Resenhas Na
senzala, uma flor: esperanças e recordações da
família escrava Cafundó
- A África no Brasil Uma
onda no ar |
Brasil 2002. Direção: Helvécio Ratton, produção: Simone Magalhães Matos, argumento e roteiro: Jorge Durán e Helvécio Ratton. por Alessandro Piolli Uma onda no ar é a história da criação e do desenvolvimento da Rádio Favela de Belo Horizonte - "a voz livre do morro", como a chamavam seus idealizadores. A rádio pirata entrava no ar todos os dias no horário do programa estatal A Voz do Brasil. A tática e o amplo alcance dos transmissores da rádio, que mandavam suas ondas bem além da favela, incomodavam as autoridades. Jorge, um dos idealizadores da Rádio, que é negro e morador da favela, acaba sendo perseguido e preso pela polícia. Atrás das grades, é questionado por outro detento sobre como foi criação da Rádio... Começa uma história de luta, resistência cultural e política contra o racismo e a exclusão social, em que a população da favela encontra uma importante arma: a comunicação. As músicas escolhidas para o filme mostram uma atenção especial da rádio em valorizar a diversidade da cultura afro na América e sua força como mecanismo de protesto. Quem assiste o filme pode apreciar desde o rap nacional dos Racionais MCs, passando pelo break, o samba, o blues, o funk, a música da gente dos morros, até o berimbau da capoeira. As descontinuidades temporais de algumas cenas são marcadas por músicas que também tem o papel de estabelecer conexão entre diferentes universos tratados no filme: a política, a polícia, a favela, a escola, a rádio e o crime. A Rádio
desempenha outros importantes papéis como, por exemplo, o
de promover a comunicação dentro e fora da favela.
As vozes de protesto aparecem de maneira bem direta, pedindo mais
verbas para geração de empregos, melhorias nas escolas
e menos dinheiro para armar a polícia. Essa programação,
"afinada" com a população excluída,
aparece nas falas dos locutores como expressão do descontentamento
sobre a condição da população pobre.
A utilização desse meio de comunicação
para se promover mudanças positivas rendeu um prêmio
das Nações Unidas à Rádio Favela, pelo
seu papel educativo e de prevenção ao uso e tráfico
de drogas. O desenrolar desse episódio, ao mesmo tempo em que despertou raiva, estimulou o rapaz a refletir sobre sua luta. O racismo, mascarado pela idéia de que no Brasil não existe discriminação racial e a condição de exclusão social, da qual ainda partilha boa parte da população negra, foram alguns dos principais motivos que estimularam a iniciativa da criação da rádio. A possibilidade do cinema interferir na construção da identidade do negro, devido à visibilidade que esse veículo proporciona, tem gerado importantes discussões sobre produções que abordam a questão. O filme Cidade de Deus, por exemplo, apesar de ser muito elogiado pela crítica cinematográfica, é alvo de severas críticas de lideranças da favela que inspirou o filme. O raper MV Bill protestou, na ocasião do lançamento, em rádios e jornais, contra a imagem estereotipada que, segundo ele, aumenta o preconceito e não auxilia na transformação da realidade, referindo-se às cenas de assassinato a sangue frio, às crianças com armas na mão e outras imagens de violência escolhidas para mostrar a realidade na favela. Já o criador da Rádio Favela, Misael Avelino dos Santos, considera Uma Onda no Ar um contraponto importante à visão apresentada em Cidade de Deus. Apesar de o filme, segundo Misael, atenuar cenas de violência da polícia, ele o elogiou por "tocar o som da vitória" mostrando que existem possibilidades para a superação dos problemas das favelas. |
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Atualizado em 10/11/03 |
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