Eduardo Guimarães
Entre as hipóteses do senso comum sobre o que é
a linguagem e as línguas, podemos encontrar hoje a predominância
de uma que considera a linguagem como instrumento de comunicação.
Hipótese muito própria do mundo contemporâneo
marcado, entre outras coisas, pela mídia. Esta hipótese
acompanha duas outras, pelo menos: a de que dizer é, fundamentalmente,
informar; e a de que a linguagem expressa nossos pensamentos (e
sentimentos). São hipóteses tomadas, enganosamente,
pelo senso comum como compondo, em seu conjunto, uma concepção
inquestionável do que é a linguagem.
Ao lado destas hipóteses opera ainda uma outra que incide
diretamente sobre o que é uma língua, e o que é
falar uma língua específica. Mais precisamente, o
que é uma língua nacional e o que é falar esta
língua. Neste caso entra em cena a hipótese de que
uma língua é aquilo que é tomado como padrão
de correção por uma elite escolarizada e culta.
1. Um Interesse Milenar
O interesse pela linguagem data da antigüidade clássica.
Tal interesse se apresenta, na Grécia, no interior da filosofia,
que se viu levada a estudar a estrutura do enunciado para poder
tratar do juízo. Isto levou Platão[1]
a estabelecer a primeira classificação das palavras
de que se tem conhecimento. Para ele as palavras podem ser nomes
e verbos. Depois dele Aristóteles[2]
considerou uma outra classificação das palavras: nomes,
verbos e partículas. Se aqui temos a primeira divisão
da cadeia de sinais lingüísticos pelo reconhecimento
de uma diferença de categoria entre palavras, estamos diante
de uma posição que toma como interesse a relação
da linguagem com o conhecimento. A divisão entre nomes e
verbos procura descrever a estrutura do juízo, que deve falar
de como é o mundo.
Ao lado dos estudos filosóficos, também na Grécia,
desenvolveram-se os estudos retóricos e gramaticais. A Gramática
pode ser considerada como elemento de uma das primeiras revoluções
tecnológicas da história do Homem[3].
A gramática constitui-se na história como uma instrumentação
das línguas que, enquanto arte (no sentido latino) ou técnica
(no sentido grego), apresenta-se como um modo de ensinar a ler e
a escrever corretamente. Ou seja, a Gramática[4]
instala, como central, no domínio do estudos da linguagem,
a qualidade da correção. Qualidade que toma várias
feições no decorrer da história e permanece,
ainda hoje, como um modo de regular as línguas como línguas
dos Estados Nacionais, com todas as conseqüências que
isso traz. Por outro lado, a Retórica[5]
se apresenta como o estudo das técnicas de convencimento
dos ouvintes por aquele que fala, o orador. Neste caso o que interessa
é como dizer para levar o ouvinte à conclusão
projetada. Estamos diante de duas posições distintas:
de um lado um norma de correção (gramática),
de outro as regras de como proceder para convencer, para alcançar
o ouvinte (retórica). De um lado o "valor" da língua,
de outro a adequação da relação orador/auditório.
Ainda na antiguidade, podemos retornar à Índia,
onde o interesse religioso levou a estudos bastante rigorosos dos
aspectos fonológicos do sânscrito. Estes estudos tinham
a finalidade de estabelecer de modo perfeito que som deveria ser
produzido nos cânticos sagrados, para que eles tivessem validade
sagrada. Estes estudos levam a uma rigorosa descrição
dos sons, que podemos encontrar na gramática de Panini[6],
num certo sentido um precursor remoto de estudos estruturais do
século XX. Neste caso o que está em jogo é
a correção da descrição de uma qualidade
fônica, está em jogo a descrição da forma
da língua, nela mesma.
