O
que são as incubadoras e a experiência brasileira
A
incubadora de empresa é um espaço físico destinado
a atender, por tempo limitado, pessoas ou grupos que queiram criar
micro ou pequenas empresas de base tecnológica e/ou tradicional,
mas que não possuem capital para investir no projeto. Além
do espaço físico, a incubadora fornece ainda suporte
técnico, consultoria para o desenvolvimento da nova atividade
e um serviço de marketing e divulgação.
As
incubadoras têm suas raízes na Universidade de Stanford,
fundada no final do século passado na Califórnia,
na região que viria a se tornar famosa como o Vale do Silício.
Segundo Roberto Spolidoro desde cedo, a Universidade de Stanford
incentivou seus graduados a iniciarem empreendimentos na região
ao invés de migrarem para a costa leste dos Estados Unidos,
então o maior parque industrial americano. A experiência
clássica aconteceu em 1937, quando o diretor do laboratório
de Radiocomunicações estimulou dois jovens graduados
a persistirem no desenvolvimento do projeto de um equipamento eletrônico
inovador. Com base numa bolsa de estudos e nos recursos do laboratório,
os jovens iniciaram uma empresa para produzir o equipamento. A iniciativa
prosperou e se transformou numa dos maiores empresas do planeta:
a Hewlet-Packard Company.
A incubadora
de empresas é um ambiente que favorece a criação
e o desenvolvimento de empresas e produtos, em especial os inovadores
e intensivos em conhecimento. Esse ambiente oferece às empresas
emergentes, por custos inferiores aos de mercado, elementos como
área física e infra-estrutura, vizinhos comprometidos
com a inovação, serviços de apoio e serviços
de promoção de sinergia intra-muros e extra-muros.
As
primeiras incubadoras brasileiras
Henry
Etzkowitz e Sandra Brisolla, no artigo "Falhas e sucessos:
o destino da política industrial na América Latina
e Sudeste Asiático" ("Failure and success: the
fate of industrial policy in
Latin America and South East Asia"), publicado na revista inglesa
Research Policy, dizem que na segunda metade dos anos 70,
foi fundada em Campinas, SP, a Companhia de Desenvolvimento Tecnológico
(Codetec), ligada à Unicamp, já com o objetivo de
desenvolver um estreito contato com a indústria. A idéia
era estabelecer um parque científico, inspirado no exemplo
da Universidade de Stanford, que combinasse os elementos facilitadores
de uma incubadora - como a transferência de tecnologia da
universidade para a empresa e a empresa de capital de risco. A Companhia
possibilitaria a comercialização de pesquisas desenvolvidas
na universidade e viabilizaria novos negócios, baseados em
tecnologia. Essa seria a primeira incubadora brasileira.
Porém,
em 1979, a Unicamp passou por uma profunda crise financeira e institucional,
perdendo muitos de seus membros devido à queda dos salários.
A sobrevivência de uma incubadora, naquele momento, não
era prioritária. Mesmo assim, a Companhia resistiu e trouxe
contribuições importantes para a política de
ciência e tecnologia do país. Lá foram desenvolvidas
pesquisas que facilitaram a engenharia reversa - pesquisa em que
parte-se do produto final para desenvolver o processo produtivo
-, permitindo o desenvolvimento da indústria de química
fina em um momento em que o país atravessava a fase de substituição
de importações. Contudo, a morte de duas pessoas-chave
nesse processo fez com que o governo perdesse a confiança
no projeto e retirasse o apoio financeiro, levando a Codetec à
falência.
Em
1982, foi fundado sob a égide do CNPq o Programa de Tecnologia
e Inovação, a primeira iniciativa governamental, de
âmbito nacional, com o objetivo de estimular a ligação
da universidade com atividades empresariais. Uma das principais
realizações do programa foi a implantação
de treze Centros de Inovação Tecnológica pelo
País.
Em
1984, o programa foi expandido através da adição
do Programa de Implantação de Parques Científicos,
com o projeto dos primeiros seis parques científicos e incubadoras
de empresas nos municípios de Campina Grande (PB), Joinville
(SC), Manaus (AM), Petrópolis (RJ), Santa Maria (RS) e São
Carlos (SP). Somente foram implantados de fato os parques de São
Carlos e Campina Grande, os quais deram origem a duas incubadoras
nos anos de 1985 e 1988, respectivamente. Vários outros projetos
foram lançados no mesmo período, porém, sem
a participação formal no programa governamental.
Segundo
Maurício Guedes, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra
de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe), o conceito de parques
científicos e de incubadoras de empresas foi disseminado
mais amplamente no Brasil por volta de 1993. Entre os fatores que
favoreceram essa difusão podem ser apontadas as mudanças
no cenário econômico global e a idéia de que
as empresas brasileiras precisavam ser mais competitivas em nível
internacional, devendo-se, para isso, estimular a capacidade de
inovação tecnológica. Outros fatores foram:
o estreitamento das relações internacionais de muitos
grupos acadêmicos brasileiros; a reforma tributária
- introduzida no país com a constituição de
1988 - que canalizou grandes volumes de fundos para os governos
municipais, permitindo que muitos deles investissem no desenvolvimento
econômico; e o estabelecimento, em 1990, do Sebrae.
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