Avaliação e
contabilização de impactos ambientais
Ademar Ribeiro
Romeiro (org)
Editora da Unicamp e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
1a edição, 2004
Por Marta Kanashiro
Há muito se estabeleceu e
predomina na relação homem/natureza,
uma ordem na qual o segundo elemento está a
serviço do primeiro e é encarado como
algo a ser dominado, explorado ou vendido. Apesar
da discordância de lideranças indígenas , intelectuais e ativistas, sobre a possibilidade de se atribuir
valor econômico para a natureza, o que está
em curso, em processo cada vez mais acelerado, é
exatamente isso. A questão é inclusive
entendida por muitos economistas e até ambientalistas
como necessária para a defesa da natureza,
o que transforma o mercado num lugar de justiça,
pois entende-se e argumenta-se que o cálculo
de valores é fundamental para reparar as agressões
sofridas pelo meio ambiente, punir os agressores ou
reparar as comunidades prejudicadas.
É nesse sentido
que mensurar, monitorar e avaliar impactos sobre o meio ambiente
é um tema cada vez mais discutido pela economia, que tem como algumas de suas
preocupações recentes a criação e
aperfeiçoamento de ferramentas e metodologias que possam
contribuir para isso. Publicado no final de 2004, o livro Avaliação e
contabilização de impactos ambientais, mostra bem
essa preocupação dos economistas e traz um panorama das
metodologias para avaliação, mensuração e
monitoramento dos impactos ambientais. Os textos reunidos em suas 394
páginas foram apresentados no Seminário sobre
Monitoramento e Avaliação Ambiental (Semaia), que ocorreu
em 2001, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo seu organizador,
o economista Ademar Ribeiro Romeiro, o objetivo principal foi
contribuir com a proposta do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) de elaborar um conjunto de indicadores de sustentabilidade e um sistema
de contabilidade econômica e ambiental (Sicea).
Além de discutir
esses dois temas nas partes 3 e 4 do livro, os textos da primeira parte
contemplam o monitoramento e avaliação de impactos sobre
vegetação; biodiversidade local; qualidade da
água; dos assentamentos rurais na Amazônia; do uso de
agrotóxicos; da agropecuária; e trazem indicadores de
processos de degradação do solo,
desertificação e emissões de gases de efeito
estufa. Já os textos da segunda parte, reservam-se à
exploração da avaliação
socioeconômica de impactos ambientais.
O livro como um todo se
aproxima da linha teórica “economia ecológica”, uma das
duas principais correntes teóricas da economia do meio ambiente.
A introdução do livro, escrita por Romeiro, explica
resumidamente essa linha e a conhecida como neoclássica ou
economia ambiental, a qual se opõe.
De acordo com ele, a
“economia ambiental” entende que os recursos naturais não
representam um limite à expansão econômica,
já que tais limites podem ser indefinidamente superados pelo
progresso técnico. Nesse caso, são principalmente os
mecanismos de mercado que garantem essa ampliação dos
limites. Como exemplo, Romeiro aponta a possível escassez de
determinado recurso (energético, por exemplo, que é
transacionado no mercado), traduzindo-se em elevação de
preço, na indução de inovações para
poupá-lo e na substituição por outro recurso mais
abundante. Por outro lado, quando o que está em jogo são
recursos naturais coletivos, como a água, sua escassez
não se traduz em elevação de preço, mas em
“externalidade ambiental negativa”. A economia ambiental defende que,
quando isso ocorre, o Estado deve intervir, definindo o direito de
propriedade ou atribuindo valor aos recursos, para que o agente
prejudicado possa ser compensado ou indenizado. As externalidades
negativas são eliminadas quando o Estado cobra dos agentes
poluidores taxas ou multas para possível
recuperação ambiental.
Já a “economia
ecológica” considera, segundo Romeiro, que o sistema
econômico é um subsistema de um todo maior – o meio
ambiente, que o contém, impondo restrição absoluta
à sua expansão. O economista explica que, nesse sentido,
capital e recursos naturais são complementares e o risco de
perdas irreverssíveis é considerado relevante. Os
indicadores de sustentabilidade têm como papel fundamental a
determinação e avaliação de uma escala
aceitável de degradação ambiental e, assim como o
sistema de contas ambientais, fundamentam o processo de tomada de
decisões, adoção de políticas ambientais e
conscientização ecológica. Essa linha
teórica considera eficientes os mecanismos de mercado para
internalização dos impactos ambientais, mas não
para impactos que atingem populações distantes ou
gerações futuras. A conscientização
ecológica tem papel decisivo para essa corrente, em especial
nesses casos.
Apesar de amenizar a
relação com o mercado, ambas as correntes apostam na
utilização de seus instrumentos e em nenhum momento
questionam a valoração econômica da natureza, muito
pelo contrário. Por exemplo, “Valoração
econômica dos serviços ambientais de florestas”, texto de
Peter May que compõe a segunda parte do livro, chama
atenção para a relação entre a
valoração econômica e a conservação
de recursos naturais. Para May, há um consenso emergente de que
essa valoração pode apontar caminhos para a
importância dos recursos para a sociedade. Os créditos de
carbono são um exemplo de instrumento de mercado aplicado para
reforçar a conservação.
O livro que propõe
um panorama de metodologias acerca de avaliação e
contabilização de impactos ambientais, também pode
ser lido para questionar se ainda existe possibilidade de não
transformar natureza em capital, aliás, um processo que
está tão adiantado que é difícil acreditar
na reversibilidade, contestação ou seu questionamento.
Pessimismos à parte, Avaliação e
contabilização de impactos ambientais pode ser de
grande interesse para aqueles que desejam compreender o processo em
curso
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