2. Saussure: as Idéias Lingüísticas na Entrada
do Século XX
O pensamento moderno sobre a linguagem instala-se a partir do início
do século XIX, com a lingüística comparativa[7]
. Neste momento a lingüística se apresenta tomando como
objeto a mudança lingüística, motivada por um
projeto de poder reconstituir o passado lingüístico
das línguas européias e asiáticas. A questão
principal aqui são as relações genealógicas
entre as línguas, e o objeto do lingüista são
as formas no seu processo de mudança. Toma-se uma forma para
saber como ela era antes, busca-se reconstruir por comparação
entre as línguas aparentadas (dizia-se da mesma família),
o passado da forma em questão. Este procedimento, que se
dá no interior de uma posição naturalista,
biológica[8], sobre
a linguagem, se caracteriza fundamentalmente pela formulação
das chamadas leis fonéticas. Ou seja, as mudanças
seriam resultado necessário de certas características
das formas das línguas. Vamos dar um exemplo, tomando a passagem
do latim vulgar (popular) para o Português[9]:
As palavras do Português mantêm a acentuação
tônica do latim: muliére> mulher, intégru>
inteiro, cathédra> cadeira, tenébras> trevas,
etc.
Os estudos sobre a linguagem tomaram a forma que têm hoje
a partir de mudanças no domínio da lingüística,
constituídas no início do século XX, pelo abandono
do naturalismo dominante no comparatismo do século XIX. É
deste momento um dos três principais movimentos fundadores
nos estudos lingüísticos naquele século, o curso
de lingüística geral de Ferdinand Saussure, na universidade
de Genebra, nos anos de 1906-1907, 1908-1909, 1910-1911. Este curso
foi posteriormente transformado em livro, por dois de seus discípulos
(Charles Bally e Albert Sechehaye[10]),
depois da morte de Saussure, a partir das anotações
de vários de seus alunos.
A posição de Saussure, vindo do comparatismo do
século XIX, no qual ele se formara, procura, de algum modo,
ligar duas tradições daquele momento, a alemã
e a francesa. É assim que Saussure chega a sua clássica
distinção entre língua e fala,
como forma de definir um objeto específico para a lingüística,
que, segundo ele, apresentasse uma homogeneidade interna, sem o
que seria impossível pensar a linguagem cientificamente.
A língua é este objeto homogêneo que ele caracteriza
como uma sistema de formas que se caracterizam pelas relações
que têm umas com as outras. Estamos diante de uma concepção
da língua como sistema, que substitui a concepção
naturalista, organicista, e atomista, própria do comparatismo.
E ao lado dessa distinção Saussure coloca uma outra,
a distinção entre sincronia e diacronia. Assim, embora
ele reconheça o lugar dos estudos das mudanças, considera
que a lingüística deveria colocar no centro de seu interesse
o estudo do sistema da língua, num momento dado. Segundo
ele, no funcionamento da língua, não se é levado
pelo que as formas foram, mas por aquilo que elas são e pelas
relações que elas têm naquele momento da história.
Para quem fala não interessa se mulher veio de muliére,
mas que mulher se opõe a homem, por exemplo.
Está em questão aqui relações sistemáticas
de simultaneidade e não relações de sucessão.
Assim temos no campo da lingüística o problema da
descrição do que a lingüística chamou
depois de estrutura, ao lado do estudo da mudança. E a lingüística
do século XX, embora tenha sido basicamente sincrônica,
manteve forte produção na linha histórica,
evidentemente afetada pelo corte da distinção saussureana
que, ao estabelecer a língua como objeto da lingüística,
constituiu um objeto no qual não estavam incluídas
as questões do sujeito, da relação com o mundo,
e mesmo a questão da significação, que foi
substituída por aquilo que Saussure chamou de valor
das formas lingüísticas. Estamos aqui no domínio
do lingüístico enquanto relação com o
lingüístico. Ou seja, nada no lingüístico
é externo à língua. Neste caso, por exemplo,
não interessa a relação das formas da língua
com os objetos do mundo ou com o pensamento. Não está
em questão em Saussure nem a referência, nem a expressão
do pensamento. Busca-se estar num domínio autônomo
que não é o filosófico nem no sentido aberto
por Platão, de um lado, nem no de Aristóteles, de
outro. Nem no sentido de Descartes[11],
no século XVI (que retoma Platão num certo sentido),
em que a questão é cognitiva (ligada à estrutura
do pensamento).
