Países
da Opep vivem constantes instabilidades
Uma
das causas da crescente instabilidade mundial vivida nos últimos
meses - quando crescem as ameaças de uma invasão do
Iraque por parte dos Estados Unidos e circulam boatos de que o próximo
alvo pode ser o Irã - pode estar ligada a uma instituição
com papel preponderante na economia mundial dos últimos 30
anos: a Organização dos Países Exportadores
de Petróleo (Opep). Três de seus países membros
não gozam de boas relações com os Estados Unidos.
Além de Iraque e Irã, a vizinha do Brasil, Venezuela,
terceira maior exportadora para o mercado norte-americano e quinta
maior produtora mundial, não é vista com bons olhos
pelo governo de George W. Bush.
Tida
hoje por alguns como enfraquecida, a Opep ainda é uma das
instâncias mais poderosas do mundo. Controlando um pouco menos
da metade das reservas petrolíferas do mundo (aproximadamente
40%), a Opep reúne onze países subdesenvolvidos que
estabelecem para si cotas de produção com a intenção
de controlar (através do aumento ou diminuição
da oferta) o preço do petróleo mundial. Entre as principais
causas apontadas para seu atual enfraquecimento estão o pouco
respeito que os países membros têm mantido pelas cotas
estabelecidas e o aumento da produção por parte dos
países não ligados à Opep (como a Rússia,
o México e o próprio Brasil).
Os
dois últimos meses de outubro e novembro foram marcados pela
produção, por parte dos países membros, de
3 milhões de barris a mais, por dia, do que o estabelecido
pela própria Opep. Em novembro, foram extraídos 24,88
milhões de barris por dia pelos países membros - excluindo
o Iraque, que é impedido, desde a Guerra do Golfo, por sanções
econômicas, de vender legalmente acima de sua cota. O objetivo,
acordado na reunião realizada em janeiro pela entidade, era
extrair 21,7 milhões de barris por dia. Alguns analistas
afirmam que a violação das cotas é fruto de
um acordo tácito.
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Aí
Rodriguez é o presidente da estatal venezuelana PDVSA.
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"Todos
os produtores aumentaram a produção devido aos altos
preços do mercado", declarou Ali Rodriguez, presidente
da estatal Petroleos da Venezuela S.A. (PDVSA) e ex-secretário
geral da Opep. A Venezuela e a Nigéria, cujo ministro de
Petróleo e Energia, Rilwanu Lukman, já foi secretário-geral
da Opep, foram os países que mais aumentaram sua produção.
A divergência
entre os países da Opep pode ser explicada, segundo Adriano
Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE),
pela situação econômica diferenciada vivida
pelos países. "A Arábia Saudita tem uma situação
parecida com a do Kuwait, mas esses têm uma situação
muito diferente da Venezuela. Isso cria dificuldades na administração
das cotas. Um país com dívidas como a Venezuela, às
vezes vende fora da sua cota", explica Pires Rodrigues.
Venezuela
Dona de 7,5% das reservas conhecidas de petróleo e responsável
por 13% das importações feitas pelos EUA, a Venezuela
tem no petróleo a maior força de sua economia, respondendo
por 75% das exportações do país. Foi depois
que seu presidente, Hugo Chávez, empreendeu uma visita a
todos os outros 10 países membros da Opep, propondo a retomada
da luta por melhores preços para o petróleo, que sua
relação com a maior potência do mundo começou
a ficar mais complicada.
Desde
que assumiu o governo da Venezuela, em 1999, Chávez vem desagradando
a indústria multinacional do petróleo - a ExxonMobil
é a maior exploradora de petróleo da Venezuela. Ele
manteve a Venezuela mais próxima das cotas de exploração
da Opep e aumentou os royalties cobrados pelo governo para os novos
campos descobertos de 16 para 30% e procurou controlar melhor a
estatal Petroleos de Venezuela S.A. (PDVSA), que era muito influenciada
pelas multinacionais. Com a alta dos preços no final do ano
2000, quando o barril de petróleo chegou nos U$ 40,00 (hoje
oscila entre US$ 25,00 e 30,00), Chávez conseguiu financiar
diversos programas sociais. A Venezuela tem 80% de sua população
abaixo da linha de pobreza.
Ali
Rodriguez, que foi secretário geral da Opep de janeiro de
2001 até junho deste ano, declarou ao jornalista Gregory
Palast, do jornal inglês The Independent, que o golpe
de Estado vivido na Venezuela em abril deste ano - quando o presidente
Chávez foi deposto mas retornou ao governo logo em seguida
- foi estimulado pelos Estados Unidos. Os norte-americanos temeriam
a ameaça de embargo que o Iraque e a Líbia estariam
tentando organizar em represália ao apoio dos Estados Unidos
às ações de Israel contra os palestinos. "A
dependência dos EUA de petróleo está aumentando
progressivamente. A Venezuela é um dos fornecedores mais
importantes dos EUA e a estabilidade da Venezuela é muito
importante para eles", declarou Rodriguez, atual presidente
da PDVSA.
