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Transportes no Brasil: a opção rodoviária Por Gabriela di Giulio
Com 160 páginas ilustradas, o livro aborda os sistemas de tranporte fluvial, ferroviário, rodoviário e aéreo e relata estes segmentos de forma abrangente, mostrando o seu desenvolvimento ao longo da história do Brasil, desde o período colonial até julho de 2003. Repleto de fotos, desenhos, gráficos e artes, que garantem mais verossimilhança e mais compreensão aos fatos relatados, o livro é um convite irresistível para quem deseja saber como os diferentes meios de transportes foram projetados, quando e como chegaram ao Brasil, porque deram certo em determinados momentos e em outros acumularam resultados negativos, quais foram os seus objetivos ao serem implantados no país e quais são suas perspectivas futuras. A organizadora do livro consegue relacionar a chegada e o desenvolvimento de cada meio de transporte com a situação sócio-econômica do país em cada época, como a necessidade de expansão da colonização do Brasil, na época das navegações; a urgência de integrar a base econômica do país, após a Independência, com as primeiras idéias - não colocadas em prática - de um sistema viário (o Plano Rebelo, de 1838, por exemplo, propunha a construção de três estradas reais que, saindo da capital do Império, atingissem o Sudeste, o Noroeste e o Norte do país); as primeiras ferrovias, a partir da segunda metade do século XIX, que tiveram forte presença no país, fazendo com que as estradas e a navegação marítima e fluvial fossem passando, paulatinamente, para segundo plano; a instalação da primeira empresa brasileira de transporte aéreo - a Rondor; a elaboração do Primeiro Plano Rodoviário, em 1937; e a consolidação das rodovias a partir da década de 50. O livro mostra também como a geografia do país foi crucial para o sucesso ou fracasso de cada sistema de transporte, e como cada objetivo econômico, em diferentes épocas, foi determinante para que um determinado sistema se desenvolvesse e ganhasse apoio das autoridades públicas e de setores privados. "A economia açucareira tinha na navegação o seu condicionante de expansão. Levava para o exterior a produção e trazia para o país mercadorias e a mão-de-obra indispensável, o escravo. A navegação costeira interligava os mais importantes pontos de povoamento, todos ainda na faixa litorânea. A imensidão amazônica recebia os barcos rio adentro, trazendo os produtos da floresta para o mercado", relata o livro, buscando explicar o primeiro meio de transporte desenvolvido aqui: a navegação. A descoberta do ouro em Minas Gerais, no século XVIII, também contribuiu para mudanças no sistema de transporte. Por isso, uma estrada ligou o Rio de Janeiro à Vila Rica, passando a ser o grande eixo de transporte de mercadorias. "O transporte fluvial era a maneira de entrar no sertão." Apesar disso, foi só em 1808, com a mudança da família real para o Rio de Janeiro, que foi esboçada, pela primeira vez, uma verdadeira abordagem dos transportes enquanto assunto de política pública, já que era preciso unir as grandes distâncias geográficas e interligar as diferentes regiões. Já na segunda metade do século XIX, as ferrovias começaram a ter forte presença no país, interligando áreas despovoadas do Brasil central à faixa litorânea. "A alta produtividade e e a lucratividade das novas lavouras (principalmente ligadas ao café) exigiram a ocupação de terras sempre mais distantes." Em São Paulo, como mostra o livro, as ferrovias tiveram um papel importante na industrialização. Segundo Godinho, o fracasso da maioria das ferrovias brasileiras começou quando elas foram impossibilitadas de saldarem os juros dos empréstimos devidos ao governo federal. Por causa disso, elas acabaram transferindo seus equipamentos e propriedades ao Estado. "O avanço do projeto de industrialização, a partir de 1930, a integração do mercado interno e a centralização estatal nos investimentos para o crescimento do país levaram ao abandono da prioridade para a ferrovia." Foi no governo de Juscelino Kubitschek, na década de 50, que houve um impulso ao sistema rodoviário, principalmente por causa da instalação da indústria automobilística, consolidando esse sistema como a modalidade de integração do território brasileiro. "A construção de Brasília, o grande projeto de JK, deu impulso à interiorização do desenvolvimento e ao sistema rodoviário." Já a aviação comercial no Brasil começou a operar regularmente por volta de 1920 e enfrentou picos de sucessos e picos de fracasso. Como mostra o livro, a crise no setor de transportes, no Brasil, começou com o agravamento da crise internacional, entre 1976 e 1978, e com o esgotamento do padrão de crescimento do país. Por causa disso, foi imposta uma política de contenção de despesas públicas, levando à interrupção dos investimentos programados, atingindo frontalmente o setor de transportes. Na década de 90, a ação descentralizadora do Estado brasileiro, no repasse de poderes e responsabilidades para os governos estaduais e municipais, traçou uma forte mudança no sistema de transporte. Hoje, como mostra o livro, a situação das rodovias federais é ruim, o setor ferroviário, privatizado, atende principalmente aos interesses de seus concessionários, os portos têm custos altos e operação ineficiente e as companhias aéreas estão em situação crítica. Margarida Cintra Gordinho ainda tece alguns comentários na tentativa de explicar a crise do sistema de transportes brasileiro. "O transporte brasileiro tem gargalos que impedem seu desenvolvimento. O desbalanceamento de sua matriz, a legislação e a fiscalização inadequadas, a deficiência da infra-estrutura de apoio e a insegurança das vias de comunicação são os principais." Apesar disso, o livro também fornece algumas pistas de como cada sistema de transporte vem enfrentando suas dificuldades, de como o atual governo Lula tem tratado o assunto e sugere soluções a serem adotadas, ou que já existem para contornar esses problemas. |
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Atualizado em 10/04/04 |
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