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Série
Polícia e Sociedade. Nancy Cardia (org.). Edusp, Núcleo
de Estudos da Violência. 2001.
Vol.
1 - Padrões de policiamento de David H. Bayley; Vol.
2 - Nova polícia de David H. Bayley & Jerome H. Skolnick;
e Vol.
3 - Polícias e sociedades na Europa de Jean-Claude Monet
por
Rafael Evangelista
Trecho
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(...) O que há de comum entre o garda (guarda)
irlandês, não armado, que indica com cortesia
o caminho a um turista, e os patrulheiros da CRS (Companhia
Republicana de Segurança) francesa ou os carabinieri
italianos, em uniformes escuros, capacetes, com o fuzil
ou cassetete em punho diante da onda de manifestantes? entre
o Schupo alemão, que ajuda as senhoras idosas
a atravessar a rua, e os inspetores dos Renseignements
généraux franceses ou os detetives da
Special Branch britânica, que interceptam o correio
ou as conversas telefônicas? entre o gendarme
dos campos franceses ou o constable das aldeias inglesas,
que discutem por tudo e por nada com o dono do botequim, e
os homens das viaturas parisienses do Police-Secours
(Plantão de Polícia)? Trata-se da mesma polícia.
Jean-Claude
Monet em Polícias e Sociedades na Europa
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Longe
de ser uma exclusividade brasileira, as difíceis relações
entre polícia e a população tem sido alvo de
experiências e reflexões inovadoras no âmbito
internacional. Parte dessa discussão foi editada pelo Núcleo
de Estudos da Violência (NEV) da USP, um dos maiores centros
de pesquisa brasileiro sobre o assunto, em três obras bastante
importantes que formam a coleção Polícia e
Sociedade. Padrões de Policiamento, Polícias
e Sociedades na Europa e Nova Polícia, são
livros que relatam e refletem sobre o policiamento desenvolvido
nos Estados Unidos e na Europa e mostram que, longe de ser uma categoria
única, o termo polícia e policiamento pode ter diversas
configurações regionais.
Em
Padrões de Policiamento, David H Bayley procura exatamente
traçar esse panorama internacional. Utilizando dados de países
como França, Grã-Bretanha, Índia, Noruega,
Cingapura, Sri Lanka e Estados Unidos e sem abandonar uma perspectiva
histórica, Bayley relaciona essas características
locais de policiamento - que dependem de diversos fatores como a
alta ou baixa incidência de crimes, a existência de
violência politicamente significativa e outros. Paulo Sérgio
Pinheiro, pesquisador do NEV, classifica a obra como um estudo já
clássico.
O
volume dois da coleção, Nova Polícia,
tem como autores o próprio Bayley e Jerome H. Skolnick e
é uma análise da polícia de sei cidades norte-americanas,
Santa Ana, Detroit, Houston, Denver, Oakland e Newark. Desde a década
de 1960, as cidades norte-americanas teriam passado a incorporar
progressivamente como chefes do poder executivo negros, hispânicos
e mulheres. Como isso afetou o trabalho da polícia?, perguntam-se
os autores. É a experiência da polícia dessas
cidade de tentar, ao mesmo tempo, aplicar a lei e tratar igualmente
os cidadãos, que é retratada no livro.
Mudando
o o foco de análise para a Europa, o volume três da
coleção, Polícias e Socidades na Europa,
busca traçar um quadro das diferentes polícias européias.
O autor, Jean-Claude-Monet, soma à sua abordagem histórica
do desenvolvimento das polícias, uma visão sobre cada
uma das diferentes formas que elas vão adquirindo nos diversos
países, bem como sobre suas semelhanças e desafios
conjuntos como o terrorismo e o crime organizado.
Os
três volumes são importantes para pesquisadores, administradores
da polícia, policiais e cidadãos comuns pois, ao agrupar
e descrever os problemas e desafios de polícias de diversos
países, permitem um questionamento sobre os conceitos e dogmas
estabelecidos e muitas vezes interiorizados sobre qual deve ser
a atividade policial e como se dá seu relacionamento com
a sociedade.