"Qualquer
país que tenha muito petróleo e tenha um governo não
muito alinhado com os EUA, preocupa os norte-americanos, principalmente
se for um governo que conhece a indústria de petróleo,
como o governo Bush", salienta Adriano Pires Rodrigues.
Hugo
Chávez, inclusive, teria sido informado, dias antes, por
Ali Rodriguez, de que poderia ser vítima de um golpe de Estado-
como realmente o foi no dia 11 de abril. Iraque e Líbia estariam
planejando um embargo aos EUA por causa do apoio deste a Israel
e o golpe na Venezuela garantiria que o país latino-americano
não respeitaria o embargo.
No
passado, quando do primeiro choque do petróleo, em 1973,
um dos principais pontos de apoio dos Estados Unidos para o fornecimento
de combustível foi a Venezuela. Apesar de membro fundador
da Opep, o país furou o embargo proposto pela organização.
O
primeiro choque
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A primeira reunião
da Opep aconteceu em Bagdá, em 1960.
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Fundada
na década de 60 por Arábia Saudita, Irã, Iraque,
Kuwait e Venezuela, a Opep notabilizou-se a partir do embargo, lançado
em 1973 pela Arábia Saudita e acompanhado pelos países
árabes, aos mercados dos EUA e da Europa. Na época,
os países alegaram razões políticas resultantes
da retomada por Israel dos territórios atacados por Egito
e Síria na Guerra do Yon Kippur. Derivada da Guerra dos Seis
Dias - quando Israel ocupou territórios palestinos na Jordânia
e na Faixa de Gaza, vencendo os exércitos da Síria,
do Egito e da Jordânia - a Guerra do Yom Kippur começou
no dia do perdão dos judeus (o Yom Kippur), quando os países
árabes retomaram os territórios perdidos. Israel,
em seu contra-ataque, foi apoiado pelos Estados Unidos.
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Reunião
da Opep realizada em Gênova, em 1962.
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"Na
realidade, a Guerra do Yom Kippur foi a gota d'água, foi
o pretexto político para que se aumentasse o preço
do petróleo", analisa Adriano Pires Rodrigues. Ele afirma
que o choque, ao contrário das alegações, teve
um fundo econômico. "A oferta estava crescendo menos
do que a demanda e os custos estavam aumentando, então, para
que os novos poços de petróleo pudessem ser viabilizados
era preciso aumentar o preço", diz. Em três meses,
o preço do barril de petróleo foi aumentado de US$
2,90 para US$ 11,65 e a exploração em regiões
mais difíceis (como em águas profundas) tornou-se
viável economicamente.
Para
Pires Rodrigues, o segundo choque sim, em 1979, teve verdadeiros
motivos políticos. Em 1979, aconteceu a revolução
islãmica no Irã, quando o movimento liderado pelo
aiatolá Khomeini derrubou o Xá Reza Pahlevi. "Para
aproveitar o gancho político, a Opep duplicou o preço
do petróleo", afirma Pires Rodrigues, do CBIE. No final
da década de 1970, o preço do petróleo chegou
ao equivalente a US$ 80,00 atuais, diminuindo gradativamente até
1986, quando o preço se estabilizou entre US$ 20,00 e US$
30,00.
O
Iraque
O Iraque é, atualmente, a segunda maior reserva conhecida
de petróleo do mundo (10,9% do total mundial), só
perdendo para a Arábia Saudita (25,4%). "George W. Bush
e Dick Cheney, o vice-presidente, definem a segurança nacional
como significando o acesso ao petróleo. Um "sucesso"
na guerra contra o Iraque pode renovar o acesso dos EUA ao petróleo
e quebrar a espinha da Opep", dizem Maria Elena Martinez e
Joshua Karliner, dirigentes da Corpwatch,
uma ONG que fiscaliza as empresas multinacionais. Eles apontam a
ligação entre a presidência norte-americana
e as empresas de petróleo. O mercado mundial é dominado
por cinco gigantes do setor: Exxon- Mobil, Halliburton, Chevron-Texaco,
Shell and British Petroleum.
"De
certa maneira, uma invasão do Iraque, o fim do embargo e
um aumento da produção, enfraquecem a Opep, pois haverá
mais petróleo no mercado", diz Adriano Pires Rodrigues,
do CBIE. No entanto, ele discorda de que o objetivo principal da
invasão seja o enfraquecimento da Opep. "O principal
motivo é colocar as mãos na segunda maior reserva
de petróleo do mundo, essa história de terrorismo
é cascata", afirma. "Bush e Cheney são homens
do petróleo", completa. Para ele, o enfraquecimento
da Opep será mais uma consequência do que a causa.
O Centro
Global de Estudos Energéticos, que funciona em Londres,
avalia que, mesmo a faixa atual de preços da Opep, em torno
de US$ 25,00 o barril, é muito alta. Para o centro, a Opep
deveria baixar seus preços, fortalecer a demanda e assim
desencorajar a busca de petróleo por outros países,
como a Rússia. "A Opep está atingindo seus objetivos,
mas estes estão errados", avalia Leo Drollas, do centro
de pesquisas londrino.
(RE)
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