Entrevistas A
memória pouco tem a ver com a verdade Recuperação
da memória do lugar auxilia laudo antropológico |
A memória pouco tem a ver com a verdade Delia Catullo Goldafarb, psicanalista, gerontóloga e pesquisadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, acredita que o conceito de memória pouco ou nada tem a ver com o conceito de verdade e que a lembrança é, de certa forma, ficcional. Nesta entrevista à ComCiência Goldfarb, que é também professora do curso de especialização em gerontologia e autora do livro Corpo, tempo e envelhecimento, da Casa do Psicólogo, 1998, fala também de como a memória constrói o presente.
Para que exista "minha história" devo me reconhecer nela como um indivíduo, como um protagonista permanente. Por isso dizemos que há coisas que não podem mudar e outras que devem mudar para construir uma identidade. A história é um movimento de mudança permanente. Esse movimento faz com que eu me reconheça, me identifique com minha história, com a história de minha vida, quando a conto para alguém ou quando, simplesmente, penso nela. Se nada mudasse, eu não teria história para contar, pois tudo seria sempre igual. Se você aos 50 é a mesma que aos 15... Que história é essa? Em alguns pontos você é sempre a mesma, você será sempre fulana de tal, filha de outros fulanos. Mas hoje você trabalha nesta revista, aos 15 talvez fosse muito religiosa, e aos 40 talvez decida mudar de profissão e ser atriz, e mais tarde pode ser uma agnóstica. Isso irá criando subjetividades diferentes, diferentes modos de se colocar no mundo, diferentes formas de pensar e ver a vida, de se relacionar com seu próprio corpo, de se vincular com os outros. Mas em todo esse movimento, você vai conservar sua identidade, senão, você deixaria de ser você. Aí já entraríamos no campo das patologias. ComCiência
- Um dos conceitos mais discutidos por Freud e pela psicanálise
é o do trauma. De que forma a memória pode ser afetada por
um trauma? ComCiência
- Por que acontece o esquecimento? ComCiência
- Até onde o que lembramos é fruto da realidade dos fatos
e o que é ficção ou percepção? ComCiência
- O passado interfere nas lembranças atuais? A história de um sujeito psíquico é a história de suas emoções, pois é a emoção que marca os fatos mais relevantes de nossas vidas. Aquilo que não nos afeta especialmente, é facilmente esquecido, e o que lembramos 10 ou 20 anos mais tarde é produto da emoção com que foi vivido e pode ser que não tenha nada a ver com o que aconteceu "de verdade". O lembrado é sempre depois do acontecido e nesse tempo que passa entre o acontecimento e a recordação, a pessoa vai vivendo, vai mudando, vai adquirindo novos códigos de análise das coisas e, em certo ponto, quem lembra não é a mesma pessoa que protagonizou aquele acontecimento agora lembrado. A lembrança vem "só depois" do acontecimento e esse tempo transcorrido muda muita coisa. A recordação é real pois é "nossa" realidade, só nesse sentido é "realmente verdadeiro". ComCiência
- No trabalho citado anteriormente, a senhora também afirma que
"A memória não responde pela ratificação
do passado e sim pela construção do presente". De que
forma a memória "constrói" o presente? |
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Atualizado em 10/03/04 |
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