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Os alimentos transgênicos
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Os alimentos transgênicos, para ler. Marcelo Leite, PubliFolha, 2000

Por Mônica Macedo

Para quem ainda não encarou de fato a discussão sobre os alimentos transgênicos, um bom começo é o livro de Marcelo Leite. Curto e muito bem escrito ele é uma introdução excelente aos que procuram mais informações sobre uma polêmica que há muito ultrapassou as paredes dos laboratórios. Técnica do DNA recombinante, petúnias com genes saltadores, efeitos sobre a saúde e o meio ambiente, legislação, arroz dourado e outros assuntos são discutidos com clareza e grande concisão.

Apesar de simples, que não se engane o leitor, não é um texto "fácil de ler". Ele é denso, ou seja, há muitas informações e estas são complexas. Mas é claro e bem estruturado, o que facilita (e muito!) a tarefa de compreender os transgênicos aos que não são "da área". Além disso, traz indicações bibliográficas (inclusive sites na Internet, mas também livros e artigos), que permitem ao leitor interessado ir além. É interessante tê-lo como texto de consulta, já que há muitos dados disponíveis e o formato "de bolso" facilita carregá-lo.

Por exemplo, vale ressaltar a passagem que trata da história da "engenharia genética", resgatando suas origens nas pesquisas sobre as leis de hereditariedade de Mendel (1822-84), passando pela identificação do DNA, por Avery (1877-1955), sua estrutura de dupla hélice, por Watson e Crick (em 1953), chegando ao DNA recombinante da "bactéria com gene de sapo", de Cohen e Boyer (em 1973), quando teve início a "era da biotecnologia", propriamente dita, como diz o autor. Marcelo Leite lembra que, nessa época, os próprios geneticistas não sabiam ao certo para onde essa tecnologia os levaria e decretaram uma "moratória voluntária" nas pesquisas, convocando o conjunto dos cientistas a debater o assunto, através de uma carta publicada na revista Science, em julho de 1974 (vol. 185, p. 303). Desse movimento, surgiu a primeira série de recomendações para a pesquisa em engenharia genética. No entanto, muitas dúvidas continuaram a existir e novas questões foram levantadas desde então, várias das quais o autor cita no texto.

Outro ponto interessante é a menção ao caso do triptofano. Em 1989, nos EUA, uma epidemia da síndrome de eosinofilia-mialgia (que provoca dor muscular e aumento dos leucócitos no organismo) atingiu 5 mil pessoas, das quais pelo menos 37 morreram. A epidemia foi causada pelo triptofano (um complemento alimentar) fabricado pela empresa japonesa Showa-Denko, utilizando bactérias geneticamente modificadas, que "inesperadamente" estavam produzindo também uma toxina capaz de provocar a síndrome. O caso tornou-se exemplar e levou muitos a adotarem maior prudência quanto à tecnologia dos transgênicos.

O mérito do livro Os alimentos transgênicos é não polarizar a discussão ou transformá-la em panfleto, sem por isso deixar de apresentar uma posição sobre o assunto. "O leitor terá notado que a incerteza científica é uma faca de dois gumes (...). Na prática das sociedades do capitalismo avançado, contudo, há muito mais opacidade do que transparência em jogo, com a cena pública turvada por toda sorte de manipulações e espetáculos, desde a ação teatral do Greenpeace até os anúncios de página inteira das life sciences companies, que prometem um reino sem fome ou doenças para quem aceitar a biotecnologia (...). A precipitação compõe uma das maiores fontes de erro e seu diagnóstico parece aplicar-se tanto à adesão impensada à tecnologia transgênica quanto à desistência apressada dessa mesma tecnologia", conclui Marcelo Leite. Biotecnologia sem fundamentalismos é o que o autor promete. E cumpre.

Atualizado em 10/05/02
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