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Nas
fronteiras entre o Cinema e a História
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As fontes de que os historiadores se utilizam para produzirem seus conhecimentos sobre o passado vão muito além dos documentos escritos, preservados nos arquivos históricos. Do mesmo modo, os meios de que os historiadores se utilizam para transmitirem suas idéias sobre o desenvolvimento da história gradativamente deixam de ser apenas os livros e os artigos acadêmicos. Desde a verdadeira revolução causada pelos historiadores participantes da francesa Escola dos Annales, a ciência histórica tem incorporado como seus objetos (e sujeitos) não apenas os grandes fatos e personagens políticos, mas também as idéias, os costumes e as mentalidades de cada período. A "História Nova", como ficou conhecida, foi um movimento surgido inicialmente entre os membros da revista Annales d'histoire economique sociale – fundada em 1929 por Lucien Febvre e Marc Bloch e que, a partir de 1946 passa a se chamar Annales, Economies, Societés, Civilizations – em direção de novas abordagens para a compreensão da história, fazendo uso de muitos dos métodos e conceitos de outras ciências humanas, como a sociologia, a economia, a psicanálise e, principalmente, a antropologia. É nesse contexto, de assimilação de novos objetos e de novos métodos que surge o trabalho do francês Marc Ferro. Em 1971, no artigo "O filme: uma contra-análise da sociedade?" – publicado no livro História: novos objetos, de Jacques Le Goff e Pierre Nora – Ferro, um influente participante da revista dos Annales, estabelece contatos iniciais para a apropriação do cinema como um documento histórico.
Ferro foi um pioneiro na incorporação do cinema como fonte para o entendimento da ideologias e mentalidades dos sujeitos da História. Através dos filmes, passou a buscar evidências que pudessem ajudá-lo a perceber e compreender determinados eventos e períodos históricos. Conforme afirmou em uma conferência, quando da sua recente presença no Brasil, "estudar só o cinema é um absurdo, como também é um absurdo estudar o mundo sem o cinema".
Segundo Ferro, o filme seria uma importante fonte para revelar tanto aquilo que o autor busca expressar – que está contido na narrativa, as idéias sobre determinados personagens, fatos, práticas ou ideologias – como para se perceber o que não se queria mostrar, como os modos de narrar uma história, a maneira utilizada para marcar as passagens do tempo, os planos de câmera. A partir destes seria possível penetrar, de acordo com Ferro, em "zonas ideológicas não-visíveis" da sociedade. Outra área de atuação postulada por Ferro para os historiadores situa-se na produção de filmes históricos. Para Ferro, os historiadores devem procurar também fazer uso do cinema como meio de comunicação de suas concepções sobre a História. O trabalho dos historiadores seria importante para acrescentar algo que, segundo ele, o jornalismo geralmente não faz, que é explicar a origem dos fenômenos e poderia acontecer tanto em colaboração com jornalistas e cineastas como em documentários históricos. Além de ter publicado uma vasta bibliografia historiográfica, Marc Ferro foi autor de alguns filmes que tematizaram alguns de seus objetos de pesquisa como a Revolução Russa e a história da medicina (La Grande Guerre, 1964; Lénine par Lénine, 1970; Une histoire de la médecine, 1980). Hoje, além de dar aulas e viajar pelo mundo todo dando conferências em diversas universidades, produz apresenta semanalmente o programa História paralela na televisão francesa (TV5), em que discute História e atualidades fazendo uso de imagens. Iniciativas como a de Marc Ferro foram responsáveis pela formação de diversos gupos de pesquisa sobre o tema, inclusive no Brasil...
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Atualizado em 10/01/2001 |
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