3. Caminhos do Estruturalismo
Este corte saussureano põe os estudos da linguagem num
novo caminho que se desdobra por várias direções:
desde estudos comparatistas que se renovaram pela concepção
de sistema de Saussure, até estudos sincrônicos que,
lidando com os limites do objeto saussureano, buscam incluir no
lingüístico o sujeito. Este é o caso, por exemplo,
de Benveniste[12] que instala
um domínio específico para os estudos enunciativos,
ou seja para considerar o funcionamento da língua marcada
pela relação que aquele que fala (o locutor) tem com
a língua e que se marca na estrutura da língua. Estes
trabalhos tiveram vários desdobramentos bastante conhecidos
no Brasil, como a semântica argumentativa, desenvolvida a
partir da noção de escala argumentativa de Ducrot[13]
e que aparece também nos trabalhos de Carlos Vogt[14]
. A semântica argumentativa considera que o fundamento do
sentido são estas relações "retóricas"
que se marcam na língua, de tal modo que falar é ser
tomado por estas relações de argumentação.
O retórico é assim tomado como integrado no lingüístico.
Para esta semântica o sentido não é uma relação
da linguagem com o mundo, constituído a partir de um conceito
de verdade, mas uma relação própria do acontecimento
de enunciação que constitui os lugares do locutor
e seu destinatário.
Paralelo a este tipo de trabalho podemos encontrar, também
no campo do estudo da significação, aqueles que vêm
pela via da filosofia analítica inglesa e que deixaram para
os estudos da linguagem a concepção dos atos de fala.
Ou seja, considera-se que falar é fazer algo. Por exemplo:
dizer eu prometo x não é informar que se está
prometendo. Dizer eu prometo x é a própria
promessa de fazer x. Aqui uma das figuras fundamentais é
o filósofo inglês Austin[15]
e sua clássica obra How to Do things with words, publicado
em 1962. Os trabalhos da filosofia analítica desenvolveram-se
fortemente num campo conhecido como pragmática, que já
se desenhara nas formulações de Morris na década
de 30 de século XX[16],
numa linha ligada ao pragmatismo de Peirce[17],
americano do final do século XIX, e criador da semiótica.
Numa de suas formulações atuais, feita a partir de
Grice, para a pragmática o sentido é pensado como
intenção do falante, que ele comunica ao ouvinte,
na medida do reconhecimento da intenção que teve.
Estamos aqui diante de um certo tipo de psicologismo, em que o sujeito
da linguagem é tomado como dono de suas intenções,
precedendo o seu próprio dizer. Este psicologismo distingue
estes trabalhos da pragmática dos estudos enunciativos constituídos
no interior das posições estruturalistas, como os
de Benveniste, por exemplo.
Outros caminhos que de algum modo circulam neste espaço
saussureano são os que desembocaram no funcionalismo de Jakobson
de um lado e Martinet de outro. A posição de Jakobson
teve também larga repercussão no Brasil, notadamente
por suas posições comunicacionais, ou seja, pela consideração
da linguagem como instrumento de comunicação e pelo
diálogo que manteve, a partir desta posição,
com a antropologia e a teoria da informação. Tornou-se
um clássico, entre outros, seu trabalho sobre as funções
da linguagem, que está em "Linguística e Poética"[18]
.
Num outro caminho do estruturalismo com filiação
saussureana, podemos pensar em Hjelmslev[19],
que vai desenvolver um estruturalismo não funcionalista e
que afetou diretamente um tipo de estudo da significação,
a semântica estrutural de Greimas, que se constituiu enquanto
uma semiótica estrutural. No Brasil esta posição
desenvolveu um diálogo particular com a análise do
discurso, nas obras de José Luis Fiorin e Diana Pessoa de
Barros, como parte do movimento de incluir no tratamento semiótico
os aspectos ideológicos da significação.
O Estruturalismo que caracteriza a lingüística européia
em meados do século XX, dará a esta disciplina a posição
de ciência piloto das ciências humanas. Veremos então
o estruturalismo avançar para os domínios da antropologia,
da sociologia, da psicanálise, da Filosofia, configurando
elementos fundamentais do pensamento de autores como Levi-Strauss,
Lacan e Althousser, por exemplo. Esta via passa a pôr no centro
da questão das ciências humanas o simbólico,
ou seja, os fatos humanos significam, estão estruturados
enquanto significação.
