Peixes ornamentais garantem a economia de Barcelos-AM
   
 
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Todo ano aproximadamente 20 milhões de peixes ornamentais são exportados pela região de Barcelos, localidade de menos de 20 mil habitantes, na margem direita do Rio Negro, na Amazônia.

A captura e comercialização de peixes para aquários nessa região começou na década de 50, quando Herbert Axelrod descobriu a espécie cardinal. Para sustentar essa atividade, existe desde 1989 o Projeto Piaba, com o objetivo de desvendar os sistemas sócio-culturais e ecológicos capazes de garantir a preservação dos peixes ornamentais.

A riqueza de espécies ornamentais na região deve-se a vários fatores: a dimensão espacial da bacia do Rio Negro, a variedade de condições ecológicas, além da conexão com outras bacias hidrográficas, como a do Orinoco e do Solimões que, ao juntar suas águas com as do Rio Negro, formam o Rio Amazonas. Essas ligações permitiram a proliferação de diferentes espécies em Barcelos.

Uma curiosidade específica da região são as águas escuras do Rio Negro. Os pesquisadores Andréa Waichman e Paulo Petry do Projeto Piaba, explicam que a águas escuras são pobres em nutrientes. O material alóctone (proveniente de outros ambientes), neste caso originário da floresta, é a principal fonte de matéria e energia nestes sistemas. Assim, justificam os pesquisadores, não há a ocorrência de uma grande biomassa, o que propicia a reprodução de peixes de pequeno porte. Eles encantam pelas cores e formas exóticas e por isso mesmo são utilizados para a ornamentação de aquários.

O desenvolvimento dos peixes ornamentais ocorre principalmente nos igapós e igarapés da floresta, áreas total ou parcialmente inundadas. A melhor época para a captura é durante a vazante e seca dos rios. Na época das cheias, eles se dispersam pelos igapós, procurando alimentos e assegurando a reprodução.

Na época das cheias, maio a julho, o Ibama proíbe a pesca e comercialização do cardinal. A preocupação, neste caso, é assegurar a reprodução.

Existem registros de 750 espécies na bacia do Rio Negro, mas somente 100 dessas são exploradas comercialmente, avaliam os pesquisadores. O cardinal tetra é a espécie mais importante e representa 80% do volume comercializado. Além dele, outras espécies exportadas são rodostomus, corydoras, borboleta, otocinclus e o acará disco.

A atividade, em toda a região, resume-se à exploração, na natureza. Para a captura são utilizados instrumentos que não ameaçam essas pequenas criaturas: rapiché, puçá e armadilhas passivas, chamadas cacurí, todas elas de origem indígena.

O pescador de peixes ornamentais, "piabeiro", trabalha de dia ou à noite, dependendo da espécie que procura: "Com um cardume localizado, são pacientemente conduzidos para o rapiché ou puçá, e, retirados para o interior de cestas de palha forradas com saco plástico, com água do igarapé", explica Andréa.

Depois de capturados, os peixes são levados para um acampamento, onde são montados viveiros no próprio rio. Depois disso, são levados para Barcelos e, seguem uma viagem de 30 horas até Manaus.

Nas lojas de exportadores, os peixes são mantidos em instalações de quarentena: "Há um cuidado profilático realizado pelos exportadores para detectar e eliminar doenças ou fungos, diz Carlos Freitas diretor da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade da Amazônia.

Estudos do Projeto Piaba mostram índices de mortalidade baixos. O percentual não passa de 5% , da captura à exportação.

No mercado internacional, os maiores concorrentes do Brasil nessa área são Colômbia, Peru, Venezuela, Malásia e Chile. Mas já existem países no sudeste asiático, além da antiga Checoslováquia que criam as espécies amazônicas em cativeiro.

No Brasil, não há outros centros fornecedores de peixes ornamentais, além de Barcelos. O Pará tem alguma produção, mas em pequena quantidade, segundo os pesquisadores.

O exportador Asher Benzacken avalia que as maiores dificuldades nessa atividade são as elevadas tarifas aéreas e os vôos em número reduzido ligando Manaus a centros de consumo potencial. Isso torna os peixes de Barcelos mais caros que os dos países concorrentes. Benzacken critica ainda a portaria do Ibama que regulamenta esse extrativismo. Argumenta que ela "é antiga, e espécies ornamentais que poderiam ser comercializadas são proibidas por não constarem na lei".

Apesar de toda atividade econômica local estar baseada na exploração de peixes ornamentais ainda não foram detectados impactos ambientais produzidos pela atividade. Não é preciso destruir a floresta para extrair os peixes, o que não acontece em outras atividades exploratórias da Amazônia como o garimpo e a madeira. Segundo Waichman e Petri, os piabeiros sabem que preservando a floresta, também asseguram suas fontes de renda.

Os pesquisadores ressaltam que não serão leis de proteção que tornarão a atividade maior e mais eficaz, mas um plano de ordenamento e manejo sustentável para a atividade. "O plano de manejo sustentável exige o conhecimento da dinâmica do recurso explorado, da sócio-economia deste recurso, e no caso dos peixes ornamentais, do mercado internacional. As pesquisas do Projeto Piaba, estão orientadas para fornecer respostas a essas perguntas", diz a Andréa Waichman. Nas últimas décadas, os níveis de exportação têm se mantido estáveis em aproximadamente 20 milhões de peixes, o que, interpreta a pesquisadora, indica que os estoques suportam este nível de captura.

Para a cidade a atividade é muito importante. Representa 60% da economia do município e estima-se que 80% dos 16 mil habitantes trabalham direta ou indiretamente nessa atividade. Anualmente a mais tradicional festa municipal é a Festa do Peixe Ornamental.

Para promover a conscientização da importância dos peixes ornamentais, o Projeto Piaba tem trabalhado junto a escolas e professores de Barcelos, além de manter aquários públicos.

Atualmente estão sendo desenvolvidas pesquisas na área de estresse produzido durante o transporte, limites de tolerância às condições da viagem, e padrões de qualidade da água para garantir a sobrevivência durante o transporte e nos aquários. "Acreditamos que esta atividade além de ser uma das principais fontes de renda do município, ajudará a conservar a floresta", acreditam os pesquisadores. O lema do projeto que desenvolvem é "Compre um peixe ornamental, salve uma árvore na Amanônia".

   
           
     

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Atualizado em 10/11/2000

   
     

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