Agenda
para a competitividade do agribusiness brasileiro
Autores:
Luiz Antonio Pinazza, Regis Alimandro, Ivan Wedekin, Eduardo Pereira
Nunes, Elisio Contini, Fabiana S. Perobell, Félix Scouchana.
Abag e FGV, 2002.
O livro Agenda para a competitividade do agribusiness brasileiro
é resultado de um trabalho conjunto entre a Associação
Brasileira de Agribusiness e a Fundação Getúlio
Vargas, e foi organizado de forma a conter reflexões e dados
sobre os temas mais relevantes e estratégicos para o agribusiness
do início do milênio: água, biotecnologia agrícola,
negociações internacionais, cooperativismo. O livro
traz uma visão panorâmica do tema, além de perspectivas
para cada setor, fornecendo um compilado de dados recentes, expostos
de forma atraente e prática. Traz também propostas
de encaminhamentos, além de relacionar os temas de debate,
por vezes conflitantes, dos diversos atores de cada setor. O livro
é dividido em temas estratégicos, agricultura, pecuária,
compilados de forma sistematizada e fornecendo informações
úteis a pesquisadores, professores e estudantes.
Entre
os temas de maior relevância no panorama atual do agronegócio
brasileiro pode ser ressaltada a retomada das negociações
internacionais, com o intuito de conseguir negociações
mais abrangentes que garantam maior defesa de interesses das nações
em desenvolvimento via quebra de protecionismo, o que é pouco
provável que aconteça. Nesse sentido, segundo os autores,
um cenário interessante para o agronegócio brasileiro
incluiria uma abertura irrestrita aos produtos nacionais no mercado
internacional, com eliminação dos subsídios
à exportação dos produtos dos países
desenvolvidos, além da tomada de medidas efetivas de apoio
interno aos produtores brasileiros.
Uma
das grandes dificuldades para a efetiva participação
dos países em desenvolvimento nas negociações
internacionais são as deficiências internas apresentadas
por cada país na formulação e implementação
de políticas agrícolas nacionais, na disseminação
do conhecimento científico no setor, na disponibilização
da infra-estrutura para negociações em bases de padronização,
além de regras para a proteção das variedades
cultivadas. Aliado a isso, existe a necessidade de promover reformas
econômicas internas que possibilitem o aproveitamento das
oportunidades abertas pela liberação do mercado mundial.
Entretanto, se este complexo desafio não for vencido na velocidade
imposta pelos mercados, pode levar a um crescente isolamento dos
países em desenvolvimento da integração mundial
no setor dos agronegócios.
Abordagem
agroecológica
Muitos produtores ficaram de fora das possibilidades abertas pelas
novas tecnologias que propiciaram a revolução verde.
Entre os desafios para a integração destes produtores
encontram-se a redução do emprego da água para
a irrigação, diminuição da utilização
de fertilizantes e defensivos e um acesso efetivo aos cuidados governamentais
fornecidos ao grande contingente de produtores desassistidos. Assim,
uma abordagem agroecológica da produção é
insistentemente defendida pelas organizações não
governamentais, uma vez que este modelo de produção
possibilita uma absorção intensiva de mão-de-obra
e utilização de material orgânico, representando
um forte apelo social e ambiental. Entretanto, sua efetivação
requer altos níveis de conhecimento científico e manejo
sofisticado. Assim, a abordagem agroecológica representa
grandes possibilidades na promoção do manejo sustentável
dos recursos naturais, com a participação direta dos
produtores, sendo uma efetiva possibilidade para a administração
dos problemas de produção alimentar.
Cenário
global do agronegócio
Com um crescimento demográfico esperado de 32% da população
mundial até 2020, com um terço deste crescimento concentrado
em apenas dois países, China e Índia, a pressão
para a oferta de alimentos tende também a crescer. Outro
ponto importante e que se refere ao ritmo acelerado de concentração
da população vivendo em áreas urbanas, além
das mudanças nas dietas alimentares, com um aumento no consumo
de alimentos energéticos, concentrado no trigo e na crescente
demanda por proteína animal, especialmente a de carne de
aves.
Entretanto,
a região subsaariana africana, com uma renda per capita
inferior a um dólar, tende a continuar fadada à insegurança
alimentar. No âmbito das importações, a tendência
é de que a América Latina deverá passar progressivamente
de importadora à exportadora, principalmente para países
do leste asiático, que tenderão a aumentar as suas
importações em até 28 vezes nas próximas
décadas. Os Estados Unidos continuarão liderando as
exportações mundiais, com um incremento de até
34% das mesmas até 2020.
