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Boaventura de Sousa Santos
As
federais precisam de mais professores
Paulo Speller
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As
federais precisam de mais professores
No dia 04 de fevereiro, Paulo Speller, reitor da Universidade Federal
de Mato Grosso (UFMT) tomou posse na presidência da Associação
Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
Superior (Andifes), da qual era vice-presidente desde abril do ano passado.
Em entrevista à ComCiência, Speller fala sobre o posicionamento
da Andifes em relação aos problemas das universidades federais.
Uma das lutas mais importantes da Andifes tem sido a busca pela autonomia
financeira e administrativa das Instituições Federais de
Ensino Superior (Ifes). Nesta entrevista, Speller critica as normas instituídas
no governo anterior que retiraram das Ifes o "poder de decisão
para a gestão de vagas e realização de concursos".
Para ele, fazer a reposição dos quadros de professores e
funcionários administrativos das universidades "é condição
essencial para a garantia da pertinência social e expansão
de atividades de ensino, pesquisa e extensão".
ComCiência
- Antes da posse do ministro Cristovam Buarque, circulava nos meios de
comunicação a proposta de desvinculação dos
cursos universitários do Ministério da Educação
(MEC). Qual a opinião da Andifes sobre o tema?
Paulo Speller - O ministro tem afirmado que hoje briga pela manutenção
das Instituições Federais de Ensino Superior no MEC, uma
decisão de Estado. Além do mais, o professor Cristovam reconhece
o papel estratégico das universidades na melhoria e desenvolvimento
da educação básica, inclusive a educação
infantil e a educação de jovens adultos. Os reitores querem
as universidades no MEC, posição esta defendida pela Andifes.
ComCiência
- Sobre a ociosidade de vagas nas universidades federais, o senhor poderia
dizer quais são as estatísticas que demonstram isso? São
proporcionais em número de ocorrências nas diversas regiões
do país? Como podem ser ocupadas essas vagas, sem que se perca
a qualidade do ensino? Onde está a falha no sistema para o não
preenchimento dessas vagas?
Speller - Não há vagas ociosas. O que há são
vagas remanescentes em decorrência de desistências ou transferências.
Cada Ifes tem suas próprias normas para a ocupação
dessas vagas, eventualmente não ocupadas. Hoje, há um esforço
para que as normas de cada Ifes se aperfeiçoem para reduzir ainda
mais o tempo entre a desocupação dessas vagas e sua reocupação,
com ênfase para os primeiros semestres ou ano.
ComCiência
- Qual a seria a proposta da Andifes para fazer a reposição
dos quadros de professores e funcionários administrativos das universidades?
Speller - Esta é condição essencial para a garantia
da pertinência social e expansão de atividades de ensino,
pesquisa e extensão nas Ifes. É imperativo que o MEC e o
Ministério do Planejamento autorizem imediatamente a abertura de
concurso público para docentes, técnicos-administrativos
e inclusive para os hospitais universitários. É preciso
igualmente que se removam as restrições normativas impostas
no governo anterior, devolvendo para as Ifes o poder de decisão
para a gestão de vagas e realização de concursos.
É preciso repor todas as vagas não levadas a concurso no
passado, prever a expansão de novas vagas e abrir novos concursos
sempre que uma vaga se abrir em decorrência de aposentadoria, exoneração
ou falecimento, restringindo a contratação de substitutos
a situações emergenciais e temporárias.
ComCiência
- O senhor já tem algum estudo ou idéia para incentivar
a iniciativa dos professores em relação à manutenção
da missão designada às universidades que é composta
pelo triângulo: ensino, pesquisa e extensão?
Speller - O aprofundamento da missão da universidade pública
e seu papel estratégico na construção da uma sociedade
mais justa e solidária passa pelo resgate do passivo acumulado
nos últimos oito anos: concurso público para técnicos-administrativos
e docentes; recuperação, atualização e expansão
de laboratórios, bibliotecas, frotas de veículos, informatização
e orçamento de custeio; e remoção do entulho normativo-autoritário
em desrespeito à autonomia universitária, preconizada no
artigo 207 da constituição federal. Novas carreiras para
docentes e técnicos-administrativos devem ser discutidas com as
entidades respresentativas, Andes e Fasubra, e implementadas levando-se
em conta a necessária recomposição salarial.
ComCiência
- Nos dias de hoje, a geração que chega às universidades
é o que poderíamos chamar de "juventude tecnológica"
e, para atender a esse público, é necessário tornar
o ensino mais atraente, moderno e dinamizado, o que só é
possível por meio de um grande investimento de recursos para a
modernização principalmente de salas de aula e laboratórios
didáticos. Seria viável esperarmos algo nesse sentido para
os próximos anos?
Speller - O presidente Lula afirmou durante a campanha que seria necessário
um presidente sem diploma para dar jeito na universidade federal. O ministro
Cristovam lembra a todos que o presidente quer deixar a sua marca na universidade
pública federal. A atualização estrutural e tecnológica
da universidade é condição para que possamos avançar
ainda mais, formando melhores profissionais, produzindo novos conhecimentos
e estendendo os resultados dessas ações à sociedade,
de forma mais abrangente. As Ifes podem, devem e querem dar sua contribuição
tanto para a solução de problemas emergenciais como a fome
o analfabetismo, quanto para a projeção de soluções
inovadoras para hoje e amanhã através da pesquisa básica
e aplicada.
ComCiência
- O ministro já disse ser contrário à forma como
vem sendo feita a avaliação dos alunos pelo provão.
Qual a sua idéia para uma avaliação mais eficiente?
Uma modificação poderia incluir de maneira mais efetiva
a avaliação do curso como um todo (aluno, professores, infra-estrutura
etc)?
Speller - A avaliação deve ser processual, contribuindo
tanto para a identificação das condições necessárias
para o início de novos cursos, como também para a manifestação
de dificuldades ao longo do curso, permitindo assim a sua correção.
De pouco ou nada serve a avaliação fotográfica que
se realiza ao final de um curso. Há que se buscar maior rigor na
avaliação, onde todos devem ser incluídos, do estudante
ao ministro da educação.
ComCiência
- O ensino a distância, já descrito pelo atual ministro como
uma das estratégias para a expansão do ensino universitário,
não pode criar uma geração de graduados vistos pela
sociedade como de "segunda classe"?
Speller - É falsa a conotação de que o caráter
presencial ou aberto da educação esteja relacionado com
a sua qualidade. Há cursos presenciais de excelente e de péssima
qualidade, como pode acontecer com cursos a distância. Mais uma
vez, há que se reafirmar o rigor da avaliação processual
para a abertura e manutenção de cursos e instituições
de nível superior. Geralmente há uma forte correlação
na qualidade entre cursos presenciais e à distância em uma
mesma instituição, ou seja, onde há bons cursos presenciais
provavelmente haverá bons cursos a distância e vice-versa.
A tendência que se observa hoje é a crescente incorporação
de novas tecnologias de informação e comunicação
nos chamados cursos à distância, mas que também se
introduzem com grande velocidade nos cursos presenciais. De qualquer maneira,
a presença de docentes é, e sempre será, essencial
e talvez caminhemos para uma convergência entre ambas modalidades
de ensino, com a incorporação das novas tecnologias, onde
a relação presencial entre docentes e estudantes sempre
será valorizada.
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