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Novos desafios para o movimento ambiental

 

A pesquisadora Dra. Elisabeth Criscuolo Urbinati desenvolve pesquisas e é docente de biofísica e fisiologia animal e diretora do Centro de Aquicultura da Unesp (CAUNESP), localizado na cidade de Jaboticabal, SP. Bióloga, realizou seu mestrado e doutorado na Faculdade de Medicina da USP em fisiologia, e seu pós-doutorado na School of Fisheries, University of Washington, EUA. Dirigindo grande variedade de atividades desenvolvidas por importantes pesquisadores da área de aquicultura que compõem o corpo de pesquisadores do CAUNESP, ela trabalha com grande entusiasmo para o desenvolvimento da aquicultura brasileira.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a aquicultura é caracterizada por três fatores: o organismo produzido é aquícola, o manejo visa a produção e a criação tem um proprietário, não sendo um bem coletivo como as populações exploradas pela pesca. A produção de peixes oriundos da aquicultura tem crescido rapidamente e, em 1995, o relatório do Banco Mundial aponta esta atividade produtiva como "o próximo grande salto na produção de alimentos". O grande desafio hoje, no Brasil e no mundo, é alcançar uma produção sustentável, que considere as dimensões sociais, econômicas e ambientais envolvidas. Nesta entrevista, a Dra. Elisabete Criscuolo Urbinati aponta algumas questões importantes sobre a relação entre aquicultura e biodiversidade, entre outros pontos relevantes.

Com Ciência - Segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), a importância das espécies exóticas para a aquicultura mundial é evidente, exceto para a Ásia. Na América do Sul, cerca de 96,2% dos peixes produzidos pela aquicultura são espécies exóticas, espécies que vêm de outras regiões. A introdução delas no Brasil pode ser prejudicial à biodiversidade existente?
Elisabeth Urbinati -
Sim, a biodiversidade local pode ser prejudicada pela introdução de espécies exóticas. Teme-se que uma espécie exótica possa competir com as espécies autóctones, trazendo ao novo ambiente características biológicas e ecológicas distintas. Esta preocupação também é válida quando se trata de translocação de espécies nativas.

Com Ciência - Nos anos 90, a produção aqüícola mundial cresceu em 114%, enquanto que as capturas pesqueiras apresentaram um aumento de apenas 9%. Aparentemente, a aquicultura pode ser vista como uma forma de preservar os estoques naturais, porém, é uma atividade impactante ao meio ambiente, podendo também interferir negativamente sobre a biodiversidade. Qual a sua visão sobre estes dois aspectos diferentes desta atividade produtiva?
Urbinati -
A aquicultura pode preservar estoques naturais desde que a fonte de proteína animal utilizada na produção não se origine destes estoques, o que levaria a uma depleção do ecossistema local. Dados da David Suzuki Foundation, do Canadá, mostram que são necessários 5g de sardinhas, anchovas e cavalinhas para produzir um grama de salmão cultivado, o que representa uma perda de 75-80% da proteína e energia do alimento. Se houver uma forma alternativa de obtenção desta fonte, certamente os estoques naturais serão poupados. O aumento notável da produção na última década vem, naturalmente, sendo acompanhado por impacto ambiental, mas é notável, também, o esforço e os investimentos científicos e tecnológicos para que o desenvolvimento de uma aquicultura responsável, que respeite a biodiversidade.

Com Ciência - O domínio completo de técnicas de produção de espécies como o pirarucu poderia ser um importante diferencial da aquicultura brasileira com relação aos demais países. Quais seriam as vantagens deste avanço tecnológico para a preservação da biodiversidade de organismos aquáticos de espécies brasileiras? Existe interesse por parte dos pesquisadores brasileiros? Corremos o risco de perdermos a exclusividade no mercado devido ao domínio das técnicas de produção de peixes tropicais por outros países?
Urbinati -
Com o domínio completo das técnicas de produção de espécies nativas, o Brasil teria o diferencial na produção mundial de pescado, além de estar colaborando para diminuir o esforço sobre as populações naturais. A pesquisa brasileira caminha para esse objetivo, ainda que sem agressividade. O risco de que outros países dominem a técnica de produção de nossos peixes existe, haja visto o interesse já comprovado de pesquisas com nossas espécies e o interesse internacional no Brasil, como o grande produtor de pescado do mundo.

Com Ciência - A legislação brasileira tem uma notória tendência de proteger o meio ambiente contra os possíveis danos que podem ser causados pelos projetos aquícolas, porém, não são previstas as formas de proteção do aqüicultor contra os efeitos adversos aos seus cultivos oriundos de alterações provocadas no meio ambiente. Este antagonismo prejudica a atividade aqüícola no Brasil?
Urbinati -
Se os efeitos adversos ao cultivo oriundos de alterações provocadas no meio ambiente forem provenientes de um manejo inadequado da própria atividade, o aqüicultor deve ser responsabilizado. De outra forma, se os efeitos forem provocados por intempéries naturais o aqüicultor deve estar amparado por algum sistema de seguridade, como ocorre com outros produtos agrícolas.

Com Ciência - Com relação aos cultivos intensivo, semi-intensivo e extensivo, é possível relacionar estas formas de produção com níveis diferentes de impacto ambiental e, consequentemente, com a interferência sobre a biodiversidade existente?
Urbinati -
Com a intensificação do cultivo, ocorre a intensificação da alimentação artificial, resultando em maior produção de efluentes e, consequentemente, maior impacto ao sistema local. As condições ambientais desfavoráveis, criadas pela forma de cultivo, levarão a um proporcional desequilíbrio das populações locais, prejudicando algumas e favorecendo outras.

Com Ciência - Quais pesquisas tem sido feitas no Brasil para que se tenha uma aquicultura responsável, ou seja, para que a produção seja lucrativa, que o meio ambiente seja preservado, e que gere desenvolvimento social?
Urbinati -
Não conhecemos pesquisas que tenham abrangência global, incluindo aspectos econômicos, ambientais e sociais da aquicultura. No entanto, no Centro de Aquicultura da UNESP (CAUNESP), algumas pesquisas em desenvolvimento têm como preocupação avaliar o impacto produtivo, econômico e ambiental do cultivo de organismos aquáticos em cativeiro.

Atualizado em 10/06/01

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