Plano de Abastecimento de Água e Saneamento Básico
de Campinas. Na sua historiografia registram-se, ainda, estudos
e ensaios preliminares de Anhaia Mello - fundador da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - e,
posteriormente, de Prestes Maia, contidos no "Plano de Melhoramentos
Urbanos de Campinas 1934-1938" de remodelação
do centro e ampliação da cidade. Além da localização estratégica, comprovada na tese, a arquitetura da casa como monumento histórico atestado pelos tombamentos efetuados e mantido até hoje com as mesmas características arquitetônicas da época (totalmente preservado por iniciativa do autor como proprietário), registra a preservação da memória de um perfeito exemplar de arquitetura representativa do cotidiano da história da vida privada de classes sociais da virada do século XVIII para o XIX, que fizeram com que Campinas tivesse significativa participação na construção da nação brasileira. Assim, mais do que contribuir para realçar a herança cultural da formação histórica brasileira em nossa cidade, esse estudo reflete toda a postura de vida de um cidadão contemporâneo e politicamente consciente. Pedindo
licença ao Mário de Andrade para substituir os personagens,
gostaríamos de encerrar, homenageando o Antonio com as divagações
de seu grande amigo de cabeceira:
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