Biotecnologia
Agrícola
Neste capítulo os autores abordam o crescente desafio da
maior produção de alimentos devido ao crescimento
populacional esperado para os próximos 30 anos. Segundo esta
projeção, se mantidos os padrões técnicos
e de consumo vigentes, as fronteiras agrícolas terão
necessariamente de passar por uma expansão intensiva, invariavelmente
predadora, que provocará migrações maciças,
tendo também um grande impacto na biodiversidade. Neste contexto
a solução tecnológica, via biotecnologia agrícola,
é considerada como uma possibilidade na resolução
do problema a médio prazo. Sendo esta nova tecnologia, inclusive,
comparada a uma nova revolução verde em andamento.
Apesar das inseguranças relativas às novas tecnologias,
os transplantes de genes em vegetais abrirão possibilidades
aparentemente infinitas a aplicações agrícolas.
A transgenia pode ser então dividida em três grandes
momentos :
1) geração de sementes que atendem à necessidades
específicas da agricultura, como redução de
custos e simplificação do cultivo;
2) geração de benefícios no processamento dos
alimentos e para o consumidor;
3) valorização de produtos para compostos industriais,
biocombustíveis, proteínas, amido e gordura.
Assim,
apesar do curto período de existência, a biotecnologia
agrícola passou de jovem ciência a negócios
em ebulição, com um volume de negócios de US$
500 milhões de 1995 para US$ 20 bilhões, previstos
para 2006, segundo dados da Merrill Lynch, levantados pelos autores.
Recursos
Hídricos e Agricultura
Nenhum comentário sobre o desenvolviemtno sustentável
faz sentido sem a abordagem da gestão dos recursos hídricos.
No Brasil, o Código de Águas, instituído em
1934, já estipulava o princípio do poluidor-pagador,
embora nunca tenha sido aplicado efetivamente. A escassez de água
nos próximos anos parece, a princípio, contraditória,
levando-se em conta que o líquido representa dois terços
da superfície do planeta. Deste montante, 97,5% são
de água salgada e apenas 2,5% de água doce. Destes
2,5%, quase 70% estão nos pólos congelados, 30% em
lençóis subterrâneos, 0,9% nos pântanos
e apenas 0,3% em lagos e rios.
"Apenas
0,007% da água do planeta está nos lagos e rios",
diz o engenheiro húngaro Andras Szöllösi-Nagy,
diretor da Divisão de Ciências das Àguas, da
Unesco.
No
Brasil, a distribuição do consumo de água é
de 19% pelas indústrias, 22% para uso doméstico e
60% para irrigação da agricultura.
Cooperativismo
O cooperativismo tem raízes no tempo e as ondas da globalização
regem os negócios das organizações privadas,
governamentais e cooperativistas. Entretanto, não é
fácil para as organizações acompanharem os
ritmos das mudanças, principalmente para as que operam no
Brasil. O país foi afligido por uma inflação
descontrolada de 1986 a 1994, e o planejamento priorizava o estado
apenas de sobrevivência: o dia-a-dia e nada mais. As cooperativas
nacionais, de grande base agrícola, foram atingidas, não
só pelo lado macroeconômico, mas também pela
ausência de uma política setorial. Uma abordagem recente
da evolução do cooperativismo leva em conta a formação
de capital social. Até recentemente, consideravam-se os capitais
formadores de uma nação o natural (terra, água),
o físico (cidades, estradas) e o financeiro (crédito,
seguros). Aparece agora o capital social, a confiança tecida
entre os indivíduos, em prol de negócios para o progresso
econômico e social. Assim também o insumo vital para
a produção de capital social constitui-se da qualificação
das pessoas. O ingrediente da educação oferece o diferencial,
porém seus resultados só aparecem a médio e
longo prazos. Não existe também um único modelo
de cooperativismo em agronegócios, cada cadeia produtiva
requer uma forma diferenciada de planejamento. Não há
modelos de cooperativismo sem defeitos e virtudes. O estudioso de
cooperativismo, Totomiani lembra que "os primerios cooperativistas
foram sonhadores, quiseram idealizar sociedades novas, quiseram
fazer renascer dentro da sociedade formas de organização
já desaparecidas". O modelo de globalização
e do livre comércio têm apresentado bons resultados
quando medidos pelos critérios do produto interno bruto e
da produtividade. Entretanto, a distância entre os países
ricos e pobres vem se tornando um abismo, e a aversão a este
modelo surge em todos os cantos do planeta. Neste contexto o cooperativismo
desponta como uma alternativa que, entretanto, enfrenta barreiras
naturais a seu pleno desenvolvimento, sobrevivendo como anseio de
justiça entre o desenvolvimento econômico e o social.
