Carbono Social - Agregando Valores ao
desenvolvimento sustentável
Divaldo Rezende, Stefano Merlin
e Andréa Sarmento
Editora Peirópolis, 2002
Por Luciene Zanchetta
O que existe de
comum entre a instalação de uma termoelétrica no
País de Gales, um projeto socioambiental na Ilha do Bananal e as
recorrentes alterações climáticas, frutos
indesejados do processo de aquecimento global?
A resposta seria
o desenvolvimento do conceito de carbono social, uma tecnologia que une
dois importantes conceitos, o de preservação ambiental e
o de responsabilidade social. Além disso, tal o conceito
está de acordo com um dos pilares ecológicos, o de
identificação de problemas globais, porém, com um
foco na solução através de ações
locais.
O trabalho na
Ilha do Bananal foi o primeiro projeto brasileiro de seqüestro de
carbono. O financiamento veio a partir de uma acirrada
competição internacional pela aprovação em
um edital da AES Barry, construtora da termoelétrica do
País de Gales. O edital foi financiado com recursos de
responsabilidade social e viabilizado por meio de
negociações relativas ao financiamento de projetos de
seqüestro de carbono.
Além
disso, o projeto seguia as tendências de
colaboração entre países desenvolvidos e em
desenvolvimento, as quais haviam sido propostas e incentivadas, em
1997, pelo Protocolo de Quioto, um acordo internacional para a
diminuição da emissão de gases
atmosféricos, que geram o efeito estufa e culminam em
alterações climáticas globais.
O projeto
brasileiro, proposto pela ONG Instituto Ecológica, venceu uma
acirrada concorrência e foi selecionado entre 12 finalistas
mundiais. O desenvolvimento do projeto acabou se transformando em uma
tecnologia pioneira que incluía a construção de
indicadores de absorção de carbono nas diferentes
vegetações do local, a geração de
conhecimento científico e também a
implementação de tecnologias ambientalmente
sustentáveis de geração de renda para a comunidade
O pioneiro
programa brasileiro acabou se tornando uma referência, no Brasil
e internacionalmente, em práticas de conservação
ambiental e de desenvolvimento social das comunidades locais.
Sob este prisma,
o livro Carbono Social, organizado pela jornalista
Andréa Sarmento e escrito pelo engenheiro agrônomo Divaldo
Rezende e pelo economista Stefano Merlin é uma
compilação de práticas e aprendizados do projeto
realizado na Ilha do Bananal. No livro são descritas
metodologias para calcular o fluxo e o estoque de carbono nos
diferentes ecossistemas, a fim de se possibilitar a
implantação da metodologia do carbono social para a
geração de créditos de carbono. O livro aborda
também, de maneira bastante prática, as
experiências da delicada relação
floresta-comunidade, que culminaram no surgimento de um novo conceito
ecológico estreitamente ligado à prática, o de
carbono social.
Algumas
ações que ilustram as atividades do programa de carbono
social incluem a elaboração de cartilhas de
educação ambiental por professores da região, a
construção de casas de mudas, de projetos de coleta de
sementes nativas, de treinamentos e auxílio técnicos para
a implantação de cultivos sob o sistema agro-florestal, a
introdução de hortas comunitárias de plantas
fitoterápicas, atividades de reflorestamento realizadas por
ex-garimpeiros, além de produção de artesanato
local e implantação de uma fábrica de doces de
frutas regionais.
A Ilha do
Bananal possui uma riqueza ecológica única, pois
há em sua área os ecossistemas de cerrado, floresta e
pantanal, sendo agora também uma importante base experimental de
desenvolvimento comunitário baseado em financiamentos voltados
para a responsabilidade social, por meio do sistema de créditos
de carbono.
Ao longo de oito
capítulos, os autores comentam também as possíveis
perspectivas e oportunidades do carbono social, o desafio da
geração de conhecimento e sua efetividade no processo de
geração de renda e na melhoria da qualidade de vida das
pessoas.
Finalizando o
texto, os autores planejam uma perspectiva futura, em que pretendem
aliar o conceito de carbono social ao conceito de corredores de
biodiversidade, desenvolvido pela Conservation International,
possibilitando assim a continuidade de diferentes projetos e a sua
expansão até que se atinjam patamares desejáveis
de conservação socioambiental na Ilha do Bananal, os
quais poderiam ser reproduzidos também em outras localidades.
Pioneirismo
brasileiro em créditos de carbono
O grupo pioneiro
na implantação do projeto do Carbono Social é
composto basicamente por integrantes da ONG Instituto Ecológica,
formada em 1998. No período, segundo os autores, falar em
seqüestro de carbono era um absurdo.... Pouquíssimas
pessoas sabiam do que se tratava o Protocolo de Quioto, e
mudanças climáticas e efeito estufa eram comentadas de
maneira muito superficial.
No final da
década de 90, a maioria dos projetos de seqüestro de
carbono considerava apenas que seriam entregues aos investidores,
quotas ou créditos de carbono. O bem-sucedido programa de
seqüestro de carbono social desenvolvido na Ilha do Bananal
diferenciava-se dos demais programas de seqüestro de carbono por
não apresentar um compromisso em entregar créditos, uma
vez que o projeto recebeu recursos de responsabilidade social de
vários parceiros nacionais e internacionais e em contrapartida,
ofertava de uma série de atividades voltadas ao desenvolvimento
social da comunidade local.
No
início, o conceito de carbono social estava diretamente ligado
ao projeto desenvolvido na Ilha do Bananal. Atualmente ele é
empregado também em uma variedade de propostas como as de
exploração de madeira de baixo impacto ambiental, em
programas de seqüestro de carbono urbano e também em
projetos de produção de frutos tropicais ligados ao
seqüestro de carbono. Em linhas gerais, e mais especificamente a
partir de 2001, o termo carbono social passou a ser utilizado para
designar projetos de seqüestro de carbono com forte
participação de comunidades locais.
Essa
participação das comunidades locais é essencial ao
desenvolvimento de projetos ambientais e de seqüestro de carbono,
uma vez que os mesmos possuem um horizonte de longo prazo: no
mínimo 25 anos. Assim, as principais garantias de sucesso desses
tipos de projeto incluem o envolvimento das comunidades locais, por
meio de participação e benefícios para o
desenvolvimento econômico. Desta forma o conceito, e mais do que
isso, a prática da metodologia do carbono social permitem o
desenvolvimento sustentável, podendo representar impactos sobre
o quadro global de mudanças climáticas.
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