"A Estação Espacial Internacional pode ser um elefante branco"
   
 
Estação Espacial Internacional
Cooperação Internacional
A Participação Brasileira
Microgravidade

O Programa Espacial Brasileiro

 
 

O Professor José Monserrat Filho é editor do Jornal da Ciência, publicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Participou do 51o Congresso Internacional de Astronáutica da IAF (Internacional Astronautics Federation) como representante da Sociedade Brasileira de Direito Aeroespacial, entidade dedicada ao estudo, pesquisa e divulgação do direito aeroespacial.

Nesta entrevista à Com Ciência, Montserrat avalia a importância de o 51o International ter acontecido no Brasil, questiona a Estação Espacial Internacional e fala do envolvimento da SBPC no programa espacial brasileiro.

Com Ciência - Qual a importância do 51o IAF ter acontecido no Brasil?
Montserrat
- O fato deste encontro ter sido trazido pra cá, com bastante esforço, é muito importante, por vários motivos. Em primeiro lugar, o encontro foi trazido para um país emergente nesta área. Iisso descentraliza, cria novos pólos de desenvolvimento na área espacial. Uma das questões que eu considero mais importantes hoje no mundo é que nós estamos vivendo numa época de grande desenvolvimento espacial. Mas este desenvolvimento está restrito a um número muito pequeno de países, quando na verdade diz respeito a interesses e à segurança de muitos países. Então, o Brasil sediar o encontro significa que há um movimento de ampliação. E o Brasil, sem dúvida, é um dos países do terceiro mundo que tem mais desenvolvimento nesta área. Mas seria necessário que fosse mais além, ir adiante nesta movimentação.

Com Ciência - Quais foram os pontos importantes na área de direito espacial que foram tirados aqui do encontro?
Montserrat -
Foram vários, mas eu diria que o principal foram as discussões sobre questões éticas das atividades espaciais. Também se discutiu muito a questão da comercialização do espaço e da relação entre direito nacional e direito internacional. Mas a questão ética é muito importante para nós no Brasil. Nós precisamos criar um clima de regulamentação que atenda os interesses de toda a humanidade. Vivemos uma época em que os interesses comerciais são muito insinuantes, fortes e se desenvolvem numa velocidade muito grande, nem sempre obedecendo a interesses gerais.

Com Ciência - O sr. acha que o Brasil participa da Estação Espacial Internacional numa posição interessante em relação à comunidade internacional? E em relação ao terceiro mundo?
Montserrat -
Em princípio eu tenho restrições a este projeto da Estação Espacial Internacional. Neste ponto eu me alinho um pouco à posição dos europeus: eu não tenho certeza de que este projeto tenha uma relação custo benefício bem equilibrada. Tenho a impressão, como alguns europeus, de que pode ser um grande elefante branco, e que o custo não foi pesado em relação ao resultado que nós teremos disso tudo. A revista The Economist foi um dos mais fortes argumentadores em dizer que esta estação pode chegar a custar 100 bilhões de dólares. Como justificar um custo destes? Por este preço nós temos que ter um resultado muito grande. Os artigos que falam das pesquisas e dos experimentos que esta estação poderá desenvolver são até bem interessantes. Lá você encontra algumas respostas e perguntas importantes. Mas nada equivalente ao gasto. O Brasil entrou nesta história, e a princípio me parece importante que o Brasil esteja junto nestas atividades, mas eu realmente tenho dúvidas se isto se justifica inteiramente, do ponto de vista do custo.

Com Ciência - Do ponto de vista da divulgação científica, o sr. acredita que este encontro tendo acontecido no Brasil pode ajudar a aumentar o interesse público por assuntos na área espacial, e na ciência em geral?
Montserrat -
Em muitos países do mundo estes assuntos espaciais são de fato promotores de uma maior divulgação científica. Não sei se foi o caso aqui no Brasil. Eu lamento muito a pouca divulgação havida. Um evento como este deveria ter sido melhor noticiado e discutido.

Com Ciência - O sr. está satisfeito com a cobertura dada pela imprensa brasileira ao assunto?
Montserrat -
Alguma coisa até foi noticiada, mas nada perto da importância deste evento.

Com Ciência - Qual tem sido o envolvimento da SBPC no programa espacial brasileiro?
Montserrat
- A SBPC está muito interessada na questão do desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro. Especialmente no desenvolvimento de novas pesquisas e na formação de jovens cientistas no país. Esta é uma questão muito ampla e que envolve dificuldades muito grandes, embora o governo neste últimos tempos esteja avançando muito. A SBPC, embora trabalhe nesta questão, não tem tido meios para atingir e influenciar toda a problemática do desenvolvimento. A questão espacial creio que ainda não teve a oportunidade de ser tratada com maior peso pela SBPC, por falta de tempo e de quadros. Mas certamente, assim que a gente começar um desenvolvimento mais amplo em várias áreas, a SBPC vai ter tempo e preocupação com a questão espacial.

   
           
     

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Atualizado em 21/10/2000

   
     

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