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Crescimento do sistema metro-ferroviário é a saída para o transporte público
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Crescimento do sistema metro-ferroviário é a saída para o transporte público

Jurandir Fernandes, secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, acredita que a constante melhoria e ampliação do sistema metro-ferroviário em torno da Grande São Paulo é a saída mais eficaz para um transporte público barato e de qualidade. Nesta entrevista à ComCiência, o secretário fala dos projetos que estão sendo realizados, dos que estão sendo retomados e das necessidades futuras. Outro ponto importante da entrevista é a necessidade, segundo Fernandes, da participação efetiva do governo federal nesses projetos, uma vez que São Paulo é o estado onde a concentração de produção é a maior do Brasil.

ComCiência - Qual é o quadro atual dos sistemas de transportes públicos na Grande São Paulo?
Jurandir Fernandes -
É fundamental afirmar que todo o sistema coletivo de transporte tem perdido passageiros, menos os dois sistemas ferroviários, o metrô e a CPTM, o que demonstra que é a saída que a própria população tem buscado frente à toda impedância causada pelos congestionamentos. Esses são os sistemas que até aqui, e não será diferente no futuro, não sofrem o forte assédio e a forte ocupação que os carros causam com uma baixíssima produtividade. Isso é marcante e é nisso que estamos nos empenhando.

Retomamos uma linha de metrô que estava parada há 12 anos, desde 1991, que é a linha da Paulista e estamos agora, ainda neste semestre, começando uma linha nova, que é a linha 4. Na verdade, o processo foi iniciado há dois anos com aprovação de projeto, a licitação e já foi assinado o contrato. Agora, estamos desapropriando os imóveis, portanto, já começou. Em termos de obra, de máquina na rua, isso começa ainda neste semestre. Mas é irreversível.

ComCiência - O volume de passageiros do metrô aumentou nesses últimos dois anos?
Fernandes -
Estabilizou. O que está aumentando agora, por incrível que pareça, é o trem urbano, d
a CPTM. O uso do metrô estabilizou-se dada a fortíssima crise econômica que estamos vivendo. São dois milhões de desempregados na região metropolitana. Apesar dessa crise toda, e talvez até por isso mesmo, o movimento na CPTM tem aumentado porque é um transporte de longo percurso a R$ 1,70. A população periférica da cidade de São Paulo está utilizando o máximo que pode da CPTM porque um ônibus, por exemplo, que sai de Osasco, Carapicuiba ou Guarulhos com destino ao centro de São Paulo custa em torno de R$ 2,50 a R$ 3,00. Só para se ter um referencial, através da CPTM, a pessoa toma o trem em Jundiaí e chega na Estação da Luz, passando pelo metrô, por R$ 1,70. Os trens saem de Jundiaí a cada 15 minutos.

ComCiência - Qual o número de pessoas que se utilizam diariamente do sistema metro-ferroviário?
Fernandes -
Os dois sistemas transportam diariamente aproximadamente 4 milhões de pessoas, o que significa 40% do volume de transporte público da região metropolitana. Esse número se mantém devido à estagnação, a economia paralisada completamente. Só não caiu o número de passageiros porque aumentaram muito as gratuidades. O número de passageiros pagantes tem caído, porém aumentou muito o passe-desemprego, dos idosos, dos escolares que se utilizam do sistema, e nós mantivemos a mesma tarifa nos últimos 15 meses, uma vez que não há condições sociais de mexer na tarifa.

Mapa do transporte metropolitano de São Paulo
Fonte: Companhia Paulista de Trens Metropolitanos

ComCiência - E quanto a novos investimentos nos transportes públicos?
Fernandes -
O que acontece é que continuamos no limiar da nossa capacidade de dívida. E como é calculada essa capacidade de dívida? Você divide a dívida pela receita que o estado arrecada e o resultado tem que ser menor ou igual a dois. Ou seja, o estado não pode dever mais de duas vezes o que tem de receita. No ano passado essa relação sofreu um efeito perverso porque o numerador, que representa a dívida, foi corrigido por altas taxas de juros que foram praticadas o ano todo. Já o denominador, que é a receita, teve perda de 12,6% do estado. Nós perdemos receita com o estado mais industrializado da nação. Esse efeito perverso fez com que nosso número ultrapassasse o valor 2. Então, nós estamos congelados na possibilidade de receber qualquer tipo de empréstimo novo. Temos ofertas do mundo todo, dos japoneses, do Banco Mundial, do Banco Interamericano, do próprio BNDES, porque todos sabem que os projetos aqui são ótimos e são finalizados.

ComCiência - Qual o estágio atual das obras do Rodoanel?
Fernandes -
Já terminamos 32 km, fazendo a ligação de cinco rodovias de um total de 10 rodovias previstas para compor o projeto geral. Essas cinco rodovias são o complexo Anhanguera-Bandeirantes, Raposo Tavares, Castelo Branco e Régis Bitencourt. O próximo trecho, no qual já estamos trabalhando, é o trecho sul que ligará mais duas rodovias ao sistema que são a Imigrantes e a Anchieta. Está faltando o trecho norte que ligará as rodovias Fernão Dias, Ayrton Senna e Dutra. O trecho oeste, já terminado e operando normalmente, contabiliza um movimento diário de 160 mil veículos. Isso aliviou muito o movimento da Marginal Pinheiros. Nós temos dificuldades de dar continuidade ao trecho sul porque o governo federal não coloca recursos financeiros na obra. Estamos sozinhos, o município nunca colocou nenhum centavo, portanto, temos que fazer com recursos próprios. Agora, o orçamento do estado para investimento está baixo. Qual a perspectiva do governador? É fazer o trecho sul por partes e a primeira parte será ligar a região do município de Mauá até o sistema Anchieta-Imigrantes, que é um trecho menor, de 8 km. O trecho que liga a Régis Bitencourt até a Imigrantes será feito numa segunda parte.

Como se trata se uma obra de característica nacional e tem uma função importantíssima no corredor de exportação para o Porto de Santos, deveria haver um aporte de recursos por parte do governo federal. O que nós estamos pleiteando junto à União, no momento, é que ele dê conta, pelo menos, do Ferroanel, que é um projeto que está nas mãos do governo federal.

ComCiência - O que é o Ferroanel?
Fernandes -
O projeto é construir um anel ferroviário em torno da grande São Paulo que aliviará a passagem de trens de carga dentro da malha ferroviária urbana. Esta obra é imprescindível. Hoje, a ferrovia urbana existente, que é a CPTM, juntamente com o metrô, já possui aproximadamente 4 milhões de passageiros por dia. Estamos investindo pesadamente na aquisição de mais trens, mais composições e com isso, cada vez mais, o intervalo entre os nossos trens está diminuindo. Hoje o intervalo entre os trens está em sete minutos e devemos levar para cinco minutos. Quanto maior o número de trens e menor o intervalo, mais difícil conseguir fazer a carga passar, porque as composições de cargas são grandes e lentas. Dessa forma, é inviável continuar da maneira que está. O governo de São Paulo tem concentrado esforços na tentativa de convencer o governo federal a assumir essa obra que não é de São Paulo e sim do Brasil.

Atualizado em 10/04/04

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