4. O Formal e uma Nova Busca da Gramática
Um segundo movimento fundamental da lingüística do
século XX é marcado pelo trabalho de Chomsky, que
se inscreve numa tradição americana da lingüística.
Ele busca, ao mesmo tempo, para fundamentar uma nova posição
biológica para a linguagem, o cognitivismo do século
XVI. Aqui a Linguagem passa a estar diretamente ligada à
questão do pensamento e aparece como instrumento de expressão
do pensamento. Isto se constitui a partir de uma posição
metodológica claramente formal e lógica. O trabalho
de Chomsky e a Gramática Gerativa e Transformacional colocam
como central na lingüística as relações
das unidades lingüísticas entre si, ou seja, a sintaxe.
Para ele as pessoas falam porque têm um órgão
da linguagem. A capacidade (o que o gerativismo chama competência)
para falar é inata na medida mesmo em que é biológica.
Deste modo Chomsky[20] recoloca
a lingüística no domínio das ciências da
natureza, tal como no comparatismo do século XIX, com uma
diferença fundamental: o biologismo é posto fora do
historicismo. O Biológico é pensado a partir de uma
concepção universal e não a partir de uma visão
de uma história natural, em que o que se punha em realce
eram as diferenças entre as espécies, etnias, etc.
Para Chomsky a questão é que o Humano é biologicamente
universal e é o mesmo para todos, e a linguagem é
parte desta caracterização naturalista e universal
do homem.
Na medida em que se constitui como uma gramática, a teoria
chomskyana concebe o conhecimento sobre as línguas como um
conjunto de regras de como formar frases. Estas regras são
consideradas como constituindo a competência dos falantes,
considerados idealmente, ou seja, fora de qualquer situação
histórica particular.
Este movimento formal encontra também sua face semântica.
Baseando-se em posições da lógica do final
do século de XIX e início do século XX (como
os de Frege e Russell[21]),
desenvolve-se um estudo da significação que se formula
como um sistema lógico e constitui a noção
de sentido a partir do conceito de verdade. Ou seja, está-se
aqui numa posição relacionada ou ao idealismo platônico,
ou ao pensamento aristotélico. Estes estudos se dão
com freqüência no interior da filosofia da linguagem,
onde encontramos autores como Wittgenstein (do tratado lógico-filosófico),
Grice e Davidson[22].
5. O Lingüístico e as Diferenças Culturais
e Sociais
Se o que até aqui se colocou formula aspectos de concepções
da unidade do lingüistico, podemos encontrar a consideração
da não unidade da língua na lingüística
do século XX tanto a partir de considerações
ligadas à antropologia quanto à sociologia. No Caso
da Antropologia, encontramos o pensamento de Sapir, lingüista
americano formado a partir das posições da Antropologia
de Boaz. Para ele a língua é parte da cultura de um
povo e é assim marcada por esta cultura. Estamos aqui diante
de uma concepção em que a linguagem é pensada
a partir de elementos exteriores que a constituem. Mattoso Câmara,
já no início da década de 40 do século
XX, inicia, no Brasil, um trabalho ligado a estas concepções,
que ele formula, também, a partir das posições
vindas de Saussure, notadamente pela via de Jakobson e Martinet.
Ele é, ao mesmo tempo, um lingüista de formação
histórica e deixa uma obra estruturalista que vai do estudo
histórico da Língua Portuguesa, à descrição
sincrônica do Português dito padrão. Dedica-se,
ainda, à estilística, ao lado de vasto trabalho no
campo das línguas indígenas.
Um outro movimento oposto ao da universalidade e unidade do lingüistico,
pensado agora enquanto competência, é o da sociolingüística
quantitativa americana de Labov. Aqui a língua é pensada
como tendo uma estrutura variável que se pode conhecer por
um método quantitativo, através do qual é possível
estabelecer relações entre um divisão estratificada
da sociedade e a variabilidade estatística da língua.
Neste caso o externo que determina a língua é pensado
como distinto do lingüístico e a socioligüística
incumbe-se de estabelecer as correlações entre uma
estratificação social e a variabilidade das estruturas
lingüísticas.
Estas posições antropológicas e sociolingüísticas
trazem para a discussão atual questões relativas ao
que se costuma chamar contato de línguas. Aspectos já
postos em pauta, a partir do comparatismo, por Hugo Schuchardt[23]
na passagem do século XIX para o XX.
