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Um espaço para a ciência. A formação da comunidade científica no Brasil
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Um Espaço para a Ciência. A formação da comunidade científica no Brasil
Simon Schwartzman. Brasília: MCT/CNPq/CEE, 2001. Reedição.

por Bruno Buys

Este livro resgata as origens da formação da comunidade científica no Brasil, através de uma pesquisa feita em duas frentes: entrevistas com cerca de 70 cientistas (que desempenharam papéis importantes na história da ciência brasileira) e coleta da bibliografia existente até então, a respeito da história de nossa ciência.

O resultado final foi publicado no Brasil somente para iniciados: não teve uma tiragem comercial, tendo sido distribuído em bibliotecas e enviado para especialistas e cientistas. Um nova versão em língua inglesa foi preparada em 1991 e publicada pela Pennsylvania State University Press, nos Estados Unidos. O livro ora resenhado é uma tradução desta edição inglesa, editado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia - Centro de Estudos Estratégicos, em 2001.

Este livro merece uma ampla tiragem comercial, dada a importância do tema que abriga. A história do desenvolvimento científico e tecnológico do nosso país é resgatada, com uma ênfase especial nas instituições científicas que a protagonizaram. Porém, também muito importante, o autor atenta para os movimentos de pessoas entre estas instituições e para a importância que a troca de conhecimentos e de experiências teve no estabelecimento de nossa atual infra-estrutura de pesquisa e pós-graduação.

Um Espaço para a Ciência trata desde os primeiros desenvolvimentos ainda no século XIX, no Rio de Janeiro - então capital do Império -, impulsionados pela vontade real, até a criação da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) e da Universidade de Campinas (Unicamp), durante o período de ditadura militar.,

A esmagadora maioria de nossas instituições pioneiras de pesquisa foi fundada e concentra-se no eixo Rio - São Paulo: o Instituto Agronômico de Campinas (1887); o Instituto Vacinogênico (1892); o Instituto Bacteriológico e o Museu Paulista (1893); o Instituto Butantã (1899); em 1900, o Instituto de Manguinhos, fundado no Rio de Janeiro, para pesquisa biomédica. Estes foram os principais atores, responsáveis pela maioria da ciência produzida no Brasil até a década de 30. Exceção apontada pelo autor à concentração no sudeste, seria o Museu Paraense Emílio Goeldi.

O autor explora alguns aspectos muito interessantes desta relação, como por exemplo, o apoio dado ao desenvolvimento científico pelos sucessivos governos federais desde o império até a ditadura de 64, passando por uma interessante análise a respeito de Getúlio Vargas. Os diversos projetos para transformar o Brasil em grande nação - que tiveram muito apoio nos regimes militares - colocaram certa ênfase no desenvolvimento científico. A Unicamp e a Coppe, como já dito, nasceram durante o regime militar- duas instituições de inquestionável importância no panorama de nossas instituições de pesquisa.

O surgimento e o crescimento da USP, a partir de 1934, assim como as articulações políticas que lhe deram vida, são retratados com riqueza de detalhes, junto com breves considerações sobre este período (a década de 30), quando São Paulo toma a dianteira em relação ao Rio de Janeiro na pesquisa científica. Diz o autor, que o Rio dispunha, para seus jovens estudantes, de um ambiente rico em debates não só científicos como também políticos, econômicos e sociais. Ao mesmo tempo, na então capital do país, assistia-se nascimento de uma grande valorização da atividade intelectual e científica. O Rio de Janeiro oferecia mais prestígio a quem estava ingressando na carreira. Porém, São Paulo, que já possuía na época uma economia mais dinâmica e pujante, oferecia melhores empregos e salários. São Paulo era ainda uma província, um lugar onde as coisas estavam começando.

Conclui o autor em um epílogo levemente otimista e um tanto austero. "Há muito mais ciência e tecnologia no Brasil de hoje do que havia a apenas vinte anos; mas é verdade também que um espaço para a ciência, em termos de papéis científicos socialmente definidos, aceitos e institucionalizados, é ainda escasso. Quando muito há ilhas de competência, nichos em que a ciência pode desenvolver-se durante algum tempo, mas sempre de modo precário e ameaçada por um ambiente pouco amistoso."

A inserção da comunidade científica no seio da sociedade brasileira e o reconhecimento de sua importância ainda hoje são um assunto em aberto. E o presente momento é especialmente interessante para esta questão, uma vez que nos preparamos para a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, setembro, em Brasília.

É impressionante que, na véspera de uma conferência onde deveremos traçar rumos e diretrizes para nossa ciência para os próximos dez anos, ainda tenhamos dificuldades estruturais tão grandes quanto estas. Talvez esta falta de espaço para a ciência, este não-reconhecimento do valor da pesquisa, formem uma parcela daquilo que o jornalista e historiador da ciência Ulisses Capozoli tem chamado de "nossa herança ibérica."

Atualizado em 10/09/01
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