Energia elétrica para
o desenvolvimento sustentável
Lineu Belico dos Reis Semida
Silveira
(organizadores) Edusp, 2001
Por Ana Carolina Freitas
A previsão feita recentemente pelo
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) de que
o Brasil corre o risco de passar por um novo apagão
até 2008, caso não sejam feitos investimentos no sistema
de geração e distribuição de energia, dividiu especialistas
e reforçou o coro daqueles que defendem a modernização
do setor.
Nesse contexto, o livro Energia elétrica
para o desenvolvimento sustentável oferece dados para
se repensar o setor energético, em especial o elétrico,
mas a partir de uma visão ambiental e orientada para
o desenvolvimento sustentável. Como se sabe, o uso
inadequado dos recursos energéticos em nome do desenvolvimento
e do crescimento econômico ao longo dos anos incidiu
com um custo elevado sobre o meio ambiente e a sociedade
por meio da poluição do solo, do ar e da água e da
redução das reservas de combustíveis fósseis.
No livro, o setor elétrico é estudado
desde a geração até a distribuição e utilização da
energia, tendo como foco a realidade brasileira. Conforme
explicam os autores – quinze especialistas no tema
– esse setor é parte fundamental de qualquer estratégia
que vise o desenvolvimento sustentável, uma vez que
cerca de 30 a 40% da energia usada no mundo é na forma
de eletricidade e verifica-se uma tendência para o
aumento dessa participação no consumo energético futuro.
Isso graças a características como flexibilidade,
confiabilidade e eficiência, além de ser uma tecnologia
bem dominada e capaz de suprir os principais serviços
de energia desejados pela sociedade.
Aqueles que não estudam o setor podem
se assustar com os gráficos, diagramas e figuras,
usados para explicar os tópicos mais técnicos. Mas
a linguagem do livro é clara e concisa, o que torna
a obra acessível também ao público leigo e curioso
pelo assunto.
O livro aponta os impactos ambientais
e sociais das principais formas de geração de energia
elétrica atualmente disponíveis e descreve detalhadamente
cada processo. No Brasil, o suprimento da energia
elétrica está concentrado nas usinas hidrelétricas.
Se por um lado isso é bom, já que se trata de uma
fonte limpa de energia, por outro, deixa o país vulnerável
à falta de chuvas e ao aumento do consumo de água,
algumas vezes de forma irresponsável, pelas indústrias
e residências.
Além disso, a construção das usinas
envolve o alagamento de regiões e, conseqüentemente,
o deslocamento de populações e a destruição de áreas
de subsistência, tais como terras aráveis, pastos
e florestas. Essa questão chegou às telas de cinema,
com o filme Narradores de Javé (Brasil, 2003), que
mostra a tentativa dos moradores da fictícia cidade
de Javé de impedir que o lugar seja inundado para
a instalação de uma hidrelétrica (veja resenha do
filme na revista ComCiência).
Na opinião dos autores, para um país
com crescimento lento e uma demanda energética moderada
como o Brasil, os investimentos que têm de ser mobilizados
para a construção de uma grande hidrelétrica devem
ser considerados no contexto de políticas alternativas
de desenvolvimento.
Mas, embora as fontes renováveis sejam
as mais adequadas ao desenvolvimento sustentável,
elas ainda respondem por uma pequena dparte da matriz
energética mundial. O petróleo aparece como um vilão
nessa história: “Uma grande barreira à introdução
maciça de fontes renováveis é a ênfase nos aspectos
econômicos em detrimento dos ambientais, uma vez que
a maioria dos combustíveis não-renováveis é vendida
a preços muito baixos no mercado”.
Os autores se mostram favoráveis ao
aumento do preço dos combustíveis fósseis para estimular
a adoção de alternativas mais condizentes com os princípios
de sustentabilidade e para conscientizar o consumidor
da importância do uso racional da energia. A conservação
da energia é tratada, inclusive, como umas das questões
centrais na busca de um sistema energético eficiente
e sustentável, podendo ser conseguida tanto do lado
da oferta, racionalizando a produção e a distribuição,
quanto do lado da demanda. “A demanda pode ser influenciada,
por exemplo, pela regulamentação de preços no sentido
de refletir os verdadeiros custos de produção e impactos
ambientais”.
Como ressaltado logo nas primeiras
páginas, o livro não traz uma visão do futuro energético
para o qual se quer caminhar, limita-se a uma discussão
dos cenários energéticos já existentes e das questões
que devem ser enfrentadas hoje para que se possa pensar
no gerenciamento sustentável do setor elétrico. “Um
melhor planejamento dos recursos pode eliminar ou
adiar a necessidade de novas obras de geração e transmissão”.
Por exemplo, a observação detalhada de como a energia
é utilizada, ao contrário da preocupação tradicional
com o suprimento e a demanda de energia, pode ajudar
a evitar o desperdício e investimentos desnecessários
no setor.
A conclusão aponta, portanto, para
a necessidade de mudanças conceituais e metodológicas
no planejamento dos sistemas de energia elétrica e
de integrá-lo a outros vetores da infra-estrutura
para o desenvolvimento (transportes, telecomunicação,
água, saneamento), o que inclui a participação das
agências reguladoras e das comissões de serviços públicos,
das instituições governamentais municipais, estaduais
e federais, das instituições de pesquisa e universidades,
agências de fomento à pesquisa, ONGs e da sociedade
civil em geral.
|