6. Mais um Movimento do Lingüístico no Domínio
das Ciências Humanas e Sociais
Um terceiro momento decisivo na história dos estudos da
linguagem no século XX é marcado por uma posição
teórica que busca pensar a relação entre a
exterioridade e o lingüístico como uma relação
histórica e constitutiva do processo lingüístico.
Estamos aqui diante da posição da Análise de
Discurso que se desenvolve a partir do final da década de
60 do século XX na França. De um lado podemos lembrar
aqui o pensamento de Foucault, no interior de um pensamento filosófico
dedicado ao estudo da história, e de outro o pensamento de
Pêcheux[24], que constitui
a análise do discurso como modo de se poder pensar o histórico
e o político como próprios do processo de significação
do dizer (no qual se constitui o sujeito). Para esta posição
o objeto fundamental dos estudos é o discurso enquanto objeto
integralmente lingüístico e integralmente histórico.
Ou seja, a exterioridade não se apresenta como um fora a
que a linguagem deve ser correlacionada, ela é parte do que
é próprio da linguagem e de seu funcionamento. E.
Orlandi[25] traz para este
campo, entre outras, duas contribuições específicas.
A primeira é a formulação de que a questão
do sentido diz respeito a uma tensão entre a polissemia (os
muitos e sempre outros sentidos) e a paráfrase (o dizer o
mesmo). A segunda é a consideração de que o
sentido não diz respeito ao segmental, mas a que o silêncio
significa, e é isto que faz o sentido da linguagem.
Reencontra-se assim uma posição que coloca a questão
da linguagem no centro da cena das ciências humanas. A diferença,
aqui, relativamente ao estruturalismo, é que está
em questão a historicidade, que não está presente
nem no social saussureano, nem no funcionalismo de Jakobson, nem
mesmo, num certo sentido, nas abordagens diacrônicas e magistrais
de Benveniste nos seus estudos do Indo-europeu. Ou seja, a historicidade
não está na análise do discurso definida pelo
tempo, enquanto dimensão do mundo, mas por uma especificidade
determinada pela ideologia, por uma materialidade sócio-histórica.
7. Uma Cena Contemporânea
Do ponto de vista das ciências da linguagem hoje, vivemos
um embate entre a) um cognitivismo naturalista que o pensamento
chomskyano reintroduziu e que localiza a lingüística
no interior da biologia (enquanto ciência psicologica), ou
seja, das ciências naturais; b) posições derivadas
do estruturalismo, como os estudos enunciativos, para os quais o
funcionamento da língua se dá porque a língua
está marcada por formas próprias para seu funcionamento
no acontecimento enunciativo, posições então
que mantêm a questão da autonomia do lingüístico
posta por Saussure; c) posições que procuram estabelecer
diálogos entre as diversas disciplinas das ciências
humanas que levam a pensar o lingüístico como definido
por uma correlação com o que está fora do lingüístico:
o antropológico, o social, o psicológico, etc. d)
posições como a da análise de discurso que
põem em cena a questão de que não se pode reduzir
o lingüístico nem ao social (antropológico) nem
ao psicológico, pois a linguagem é, ao lado de integralmente
lingüística - num certo sentido saussureano - também
integralmente histórica.
Eduardo Guimarães é lingüista e professor
do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp.
Notas
[1]Filósofo grego do século IV a. C. [voltar]
[2]Filósofo grego do século IV a. C. [voltar]
[3]Esta é a posição de S. Auroux, em A Revolução Tecnológica da Gramatização,
Campinas, Editora da Unicamp, 1992. [voltar]
[4]Como marco da história da Gramática na grécia pode-se considerar
Dionísio da Trácia, Gramático do século II a.C., também deste século
é o gramático latino Varrão. [voltar]
[5]Pode-se considerar o início da retórica no século IV a.C, com Corax
e Tísias. Decisiva nesta história é a Retórica de Aristóteles. [voltar]
[6]Gramático Indu do século IV a. C. Do século II a.C é Pantañjali
que, junto com Panini, constitui a tradição da gramática normativa
do sânscrito. [voltar]
[7]Considera-se o trabalho de Franz Bopp, Sobre o sistema de Conjugações
do Sânscrito, Grego, Latim, Persa e Línguas Germânicas, publicado
em 1816, como um marco para a constituição da linguística comparativa.
