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homem e o mundo natural por Juliana Schober Lima O livro O Homem e o Mundo Natural trata das atitudes dos homens para com os animais e a natureza durante os séculos XVI, XVII e XVIII. O autor expõe os pressupostos que fundamentaram as percepções, raciocínios e sentimentos dos ingleses no início da época moderna frente aos animais, plantas e paisagem física, chamando a atenção para um ponto fundamental da história humana: o predomínio do homem sobre o mundo natural. Keith Thomas é um historiador inglês, considerado um dos mais eminentes e inovadores do Reino Unido de hoje. O homem e o mundo natural foi um dos livros que colocou o autor em uma posição de liderança na chamada "antropologia histórica". Na última década, ele recebeu duas grandes homenagens da sociedade britânica: foi nomeado presidente da centenária Academia Britânica e recebeu o título de Sir, conferido pela rainha Elizabeth por "serviços prestados à história". O livro é dividido em seis capítulos muito bem escritos, que absorvem o leitor enquanto este é conduzido aos primórdios da preocupação ecológica. O livro inicia abordando a visão antropocêntrica do mundo animal. O boi e o cavalo haviam sido criados para "labutar a nosso serviço", o cão, para "demonstrar lealdade afetuosa", as galinhas, para exibir "perfeita satisfação em um estado de parcial confinamento", o piolho "fornecia poderoso incentivo aos hábitos de higiene". As plantas eram estudadas em função de seus usos humanos. Os animais eram classificados pelos zoólogos, no início da época moderna, conforme sua estrutura anatômica, habitat e modo de reprodução. No entanto, também era considerados a sua utilidade para o homem, bem como o valor alimentício, medicinal e de símbolos morais. Era fundamental que existisse uma linha divisória nítida entre homens e animais, pois no início do período moderno esta divisão serviria de justificativa para a caça, domesticação, hábito de comer carne, vivissecção e para o extermínio sistemático de animais nocivos ou predadores. Esta divisão entre homens e animais teve conseqüências importantes para as relações entre os primeiros, e legitimava os maus-tratos àqueles homens que viviam em uma condição tida como animal. Assim, Keith Thomas cita Robert Gray (1609): "A maior parte do globo era possuída e injustamente usurpada por animais selvagens (...) ou por selvagens brutais, que em razão de sua ímpia ignorância e blasfema idolatria, são ainda piores que os animais". As mulheres, "não tinham mais alma que um ganso", os pobres tinham ocupações "bestiais" e "labutavam como cavalos", os escravos eram marcados com ferro quente "como as ovelhas", e um ourives londrino do século XVIII anunciava para a venda "cadeados de prata para pretos ou cachorros". A forma de abordar o desenvolvimento da história natural não está voltada para a exposição detalhada sobre a pesquisa de plantas ou para a enumeração e descrição de animais selvagens. Está voltada para o fato de os primeiros naturalistas modernos terem criado um sistema novo de classificação com objetivos menos antropocêntricos, gerando uma nova visão de mundo pelos homens. A sabedoria popular foi muito importante para os primeiros progressos da história natural, porém, as visões popular e erudita da natureza ao longo do processo foram gradualmente separadas, e então os trabalhadores do campo muitas vezes passaram a ser vistos como ignorantes. O botânico Peter Collinson, por exemplo, rejeitava as "histórias baseadas em boatos dos camponeses ignorantes".
As maneiras com que as experiências dos homens com os bichos entraram em conflito com as ortodoxias da época, fizeram com que os intelectuais desenvolvessem uma visão original das relações do homem com outras espécies e, no final do século XVIII, a preocupação com o tratamento dos animais era evidente na cultura inglesa de classe média. Desde o final do século XVII, já era aceita à doutrina cristã que todos os membros da criação divina tivessem direito a serem tratados com respeito. O desenvolvimento desta nova sensibilidade permitiu, por exemplo, que o crocodilo "embora com aparência de terror e perigo" fosse "belo e puro quando compreendido". O autor ilustra com riqueza a presença marcante destas novas sensibilidades no século XVIII, da mesma forma que expõe com exemplos muito interessantes e muitas vezes chocantes, a grande crueldade dos ingleses para com os animais antes deste período. Os registros históricos existentes na Inglaterra permitiram que este tema fosse abordado de maneira extremamente interessantes neste livro. Infelizmente, a falta de registros relativos ao tema em outras partes do mundo é um dos fatores complicadores para este tipo de abordagem, o que talvez nos permitisse compreender melhor alguns aspectos do que o autor acredita ser uma das grandes contradições da civilização moderna, ou seja, o conflito crescente entre as novas sensibilidades e os fundamentos materiais da sociedade humana. Hoje, nos vemos em uma situação bem diferente daquela retratada pelo autor no início da época moderna. Para uma demonstração desta diferença basta uma visita a um museu de história natural. Ao lado da coleções de espécies e plantas está o homem, perdido em uma enorme (e reconhecida!) diversidade. |
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