CARTA AO LEITORNOTÍCIASENTREVISTASREPORTAGENSRESENHASCRÍTICA DA MÍDIALINKS DE C&TCADASTRE-SE NA REVISTABUSCA POR PALAVRA-CHAVECARTA AO LEITORNOTÍCIASENTREVISTASREPORTAGENSRESENHASCRÍTICA DA MÍDIALINKS DE C&TCADASTRE-SE NA REVISTABUSCA POR PALAVRA-CHAVE
 

Resenhas

Cidade Atravessada: Os Sentidos Públicos no Espaço Urbano
Eni P. Orlandi (org.)

O Flâneur - um passeio pelos paradoxos de Paris
Edmund White

Campinas, das origens ao futuro
Antonio da Costa Santos

Outras resenhas

Envie sua resenha
rae@unicamp.br


 

O Flâneur - Um passeio pelos paradoxos de Paris
Edmund White. Companhia das Letras

por Simone Pallone

Paris é uma cidade grande, linda e bastante acolhedora. Já foi cenário para muitos romances e tem material para um bom punhado de guias, de todos os tipos e para todos os gostos. Mas recentemente, em 2001, foi publicado no Brasil um guia bem diferente de Paris.

Em 211 páginas o autor americano Edmund White leva o leitor a um passeio pelas ruas de Paris de uma forma bastante inusitada. Ele não se prende aos pontos turísticos tradicionais, nem à culinária e muito menos traz um roteiro dos hotéis. O passeio de White pela cidade é o passeio do flâneur, a figura que caminha tranqüilamente pelas ruas, observando cada detalhe, sem ser notado, sem se inserir na paisagem.

Mas não é somente sobre o que o turista pode encontrar ao visitar Paris que trata a obra. Cada um dos pontos que White visita, seja um bairro, ou uma rua, conta a história daquele lugar, trazendo os personagens que ali viveram ou freqüentaram. É assim quando ele fala Saint-Germain-des-Prés, do Marais ou de Montmartre. São locais que têm histórias e onde personagens importantes e interessantes - como Josephine Baker, Picasso, Jean Cocteau e outros - viveram ou freqüentaram.

O autor diz que "Paris é um mundo feito para ser visto pelo caminhante solitário, pois somente a passo ocioso pode-se aprender toda a magnitude de seus ricos (mesmo os velados) detalhes". Wallter Benjamin, em um ensaio de 1929 escreveu que "o flâneur é criação de Paris". Pois ali o passante encontra elementos dos mais variados para os seus devaneios. Um mundo de templos, praças confinadas e santuários nacionais. E o flâneur observa cada degrau, cada pedra do calçamento, cada placa de loja, cada portal.

Ainda segundo Benjamin, Paris é a Terra Prometida dos flâneurs, uma "paisagem de gente viva". Paisagem é o que a cidade se torna para o flâneur. Ele não é um turista entusiasmado em busca de grandes vistas ou de pontos turísticos convencionais, ele busca sim uma nova percepção da cidade. As maravilhas, por um lado, são edificantes, por outro lado, não chegam a dar arrepios a esse observador.

Em seus passeios pelos arrondissements - que são bairros numerados que rondam uma área central de Paris a partir da Île de la Cité e da Île de Saint Louis - o autor chama a atenção para a concentração de árabes em certo bairro, artistas em outro, negros em algum outro ponto da cidade.

A Paris de White é uma cidade de histórias e de personagens. Ao falar de Saint-Germain-des-Prés, por exemplo, ele conta do trio de cafés que reuniam intelectuais e artistas. Entre eles, Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre. Quando fala do Marais, gueto judeu, conta toda a sua história. Há pouco tempo era um bairro de judeus pobres e, agora, depois de reformado, abriga judeus ricos e franceses de classe média branca com os aluguéis crescendo a cada ano.

Em passagem por pequenos museus, ao invés dos grandes, é possível, pela narrativa de O Flâneur, entrar na intimidade desses locais que serviram antes como moradia para alguns, como ponto de encontro de grupos de artistas ou cenário de histórias trágicas. Mas não se esquece de falar do Instituto do Mundo Árabe, "um edifício elegante, em vidro recurvado, às margens do Sena... O prédio é uma mistura inovadora das arquiteturas européia e muçulmana. Os materiais são sofisticados e contemporâneos, mas a fachada dos fundos é uma adaptação do moucharabieh (nos edifícios do norte da África, a sacadas com gelosias de treliça, que permitia às mulheres do harém ver sem serem vistas)".

White aborda constantemente as desventuras homossexuais dos escritores e artistas que cita no livro e usa um capítulo inteiro para falar sobre a sua homossexualidade e de como é a relação dos homossexuais estrangeiros e parisienses com a cidade. Ele cita como "pontos de caça" locais perto do cais, parques, estações de trens e os trechos escuros ao longo do Sena ou do Canal Saint Martin. Em uma entrevista concedida à revista literária gay francesa Masques, hoje extinta, ele afirmou considerar-se um escritor homossexual, não só por sua opção sexual, mas porque escreve sobre essa temática. Ele associa à figura do flâneur uma característica homossexual: "ser gay e caçar talvez seja uma extensão da própria essência do flâneur".

O autor morou em Paris por mais de quinze anos, tendo partido dos Estados Unidos para lá para escrever a biografia de Jean Genet, publicada em 1993. Ele também é autor da biografia de Marcel Proust, de 1998, além de diversos livros de ficção.

Atualizado em 10/03/02
http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2002
SBPC/Labjor

Brasil