Outra obra fundamental é a Gramática Germânica de Grimm, de 1819.
Antes deles pode-se considerar o trabalho de Rasmus Rask de 1811,
publicado em 1818. [voltar]
[8]A lingüística é considerada uma disciplina da biologia. [voltar]
[9]Como se sabe, o Português é resultado de mudanças históricas específicas
a partir do latim vulgar. [voltar]
[10]A primeira edição do Curso de Linguística Geral de Saussure é
de 1916. Saussure nasceu em 1857 e morreu em 1913. [voltar]
[11]Filósofo Francês (1596-1650) [voltar]
[12]Lingüista Francês (1902-1976). Ver fundamentalmente seus artigos
nas seções "O Homem na Língua" e "Comunicação", em Problemas de Linguística
Geral I e II. Estas obras reúnem sua produção em lingüística geral
desde o final da década de 30 do século XX. Publicados no Brasil por
Pontes, Campinas. [voltar]
[13]Ver "As Escalas Argumentativas" de 1983, traduzido para o Português
em Provar e Dizer. São Paulo. Global, 1981. Ver também "Argumentação
e 'topoi' argumentativos". Publicado em História e Sentido na Linguagem,
Campinas, Pontes, 1989. [voltar]
[14]Ver, por exemplo, O Intervalo Semântico, São Paulo, Ática, 1977
e Linguagem, Pragmática e Ideologia, São Paulo, Hucitec, 1980. [voltar]
[15]Filósofo inglês (1911-1960) [voltar]
[16]Ver Fundamentos da Teoria dos Signos, de 1938. Publicado no Brasil
por Eldorado Tijuca/Edusp, Rio de Janeiro, 1976. [voltar]
[17]Charles Sanders Peirce (1839-1914) [voltar]
[18]Texto de 1960, publicado no Brasil em Lingüística e Comunicação,
São Paulo, Cultrix, 1969. Jakobson nasceu na Rússia em 1896 e morre
nos Estados Unidos em 1982. [voltar]
[19]Lingüista dinamarquês (1899-1965). [voltar]
[20]Pode-se considear como obras de fundação de seu pensamento Estruturas
Sintáticas de 1957 e Aspectos da Teoria da Sintaxe de 1965. Para se
observarem as mudanças de modelo da teoria, numa análise do Português,
pode-se recorrer a Análise Sintática. São Paulo, Ática, 1984, de Miriam
Lemle; e As Gramáticas do Português, Campinas, Editora Unicamp, 2001,
de Charlotte Galves. [voltar]
[21]Podemos lembrar de Frege, "Sobre o Sentido e a Referência" de
1892, publicado no Brasil em Lógica e Filosofia da Linguagem, São
Paulo, Cultrix/Edusp, 1978; e de Russell, "Da Denotação", de 1950,
publicado no Brasil em Os Pensadores XLII, São Paulo, Abril, 1974.
[voltar]
[22]O Tratado Lógico-Filosófico é publicado em 1921. De Grice ver,
por exemplo, "Lógica da Conversação", de 1967; e de Davidson "Verdade
e Sentido" de 1967, publicado no Brasil em Dascal, M Semântica, Campinas,
1982. [voltar]
[23]Lingüista alemão (1842-1927). [voltar]
[24]Ver, entre outros trabalhos seus, Análise Automática do Discurso
de 1969, publicado no Brasil em Por Uma Análise Automática do Discurso,
Campinas, Editora da Unicamp, 1990; Semântica e Discurso, de 1975,
publicado no Brasil pela Editora da Unicamp, Campinas, 1988; e Estrutura
ou Acontecimento, de 1983, publicado no Brasil por Pontes, Campinas,
1990. [voltar]
[25]A este respeito ver A Linguagem e seu Funcionamento de 1983, Campinas,
Pontes, 1987; As Formas do Silêncio, Campinas, Editora da Unicamp,
1992; Interpretação, Petrópolis, Vozes, 1996. [voltar]