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Carlos Vogt
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Países da Opep vivem constantes instabilidades

Uma das causas da crescente instabilidade mundial vivida nos últimos meses - quando crescem as ameaças de uma invasão do Iraque por parte dos Estados Unidos e circulam boatos de que o próximo alvo pode ser o Irã - pode estar ligada a uma instituição com papel preponderante na economia mundial dos últimos 30 anos: a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Três de seus países membros não gozam de boas relações com os Estados Unidos. Além de Iraque e Irã, a vizinha do Brasil, Venezuela, terceira maior exportadora para o mercado norte-americano e quinta maior produtora mundial, não é vista com bons olhos pelo governo de George W. Bush.

Tida hoje por alguns como enfraquecida, a Opep ainda é uma das instâncias mais poderosas do mundo. Controlando um pouco menos da metade das reservas petrolíferas do mundo (aproximadamente 40%), a Opep reúne onze países subdesenvolvidos que estabelecem para si cotas de produção com a intenção de controlar (através do aumento ou diminuição da oferta) o preço do petróleo mundial. Entre as principais causas apontadas para seu atual enfraquecimento estão o pouco respeito que os países membros têm mantido pelas cotas estabelecidas e o aumento da produção por parte dos países não ligados à Opep (como a Rússia, o México e o próprio Brasil).

Os dois últimos meses de outubro e novembro foram marcados pela produção, por parte dos países membros, de 3 milhões de barris a mais, por dia, do que o estabelecido pela própria Opep. Em novembro, foram extraídos 24,88 milhões de barris por dia pelos países membros - excluindo o Iraque, que é impedido, desde a Guerra do Golfo, por sanções econômicas, de vender legalmente acima de sua cota. O objetivo, acordado na reunião realizada em janeiro pela entidade, era extrair 21,7 milhões de barris por dia. Alguns analistas afirmam que a violação das cotas é fruto de um acordo tácito.

Aí Rodriguez é o presidente da estatal venezuelana PDVSA.

"Todos os produtores aumentaram a produção devido aos altos preços do mercado", declarou Ali Rodriguez, presidente da estatal Petroleos da Venezuela S.A. (PDVSA) e ex-secretário geral da Opep. A Venezuela e a Nigéria, cujo ministro de Petróleo e Energia, Rilwanu Lukman, já foi secretário-geral da Opep, foram os países que mais aumentaram sua produção.

A divergência entre os países da Opep pode ser explicada, segundo Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), pela situação econômica diferenciada vivida pelos países. "A Arábia Saudita tem uma situação parecida com a do Kuwait, mas esses têm uma situação muito diferente da Venezuela. Isso cria dificuldades na administração das cotas. Um país com dívidas como a Venezuela, às vezes vende fora da sua cota", explica Pires Rodrigues.

Venezuela
Dona de 7,5% das reservas conhecidas de petróleo e responsável por 13% das importações feitas pelos EUA, a Venezuela tem no petróleo a maior força de sua economia, respondendo por 75% das exportações do país. Foi depois que seu presidente, Hugo Chávez, empreendeu uma visita a todos os outros 10 países membros da Opep, propondo a retomada da luta por melhores preços para o petróleo, que sua relação com a maior potência do mundo começou a ficar mais complicada.

Desde que assumiu o governo da Venezuela, em 1999, Chávez vem desagradando a indústria multinacional do petróleo - a ExxonMobil é a maior exploradora de petróleo da Venezuela. Ele manteve a Venezuela mais próxima das cotas de exploração da Opep e aumentou os royalties cobrados pelo governo para os novos campos descobertos de 16 para 30% e procurou controlar melhor a estatal Petroleos de Venezuela S.A. (PDVSA), que era muito influenciada pelas multinacionais. Com a alta dos preços no final do ano 2000, quando o barril de petróleo chegou nos U$ 40,00 (hoje oscila entre US$ 25,00 e 30,00), Chávez conseguiu financiar diversos programas sociais. A Venezuela tem 80% de sua população abaixo da linha de pobreza.

Ali Rodriguez, que foi secretário geral da Opep de janeiro de 2001 até junho deste ano, declarou ao jornalista Gregory Palast, do jornal inglês The Independent, que o golpe de Estado vivido na Venezuela em abril deste ano - quando o presidente Chávez foi deposto mas retornou ao governo logo em seguida - foi estimulado pelos Estados Unidos. Os norte-americanos temeriam a ameaça de embargo que o Iraque e a Líbia estariam tentando organizar em represália ao apoio dos Estados Unidos às ações de Israel contra os palestinos. "A dependência dos EUA de petróleo está aumentando progressivamente. A Venezuela é um dos fornecedores mais importantes dos EUA e a estabilidade da Venezuela é muito importante para eles", declarou Rodriguez, atual presidente da PDVSA.