Agregação
de valor e competitividade
Torna-se emergencial, segundo os autores, a redução
da distância econômica e temporal ao longo dos ciclos
de produção e consumo da mercadoria, para tornar-se
mais competitivo no mercado. Muitos empregos, produtores individuais
e empresas são deixados à margem no campo de batalha
da competitividade. A competitividade também resulta da orientação
por processos, através da modificação de paradigmas
e da maneira de fazer as coisas. A agricultura brasileira é
um exemplo mundial de mudança de processo: a crescente passagem
do plantio convencional para o plantio direto, que vem permitindo
a redução do custo de produção. O esforço
que o Brasil ainda tem que fazer em tecnologia e melhoria de processos
é descomunal - da enxada à agricultura de precisão
-, pois sua agricultura é uma colcha de retalhos de numerosos
produtos e microregiões, grande diferencial tecnológico
e produção intensiva.
As
possibilidades de agregação de valor, receita e rentabilidade
na atividade agropecuária repousam em cinco opções
principais.
Primeiro
em um esforço das lideranças municipais para o desenvolvimento
regional e integração agroindustrial, como forma de
agregar valor às matérias-primas agropecuárias
nas regiões de origem. Segundo seria a elevação
da produtividade dos fatores de produção, essencial
para melhorar a margem operacional e o giro dos ativos do empregados.
Terceiro, seria a busca de integração entre agricultura
e pecuária, transformando, por exemplo, milho e soja - as
duas maiores lavouras anuais do país - em produtos de proteínas
de maior valor. Quarto, a produção de bens de alto
valor de mercado, aproveitando-se as vantagens de solo e clima para
a produção de uma pauta de mercadorias diversificadas
e em ascenção no agronegócio internacional,
como hortaliças, frutas e condimentos. Cada vez mais a agricultura
será um insumo para a indústria. Em boa parte das
cadeias produtivas - frango, ovos e sucos - já não
há mais espaço para o produtor independente, que passa
a ligar-se à industria através de contratos e outras
formas de integração vertical.
Agricultura
Neste capítulo, são fornecidas informações
históricas e perspectivas para os diferentes setores da agricultura
com especial destaque para as culturas de cítricos, cafeeira,
sucroalcoleira, de fibras vegetais, trigo, milho, arroz e soja,
esta última, considerada o vetor da evolução
tecnológica no Brasil, mais especialmente da biotecnologia
agrícola. Cada capítulo aborda um visão geral
de cada cadeia produtiva, suas dificuldades particulares e potencialidades
do setor.
Pecuária
O Brasil tem um espaço certo e representativo no mercado
internacional de carnes. As oportunidades são enormes e aproveitá-las
significa conquistar maior valor agregado a seus embarques. No ranking
exportador, o país é o segundo na avicultura, o terceiro
na bovinocultura e o sétimo na suinocultura. Há ainda
espaço para melhorar essas posições já
significativas.
Nas
três últimas décadas erigiu-se no Brasil um
de seus maiores e mais competitivos complexos agroindustriais -
o da avicultura de corte. Da eclosão da cadeia nos anos 70,
até os dias correntes, não se viu nada semelhante
no agronegócio nacional. Neste período, enquanto a
produção cresceu quase 11 vezes, as quantidades exportadas
multiplicaram-se por 25. Quanto aos alojamernto de matrizes e pintos,
a expansão foi, respectivamente, de cerca de 250% e 300%
entre 1980 e 2000.
A suinocultura
tem dimensões mais modestas que a tradicional bovinocultura
de corte e da avicultura, apresentando entretanto um consideravel
aumento na produção e consumo nos últimos anos,
apresentando bases técnológicas e de gestão
competente, reservando uma espaço seguro e relevante para
seus agronegócios.
O livro
é finalizado com um extenso banco de dados sobre índices
gerais de preços de safras, relações entre
PIBs e países exportadores, preços médios recebidos
pelos produtores para diversos produtos e consumo de fertilizantes.