Engenharia genética - O sétimo dia da criação
Fátima Oliveira. Editora Moderna. 1995. 4° edição.

por Juliana Schober

Engenharia genética - O sétimo dia da criação, escrito pela médica e feminista Fátima Oliveira, não é um livro revolucionário sobre o assunto, ao contrário. Porém, não deixa de ser uma boa leitura para quem deseja entender melhor a engenharia genética e temas relacionados. É um livro didático que consegue, em apenas 135 páginas, abordar o assunto com eficiência, desde os aspectos biológicos e evolutivos até os relativos à bioética, passando por pontos polêmicos importantes da atualidade. O livro cumpre seu objetivo que, segundo a autora, é "ser um manual de iniciação à alfabetização tecnocientífica em engenharia genética".

Entre muitas abordagens possíveis, a autora optou por fazer a divulgação científica do tema de maneira contextualizada, o que torna o universo técnico científico da engenharia genética mais próximo da vida dos leitores em geral. Isso permite que a informação científica seja compreendida pelas pessoas com mais facilidade, contribuindo para melhorar a qualidade das discussões sobre o assunto. Nesse contexto, esse tipo de publicação tem grande valor, exatamente pela sua simplicidade e capacidade de atingir o público. A autora faz bem o papel de divulgadora científica e o faz com a preocupação de atingir seus objetivos: "Considero extremamente injusto, antipatriótico e politicamente antiético abordar a genética e apresentá-la à nossa juventude apenas como mais um tema da biologia, de maneira fria, distante da realidade, sem fornecer subsídios que favoreçam a reflexão sobre os mecanismos de biopoder que essa área do saber vem gerando e poderá gerar"

O livro deixa claro que as questões da biologia sempre tiveram significados políticos, que ultrapassam os experimentos realizados nos laboratórios. Tais significados políticos são tão fortes que, na opinião da autora, já sugerem a elaboração de um novo conceito para a biologia moderna (essa que é capaz de transformar a quimera em realidade). Elaborar uma conceituação razoável capaz de expressar o dinamismo dessa ciência nos dias de hoje não é simples. Em um mundo de bichos esquisitos, monstros artificiais e alimentos inventados, o antigo conceito de biologia torna-se obsoleto.

Fátima Oliveira usa a polêmica gerada pela engenharia genética para discutir e expor a complexidade das aplicabilidades das novas descobertas científicas e tecnológicas, salientando que a informação, o conhecimento e o saber, ao longo da história provaram estar muito relacionados ao poder. Ela escreve que a engenharia genética vem, na atualidade, gerando muitas controvérsias, mas explica que tais controvérsias existem desde a década de 50, quando a bioengenharia já era marcada por discussões antagônicas nos meios acadêmicos dos EUA e Europa. Com relação à engenharia genética, ela conta que as opiniões vão desde a defesa intransigente (que ela denomina de bioliberais) até a mais completa oposição (que ela chama de biofundamentalistas). Em cada um desses extremos, existem ainda várias correntes de opinião.

Ao final do livro a autora elaborou um glossário com diversos termos técnicos, utilizados freqüentemente, mas pouco compreendidos pela maioria das pessoas. Esse glossário ajuda a compreensão dos aspectos técnicos tratados no livro e é uma importante fonte de informação para outras leituras sobre o assunto. Depois da leitura do livro, o leitor certamente estará mais esclarecido sobre o assunto e mais preparado para outras leituras a respeito do mesmo tema.