"Qualquer país que tenha muito petróleo e tenha um governo não muito alinhado com os EUA, preocupa os norte-americanos, principalmente se for um governo que conhece a indústria de petróleo, como o governo Bush", salienta Adriano Pires Rodrigues.

Hugo Chávez, inclusive, teria sido informado, dias antes, por Ali Rodriguez, de que poderia ser vítima de um golpe de Estado- como realmente o foi no dia 11 de abril. Iraque e Líbia estariam planejando um embargo aos EUA por causa do apoio deste a Israel e o golpe na Venezuela garantiria que o país latino-americano não respeitaria o embargo.

No passado, quando do primeiro choque do petróleo, em 1973, um dos principais pontos de apoio dos Estados Unidos para o fornecimento de combustível foi a Venezuela. Apesar de membro fundador da Opep, o país furou o embargo proposto pela organização.

O primeiro choque

A primeira reunião da Opep aconteceu em Bagdá, em 1960.

Fundada na década de 60 por Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Venezuela, a Opep notabilizou-se a partir do embargo, lançado em 1973 pela Arábia Saudita e acompanhado pelos países árabes, aos mercados dos EUA e da Europa. Na época, os países alegaram razões políticas resultantes da retomada por Israel dos territórios atacados por Egito e Síria na Guerra do Yon Kippur. Derivada da Guerra dos Seis Dias - quando Israel ocupou territórios palestinos na Jordânia e na Faixa de Gaza, vencendo os exércitos da Síria, do Egito e da Jordânia - a Guerra do Yom Kippur começou no dia do perdão dos judeus (o Yom Kippur), quando os países árabes retomaram os territórios perdidos. Israel, em seu contra-ataque, foi apoiado pelos Estados Unidos.

Reunião da Opep realizada em Gênova, em 1962.

"Na realidade, a Guerra do Yom Kippur foi a gota d'água, foi o pretexto político para que se aumentasse o preço do petróleo", analisa Adriano Pires Rodrigues. Ele afirma que o choque, ao contrário das alegações, teve um fundo econômico. "A oferta estava crescendo menos do que a demanda e os custos estavam aumentando, então, para que os novos poços de petróleo pudessem ser viabilizados era preciso aumentar o preço", diz. Em três meses, o preço do barril de petróleo foi aumentado de US$ 2,90 para US$ 11,65 e a exploração em regiões mais difíceis (como em águas profundas) tornou-se viável economicamente.

Para Pires Rodrigues, o segundo choque sim, em 1979, teve verdadeiros motivos políticos. Em 1979, aconteceu a revolução islãmica no Irã, quando o movimento liderado pelo aiatolá Khomeini derrubou o Xá Reza Pahlevi. "Para aproveitar o gancho político, a Opep duplicou o preço do petróleo", afirma Pires Rodrigues, do CBIE. No final da década de 1970, o preço do petróleo chegou ao equivalente a US$ 80,00 atuais, diminuindo gradativamente até 1986, quando o preço se estabilizou entre US$ 20,00 e US$ 30,00.

O Iraque
O Iraque é, atualmente, a segunda maior reserva conhecida de petróleo do mundo (10,9% do total mundial), só perdendo para a Arábia Saudita (25,4%). "George W. Bush e Dick Cheney, o vice-presidente, definem a segurança nacional como significando o acesso ao petróleo. Um "sucesso" na guerra contra o Iraque pode renovar o acesso dos EUA ao petróleo e quebrar a espinha da Opep", dizem Maria Elena Martinez e Joshua Karliner, dirigentes da Corpwatch, uma ONG que fiscaliza as empresas multinacionais. Eles apontam a ligação entre a presidência norte-americana e as empresas de petróleo. O mercado mundial é dominado por cinco gigantes do setor: Exxon- Mobil, Halliburton, Chevron-Texaco, Shell and British Petroleum.

"De certa maneira, uma invasão do Iraque, o fim do embargo e um aumento da produção, enfraquecem a Opep, pois haverá mais petróleo no mercado", diz Adriano Pires Rodrigues, do CBIE. No entanto, ele discorda de que o objetivo principal da invasão seja o enfraquecimento da Opep. "O principal motivo é colocar as mãos na segunda maior reserva de petróleo do mundo, essa história de terrorismo é cascata", afirma. "Bush e Cheney são homens do petróleo", completa. Para ele, o enfraquecimento da Opep será mais uma consequência do que a causa.

O Centro Global de Estudos Energéticos, que funciona em Londres, avalia que, mesmo a faixa atual de preços da Opep, em torno de US$ 25,00 o barril, é muito alta. Para o centro, a Opep deveria baixar seus preços, fortalecer a demanda e assim desencorajar a busca de petróleo por outros países, como a Rússia. "A Opep está atingindo seus objetivos, mas estes estão errados", avalia Leo Drollas, do centro de pesquisas londrino.

(RE)

 
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Atualizado em 10/12/2002
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